Com Soraia Chaves, Jorge Corrula, Ruy de Carvalho
Inicialmente concebido como uma mini-série de televisão, O Crime do Padre Amaro é a segunda adaptação à grande tela do muito conhecido romance de Eça de Queirós. A primeira destas adaptações, curiosamente, e tal é a universalidade do tema abordado, surgiu no México em 2002.
A questão da luta desumana entre a obrigação de celibato dos padres e os seus desejos sexuais aqui tratada chocou tanto em 1875, altura da publicação da obra, como em 2005 quando Carlos Coelho da Silva, a partir de um argumento adaptado por Vera Sacramento, ousou mostrar ao público as mais arrojadas cenas de sexo do cinema português. À fortíssima carga sexual deste filme certamente não é alheia a sensualidade suprema de Soraia Chaves. Nesta obra, o crime do padre de Leiria é transposto para um bairro degradado da periferia de Lisboa onde o jovem Amaro (Jorge Corrula), acabado de sair do seminário, conhece Amélia (Soraia Chaves), encontro que o leva a questionar todos os valores e espirituais que até aí tinha como certos.
Esta recontextualização insere o filme tanto na tradição da adaptação ao cinema de clássicos da literatura portuguesa como na tendência mais recente para centrar a ação em zonas degradadas da periferia, conseguindo ainda inovar extraordinariamente ao atingir em cheio a sexualidade dos espetadores e os levar a sentir empatia com o jovem padre. Num país ainda muito conservador e machista, esta coragem não só deu celebridade a Soraia Chaves como marcou decisivamente o imaginário sexual de muitos adolescentes e não só.
O filme agrada-me particularmente por estas razões. Sexo, literatura, cinema, crítica social e moral são muito bem conjugadas numa obra que, sem pretensões intelectuais, atinge no âmago uma das questões tabu da atualidade. Soraia Chaves consegue relegar para terceiro plano todas as demais interpretações, o ritmo é muito forte e todos os elementos são sobrepostos de forma exemplar.
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