Com Channing Tatum, Alex Pettyfer, Matthew McConaughey, Cody Horn
Steven Soderbergh anda numa de abordar os submundos da indústria do sexo. Depois de em 2009 ter contratado Sasha Grey – uma famosa atriz dos filmes para adultos – para levar o espectador numa curiosa e experimental viagem ao submundo das call girls, agora o oscarizado realizador norte-americano recruta Channing Tatum – um antigo stripper – para explorar o submundo dos strippers masculinos. A primeira coisa que deve ser dita é que este “Magic Mike” não é uma comédia. Tem sido catalogado dessa forma em tudo quanto é sítio, mas está longe de ser um filme construído única e exclusivamente para pôr a audiência a rir às gargalhadas. Claro que possui momentos cómicos. Mas eles procedem da excentricidade do submundo que nos é apresentado, estando esta obra mais próxima de um drama familiar do que de uma comédia para toda a família. Nas mãos de um realizador vulgar e desajeitado, “Magic Mike” facilmente se tornaria ridículo, ordinário e até mesmo gratuito. Afinal de contas possui todos os condimentos para cair no ridículo e não ser levado muito a sério, ou não tivéssemos aqui quase duas horas de homens musculados a dançarem em cuecas de fio dental e trajes estereotipados. Podemos apenas imaginar o que este filme seria nas mãos de Adam Sandler e companhia limitada… Nas mãos de Soderbergh, contudo, “Magic Mike” floresce como um drama sólido e repleto de significados ocultos, abordando o submundo dos clubes de strip sem preconceitos para atingir um realismo cruel e, ao mesmo tempo, deixar a habitual mensagem de tom crítico.
Mike (Channing Tatum) é um rapaz honesto e esforçado. Considerando-se empreendedor e visionário quanto baste para singrar por conta própria, ele vive com o sonho de abrir um negócio de construção de móveis invulgares e feitos por medida, edificados à base de materiais reciclados para obter uma verdadeira obra de arte no final de todo o processo. A visão está lá e é uma visão prometedora. O que lhe falta é o dinheiro. O dinheiro que lhe permita investir nessa ideia original e construir as bases de um negócio sustentável. De forma a arranjar esse dinheiro, Mike trabalha como operário da construção civil durante o dia… e como stripper num clube noturno dirigido por Dallas (sempre intenso Matthew McConaughey), um homem enérgico e ambicioso que parece ter mais olhos que barriga. Talentoso e detentor de um corpo de Adónis, ele parece dar-se bem com a sua segunda identidade, fazendo as delícias monetárias de Dallas e as delícias luxuriosas das mulheres que frequentam o clube noturno. Porém, o seu destino sofre um pequeno desvio quando Adam (Alex Pettyfer), um jovem problemático e sem perspetivas de futuro, aterra de rompante na sua vida. De forma algo inesperada, Adam torna-se o mais recente membro do clube noturno. E é através da convivência com esse jovem que Mike passa a encarar o seu dia-a-dia com outros olhos…
Tudo bem, temos que admitir que “Magic Mike” está muito longe de ser um grande filme. A narrativa é mais do que previsível e algumas das personagens tombam em estereótipos perfeitamente escusados. Os traços gerais do argumento chegam mesmo a aparentar um certo ar de comédia romântica, o que jamais pode significar algo de positivo para uma obra que se quer coesa e minimamente relevante. Ainda assim, “Magic Mike” não deixa de surpreender pela positiva, afastando-se do humor físico mais cómodo e convencional para nos oferecer um drama relativamente poderoso. Um drama com chamadas de atenção para os maiores males que afligem a sociedade moderna, arrancando de Channing Tatum a interpretação mais convincente da sua carreira até ao momento. É certo que as cenas de strip relegam Tatum para a chancela de sex symbol que o notabilizou e que muitas vezes faz com que atores sérios não recebam o crédito devido (que o diga Leonardo DiCaprio, que continua a ter muitos “inimigos” entre o público por causa dos tempos de sex symbol adolescente). Mas quando abandona o palco do clube noturno, Tatum não perde o controlo da personagem. Bem pelo contrário, ele demonstra uma maturidade interpretativa que não julgávamos que possuísse. E algum do crédito tem também de ir para Steven Soderbergh, um realizador que se entrega vezes sem conta a projetos arriscados e que, na grande maioria das vezes, acaba por sair triunfante dessas pequenas aventuras cinematográficas. Como é seu apanágio, Soderbergh filma tudo com grande realismo e sem artifícios extravagantes, oferecendo ao espectador uma obra genuína e nada artificial. Uma obra leve e ligeiramente previsível, é certo. Mas também uma obra séria e com mensagens claras para aqueles que as souberem procurar.
Classificação – 3,5 Estrelas em 5