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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Crítica do Filme A Entidade

A Entidade

Saudades de sentir aquele frio na espinha, e ficar com medo a noite? Chega aos cinemas o novo filme do diretor de Atividade Paranormal (Paranormal Activity) e Sobrenatural (Insidious), o aguardado filme A Entidade (Sinister).
A Entidade conta a história do personagem de Ellison (Ethan Hawke), um escritor de histórias de crimes reais, que compra uma nova casa com a esperança de escrever um livro de muito sucesso. Depois de se mudar para sua nova casa, ele descobre uma caixa de filmes caseiros antigos que retratam famílias anteriores que viviam na casa, assim como seus assassinatos. Ellison passa a explorar mais o mistério por trás das fitas, e descobre que os assassinatos têm ligação com uma entidade sobrenatural conhecida como “Bagul”. Bagul existe em imagens de si mesmo e corre o risco de tornar a família de Ellison a mais recente vítima da casa.

Cartaz do Filme A Entidade (Sinister)



Cartaz do Filme A Entidade (Sinister)
Com esse pretexto, onde parece não agradar tanto a primeira vista pois aparenta ser um roteiro meio batido e já produzido alguns filmes com tramas similares, o filme desperta a atenção em sua produção e em como é tratado o medo de uma forma que traz bastante impacto, adicionando bastante intensidade na trama.
O diretor Scott Derrickson espertamente usou uma variedade de ângulos de câmera diferentes em várias ocasiões-chave do filme para expressar o medo e o choque das vítimas, assim como a utilização de som para descrever o que foi feito de uma maneira horrível e assustadora. É muito interessante obvservar como o diretor cria uma clima aterrorizante com imagens eficazes e sugestões do que está acontecendo. Os sustos são retratados usando-se ângulos de câmeras obscuros e imagens bizarras atordoantes. As imagens dos vídeos foram realmente muito bem produzidas, dando a sensação de algo realmente real.
Ethan Hawke, Juliet Rylance Foley e Clare atuam com os personagens mais importantes do filme com atuações convincentes. A câmera é operada por George Bianchini, na sua forma habitual imprevisível.
Em geral, o filme a Entidade é um ótimo filme de terror que irá trazer momentos de alta tensão. Uma história legal, mas nada genial em sua concepção, porém consegue levar o medo para as pessoas que é o seu objetivo.

Trailer do Filme A Entidade

Crítica do Filme Terror em Silent Hill: Revelação 3D

Terror em Silent Hill: Revelação 3D


Chega aos cinemas o aguardado Terror em Silent Hill: Revelação 3D (Silent Hill: Revelation 3D), a aguardada continuação do famoso jogo de videogame Silent Hill. Tive o prazer de assistir a primeira sessão da estréia do filme e vou falar um pouco do que achei desse Silent Hill 2.
Silent Hill Revelation é dirigido por Michael J. Bassett, que também é roterista do filme. Na história, o pai de Heather Mason (Adelaide Clemens) desaparece misteriosamente um dia antes dela completar 18 anos, o que a faz juntar as peças e ir a Silent Hill descobrir seu paradeiro, mas que irá levar tudo a uma batalha épica entre o bem e o mal. O elenco principal conta com Adelaide Clemens (Heather / Alessa), Kit Harington (Vincent), Carrie-Anne Moss (Claudia Wolf) e Sean Bean (Harry). Carrie-Anne Moss é a atriz interpretou Trinity no famoso filme Matrix.

Cartaz do filme Terror em Silent Hill Revelação 3D




Cartaz do filme Terror em Silent Hill Revelação 3D

O filme apresenta um enredo não muito atrativo, com diálogos que realmente deixam um pouco a desejar e as atuações são apenas aceitáveis, porém essa sequencia, baseada em adaptação de um jogo, consegue fornecer bastante emoção com suas imagens sombrias e um terror psicológico baseado em um grande pesadelo. O filme faz você se identificar com a personagem principal pela dimensão do terror estabelecido em volta da personagem, onde nos leva ao filme enfrentar os desafios torcendo para que ela consiga sobreviver.
Em Terror em Silent Hill: Revelação 3D vemos diversos elementos marcantes de volta, como a neve, paredes de pele, mortos-vivos sem rosto, edifícios desintegrando-se em cinzas, manequins contorcidos e um brutamonte enorme, com uma pirâmide de metal sobre sua cabeça. Toda essa atmosfera colabora a momentos realmente tensos e assustadores no filme.
Os efeitos especiais do filme são realmente impressionantes, muito bem feitos e não deixam em nada a desejar. A sombria cidade de Silent Hill possui um ar vazio, onde o som e imagem transmite a solidão de uma cidade abandonada nos trazendo a sensação do abandono. E ao tocar as sirenes, já sabe, é hora de correr, pois a tensão vem junto com as coisas mais bizarras acontecendo.

Enfermeiras Deformadas em Silent Hill Revelação





Enfermeiras Deformadas em Silent Hill Revelação

Em resumo, o filme conta com momentos marcantes que irão agradar a todos os fãs dos games, assim como ao amantes de um bom filme de terror e suspense. A história não é das melhores e existem algumas falhas no filme, alguns buracos que deixam um ar de que faltou algo a ser feito para a obra ser considerada excelente. O filme Terror em Silent Hill Revelação promete ser maior do que realmente é, porém não deixa de ser um bom filme para entretenimento e sustos. Os efeitos e cenas de horror compensam os outros problemas com a trama.
Infelizmente a notícia ruim para os brasileiros fica por conta da data de lançamento no Brasil, onde a Sony Pictures que é distribuidora do filme anunciou o lançamento apenas no dia 18 de janeiro de 2013 (18/01/2013). 

Trailer do Filme Terror em Silent Hill: Revelação 3D

 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Crítica - Darling Companion (2012)

Realizado por Lawrence Kasdan
Com Diane Keaton, Kevin Kline, Dianne Wiest

Quem vir um poster ou qualquer outro elemento promocional deste filme poderá cair no erro de pensar que ”Darling Companion” é bastante semelhante aos recentes e satisfatórios “Marley & Me” (2008) e “Hachi: A Dog's Tale” (2009) mas, ao contrário destas interessantes obras, este drama do abatido Lawrence Kasdan não explora nenhuma impressionante história de amizade entre um humano ou animal, nem nenhum significativo drama humano ou familiar que consiga prender a nossa atenção, mas sim uma série de apáticos e pouco envolventes melodramas que são desenvolvidos à medida que os vários intervenientes do filme procuram um cão, cuja relação com os donos nunca é conveniente fortificada ou desenvolvida. O filme conta no entanto com um razoável elenco de veteranos, onde se destacam os astros Diane Keaton e Kevin Kline, que têm uma boa performance como Joseph e Beth, um cirurgião e a sua esposa, que estão casados há muitos anos e têm duas filhas adultas, Grace e Ellie. Num dia de Inverno em Denver (EUA), Beth e Grace salvam um cão perdido e mal tratado da beira da estrada. Beth, que vive numa luta contra a solidão e com um marido distraído e egocêntrico, acaba por criar uma ligação muito especial com o animal resgatado. Quando Joseph perde o cão, depois de um casamento na sua casa de férias na montanha, dá-se início a uma busca frenética que vai levar todos os envolvidos em direções inesperadas. 
Para além da sua desmesurada artificialidade e da falta de envolvência da sua trama, “Darling Companion” sofre também de uma grave crise de criatividade que se evidência na estrutura e desenvolvimento dos vários relacionamentos amorosos e familiares que envolvem os intervenientes do filme, sejam eles centrais ou secundários. Todos estes relacionamentos são afetados por várias dificuldades que vão sendo resolvidas à medida que prossegue a procura pelo cão perdido, podendo mesmo dizer-se que o desaparecimento deste animal e a consequente missão de salvamento que termina com um previsível final feliz para todos os envolvidos, representa uma espécie de metáfora para a extinção da chama romântica ou familiar que une as respetivas personagens, chama essa que é subsequentemente reacesa quando os seus problemas são resolvidos. O adorável canino é portanto um mero veículo metafórico das vertentes romântica e melodramática do filme, ou seja, ele só aparece para provocar um evento dramático que consiga reforçar e resolver os vários problemas das personagens, assim sendo não espere encontrar muitas cenas que apelem à emoção do espetador ou que enalteçam a amizade entre homem e animal, porque ”Darling Companion” não é um filme como “Lassie” que explora uma forte ligação de respeito e preocupação entre espécies, mas sim uma obra banalíssima com uma realização defeituosa e um estilo confuso que aborda, sem muito cuidado ou interesse, uma série de dificuldades românticas e familiares de várias personagens que se unem para procurar um cão que raramente aparece em cena. É fácil de ver por isto tudo que estamos perante um clássico filme medíocre que deriva de ideias recicladas e que está destinado a ser exibido num canal de televisão de sinal aberto durante um aborrecido final de tarde de Sábado ou Domingo. 

 Classificação – 1,5 Estrelas em 5

domingo, 22 de julho de 2012

Crítica - Ted (2012)

 
Realizado por Seth MacFarlane
Com Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Giovanni Ribisi

Se vivem neste planeta, decerto já terão ouvido falar de “Family Guy”, “American Dad” e “The Cleveland Show”, as séries animadas mais irreverentes e desbocadas da atualidade televisiva. Decerto já terão também ouvido falar do seu criador, Seth MacFarlane, um indivíduo que não tem medo de dizer aquilo que pensa através das suas criações e que, como consequência disso, já subiu ao topo da lista dos homens mais odiados pelos conservadores norte-americanos. De facto, o humor de MacFarlane é tudo menos convencional, havendo mesmo quem o ache totalmente ordinário. Porém, ainda que por vezes possa ser excessivamente violento e obsceno, o humor de MacFarlane não deixa de elaborar uma crítica severa (e bastante precisa) ao way of living norte-americano, sendo impossível ficar-lhe indiferente. “Ted” marca a estreia do produtor/realizador/argumentista nas longas-metragens com atores de carne e osso, e podemos dizer que, conforme se esperava, o teor da comédia é exatamente o mesmo das séries animadas supracitadas. Assim sendo, se gostam de “Family Guy”, de “American Dad” e de “The Cleveland Show”, não pensem duas vezes; corram o mais rápido que possam até ao cinema mais próximo e comprem um bilhete para este filme que promete chocar muito boa gente. Se, pelo contrário, não puderem com o humor agressivo e por vezes gratuito de MacFarlane, então fujam deste “Ted” como o Diabo foge da cruz. 

 

John (Mark Wahlberg na versão adulta da personagem) é um menino com enormes dificuldades em fazer amizades. Os outros rapazes da vizinhança (mesmo os mais desgraçados) só querem vê-lo pelas costas, forçando-o a cair num isolamento nada salutar e deveras preocupante. Sem capacidade de formar laços de amizade com os seus congéneres, John constrói então um elo muito forte com um urso de peluche que lhe é oferecido no Natal e que ele apelida de Ted (Seth MacFarlane). Numa noite como tantas outras, o menino deseja que o seu novo melhor amigo ganhe vida própria, para que possa acompanhá-lo ao longo de toda a vida. E na manhã seguinte, eis que o urso começa a andar e a falar como se fosse um ser humano, apanhando a família do rapaz verdadeiramente de surpresa. Encarado como um milagre de Natal, Ted rapidamente se torna um ídolo da nação, comparecendo em talk-shows televisivos e assinando autógrafos na rua. Porém, o tempo passa a voar. E quando dão por si, John é já um trintão com dificuldades em abandonar o espírito de infância e Ted é um fumador de ganza compulsivo com uma língua afiada e a quem já poucos prestam atenção. Está servida a receita para a balbúrdia total…

   

Já há muito tempo que não víamos uma sala de cinema esgotada a rir às gargalhadas de cinco em cinco minutos. Estamos habituados a assistir àquelas comédias em que a audiência se ri quase por favor, como se não estivesse a achar piada nenhuma aos eventos da tela, mas se sentisse na obrigação de soltar um risinho tímido em prol do esforço dos atores. Pois bem, em “Ted” isso não acontece. “Ted” leva as pessoas a rir com vontade genuína, como há muito não se via. E essa é a prova máxima da sua competência enquanto comédia elaborada com o singular propósito de colocar a audiência a chorar de tanto rir. É certo que muito do humor provém das asneiradas do ursinho e de algumas sequências físicas, deixando a nu um tipo de comédia tipicamente gratuito e até mesmo ordinário. Porém, MacFarlane tem muitos truques na manga, não se socorrendo apenas do humor físico e asneirento para entreter o espectador (como tantas vezes acontece nas comédias norte-americanas modernas). Habilmente, MacFarlane mistura esses momentos cómicos com tiradas satíricas absolutamente deliciosas, disparando em todas as direções e levando o espectador ao auge do regozijo. Para além do mais, MacFarlane está-se nas tintas para o convencionalismo que a maior parte dos estúdios defende, oferecendo-nos sequências que não estamos habituados a ver com muita frequência (como criancinhas a levarem murros de adultos corpulentos e sabonetes líquidos a fazerem de sémen). Há qualquer coisa de especial no ato de ver um ursinho de peluche fofinho a cuspir asneiradas como se não houvesse amanhã e a fumar ganza até cair para o lado. Talvez pelo facto de associarmos um ursinho de peluche a uma infância inocente, é impossível assistirmos às cenas de Ted a falar com o patrão do supermercado (só para referir um exemplo) sem quase cairmos para o lado de tanto rir às gargalhadas. Depois de um cão filósofo (o Brian de “Family Guy”) e de um extraterrestre efeminado (o Roger de “American Dad”), MacFarlane apresenta-nos agora um ursinho de Boston com mais língua do que cérebro. E o resultado é explosivo. “Ted” não é perfeito, mas é uma comédia para adultos com tiradas cómicas que realmente têm piada e com sequências tão ridículas que nos ficarão na memória por muitos e bons anos. Não é para todos, mas para os fãs de MacFarlane é imperdível. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Crítica - Rock of Ages (2012)

Realizado por Adam Shankman
Com Tom Cruise, Russell Brand, Paul Giamatti, Catherine Zeta-Jones

Os maiores hits musicais de verdadeiras lendas do Rock n’Roll como Def Leppard, Joan Jett, Journey, Foreigner, Bon Jovi, Night Ranger, REO Speedwagon, Pat Benatar, Twisted Sister, Poison e Whitesnake são brutalmente assassinados e massacrados neste medíocre “Rock of Ages”, um musical sem qualquer consistência que se assemelha mais a um mau episódio de “Glee” do que a um filme de grande dimensão comercial. A história desta sofrível adaptação cinematográfica da homónima e igualmente fraca produção teatral/musical criada por Chris D'Arienzo para a Broadway, centra-se essencialmente num banal romance entre Sherrie Christian (Julianne Hough) e Drew Boley (Diego Boneta), dois jovens aspirantes a músicos que se conhecem no Sunset Strip em Hollywood, onde vão procurar realizar juntos os seus sonhos sem deixarem morrer o seu forte amor. À margem deste entediante romance juvenil, acompanhamos também a luta mediática que Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones), uma mulher ultra-conservadora, inicia contra as más influências provenientes dos donos e clientes do The Bourbon Room, um famoso clube noturno que lançou a carreira musical do mundialmente famoso Stacee Jaxx (Tom Cruise), mas que por força dos contínuos esforços de Patricia está prestes a fechar as suas portas.


Um bom musical tem que ter uma narrativa minimamente coesa e uma série de excitantes momentos musicais, ora nenhum destes dois importantes requisitos é cumprido por este “Rock of Ages”, um filme exageradamente extenso e muito pouco excitante, que explora uma série de previsíveis e completamente desconexas mini-histórias que são acompanhadas por várias sequências musicais que, salvo duas ou três honrosas exceções, dão uma péssima imagem aos musicais e ao rebelde mundo do rock n’roll. As quase duas horas de duração deste musical são por isso um verdadeiro suplício, afinal de contas que tipo de divertimento é que podemos retirar de uma variedade de mal coordenados e editados momentos musicais ou de um trama sem interesse, que tem como elementos centrais um trivial romance de sonho entre dois irritantes adolescentes e uma simplista análise à vida fútil de uma estrela de rock? Para além de uma má vertente técnica e de um terrivél enredo, este mediano musical conta também com um elenco sem brilho que, no máximo dos máximos, pode ajudar a vender alguns bilhetes devido à dimensão dos seus verdadeiros astros mundiais como Russell Brand, Paul Giamatti, Catherine Zeta-Jones, Alec Baldwin ou Tom Cruise, que se destaca dos restantes companheiros graças à forma extravagante como interpreta o razoavelmente divertido e libertino Stacee Jaxx. Entre os piores elementos do elenco desta obra encontramos as suas duas atraentes estrelas juvenis, Julianne Hough e Diego Boneta, que não nos conseguem mostrar nada de muito bom. Os restantes atores também não deslumbram, muito por culpa dos maus momentos musicais e cómicos em que se vêm envolvidos ao longo desta produção. Enfim, “Rock of Ages” é um grande e péssimo espetáculo de karaoke com algumas grandes estrelas norte-americanas, onde grandes êxitos musicais da década de oitenta são massacrados à medida que nos é contada uma história extremamente desinteressante e inconsistente. 

 Classificação – 1,5 Estrelas em 5

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Os Filmes dos Óscares – All Quiet On The Western Front (1930)

Realizado por Lewis Milestone 
Com Lew Ayres, Louis Wolheim, John Wray 

Obra maior dos filmes de guerra, All Quiet On The Western Front foi o terceiro filme a ganhar a estatueta de Melhor Filme, entregue no ano de 1930, tendo recebido na mesma altura a estatueta de Melhor Realizador. O argumento baseia-se na obra homónima do veterano da Primeira Guerra Mundial, Erich M. Remarque. O facto de apresentar o ponto de vista da guerra do lado germânico e a exposição do horror que ela representa para todas as fações em combate fez deste filme não só uma obra exemplar no género como também um monumento pacifista. 


 


Sete rapazes alemães acabados de sair da escola, enfileiram-se nas hostes alemãs a fim de defender com orgulho a sua pátria. Este fervor cedo vai ser substituído por o confronto com a brutalidade dos combates e as inúmeras baixas de ambos os lados. Um a um todos perecem até ao climax final em que Paul Baümer (Lew Ayres) estica a mão para tocar numa borboleta, cena filmada alguns meses depois de o filme estar concluído e na qual a mão utilizada foi a do próprio realizador. 
O impacto da obra foi tão forte que, não só foi proibido em vários países dado o seu possível efeito dissuasor sobre os exércitos, tal como acontecera com o livro que lhe serviu de base, como, por outro lado, surgiram nos países onde foi exibido críticas como esta na Variety em 1930: o filme merece “to be shown in all the nations until the word ‘war’ is taken out of dictionaries”. Curiosamente estreará em breve um remake da obra com Daniel Radcliffe interpretando Paul Baümer, o que só vem provar a intemporalidade do seu argumento. Para além destas existe ainda uma versão de 1979 para televisão.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Crítica - Puncture (2011)

Realizado por Adam Kassen e Mark Kassen
Com Brett Cullen, Chris Evans, Vinessa Shaw 


Os produtores do mundialmente aclamado “Erin Brockovich”(2000) estão por detrás deste razoável “Puncture”, um convincente filme dramático com algum melodrama e intensidade à mistura que infelizmente não tem a classe ou o brilhantismo do maravilhoso trabalho de Steven Soderbergh, no entanto, esta obra de Adam e Mark Kassem também não é nada de se deitar fora e conta com alguns elementos positivos como a sua moderadamente interessante narrativa que se centra em Paul Dazinger e Mike Weiss (Brett Cullen e Chris Evans), dois advogados sem grandes recursos financeiros que são contratados por Vicky (Vinessa Shaw), uma modesta enfermeira que quer obrigar as grandes empresas da industria médica a abandoarem os seus obscuros interesses comerciais e a aceitarem comercializar uma seringa com ponta segura que pode evitar vários acidentes de trabalho, como aquele que ela sofreu e que a infetou com o vírus da sida. O trabalhador Paul Danziger não quer aceitar este caso porque não o acha rentável, mas o nobre e viciado em cocaína Mike Weiss convence-o que a sua pequena firma tem o dever de defender os interesses de todos os médicos e enfermeiros norte-americanos. Estes dois simples advogados decidem então iniciar uma extensa e dura batalha legal contra os gigantes da indústria médica que poderá mudar drasticamente as políticas de saúde do país.



A história de “Puncture” foca-se sobretudo nos dramas internos de Mike Weiss e nos envolventes contornos mediáticos da intensa guerra jurídica que Weiss e Dazinger travam contra algumas das maiores empresas da indústria médica, guerra essa que é levemente baseada num famoso caso verídico que na altura alertou os norte-americanos para as devastadoras consequências que um acidente com uma seringa não esterilizada pode ter na vida de um profissional médico ou de qualquer pessoa normal que lide habitualmente com seringas. O filme consegue destacar, sem grandes exageros, os perigos e as consequências inerentes a esta problemática, mas também explora com alguma atenção outras temáticas igualmente controversas como os perigos da toxicodependência e os estranhos contornos dos negócios multimilionários que as empresas médicas celebram todos os anos, negócios esses que parecem privilegiar os interesses financeiros em detrimento dos interesses e necessidades da população e dos profissionais médicos, no entanto, este último tema é abordado com alguma parcialidade já que é dado um enfoque excessivo à controvérsia e às teorias de conspiração sem fundamento. O lento e atabalhoado desenvolvimento do enredo também é um dos grandes defeitos desta obra, que infelizmente também não presta a devida atenção às lutas internas do seu carismático protagonista, um talentoso advogado viciado em cocaína e heroína que é maravilhosamente interpretado por Chris Evans, um ator mediano que tem neste “Puncture” um grande desempenho que merece aplausos e que nos mostra o lado mais sério deste profissional. Os restantes atores também têm um bom trabalho, mas Evans é claramente a grande estrela desta interessante produção independente que infelizmente não está ao nível dos grandes dramas legais dos últimos anos, mas é ainda assim um bom filme com boas e intensas cenas dramáticas. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Crítica - Magic Mike (2012)

 
Realizado por Steven Soderbergh
Com Channing Tatum, Alex Pettyfer, Matthew McConaughey, Cody Horn

Steven Soderbergh anda numa de abordar os submundos da indústria do sexo. Depois de em 2009 ter contratado Sasha Grey – uma famosa atriz dos filmes para adultos – para levar o espectador numa curiosa e experimental viagem ao submundo das call girls, agora o oscarizado realizador norte-americano recruta Channing Tatum – um antigo stripper – para explorar o submundo dos strippers masculinos. A primeira coisa que deve ser dita é que este “Magic Mike” não é uma comédia. Tem sido catalogado dessa forma em tudo quanto é sítio, mas está longe de ser um filme construído única e exclusivamente para pôr a audiência a rir às gargalhadas. Claro que possui momentos cómicos. Mas eles procedem da excentricidade do submundo que nos é apresentado, estando esta obra mais próxima de um drama familiar do que de uma comédia para toda a família. Nas mãos de um realizador vulgar e desajeitado, “Magic Mike” facilmente se tornaria ridículo, ordinário e até mesmo gratuito. Afinal de contas possui todos os condimentos para cair no ridículo e não ser levado muito a sério, ou não tivéssemos aqui quase duas horas de homens musculados a dançarem em cuecas de fio dental e trajes estereotipados. Podemos apenas imaginar o que este filme seria nas mãos de Adam Sandler e companhia limitada… Nas mãos de Soderbergh, contudo, “Magic Mike” floresce como um drama sólido e repleto de significados ocultos, abordando o submundo dos clubes de strip sem preconceitos para atingir um realismo cruel e, ao mesmo tempo, deixar a habitual mensagem de tom crítico.

   

Mike (Channing Tatum) é um rapaz honesto e esforçado. Considerando-se empreendedor e visionário quanto baste para singrar por conta própria, ele vive com o sonho de abrir um negócio de construção de móveis invulgares e feitos por medida, edificados à base de materiais reciclados para obter uma verdadeira obra de arte no final de todo o processo. A visão está lá e é uma visão prometedora. O que lhe falta é o dinheiro. O dinheiro que lhe permita investir nessa ideia original e construir as bases de um negócio sustentável. De forma a arranjar esse dinheiro, Mike trabalha como operário da construção civil durante o dia… e como stripper num clube noturno dirigido por Dallas (sempre intenso Matthew McConaughey), um homem enérgico e ambicioso que parece ter mais olhos que barriga. Talentoso e detentor de um corpo de Adónis, ele parece dar-se bem com a sua segunda identidade, fazendo as delícias monetárias de Dallas e as delícias luxuriosas das mulheres que frequentam o clube noturno. Porém, o seu destino sofre um pequeno desvio quando Adam (Alex Pettyfer), um jovem problemático e sem perspetivas de futuro, aterra de rompante na sua vida. De forma algo inesperada, Adam torna-se o mais recente membro do clube noturno. E é através da convivência com esse jovem que Mike passa a encarar o seu dia-a-dia com outros olhos…

   

Tudo bem, temos que admitir que “Magic Mike” está muito longe de ser um grande filme. A narrativa é mais do que previsível e algumas das personagens tombam em estereótipos perfeitamente escusados. Os traços gerais do argumento chegam mesmo a aparentar um certo ar de comédia romântica, o que jamais pode significar algo de positivo para uma obra que se quer coesa e minimamente relevante. Ainda assim, “Magic Mike” não deixa de surpreender pela positiva, afastando-se do humor físico mais cómodo e convencional para nos oferecer um drama relativamente poderoso. Um drama com chamadas de atenção para os maiores males que afligem a sociedade moderna, arrancando de Channing Tatum a interpretação mais convincente da sua carreira até ao momento. É certo que as cenas de strip relegam Tatum para a chancela de sex symbol que o notabilizou e que muitas vezes faz com que atores sérios não recebam o crédito devido (que o diga Leonardo DiCaprio, que continua a ter muitos “inimigos” entre o público por causa dos tempos de sex symbol adolescente). Mas quando abandona o palco do clube noturno, Tatum não perde o controlo da personagem. Bem pelo contrário, ele demonstra uma maturidade interpretativa que não julgávamos que possuísse. E algum do crédito tem também de ir para Steven Soderbergh, um realizador que se entrega vezes sem conta a projetos arriscados e que, na grande maioria das vezes, acaba por sair triunfante dessas pequenas aventuras cinematográficas. Como é seu apanágio, Soderbergh filma tudo com grande realismo e sem artifícios extravagantes, oferecendo ao espectador uma obra genuína e nada artificial. Uma obra leve e ligeiramente previsível, é certo. Mas também uma obra séria e com mensagens claras para aqueles que as souberem procurar. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

sábado, 14 de julho de 2012

Pérolas Indie - Largo Winch (2008)

Realizado por Jérôme Salle 
Com Tomer Sisley, Kristin Scott Thomas, Mélanie Thierry 
Género – Ação 

Sinopse - O bilionário Nerio Winch, é encontrado afogado. Uma morte obviamente suspeita, quando sabemos que é o fundador e principal acionista do poderoso Grupo W. Quem herdará este império financeiro? Oficialmente, Nerio não tinha família. Mas escondeu um segredo: um filho, Largo (Tomer Sisley), adotado quase trinta anos antes, num orfanato bósnio. 

Crítica – O título “Largo Winch” não deverá dizer grande coisa aos portugueses ou a qualquer outra pessoa que não viva em França ou na Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), já que é nestes quatro países que esta banda-desenhada criada por Philippe Francq e Jean Van Hamme é mais conhecida. O seu moderado sucesso nestes territórios levou à criação de uma breve série televisiva e de dois modestos filmes de aventura, sendo o primeiro dos quais este razoável “Largo Winch”. A sua trama é um bocado exagerada e extravagante, mas é capaz de entreter com alguma facilidade o grande público graças à forma astuta e cuidada como explora o desenvolvimento da grande conspiração central e nos apresenta às suas várias personagens e aos seus grandes objetivos sem nunca se tornar demasiado confusa ou oca, no entanto, isto não evita a presença de certos momentos verdadeiramente desnecessários e altamente irrealistas que diminuem o nível de intensidade e credibilidade desta obra, que conta também com algumas breves mas cativantes sequências de ação/ aventura que se desenrolam em vários cenários internacionais. A hábil realização de Jérôme Salle e o belo trabalho do seu elenco também conferem um certo brilho a este blockbuster francês que não é de todo um filme maravilhoso ou imensamente cativante, mas é uma obra razoável que nos consegue entreter muito mais que vários gigantes comerciais norte-americanos. 

Classificação – 3 Estrelas em 5

terça-feira, 10 de julho de 2012

Espaço Portugal – O Assalto ao Santa Maria (2010)


De Francisco Manso
Com Carlos Paulo, Leonor Seixas, Pedro Cunha

A 22 de janeiro de 1961, Henrique Galvão e um pequeno grupo de homens portugueses e espanhóis opositores aos regimes fascistas que dominavam então os seus países levaram a cabo a mais simbólica manifestação política de oposição ao Governo de Salazar – A Operação Dulcineia.
O paquete de luxo Santa Maria, que transportava através do Atlântico passageiros das mais diversas nacionalidades e quadrantes políticos, foi tomado de assalto ao largo das Caraíbas em águas internacionais. Henrique Galvão e todos os homens do Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação transformaram assim aquela pequena parcela de território português flutuante num baluarte de liberdade. 


O realizador, que tem dado provas de enorme consciência política nos argumentos que utiliza (lembremo-nos, por exemplo, do mais recente O Cônsul de Bordéus), utilizou, de novo, a matéria da História recente do nosso país e toda a aura de heroísmo romântico que intrinsecamente tem para transformar as nossas memórias coletivas num inegável monumento histórico.
Mais do que de arte, e ela não está alheada de todo deste filme, é de recriar a História, o momento em que ainda não se sabia qual seria o desfecho que tudo teria, que se trata. Contudo não podemos deixar de salientar a magnífica interpretação de Carlos Paulo como Henrique Galvão e também a espontaneidade genuína de Leonor Seixas que confere à personagem que interpreta. O romance entre a jovem Ilda e Zé Ramos (Pedro Cunha) é a componente novelesca da obra, um ténue mais ainda assim também ele simbólico fio condutor daquele que foi um notável, tão notável que ainda hoje não conseguimos entender bem toda a sua dimensão, ato de coragem de um grupo de homens liderado por Henrique Galvão e apoiado por, então exilado no Brasil, Humberto Delgado. O filme fez-me pensar, como certamente fará a muitos dos espetadores perante o atual panorama político, se esta fibra de homens terá de todo desaparecido.

Crítica - The Amazing Spider-Man (2012)

 
Realizado por Marc Webb
Com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary

O mínimo que se pode dizer é que “The Amazing Spider-Man” suscitou muitas dúvidas. Aquele anúncio totalmente inesperado de que a saga de Sam Raimi iria ter um fim abrupto e de que a célebre história do jovem aracnídeo iria ser alvo de um reboot deixou muito boa gente de pé atrás. Afinal de contas, não seria demasiado cedo para iniciar tudo de novo? O Spider-Man de Sam Raimi estava ainda muito fresco na memória de todos. Assim sendo, não seria uma decisão irrefletida dizer adeus a Tobey Maguire e companhia limitada para orquestrar uma nova versão do herói? Normalmente, este tipo de decisões oriundas dos manda-chuvas dos grandes estúdios acabam mal e porcamente, muito graças ao objetivo primordial que lhes deu origem: única e exclusivamente fazer dinheiro. E este parecia ser um caso exemplar dos administradores dos estúdios a meterem o nariz onde não são chamados. Por aqui, temos de admitir que sempre desconfiámos um bocadinho deste reboot, precisamente por ele ter todo o ar de ser excessivamente precoce. Mas o que é certo é que tudo acabou por correr da melhor maneira, quiçá contra todas as expectativas. “The Amazing Spider-Man” revela-se um produto de entretenimento de elevadíssima qualidade, surpreendendo tudo e todos com a sua abordagem mais realista e terra-a-terra das aventuras de Peter Parker. E para este resultado muito vale a visão descontraída de Marc Webb, bem como a química que existe entre Andrew Garfield e Emma Stone.

 

O filme original de Sam Raimi mostrava-nos um Peter Parker já muito próximo da idade adulta, prestes a terminar os estudos básicos para entrar na universidade e numa fase da vida mais independente. Este “The Amazing Spider-Man” não tem pressa em abordar a maturidade do herói, inserindo-o num contexto de escola secundária e recusando-se a tirá-lo desse contexto. Já todos conhecem a história de como o tímido e enfezado Peter Parker se transforma no ágil e confiante Spider-Man. Numa visita de estudo aos laboratórios da Oscorp (a empresa multimilionária de Norman Osborn), Parker (Andrew Garfield) é acidentalmente picado por uma aranha geneticamente modificada e a sua vida altera-se radicalmente. Aos poucos, ele descobre capacidades extraordinárias e ganha confiança através delas, passando a fazer frente aos colegas que costumavam importuná-lo nos intervalos das aulas. Porém, essa atitude mais emproada leva a que o seu tio Ben (Martin Sheen) seja assassinado por um vulgar larápio de rua e Peter compreende que tem de usar os seus novos poderes para proteger a população. Saído da casca, o rapaz capta também a atenção da bela Gwen Stacy (sempre carismática Emma Stone), iniciando uma relação de intimidade com ela. Mas os problemas surgem quando o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans) se injeta com um soro que deveria reconstruir o seu braço direito amputado, dando origem a uma mutação genética que o transforma num lagarto gigante. E com esta criatura a aterrorizar a população local, Peter não tem escolha senão vestir o fato de Spider-Man e lutar pelo bem-estar (e pelo reconhecimento) dos seus conterrâneos.

 

Não deixa de ser curioso que o filme que apresenta o vilão mais animalesco e inverosímil seja o filme que usufrui de um ambiente mais realista e, para todos os efeitos, credível. Sam Raimi ofereceu-nos um Spider-Man a roçar o fantástico, talvez mais fiel à banda-desenhada mas também mais difícil de se identificar com o grande público. Marc Webb tem o condão de nos apresentar um Spider-Man extremamente humano e de atitudes palpáveis. Peter Parker é neste filme um rapaz muito mais próximo de qualquer rapaz tímido e atormentado da vida real, tornando tudo o que se passa em seu redor muito mais crível e natural. As personagens do Spider-Man de Raimi tinham uma certa aura de cosplay, como se fossem personagens cerradas num estereótipo e num modo de atuar artificial que as afastava da realidade. As personagens deste reboot são mais naturais, mais acessíveis, mais próximas do cidadão comum. A fantasia de Raimi trazia magia ao mundo do aracnídeo, mas trazia também algum irrealismo e algum patriotismo patético que apenas infantilizava toda a trama. Um pouco à imagem do que Christopher Nolan fez com o Cavaleiro das Trevas que dá pelo nome de Batman, “The Amazing Spider-Man” insere o aracnídeo num cenário de (quase) absoluto realismo, mostrando-nos o que poderia acontecer se o herói do fato azul e vermelho existisse mesmo. Webb não manipula a transição entre a comédia e a ação tão bem como Raimi. Mas, para compensar essa falha, filma tudo com um sentido de realismo muito apurado, oferecendo-nos cenas de ação de cortar a respiração e diálogos entre personagens simplesmente deliciosos

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Andrew Garfield convence mais do que Tobey Maguire no fato (e na pele) de Spider-Man, assim como Emma Stone perfaz um interesse amoroso bem mais carismático e interessante do que a Mary Jane de Kirsten Dunst. E o Lizard de Rhys Ifans é o vilão mais bem conseguido até ao momento, dando água pela barba ao herói e exalando uma aura de ameaça que nem Venom conseguiu atingir em “Spider-Man 3”. Claro que, ainda assim, não é um filme perfeito. Peter Parker transforma-se em Spider-Man demasiado depressa, já que numa cena ainda é um zé-ninguém e na cena seguinte já é um herói que toda a população parece conhecer. Era preciso mais tempo para fazer essa transição de uma forma mais equilibrada, mas compreende-se a necessidade de acelerar o passo numa obra com mais de duas horas de duração. A personagem de Denis Leary beneficiaria também de mais algum tempo de antena, pois não tem o aprofundamento que merecia e seria interessante explorar mais a fundo a relação do aracnídeo com as forças de autoridade. Porém, como um todo, “The Amazing Spider-Man” é um filme bastante satisfatório. A nível técnico é quase perfeito, a nível dramático pouco deixa a desejar, e só é pena que termine quando tudo começa a ficar deveras interessante. Bravo. Ficaremos à espera da inevitável sequela. 

  Classificação – 4 Estrelas em 5

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Crítica - Moonrise Kingdom (2012)

Realizado por Wes Anderson
Com Bill Murray, Bruce Willis, Edward Norton, Frances McDormand

Este novo trabalho de Wes Anderson saiu do Festival de Cannes 2012 com uma série de críticas positivas mas sem nenhum prémio de relevo, no entanto, esta ausência de reconhecimento por parte do júri principal deste famoso certame francês não retira nenhum valor a esta bonita comédia dramática que é, sem sombra de dúvida, um exemplo de majestosidade e imaginação que consegue apelar às nossas emoções e ao nosso sentido de aventura. A sua doce e refrescante história desenrola-se numa pequena ilha ao largo da costa de Nova Inglaterra, no Verão de 1965, e centra-se em dois jovens de apenas doze anos, Sam e Suzy, que se apaixonam e fazem um pacto secreto que engloba um plano para fugirem juntos para um lugar selvagem. A sua ausência desperta de imediato a preocupação das suas famílias e das diversas autoridades locais, que decidem iniciar uma vasta operação de resgate que vai virar do avesso o quotidiano da pacífica comunidade desta pequena ilha.


O idóneo e trabalhador elenco de “Moonrise Kingdom” é um dos primeiros elementos a se destacar pela positiva nesta soberba obra, não só porque é formado por uma série de estrelas da sétima arte como Bill Murray, Bruce Willis, Edward Norton, Frances McDormand, Tilda Swinton ou Jason Schwartzman, mas também porque não tem um único ponto fraco, já que todos os atores, novos ou veteranos, cumprem os seus respetivos papeis na perfeição e deixam no ar uma boa e credível imagem das suas personagens, nomeadamente os dois protagonistas infantis, Jared Gilman e Kara Hayward, que incutem uma maior onda de ilusão e inocência ao pequeno romance juvenil que está na base desta obra e que, no final de contas, acaba por não ser um verdadeiro romance já que na sua génese não está um profundo sentimento de amor, mas sim uma poderosa conceção de amizade e confiança natural. Esta serena vertente romântica assenta portanto em fortes ideais de naturalidade, amizade e inocuidade que também estão na base de outros elementos narrativos de semelhante interesse. A forma como estes temas são introduzidos e abordados leva-nos a concluir que Wes Anderson e Roman Coppola nunca tiveram a intenção de criar um filme muito intelectual ou desafiante, mas sim uma obra de significados simples e de parcas ambições dramáticas, um objetivo que, no meu entender, foi cumprido com excelência. Esta ideia de simplicidade salta sobretudo à vista através da forma ténue e cómica como o argumento de “Moonrise Kingdom” explora os eventos que se desenrolam após a fuga dos dois miúdos, eventos esses que incluem uma série de divertidos percalços e peripécias muito imaginativos que mergulham a pequena ilha num estado de caos muito pouco sério mas extremamente satisfatório, onde todos os habitantes, velhos e novos, unem-se numa demanda intencionalmente excessiva e excêntrica que contrasta na perfeição com a pacífica harmonia do jovem casal que fugiu e que no final do filme regressa à sua rotina tradicional, algo que deixa no ar um breve sentimento de conformismo e normalidade que é bem-vindo num filme tão louco como este. A sua história é cativante e refrescante, mas “Moonrise Kingdom” não seria um filme tão diferente e deslumbrante se não fosse pela magnífica realização de Wes Anderson, um cineasta que nunca joga pelo seguro e que consegue sempre conferir aos seus trabalhos uma entusiasmante dose de irrealismo e emoção que nunca roça a barreira do inaceitável ou do ridículo. Este seu novo trabalho é apenas mais um ilustre exemplo da sua vasta criatividade e está ao nível dos seus grandes clássicos como o igualmente magnífico e extravagante “Rushmore” (1998). A par de uma soberba narrativa e realização, “Moonrise Kingdom” conta também com uma banda sonora muito interessante e com uma curiosa fotografia que reforça a extravagância desta obra. Resumindo, “Moonrise Kingdom” é digno da nossa atenção e admiração. É verdade que não é um filme muito intelectual ou comercial, mas é claramente uma das produções cinematográficas mais criativas deste ano. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

sábado, 7 de julho de 2012

Pérolas Indie - La Délicatesse – A Delicadeza (2011)

 
Realizado por David Foenkinos e Stéphane Foenkinos 
Com Audrey Tautou, Bruno Todeschini, François Damiens 
Género – Comédia Romântica 

Sinopse –Nathalie (Audrey Tautou) tem tudo para ser feliz. Ela é jovem, bonita e cheia de vida. Mas a morte acidental e repentina do seu marido, apaga toda a sua vivacidade e alegria. Durante anos, ela investe no seu trabalho. Subitamente e sem qualquer explicação, ela beija um colega do trabalho, Markus (François Damiens), um homem atípico. Logo surge uma relação sentimental entre este casal altamente improvável que irá gerar atenção e alguma agressividade dentro da empresa. Nathalie e Markus acabam por fugir para viver a sua história de amor, longe de tudo e todos. Esta história de renascimento é também uma história de um estranho amor.

Crítica – Tal como o seu título indica, “La Délicatesse – A Delicadeza” é um filme bastante leve e delicado. A sua história não tem contornos muito inovadores ou ambiciosos, mas consegue destacar-se das narrativas de obras semelhantes graças à refrescante ausência de estereótipos e à agradável mistura entre tons e estilos de vários géneros cinematográficos. É por causa desta interessante mescla de emoções e sentimentos que esta obra francesa esta recheada de breves mas deliciosos momentos românticos, melodramáticos e humorísticos que valem em conjunto o preço do bilhete. Esta sua doce e divertida trama deve muito do seu valor à sua criativa estrutura narrativa e à confiante e controlada realização de David Foenkinos e Stéphane Foenkinos, mas também beneficia da elevada qualidade das performances de Audrey Tautou e François Damiens, dois atores de grande nível que exibem durante todo o filme um forte à-vontade à frente das câmaras, algo que credibiliza o seu estranho romance e torna-o ainda mais especial. O elenco secundário também se exibe a um bom nível, algo que também pode ser dito sobre o trabalho de Carlos D'Alessio, que compôs uma banda sonora perfeitamente adequada ao estilo deste filme. A sua fotografia também é muito agradável. A forte combinação entre um enredo eficaz, um elenco de relevo e uma realização cuidada acabou por dar origem a uma bela e interessante comédia romântica com contornos dramáticos que felizmente nunca resvala para a mediocridade ou para a idiotice. Para terminar resta-me dizer que não tenho qualquer problema em recomendar este “La Délicatesse – A Delicadeza” a todos aqueles que gostem de bons mas leves filmes românticos, no entanto se preferir fortes melodramas românticos deverá procurar um filme mais sério.

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Crítica - The Cold Light of Day (2012)

Realizado por Mabrouk El Mechri 
Com Henry Cavill, Bruce Willis, Sigourney Weaver Ao limitar e adiar a estreia norte-americana deste “The Cold Light of Day” para Setembro de 2012, a Summit Entertainment deixou bem claro que este filme de ação está longe de ser uma obra magistral que seja digna de ser vista nas salas de cinema. Este claro sentimento de mediocridade é evidenciado pelos seus terríveis trailers, mas é definitivamente confirmado pelo ridículo início desta sofrível produção norte-americana que acompanha a irrealista jornada de Will Shaw (Henry Cavill), um jovem gestor de Wall Street, cuja família é sequestrada durante uma viagem a Espanha. Will terá poucas horas para a encontrar, revelar uma conspiração governamental e descobrir a ligação que existe entre o sequestro e os segredos do seu pai.


O seu elenco tem um nível coletivo bastante mediano, mas acaba por ser o único elemento menos mau desta obra, onde os conhecidos Henry Cavill, Bruce Willis e Sigourney Weaver brindam-nos com três performances inconvincentes e insatisfatórias. O veterano Bruce Willis até merece uma certa tolerância, porque só aparece em pouco mais de vinte minutos, mas Weaver e Cavill não têm essa benesse e só podem utilizar a péssima qualidade do argumento para justificarem os seus levianos desempenhos. A realização de Mabrouk El Mechri também é bastante fraca porque, para além de não ter conseguido criar nenhuma poderosa ou imaginativa sequência de ação, não foi capaz de credibilizar e dinamizar uma confusa e ridícula trama cheia de lacunas e defeitos, afinal de contas nunca conseguimos compreender a lógica que se esconde por detrás de grande parte dos eventos deste filme, ou descobrir o que está escondido na misteriosa mala que está na base de todos as contrariedade que afetam a vida da personagem central que, de um momento para o outro, deixa de ser um simples jovem bancário e passa a ser um soldado altamente treinado com uma insaciável sede de vingança. Estes são apenas os pontos negativos mais óbvios e escandalosos deste “The Cold Light of Day”, um filme defeituoso e demasiado rebuscado que emana fortes ondas de amadorismo e mediocridade em todas as suas cenas. Será que há alguém que acredita que este filme não vai figurar na lista dos piores filmes de ação do ano?

 Classificação – 1 Estrela em 5

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os Filmes dos Óscares – The Broadway Melody (1929)


Realizado por Harry Beaumont
Com Charles King, Anita Page, Bessie Love

Em 1930, The Broadway Melody recebeu o Óscar de Melhor Filme da segunda vez que a estatueta foi atribuída nessa categoria. Este foi o primeiro musical da Metro-Goldwyn-Mayer, seguido por muitos e muitos outros.


Apresentando-nos a clássica história de um triângulo amoroso em que duas irmãs se apaixonam pelo mesmo homem, The Broadway Melody fez História ao ser o primeiro musical com som do cinema. O filme, dados os condicionalismos técnicos de muitas salas, foi também lançado em versão muda e ainda numa versão technicolor em duas cores, vermelho e verde, hoje perdida. Foi um campeão de bilheteiras do ano em que foi lançado e abriu caminho a uma série de outros musicais sobre os amores e desamores do elenco de espetáculos da Broadway. As músicas de Arthur  Freed e Nacio Herb Brown tornaram-se clássicos do género. Pode assistir a um excerto desta obra aqui.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Crítica - Ice Age: Continental Drift (2012)

 
Realizado por Steve Martino e Mike Thurmeier
Com Ray Romano, Denis Leary, John Leguizamo, Peter Dinklage

Tal como acontece com as sagas de “Madagascar” e “Shrek”, a saga “Ice Age” parece ter vindo para ficar, dado que vai já na sua quarta aventura e os recordes de bilheteira continuam a ser rebentados com estrondo. A fórmula começa a desgastar-se um pouquinho, pois já nem o esquilo mais azarado da 7ª Arte (estamos, claro está, a falar de Scrat) consegue ter a mesma piada. Porém, o que é certo é que ninguém se parece cansar das aventuras de Manny, Diego, Sid e companhia limitada. Verdade seja dita, a saga “Ice Age” nunca esteve ao nível dos projetos mais sólidos e deslumbrantes da Pixar (ou mesmo da Dreamworks). Apesar de ser visualmente competente e de apresentar um conjunto de personagens bastante divertidas, esta saga deixou sempre no ar a sensação de que se estava perante um produto mais infantil e menos ambicioso. E o problema é que, a cada filme que passa, essa infantilidade torna-se mais notória, aproximando “Ice Age” dos filmes da Disney mais simplistas e conservadores. Não há nada de tremendamente errado neste “Ice Age: Continental Drift”, essencialmente porque as personagens continuam genuínas e engraçadas quanto baste para seguirmos as suas proezas com algum agrado. Contudo, os pontos centrais da narrativa são excessivamente previsíveis (e até mesmo moralistas), dispersando a atenção do público adulto. E a insistência em trazer mais e mais personagens secundárias para o enredo só danifica o equilíbrio da obra como um todo, pois nem todas elas recebem o aprofundamento que mereciam, transformando-se em meros peões que vão ajudando a narrativa a desenrolar-se sempre que esta chega a um impasse.


Nesta quarta aventura, o mamute Manny (Ray Romano) vê-se obrigado a enfrentar duas problemáticas: os terríveis anos da adolescência da sua filha Peaches (Keke Palmer) e a desagregação da crosta terrestre, um fenómeno que parece determinado em conferir à Terra um novo desenho geográfico. Num dia como tantos outros (leia-se um dia em que Manny dá um raspanete à filha por esta desobedecer às suas ordens e insistir em aventurar-se por locais proibidos), um tremor de terra abala a ilha onde todos viviam tranquilamente. Fendas enormes abrem-se no solo e, como consequência disso, Manny, Diego (Denis Leary) e Sid (John Leguizamo) são forçados a separar-se dos outros membros da comunidade, ficando isolados e por sua própria conta no topo de um bloco de gelo que zarpa em direção ao mar aberto. Assim se inicia uma longa demanda para tentar fazer com que o bloco de gelo regresse ao ponto de partida. Mas a tarefa não se revela nada fácil. Não apenas porque Granny (Wanda Sykes) – a avozinha de Sid – decide fazer a vida negra ao grupo de amigos, mas também porque estes se deparam com um bando de piratas liderado pelo macaco Gutt (Peter Dinklage) que promete dar-lhes água pela barba.

   

A seguir a “Ice Age: The Meltdown” (o segundo filme, estreado em 2006), este “Ice Age: Continental Drift” é o mais fraquinho da saga. “Ice Age: Dawn of the Dinosaurs” (de 2009) tinha voltado a conquistar alguns pontos porque abandonava as narrativas moralistas (e mais que vistas) das famílias felizes e colocava os heróis a viverem de novo uma grande aventura. Ora, este quarto filme torna a descair um pouco, porque volta a insistir no aborrecido e desgastado tema das famílias felizes que tudo são capazes de alcançar se se unirem em prol de um objetivo comum. A mensagem por detrás do fogo-de-artifício faz todo o sentido, como é óbvio. O problema é que se trata de uma mensagem explorada até à exaustão em fitas anteriores, destruindo o sentimento de novidade e realçando o déjà vu. Estamos perante uma obra que é divertida quanto baste para entreter espectadores de todas as idades, apresentando sequências de ação de bom nível, tiradas cómicas minimamente satisfatórias e um leque de personagens principais que se complementa de forma quase perfeita. Porém, a narrativa roça por momentos uma infantilidade excessiva, levando o espectador adulto a pensar se entrou na sala de “Ice Age: Continental Drift” ou na sala de “Sininho Salva as Fadas: Parte 4”. Das personagens novas trazidas pela dupla de realizadores Steve Martino/Mike Thurmeier, apenas três se aproveitam verdadeiramente: a Granny de Wanda Sykes, o Capitão Gutt de Peter Dinklage e o pirata Flynn de Nick Frost. Todas as outras eram escusadas, com especial destaque para Shira (a tigre dentes-de-sabre de Jennifer Lopez), que apenas realça a infantilidade da narrativa através da necessidade mórbida dos argumentistas em arranjar casalinhos para toda a gente. Se houver uma quinta parte da saga, só falta mesmo arranjar par para Sid, pois todos os outros estão já casadinhos da silva (aqui se compreende a razão pela qual referimos que a narrativa era conservadora…). Em poucas palavras, até o pobre Scrat já não conseguedesencadear o mesmo lote de gargalhadas, pelo que fica a ideia de que a saga “Ice Age” já deu o que tinha a dar (como a saga “Shrek”, aliás). 

 Classificação – 3 Estrelas em 5

domingo, 1 de julho de 2012

Crítica - 21 Jump Street (2012)

Realizado por Chris Miller e Phil Lord
Com Channing Tatum, Dave Franco, Jonah Hill

A série criminal “21 Jump Street” gozou de algum sucesso mediático durante os quatro anos em que foi exibida pela FOX nos Estados Unidos da América, mas acabou por ser cancelada em 1991 devido a uma repentina quebra da sua popularidade e à aparente falta de disponibilidade da sua grande estrela (Johnny Depp) em protagonizar mais uma temporada, já que no horizonte de um jovem Johnny Depp já se começava a vislumbrar uma brilhante carreira na sétima arte. Esta decisão administrativa matou esta série, mas não encerrou em definitivo a Esquadra 21 Jump Street que volta a abrir as suas portas nesta divertida mas ocasionalmente ridícula adaptação cinematográfica, onde Channing Tatum e Jonah Hill dão vida a Jenko e Schmidt, dois jovens adultos que estão preparados para deixar para trás os traumas da adolescência. Os dois decidem tornar-se policias mas, após uma desastrosa primeira missão, são colocados na Jump Street, uma divisão secreta que se especializa em crimes cometidos por jovens. Eles são incumbidos de se infiltrarem num liceu e descobrirem quem é que está por detrás de um complicado esquema de tráfico e distribuição de droga.


O enredo deste “21 Jump Street” não é nada sério nem faz muito sentido, mas admito que me diverti bastante a ver esta cativante comédia de ação, que consegue compensar a sua incrível falta de coesão e credibilidade com algumas sequências hilariantes que fogem um pouco do imaturo e leviano humor sexual que encontramos na maioria das comédias norte-americanas. O sucesso destas abundantes e divertidas cenas de ação e comédia deriva sobretudo da forma como aproveitam a excentricidade e a forte amizade que une as duas personagens principais para entreter o espetador e mergulhá-lo numa aventura policial nitidamente absurda que, em última análise, não convence no plano narrativo mas satisfaz no plano cómico. A explosiva dupla Jonah Hill/Channing Tatum também tem uma importante quota de responsabilidade no sucesso cómico desta obra. Estes dois jovens atores em ascensão exibem uma impressionante química no grande ecrã e acabam por estar no meio das melhores e mais divertidas cenas deste filme, que conta também com dois cameos um pouco desapontantes de duas das maiores estrelas da série televisiva: Johnny Depp e Peter DeLuise. Em suma, “21 Jump Steet” é menos sério que a sua base televisiva mas é, ainda assim, uma agradável surpresa e uma boa aposta para um serão de cinema mais desmiolado e descontraído. 

Classificação - 3,5 Estrelas em 5

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pérolas Indie - Being Flynn (2012)

Realizado por Paul Weitz
Com Julianne Moore, Paul Dano, Robert De Niro
Género – Drama

Sinopse - A história de “Being Flynn” é nos contada sob o ponto de vista de Nick Flynn (Paul Dano) e Jonathan Flynn (Robert de Niro). O primeiro é um jovem escritor que procura definir-se. Ele tem saudades da sua falecida mãe, Jody (Julianne Moore), e da sua natureza ternurenta, mas mal se lembra do seu pai, porque já não o vê há mais de dezoito anos. O seu pai chama-se Jonathan Flynn e há muito tempo que se definiu a si próprio como um dos grandes escritores norte-americanos Após ter abandonado a sua mulher e o filho, Jonathan decidiu enfrentar a vida com os seus próprios meios, e acabou por cumprir uma pena de prisão por passar cheques falsos. Após sair da prisão, ele começou a conduzir um táxi durante alguns anos, mas com a bebida e as excentricidades a aumentar, Jonathan perde subitamente esta sua forma de subsistência e a sua própria casa, recorrendo por isso à compaixão do seu distante filho que não hesita em ajuda-lo. Nick prepara-se então para integrar o pai na sua vida, mas depressa se apercebe que o seu esforço é em vão, pois o pai desaparece outra vez sem deixar rasto. Prosseguindo a sua vida, Nick aceita um emprego num centro para os sem-abrigo, onde aprende a relacionar-se com os que menos afortunados que chegam, noite após noite. Ao lidar com os sem-abrigo - alguns de forma permanente, outros temporários - e ao ouvir as suas histórias, Nick encontra finalmente o seu propósito de vida e de trabalho. Para além disto, envolve-se romanticamente com uma bela colega de trabalho chamada Denise. Numa noite, Jonathan surge no centro, à procura de uma cama, e o sentido de compaixão de Nick vacila. Para dar a ambos uma oportunidade real de futuro, Nick terá de decidir para quem procurar primeiro redenção. 

Crítica – É bom ver Robert de Niro a brilhar ao mais alto nível num drama tão forte como este “Being Flynn”, uma realista e comovente adaptação cinematográfica de “Another Bullshit Night in Suck City”, um aclamado livro de memórias da autoria do poeta e dramaturgo Nick Flynn. A história desta obra foca-se sobretudo nos altos e baixos da difícil relação familiar entre Jonathan e Nick, duas personagens com personalidades bastante fortes e altamente destrutivas que finalmente chocam uma com a outra quando o negligente Jonathan é obrigado a pedir ajuda e apoio ao seu desnorteado filho. Este seu súbito recontro familiar abala de imediato a sanidade e a confiança de Nick, um jovem adulto cheio de potencial mas com um passado bastante traumático que envereda por um caminho autodestrutivo quando começa a lidar diariamente com o violento e volátil temperamento do seu pai, que não consegue aceitar ou assumir que é um simples sem-abrigo sem nenhuma brilhante carreira literária pela frente. Esta delicada e atribulada relação deixa portanto várias mazelas emocionais em Nick, mas ele acaba eventualmente por recuperar e por encontrar o seu próprio rumo, já o racista e teimoso Jonathan parece irremediavelmente perdido no meio da ilusão de grandeza que foi criando na sua cabeça ao longo dos anos e que o levou a deixar a sua família. As suas maiores fraquezas são expostas por esta relação mas também pelo progressivo declínio da sua vida que nunca foi tudo aquilo que ele esperava. Para além deste comovente duelo familiar, “Being Flynn” também aborda levemente o crescente problema da pobreza e da proliferação dos sem-abrigo, ao utilizar as duras experiências de Jonathan no sobrelotado abrigo social e nas frias ruas citadinas para demonstrar a crueldade e a violência da lei das ruas. Este retrato socioecónomico é interessante, mas teria sido ainda mais abrangente e complexo se tivessem sido exploradas, com um pouco mais de profundidade e qualidade, as histórias de vida de outros sem-abrigo. Esta clara falta de ambição não retirar nenhum valor ao cativante argumento desta produção independente, que também podia ter abordado com um maior detalhe o traumático passado familiar das personagens centrais, no entanto, estas pequenas falhas acabam por não abalar as suas fortes mensagens morais. O sucesso dramático desta obra também deriva das carismáticas e convincentes performances de Paul Dano e Robert De Niro, este último destaca-se sobretudo graças à forma imensamente expressiva como aborda algumas das cenas mais poderosas do filme. No final de contas, “Being Flynn” tem que se encarado como um filme pesado e pouco ritmado mas é, mesmo assim, um drama bastante bom que leva o espetador numa gratificante viagem melodramática pela frieza das ruas e pelos meandros de uma difícil relação familiar. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pérolas Indie - Corpo Celeste (2011)


Realizado por Alice Rohrwacher
Com Salvatore Cantalupo, Yle Vianello, Anita Caprioli
Género – Drama

Sinopse – Marta (Yle Vianello) tem treze anos e, após dez anos passados com a família no estrangeiro, regressa ao sul profundo italiano, a Reggio Calabria, a cidade onde nasceu. Com ela estão a mãe e a irmã mais velha, que mal a suporta. Marta começa imediatamente a frequentar o curso de preparação para o crisma: está na idade certa e é também, repetem-no todos, um belo modo de fazer novos amigos. Sem o crisma nem sequer se pode casar! É assim que encontra Don Mario, um padre azafamado e distante que administra a igreja como uma pequena empresa, e a catequista Santa, uma senhora bastante divertida que conduzirá as crianças à confirmação. 

Crítica – A 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2012 apadrinhou a estreia nacional desta realista e interessante obra italiana que tenta expor subtilmente os maiores problemas e fragilidades atuais da igreja católica. A trama escrita por Alice Rohrwacher nunca entra por fortes enigmas filosóficos ou polémicas teológicas mas consegue, mesmo assim, fazer uma breve e elucidativa análise do estado atual do catolicismo ao utilizar os vários problemas da envelhecida e isolada Paróquia de Reggio Calabria para expor algumas das maiores fraquezas desta religião, assim sendo, encontramos ao longo do filme várias alusões à cada vez mais fraca adesão dos mais novos aos valores e ao estilo de vida cristão, à crescente comercialização do cristianismo, às fracas assistências que se começam a verificar nas missas e nas festas católicas, à lenta modernização das envelhecidas políticas cristãs, à degradação dos templos de oração e, claro está, à forma antiquada e repressiva como a igreja ainda trata as mulheres, as relações sexuais e tudo aquilo que vai contra a sua ideia de normalidade. Rohrwacher aproveita os evidentes contrastes entre as personalidades das várias personagens principais para enfatizar estes problemas, nomeadamente o clássico contraste entre a inocência de uma criança (Marta) e a vasta experiência corrosiva de um homem maduro (Don Mario). Ao focar grande parte da sua atenção nos problemas da igreja, “Corpo Celeste” acaba por não abordar com o devido pormenor a história individual de Marta, uma pré-adolescente que durante o filme passa por várias mudanças sociais, culturais e naturais que nunca são exploradas com o máximo detalhe possível e que acabam por não ter o impacto dramático que mereciam. É claro que esta pequena falha retira um pouco de valor a esta obra que, ainda assim, deve ser encarada como um inteligente e agradável filme independente que tem um bom argumento, uma talentosa realização da promissora Alice Rohrwacher e um elenco bastante razoável, onde se destaca  a curiosa e credível Yle Vianello. 

Classificação 3,5 Estrelas em 5

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Espaço Portugal – O Crime do Padre Amaro (2005)

Realizado por Carlos Coelho da Silva
Com Soraia Chaves, Jorge Corrula, Ruy de Carvalho

Inicialmente concebido como uma mini-série de televisão, O Crime do Padre Amaro é a segunda adaptação à grande tela do muito conhecido romance de Eça de Queirós. A primeira destas adaptações, curiosamente, e tal é a universalidade do tema abordado, surgiu no México em 2002.
A questão da luta desumana entre a obrigação de celibato dos padres e os seus desejos sexuais aqui tratada chocou tanto em 1875, altura da publicação da obra, como em 2005 quando Carlos Coelho da Silva, a partir de um argumento adaptado por Vera Sacramento, ousou mostrar ao público as mais arrojadas cenas de sexo do cinema português. À fortíssima carga sexual deste filme certamente não é alheia a sensualidade suprema de Soraia Chaves. Nesta obra, o crime do padre de Leiria é transposto para um bairro degradado da periferia de Lisboa onde o jovem Amaro (Jorge Corrula), acabado de sair do seminário, conhece Amélia (Soraia Chaves), encontro que o leva a questionar todos os valores e espirituais que até aí tinha como certos.


Esta recontextualização insere o filme tanto na tradição da adaptação ao cinema de clássicos da literatura portuguesa como na tendência mais recente para centrar a ação em zonas degradadas da periferia, conseguindo ainda inovar extraordinariamente ao atingir em cheio a sexualidade dos espetadores e os levar a sentir empatia com o jovem padre. Num país ainda muito conservador e machista, esta coragem não só deu celebridade a Soraia Chaves como marcou decisivamente o imaginário sexual de muitos adolescentes e não só.
O filme agrada-me particularmente por estas razões. Sexo, literatura, cinema, crítica social e moral são muito bem conjugadas numa obra que, sem pretensões intelectuais, atinge no âmago uma das questões tabu da atualidade. Soraia Chaves consegue relegar para terceiro plano todas as demais interpretações, o ritmo é muito forte e todos os elementos são sobrepostos de forma exemplar.