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sábado, 14 de julho de 2012

Pérolas Indie - Largo Winch (2008)

Realizado por Jérôme Salle 
Com Tomer Sisley, Kristin Scott Thomas, Mélanie Thierry 
Género – Ação 

Sinopse - O bilionário Nerio Winch, é encontrado afogado. Uma morte obviamente suspeita, quando sabemos que é o fundador e principal acionista do poderoso Grupo W. Quem herdará este império financeiro? Oficialmente, Nerio não tinha família. Mas escondeu um segredo: um filho, Largo (Tomer Sisley), adotado quase trinta anos antes, num orfanato bósnio. 

Crítica – O título “Largo Winch” não deverá dizer grande coisa aos portugueses ou a qualquer outra pessoa que não viva em França ou na Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), já que é nestes quatro países que esta banda-desenhada criada por Philippe Francq e Jean Van Hamme é mais conhecida. O seu moderado sucesso nestes territórios levou à criação de uma breve série televisiva e de dois modestos filmes de aventura, sendo o primeiro dos quais este razoável “Largo Winch”. A sua trama é um bocado exagerada e extravagante, mas é capaz de entreter com alguma facilidade o grande público graças à forma astuta e cuidada como explora o desenvolvimento da grande conspiração central e nos apresenta às suas várias personagens e aos seus grandes objetivos sem nunca se tornar demasiado confusa ou oca, no entanto, isto não evita a presença de certos momentos verdadeiramente desnecessários e altamente irrealistas que diminuem o nível de intensidade e credibilidade desta obra, que conta também com algumas breves mas cativantes sequências de ação/ aventura que se desenrolam em vários cenários internacionais. A hábil realização de Jérôme Salle e o belo trabalho do seu elenco também conferem um certo brilho a este blockbuster francês que não é de todo um filme maravilhoso ou imensamente cativante, mas é uma obra razoável que nos consegue entreter muito mais que vários gigantes comerciais norte-americanos. 

Classificação – 3 Estrelas em 5

sábado, 7 de julho de 2012

Pérolas Indie - La Délicatesse – A Delicadeza (2011)

 
Realizado por David Foenkinos e Stéphane Foenkinos 
Com Audrey Tautou, Bruno Todeschini, François Damiens 
Género – Comédia Romântica 

Sinopse –Nathalie (Audrey Tautou) tem tudo para ser feliz. Ela é jovem, bonita e cheia de vida. Mas a morte acidental e repentina do seu marido, apaga toda a sua vivacidade e alegria. Durante anos, ela investe no seu trabalho. Subitamente e sem qualquer explicação, ela beija um colega do trabalho, Markus (François Damiens), um homem atípico. Logo surge uma relação sentimental entre este casal altamente improvável que irá gerar atenção e alguma agressividade dentro da empresa. Nathalie e Markus acabam por fugir para viver a sua história de amor, longe de tudo e todos. Esta história de renascimento é também uma história de um estranho amor.

Crítica – Tal como o seu título indica, “La Délicatesse – A Delicadeza” é um filme bastante leve e delicado. A sua história não tem contornos muito inovadores ou ambiciosos, mas consegue destacar-se das narrativas de obras semelhantes graças à refrescante ausência de estereótipos e à agradável mistura entre tons e estilos de vários géneros cinematográficos. É por causa desta interessante mescla de emoções e sentimentos que esta obra francesa esta recheada de breves mas deliciosos momentos românticos, melodramáticos e humorísticos que valem em conjunto o preço do bilhete. Esta sua doce e divertida trama deve muito do seu valor à sua criativa estrutura narrativa e à confiante e controlada realização de David Foenkinos e Stéphane Foenkinos, mas também beneficia da elevada qualidade das performances de Audrey Tautou e François Damiens, dois atores de grande nível que exibem durante todo o filme um forte à-vontade à frente das câmaras, algo que credibiliza o seu estranho romance e torna-o ainda mais especial. O elenco secundário também se exibe a um bom nível, algo que também pode ser dito sobre o trabalho de Carlos D'Alessio, que compôs uma banda sonora perfeitamente adequada ao estilo deste filme. A sua fotografia também é muito agradável. A forte combinação entre um enredo eficaz, um elenco de relevo e uma realização cuidada acabou por dar origem a uma bela e interessante comédia romântica com contornos dramáticos que felizmente nunca resvala para a mediocridade ou para a idiotice. Para terminar resta-me dizer que não tenho qualquer problema em recomendar este “La Délicatesse – A Delicadeza” a todos aqueles que gostem de bons mas leves filmes românticos, no entanto se preferir fortes melodramas românticos deverá procurar um filme mais sério.

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pérolas Indie - Being Flynn (2012)

Realizado por Paul Weitz
Com Julianne Moore, Paul Dano, Robert De Niro
Género – Drama

Sinopse - A história de “Being Flynn” é nos contada sob o ponto de vista de Nick Flynn (Paul Dano) e Jonathan Flynn (Robert de Niro). O primeiro é um jovem escritor que procura definir-se. Ele tem saudades da sua falecida mãe, Jody (Julianne Moore), e da sua natureza ternurenta, mas mal se lembra do seu pai, porque já não o vê há mais de dezoito anos. O seu pai chama-se Jonathan Flynn e há muito tempo que se definiu a si próprio como um dos grandes escritores norte-americanos Após ter abandonado a sua mulher e o filho, Jonathan decidiu enfrentar a vida com os seus próprios meios, e acabou por cumprir uma pena de prisão por passar cheques falsos. Após sair da prisão, ele começou a conduzir um táxi durante alguns anos, mas com a bebida e as excentricidades a aumentar, Jonathan perde subitamente esta sua forma de subsistência e a sua própria casa, recorrendo por isso à compaixão do seu distante filho que não hesita em ajuda-lo. Nick prepara-se então para integrar o pai na sua vida, mas depressa se apercebe que o seu esforço é em vão, pois o pai desaparece outra vez sem deixar rasto. Prosseguindo a sua vida, Nick aceita um emprego num centro para os sem-abrigo, onde aprende a relacionar-se com os que menos afortunados que chegam, noite após noite. Ao lidar com os sem-abrigo - alguns de forma permanente, outros temporários - e ao ouvir as suas histórias, Nick encontra finalmente o seu propósito de vida e de trabalho. Para além disto, envolve-se romanticamente com uma bela colega de trabalho chamada Denise. Numa noite, Jonathan surge no centro, à procura de uma cama, e o sentido de compaixão de Nick vacila. Para dar a ambos uma oportunidade real de futuro, Nick terá de decidir para quem procurar primeiro redenção. 

Crítica – É bom ver Robert de Niro a brilhar ao mais alto nível num drama tão forte como este “Being Flynn”, uma realista e comovente adaptação cinematográfica de “Another Bullshit Night in Suck City”, um aclamado livro de memórias da autoria do poeta e dramaturgo Nick Flynn. A história desta obra foca-se sobretudo nos altos e baixos da difícil relação familiar entre Jonathan e Nick, duas personagens com personalidades bastante fortes e altamente destrutivas que finalmente chocam uma com a outra quando o negligente Jonathan é obrigado a pedir ajuda e apoio ao seu desnorteado filho. Este seu súbito recontro familiar abala de imediato a sanidade e a confiança de Nick, um jovem adulto cheio de potencial mas com um passado bastante traumático que envereda por um caminho autodestrutivo quando começa a lidar diariamente com o violento e volátil temperamento do seu pai, que não consegue aceitar ou assumir que é um simples sem-abrigo sem nenhuma brilhante carreira literária pela frente. Esta delicada e atribulada relação deixa portanto várias mazelas emocionais em Nick, mas ele acaba eventualmente por recuperar e por encontrar o seu próprio rumo, já o racista e teimoso Jonathan parece irremediavelmente perdido no meio da ilusão de grandeza que foi criando na sua cabeça ao longo dos anos e que o levou a deixar a sua família. As suas maiores fraquezas são expostas por esta relação mas também pelo progressivo declínio da sua vida que nunca foi tudo aquilo que ele esperava. Para além deste comovente duelo familiar, “Being Flynn” também aborda levemente o crescente problema da pobreza e da proliferação dos sem-abrigo, ao utilizar as duras experiências de Jonathan no sobrelotado abrigo social e nas frias ruas citadinas para demonstrar a crueldade e a violência da lei das ruas. Este retrato socioecónomico é interessante, mas teria sido ainda mais abrangente e complexo se tivessem sido exploradas, com um pouco mais de profundidade e qualidade, as histórias de vida de outros sem-abrigo. Esta clara falta de ambição não retirar nenhum valor ao cativante argumento desta produção independente, que também podia ter abordado com um maior detalhe o traumático passado familiar das personagens centrais, no entanto, estas pequenas falhas acabam por não abalar as suas fortes mensagens morais. O sucesso dramático desta obra também deriva das carismáticas e convincentes performances de Paul Dano e Robert De Niro, este último destaca-se sobretudo graças à forma imensamente expressiva como aborda algumas das cenas mais poderosas do filme. No final de contas, “Being Flynn” tem que se encarado como um filme pesado e pouco ritmado mas é, mesmo assim, um drama bastante bom que leva o espetador numa gratificante viagem melodramática pela frieza das ruas e pelos meandros de uma difícil relação familiar. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pérolas Indie - Corpo Celeste (2011)


Realizado por Alice Rohrwacher
Com Salvatore Cantalupo, Yle Vianello, Anita Caprioli
Género – Drama

Sinopse – Marta (Yle Vianello) tem treze anos e, após dez anos passados com a família no estrangeiro, regressa ao sul profundo italiano, a Reggio Calabria, a cidade onde nasceu. Com ela estão a mãe e a irmã mais velha, que mal a suporta. Marta começa imediatamente a frequentar o curso de preparação para o crisma: está na idade certa e é também, repetem-no todos, um belo modo de fazer novos amigos. Sem o crisma nem sequer se pode casar! É assim que encontra Don Mario, um padre azafamado e distante que administra a igreja como uma pequena empresa, e a catequista Santa, uma senhora bastante divertida que conduzirá as crianças à confirmação. 

Crítica – A 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2012 apadrinhou a estreia nacional desta realista e interessante obra italiana que tenta expor subtilmente os maiores problemas e fragilidades atuais da igreja católica. A trama escrita por Alice Rohrwacher nunca entra por fortes enigmas filosóficos ou polémicas teológicas mas consegue, mesmo assim, fazer uma breve e elucidativa análise do estado atual do catolicismo ao utilizar os vários problemas da envelhecida e isolada Paróquia de Reggio Calabria para expor algumas das maiores fraquezas desta religião, assim sendo, encontramos ao longo do filme várias alusões à cada vez mais fraca adesão dos mais novos aos valores e ao estilo de vida cristão, à crescente comercialização do cristianismo, às fracas assistências que se começam a verificar nas missas e nas festas católicas, à lenta modernização das envelhecidas políticas cristãs, à degradação dos templos de oração e, claro está, à forma antiquada e repressiva como a igreja ainda trata as mulheres, as relações sexuais e tudo aquilo que vai contra a sua ideia de normalidade. Rohrwacher aproveita os evidentes contrastes entre as personalidades das várias personagens principais para enfatizar estes problemas, nomeadamente o clássico contraste entre a inocência de uma criança (Marta) e a vasta experiência corrosiva de um homem maduro (Don Mario). Ao focar grande parte da sua atenção nos problemas da igreja, “Corpo Celeste” acaba por não abordar com o devido pormenor a história individual de Marta, uma pré-adolescente que durante o filme passa por várias mudanças sociais, culturais e naturais que nunca são exploradas com o máximo detalhe possível e que acabam por não ter o impacto dramático que mereciam. É claro que esta pequena falha retira um pouco de valor a esta obra que, ainda assim, deve ser encarada como um inteligente e agradável filme independente que tem um bom argumento, uma talentosa realização da promissora Alice Rohrwacher e um elenco bastante razoável, onde se destaca  a curiosa e credível Yle Vianello. 

Classificação 3,5 Estrelas em 5

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pérolas Indie - The Joneses (2009)

Realizado por Derrick Borte 
Com Amber Heard, David Duchovny, Demi Moore 
Género – Comédia Romântica 

Sinopse – Quem olha para os Joneses vê uma família unida e rica que, à primeira vista, não tem nenhuma imperfeição. Os seus quatro membros são todos bastante amigáveis e giros, algo que os torna bastante populares entre os seus vizinhos que rapidamente querem ter um estilo de vida semelhante ao seu. O que estes impressionáveis vizinhos não sabem é que os Joneses não são uma família de verdade, mas sim um grupo de desconhecidos que trabalham para uma empresa de marketing de guerrilha e que sabem, como ninguém, fazer com que todos desejem aquilo que já têm. 

Crítica – É verdade que “The Joneses” já estreou em solo norte-americano há mais de dois anos, mas tal fato não retira nenhum valor a esta leve comédia romântica, que se consegue destacar da repetitiva concorrência graças às pequenas críticas sociais que faz ao crescente comportamento consumista da nossa sociedade, críticas essas que resultam diretamente da estratégica interação dos Joneses com os seus vizinhos e da reação destes perante a sua devastadora influência. A história deste filme deriva portanto de um interessante conceito satírico que até poderia ter sido alvo de uma abordagem mais completa e profunda, no entanto, os pequenos ataques à ilusão de ostentação e à necessidade de aceitação que afeta a sociedade moderna, cumprem a sua função e até conseguem abafar a previsibilidade da já muito vista fórmula narrativa desta obra, que assenta sobretudo no tradicional romance entre um homem e uma mulher com diferentes ideais que vão sucumbindo lentamente à forte química que existe entre eles. A evidente banalidade desta sua vertente romântica é claramente um dos seus maiores defeitos, mas o seu enredo também falha na forma leviana e esvairada como aborda os problemas pessoais das personagens secundarias, nomeadamente aqueles que afetam os dois filhos fictícios do casal central que, para ser franco, passam completamente ao lado deste filme que também não tem nenhuma grande ou imaginativa cena de humor. Para além de um enredo inconstante que deriva de um bom conceito, “The Joneses” conta também com uma realização satisfatória e com um elenco razoável que é liderado por David Duchovny e Demi Moore, dois experientes atores que têm duas performances bastante convincentes, não se podendo dizer o mesmo de Amber Heard e Ben Hollingsworth que não nos despertam nenhum interesse, muito por culpa da fraca construção das suas respetivas personagens. Eu admito que “The Joneses” é uma comédia que não nos faz rir e que tem mais defeitos que virtudes, mas nos dias que correm é difícil de encontrar um filme do género que seja tão refrescante e idealista como este. 

 Classificação – 3 Estrelas Em 5

terça-feira, 19 de junho de 2012

Pérolas Indie - O Cavalo de Turim (2011)

 
Realizado por Béla Tarr e Ágnes Hranitzky 
Com János Derzsi, Erika Bók 
Género – Drama 

Sinopse – Em Turim, em 1889, Nietzsche protege um cavalo que é brutalmente espancado. Depois desse episódio, perderá a razão. No campo, um camponês, a filha e o velho cavalo. Lá fora, uma tempestade. 

Crítica – O ilustre Béla Tarr nunca fez, em toda a sua carreira, um filme comercial ou fácil de entender. A sua brilhante filmografia está repleta de soberbas produções independentes com uma forte carga intelectual e filosófica, que têm o dom de nos fazer pensar sobre a vida e tudo aquilo que ela engloba. Este “O Cavalo de Turim” segue o mesmo caminho dos seus projetos anteriores e também nos incita a embarcar numa impressionante viagem pelos limites da emoção e do raciocínio, onde todas as interpretações são aceites e nenhuma conclusão está completamente certa ou errada. Apesar de abordar tacitamente um sem número de pontos teológicos e psicológicos, “O Cavalo de Turim” é um filme bastante simplista que utiliza a constante repetição do quotidiano para passar as suas ideias centrais sobre as virtudes e dificuldades da existência humana. Esta construção minimalista permite-nos por isso encontrar algum significado filosófico e existencialista em quase todas as suas cenas, seja nos repetitivos e pouco movimentados serões familiares ou nas constantes viagens que a filha faz diariamente ao poço para ir buscar água. Estas ações parecem, à primeira vista, desprovidas de qualquer sentido mas o seu simbolismo social torna-se evidente à medida que estas vão formando um padrão de previsibilidade que deve ser entendido como uma crítica ao estilo de vida mundano dos seres humanos. As subtis referências ao divino e aos conceitos indeterminados são uma constante e uma necessidade, afinal de contas estamos perante um filme que parece ter fortes influências nietzschianas, não sendo no entanto uma clara interpretação cinematográfica dos seus mais célebres e radicais ideais. Eu acho que “O Cavalo de Turim” é um filme intelectualmente difícil mas não é nada controverso, muito pelo contrário, nenhum tema de grande polémica é abordado com muito detalhe por Béla Tarr, que pretende com esta obra dar seguimento à sua complexa análise da condição humana, análise essa que neste caso concerto se restringe sobretudo ao significado e peso do quotidiano no destino e na vida de um ser-humano. Esta ideia é defendida pelo próprio cineasta que reafirmou por diversas vezes que “O Cavalo de Turim” não é um filme sobre a morte ou o divino, mas sim sobre os humanos e o seu dia-a-dia. A construção e estruturação narrativa criada por Béla Tarr é verdadeiramente exímia, mas a qualidade desta produção também deriva da brilhante edição realizada por Ágnes Hranitzky, que conseguiu dar forma e consistência às várias ideias do famoso realizador húngaro. Esta bela produção também deve muito do seu poder qualitativo ao fantástico trabalho do seu pequeno elenco, nomeadamente aos excelentes János Derzsi e Erika Bók que encaram a banalidade e a lentidão de uma forma soberba. É fácil de ver que “O Cavalo de Turim” não é um filme para todos mas é, sem sombra de dúvidas, uma obra de excelência que vale a pena ser vista com a devida calma e atenção, até porque é um filme extenso e ocasionalmente cansativo que puxa por nós até final. Resta apenas dizer que “O Cavalo de Turim” venceu o Prémio do Júri no Festival de Berlim em 2011 e que será, em principio, o último filme da carreira de Béla Tarr, que assim se despede da sétima arte com um grande trabalho. 

 Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

domingo, 3 de junho de 2012

Pérolas Indie - The Abandoned (2006)

Realizado por Nacho Cerdà 
Com Anastasia Hille, Karel Roden, Valentin Ganev 
Género - Terror 

Sinopse – Marie (Anastacia Hille) regressa à sua terra natal na Rússia, onde o cadáver da sua mãe foi descoberto em circunstâncias bizarras. Ela nunca a conheceu, tendo sido adotada e levada para a América ainda bebé. A única pista do que poderia ter sucedido é uma quinta abandonada nas montanhas que supostamente pertenceu aos seus pais biológicos e que agora lhe foi deixada em legado. A curiosidade de Marie em descobrir o que realmente aconteceu à sua família biológica leva-a até essa quinta amaldiçoada, onde vai conhecer finalmente o seu irmão gémeo (Karel Roden) e encontrar as respostas que procurou durante toda a sua vida.

Crítica – A grande maioria dos filmes de terror têm o grande problema de se tornarem previsíveis com o passar dos minutos, no entanto, isso não acontece neste “The Abandoned”, um filme de terror sobrenatural pouco ritmado mas cheio de suspense e surpresas, que mexe também com dimensões alternativas e saltos entre o passado e o presente. A ação de “The Abandoned” desenrola-se numa assustadora casa abandonada, onde os dois intervenientes centrais enfrentam vários perigos fantasmagóricos que, à primeira vista, podem ser difíceis de assimilar mas que, em última análise, são fundamentais para conseguirmos compreender a lógica desta obra que não é muito violenta mas que tem, mesmo assim, muitas boas cenas de terror que adensam o mistério em torno do  que realmente aconteceu no fatídico dia em que a família dos gémeos se desmoronou. A qualidade de “The Abandoned” deriva da sua narrativa mas também do excelente e intenso ambiente criado por Nacho Cerdà, que através de uma série de magníficos cenários fantasmagóricos e de imaginativos planos cinematográficos consegue pregar vários sustos e manter-nos na dúvida sobre o que vai acontecer no final, muito embora vá dando pequenas pistas do desfecho ao longo do filme. Os seus dois protagonistas, Anastasia Hille e Karel Roden, também têm duas boas performances que tornam ainda mais apelativa esta pequena pérola, que consegue prender a nossa atenção graças à sua imprevisibilidade e que nos entretém com a sua magnifica capacidade de nos assustar com poucos recursos. 

 Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pérolas Indie - 30 Minutes or Less (2011)

Realizado por Ruben Fleischer 
Com Jesse Eisenberg, Danny McBride, Nick Swardson 
Género - Comédia 

Sinopse - Nick (Jesse Eisenberg) é um modesto entregador de pizzas de uma pequena cidade que se vê envolvido no grande plano de dois aspirantes a criminosos (Danny McBride e Nick Swardson). Estes dois vilões sem grande experiência sequestram Nick e vestem-lhe um colete bomba, na tentativa de o forçar a assaltar um banco para se salvar. Com poucas horas para realizar esta difícil tarefa, Nick pede ajuda ao seu melhor amigo, Chet (Aziz Ansari), que aceita, com alguma relutância, auxilia-lo nesta delicada missão que não deverá ter um desfecho muito pacífico. 

Crítica – Eu admito que “30 Minutes or Less” está longe de ser uma comédia brilhante, mas tem alguns aspetos positivos que a tornam numa boa escolha para uma breve e divertida sessão de cinema. A sua história não é muito interessante e roça, em certas alturas, o ridículo mas, tendo em conta o género em que esta produção se insere, estes desvaneios irrealistas e ridículos até são compreensíveis e acabam por conferir um agradável grau de exagero a esta obra, exagero esse que está na base da grande maioria dos seus momentos mais divertidos. Os dois vilões centrais da trama, Dwayne e Travis, têm uma dinâmica muito interessante e são responsáveis pelas melhores tiradas cómicas do filme, ofuscando assim o protagonismo das duas figuras centrais deste filme – Nick e Chet – que também têm uma ou outra cena de algum interesse, como por exemplo o segmento do assalto ao banco que é claramente um das sequências de ação/ humor mais bem conseguidas de todo o filme. À semelhança do que acontece na grande maioria das comédias de ação norte-americanas, “30 Minutes or Less” tem uma vertente romântica demasiado forçada que destoa do resto do filme e que não contribui em nada para o seu sucesso. Para além de um fraco romance, esta obra também é formada por algumas cenas dispensáveis onde predomina um exagerado humor sexual e imaturo. A contrastar com estas falhas temos o seu elenco que é um dos maiores atrativos desta comédia. O promissor Jesse Eisenberg deslumbrou o mundo e a crítica com o seu fantástico trabalho em “The Social Network”, mas também tem um trabalho convincente  nesta obra. É claro que o aluado Nick é uma personagem muito menos exigente que o arrogante Mark Zuckerberg, mas esta sua performance é bastante sólida e consegue realçar, uma vez mais, o seu enorme talento e à-vontade à frente das câmaras. Danny McBride e Nick Swardson também estão muito bem como os dois vilões  idiotas desta modesta produção que pouco deve à inteligência mas que é, mesmo assim, um bom produto de entretenimento. 

 Classificação – 3 Estrelas em 5

domingo, 13 de maio de 2012

Pérolas Indie - Another Earth (2011)

Realizado por Mike Cahill
Com Brit Marling, Matthew-Lee Erlbach, William Mapother
Género – Drama/ Ficção Cientifica

Sinopse – Rhoda Williams (Brit Marling), é uma bela e brilhante adolescente com um futuro promissor à sua frente que deita tudo a perder num fatal momento de distração. John Burroughs (William Mapother) é um famoso compositor e um dedicado homem de família que está prestes a ser pai pela segunda vez. No dia em que é descoberto um novo planeta extremamente semelhante ao nosso, as vidas destes dois estranhos tornam-se irremediavelmente entrelaçadas pela tragédia e pela depressão À medida que os cientistas internacionais desvendam os mistérios da Segunda Terra, Rhoda e John desenvolvem uma amizade improvável que os acorda novamente para a vida, mas quando um deles recebe a oportunidade única de visitar o novo planeta e encontrar/ conhecer o seu outro eu, a sua relação sofre com a revelação de um terrível segredo. 

Crítica – O novato realizador Mike Cahill deixou o Festival de Sundance 2011 de boca aberta com este fabuloso “Another Earth”, um filme que mistura elementos dramáticos, românticos e científicos numa bela e cativante narrativa que consegue prender a nossa atenção do início ao fim, graças à forma como explora um romance moralmente condenável e aborda uma variedade de temas moralmente complexos como o medo do desconhecido e a ânsia de redenção e felicidade. Os seus dois intervenientes centrais, Rhoda e John, vivem atormentados por um terrível acontecimento que uniu os seus destinos e mudou para sempre as suas vidas, acontecimento esse que coincidiu com a descoberta de uma espécie de versão alternativa do nosso planeta. À medida que o mundo vai descobrindo mais informações sobre a Outra Terra, Rhoda e John vão cedendo à depressão que é alimentada pela culpa que ainda sentem por causa do trágico evento que lhes custou o seu futuro e felicidade, mas tudo isto se altera quando a necessidade de redenção de um deles culmina num perigoso romance que os deixa à beira da felicidade, no entanto, este seu imprevisto relacionamento é constantemente assombrado pela incerteza e pela iminência de um adeus permanente, porque assenta numa grande mentira que mais cedo ou mais tarde será descoberta. À medida que são abordados os difíceis contornos desta relação e é analisada a forma como estes dois intervenientes encaram a possibilidade de as suas respetivas versões na Outra Terra nunca terem sido confrontadas com a tragédia, também nos é mostrado como é que a sociedade lida com a descoberta de um novo mundo que desafia todas as máximas científicas e religiosas da civilização moderna. Para além de ter uma excelente história, “Another Earth” tem também um elenco muito bom e uma vertente técnica/ visual muito atrativa. Este filme lançou a carreira de Brit Marling, uma talentosa atriz norte-americana que, graças à sua magnífica performance nesta soberba obra, passou a ser considerada uma das grandes promessas da sétima arte norte-americana. O trabalho do seu realizador, Mike Cahill, também é maravilhoso, porque sem um grande orçamento à sua disposição conseguiu criar uma produção muitíssimo interessante com deslumbrantes cenários naturais. É pena que “Another Earth” nunca tenha estreado nas salas de cinema nacionais, porque é um belo filme que mexe com vários temas cativantes como a dualidade universal e o eterno dilema da evolução. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

sábado, 5 de maio de 2012

Pérolas Indie - Les Infidèles (2012)

Realizado por Gilles Lellouche, Eric Lartigau, Michel Hazanavicius, Jean Dujardin, Alexandre Courtès, Fred Cavayé, Emmanuelle Bercot 
Com Alexandra Lamy, Gilles Lellouche, Guillaume Canet, Jean Dujardin 
Género – Comédia/ Drama 

Sinopse – Uma série de pequenos segmentos sobre a infidelidade masculina, onde Jean Dujardin e Gilles Lellouche dão vida a vários homens que acreditam que a fidelidade é uma coisa exclusiva do sexo feminino, porque o homem é um ser extremamente sexual que tem que ter o máximo de encontros sexuais possíveis para reforçar a sua masculinidade. 

Crítica – O enredo de “Les Infidèles” é formado por nove pequenas curtas que analisam, com muito humor e um bocado de drama à mistura, as diversas variantes da infidelidade e o incontrolável poder do libido masculino, no entanto, nenhuma delas entra por um caminho muito intelectual ou moral, assim sendo, não espere encontrar uma análise filosófica aos motivos que levam os homens a trair as suas namoradas/ mulheres ou as causas cientificas e mentais que estão na base da infidelidades crónica, espere sim encontrar várias histórias fictícias de homens que, por um vasto elenco de razões, decidem ser infiéis e envolvem-se por isso em divertidas situações com um elevado grau de constrangimento que posteriormente causam-lhes, em certos casos, um grande sentimento de vergonha e arrependimento. É claro que no meio de tanta lascividade humorística, todas as curtas de “Les Infidèles” abordam, de uma forma ou de outra, o lado mais humano e dramático do adultério, mas fazem-no de uma forma muito tímida, exceção feita é claro ao segmento “La Question”, de Emmanuelle Bercot, que é o único que trata com seriedade e um certo melodramatismo, o difícil e controverso tema central do filme através de um forte diálogo entre um casal que tenta ultrapassar a traição do elemento do sexo masculino. É verdade que “La Question” tem um certo valor emocional, mas é o segmento mais aborrecido dos nove e aquele que mais salta à vista pelas piores razões. Ao contrário da contribuição de Bercot, as curtas “Simon”, ”Thibault”, “Bernard” e “Les Infidèles Anonymes” são férteis em humor sexual e em situações verdadeiramente embaraçosas que envolvem algumas cenas explícitas que, sem serem chocantes ou indecentes, exteriorizam na perfeição a essência libertina e exagerada desta comédia. As restantes mini-histórias - “Prólogo”, “Las Vegas”, “Lolita” e “Le Séminaire” – são todas bastante razoáveis e muito mais sólidas que as mencionadas anteriormente. A curta de Michel Hazanavicius - “Le Séminaire” – não é a melhor do filme, mas é a única que não envolve ou deixa subentendida uma traição física, terminando por isso com um relativo final feliz para o matrimónio da personagem central, no entanto, o breve desenvolvimento desta mini-história é um bocado leviano, muito embora tenha duas ou três cenas engraçadas. O início e o final de “Les Infidèles” são apadrinhados, respetivamente, por “Prólogo” e “Las Vegas”, duas curtas que são protagonizadas pelos mesmos intervenientes – Fred (Jean Dujardin) e Greg (Gilles Lellouche) – e que, em conjunto, são, sem dúvida alguma, o melhor segmento desta obra. Os dois têm uma narrativa bastante interessante que mescla drama e humor de uma forma muito astuta, dando assim origem a uma fantástica alternância entre cenas cómicas e momentos emotivos, onde os dois intervenientes masculinos são alvo de crises de consciência. Em “Las Vegas” essa interessante mistura culmina numa conclusiva e deliciosa dose de ironia que termina o filme com chave de ouro. As mulheres podem à primeira vista pensar que “Les Infidèles” é um filme sexista e anti-feminino, mas a verdade é que nenhum dos seus segmentos encoraja ou elogia a infidelidades, muito pelo contrário, goza com os homens que a praticam e, em certas ocasiões, até humilha o sexo masculino. Esta comédia deve ser vista com uma mente aberta e no âmbito de um serão de entretenimento, porque foi feita para divertir os espectadores de ambos os sexos e não para tecer grandes conclusões psicológicas sobre o adultério e suas consequências. 

Classificação – 3,5 Estrelas em 5

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pérolas Indie - Triangle (2008)

Realizado por Christopher Smith 
Com Michael Dorman, Melissa George, Holly Marie Combs, Liam Hemsworth 
Género – Terror/ Thriller 

Sinopse – Jess (Melissa George) é uma atraente mulher solteira e mãe de uma criança com autismo. A sua vida é muito stressante, por isso não hesita em aceitar o convite de um amigo, Greg (Michael Dorman), para dar uma volta no seu veleiro, juntamente com mais quatro pessoas. Esta sua divertida viagem marítima é brutalmente interrompida quando uma violenta tempestade provoca o naufrágio da embarcação e deixa o grupo à deriva em alto mar. O pânico instala-se entre os sobreviventes mas, após algumas horas de incerteza, o grupo avista um luxuoso barco de cruzeiro que os salva da morte certa, no entanto, mal sobem a bordo percebem que o seu tormento está apenas a começar. 

Crítica – Um thriller imensamente criativo e intelectualmente desafiante, assim se deve descrever, de forma sucinta, esta misteriosa obra britânica de Christopher Smith (Realizador e Guionista) que comanda e desenvolve, com talento e mestria, um imprevisível e enigmático enredo que muito raramente cai em excessos ou entra por caminhos demasiado alternativos. É difícil de explicar a complexa teia de suspense e surpresa montada por Christopher Smith sem estragar o filme, mas posso dizer que o seu desenvolvimento está cheio de mortes/ homicídios sem muita violência que apenas contribuem para desviar a nossa atenção das pequenas pistas que vão aparecendo no caminho da protagonista e que, no final de contas, são fundamentais para conseguirmos compreender o final e o início desta sombria obra que termina com uma reviravolta verdadeiramente avassaladora e chocante. Para além do fantástico trabalho técnico e narrativo de Christopher Smith, tenho também que destacar a performance de Melissa George que tem neste entusiasmante thriller um dos melhores trabalhos da sua carreira até ao momento. Na altura do seu lançamento internacional, “Triangle” não foi alvo de uma grande atenção mediática porque foi vítima da má fama dos filmes de terror sobre o Triângulo das Bermudas e/ ou Barcos Fantasmas, muito por culpa do seu título e trailer que, de certa forma, dão a entender que o filme versa sobre estas temáticas, mas felizmente esta valorosa obra aproxima-se mais de um “Inception” ou “The Others” do que de um “Ghost Ship” ou “Beyond the Bermuda Triangle”, ou seja, está mais perto de ser considerada uma obra prima do que um filme medíocre.

 Classificação – 4 Estrelas em 5

sábado, 28 de abril de 2012

Pérolas Indie - Into The Abyss (2011)

Realizado por Werner Herzog 
Género – Documentário 

Sinopse – Em 2001, Michael Perry e Jason Burkett foram presos e acusados de terem assassinado três pessoas. Após um longo e conturbado julgamento, Perry foi condenado à morte e Bukett recebeu uma pena de prisão perpétua. Em 2010, Werner Herzog deslocou-se ao Texas para filmar uma poderosa entrevista com estes dois assassinos condenados, que aproveitaram esta oportunidade para reforçar a sua inocência e revelar os seus maiores medos e sonhos. O famoso realizador alemão também entrevistou as famílias dos condenados e das vítimas, para tentar perceber como é que elas olham para o crime e para as sentenças que os dois homens receberam. 

Crítica – Entre fantásticos filmes de ficção como “Fitzcarraldo” (1982) ou “Rescue Dawn” (2007), Werner Herzog lançou várias obras documentais de luxo como “Grizzly Man” (2005) ou “Lessons of Darkness” (1992), no entanto, é difícil de encontrar, na sua extensa filmografia documental, um filme tão complexo como este “Into The Abyss”, um fantástico trabalho, sobre a lógica da pena de morte e a complexidade da mente humana, que muito dificilmente deixará alguém indiferente. Herzog é um admirador confesso da natureza e da vida humana, não sendo por isso de estranhar o profundo ódio que sente pela pena de morte. Ao longo de “Into The Abyss”, Herzog faz questão de dizer que a morte nunca deveria ser imposta por uma entidade judicial em nenhuma circunstância, porque ninguém tem o direito de tirar a vida a uma pessoa, seja ela um inocente ou um assassino em série. É escusado dizer que os norte-americanos não gostam de ver um estrangeiro tecer duras críticas à justiça moral do seu sistema judicial, mas Herzog não se preocupa com a contestação ou com as críticas e tenta mostrar como uma justiça mortal e imoral é tão má como o crime hediondo que Perry e Burkett cometeram.
Á margem da discussão moral sobre a pena de morte, Herzog tenta explicar-nos o que é que aconteceu na semana em que os dois homens condenados mataram três pessoas por causa de um carro desportivo que, nos dias de hoje, está a apodrecer na sucata da polícia. A reconstrução do triplo homicídio é feita através de vários vídeos feitos pela polícia e entrevistas aos detetives que trabalharam no caso, sendo também acompanhada por entrevistas aos dois suspeitos/ condenados e a dois familiares das três vítimas que, para além de darem a sua opinião sobre o castigo que a lei norte-americana aplicou às pessoas que mataram os seus familiares, reforçam o seu sentimento de perda através de tocantes testemunhos sobre as qualidades das vítimas. É importante referir que “Into The Abyss” nunca coloca em causa a culpa e o envolvimento dos dois suspeitos, nem ataca de nenhuma forma a investigação da polícia ou o próprio procedimento judicial, mas discute a decisão de condenar à morte um homem que nunca confessou o crime, muito embora existam várias provas que sustem as teorias da polícia. Herzog também tenta encontrar uma explicação para o facto de Perry ter sido condenado à morte e Burkett ter recebido “apenas” uma pena de prisão perpétua, quando os dois tiveram, segundo a polícia, a mesma responsabilidade no crime. A razão, segundo parece, reside num testemunho tocante e benevolente por parte do pai de Burkett que, em pleno tribunal, emocionou e convenceu dois membros do júri quando implorou pela vida do filho, alegando que este sempre foi uma criança debilitada que cresceu num meio familiar muito conturbado. As perturbantes confissões deste pai  levanta outra questão: Será que o violento ambiente familiar e as fracas condições socioeconómicas da cidade onde viviam os assassinos contribuiu, de alguma forma, para alimentar a sua ganância ao ponto de  os levar a ignorar por completo o respeito pela vida humana? Ao entrevistar vários habitantes da cidade e dissecar os antecedentes familiares dos dois jovens, Herzog descobre que eles sempre estiveram rodeados pelo crime e pela pobreza, não sendo por isso de estranhar a sua inexplicável cobiça por um carro desportivo. É claro que o facto de ter sido a própria sociedade a moldar as mentes criminosas destes dois homens não é, nem nunca será, um factor absolutivo mas, segundo o cineasta, também não lhe dá o direito de condenar um deles à morte. Os próprios familiares das vítimas não acham que a pena de morte seja a mais justa e um deles até dá a entender que a pena de prisão perpétua é a mais justa e indicada para estes casos, muito embora revele posteriormente que Perry mereceu morrer porque nunca confessou nem mostrou remorsos pelos crimes que cometeu, algo que é reforçado pela última entrevista que deu para este documentário e pelas suas últimas palavras antes da execução. Burkett também continua a defender, até hoje, a sua inocência e a planear a sua vida familiar ao lado de uma mulher com quem casou após o julgamento.
No final, Herzog entrevista um antigo funcionário prisional que lhe explica todos os procedimentos técnicos que antecedem uma execução. Após ter supervisionado mais de cem execuções, esse funcionário exemplar demitiu-se porque teve uma forte crise de ansiedade após ter assistido à execução de uma mulher. Esta sua crise emocional levou-o a mudar de ideias e a considerar a pena de morte uma sentença errada, com a qual não podia continuar a compactuar. Esta entrevista final é utilizada por Herzog para mostrar que a pena de morte é tão errada e imoral que a própria consciência de quem a aplica é, mais cedo ou mais tarde, afetada. O único defeito de “Into the Abyss” é não conseguir mostrar os argumentos que várias pessoas utilizam para justificar a aplicação da pena de morte, mas fora isso é um documentário quase perfeito sobre a complexidade emocional da humanidade que se escandaliza com homicídios, mas que não se mostra assim tão preocupada com a pena de morte que é, na sua essência, uma espécie de homicídio assistido por parte do estado. 

 Classificação – 4,5 Estrelas em 5

terça-feira, 17 de abril de 2012

Pérolas Indie - Battle Royale (2000)

Realizado por Kinji Fukasaku 
Com Takeshi Kitano, Aki Maeda, Tatsuya Fujiwara, Chiaki Kuriyama 
Género – Acção/ Terror 

Sinopse – O Japão enfrenta uma grave recessão económica e os seus maiores problemas sociais estão relacionados com o abandono escolar e com o crime e contestação estudantil. Numa tentativa de intimidar as novas e rebeldes gerações de japoneses, o ultranacionalista governo do país aprova o temível Ato Battle Royale, um impiedoso programa de sobrevivência que, todos os anos, permite a escolha e posterior massacre de uma turma do terceiro ciclo escolar. Após uma seleção aleatória, os alunos da turma escolhida são enviados para uma ilha deserta onde terão que sobreviver durante três dias infernais à força dos elementos e às violentas intenções dos seus colegas de escola e amigos de infância. As regras do concurso são simples: tudo é permitido e no final dos três dias só um aluno/a é que poderá continuar vivo/a, caso contrário todos morrem. 

Crítica – Os críticos de “The Hunger Games” adoram dizer que esta famosa série literária de Suzanne Collins não passa de uma cópia rasca de “Battle Royale”, um famoso best-seller asiático que foi escrito por Koushun Takami em 1996. É verdade que estes dois trabalhos literários têm algumas semelhanças mas, em última análise, “Battle Royale” é muito mais violento e directo que “The Hunger Games”, porque foca grande parte da sua atenção na exaustiva e intensa luta pela sobrevivência de um pequeno grupo de estudantes que, sem treino ou aviso, são confrontados com a sua mortalidade e os seus instintos de sobrevivência mais básicos. O sucesso mediático de “Battle Royale” levou à criação de uma  excelente adaptação cinematográfica que, tal como a sua ilustre base literária, explora com objectividade o desenrolar da Battle Royale sem abordar de forma exaustiva os dilemas morais e as tensões românticas que se desenvolvem entre os dois protagonistas e algumas personagens secundárias. O seu enredo centra-se maioritariamente na intensa batalha pela sobrevivência de dois alunos, Shuya Nanahara e Noriko Nakagawa, que para além de terem que lutar contra tudo e contra todos para conseguirem sobreviver, são forçados a assistir à progressiva degradação psicológica dos seus colegas de turma que, confrontados com a brutalidade e incerteza da sua situação, sucumbem aos seus instintos naturais de sobrevivência ou recorrem ao suicídio para terminarem de vez com o seu sofrimento. O desenvolvimento de “Battle Royale” é muito interessante e, sem ser muito violento ou melodramático, oferece-nos uma boa variedade de cenários que nos mostram o extremo da violência e crueldade humana, mas também as várias fragilidades do lado moralista da humanidade que, em certas situações, leva os alunos que são incapazes de matar alguém a tomarem más decisões ou a desistirem de viver. É claro que existem em “Battle Royal” vários momentos onde o romance e a fraternidade assumem o controlo da narrativa, mas todas essas cenas são necessárias para reforçar o seu espirito de sobrevivência ou amizade e para conferir um pouco de melodramatismo ao filme, evitando assim que este se torne num fútil festival de violência e brutalidade. O único grande defeito de “Battle Royal” é a sua conclusão, que infelizmente nos leva por um caminho demasiado feliz que acaba por contrastar com o resto do filme, no entanto, este pequeno e expectável defeito não é suficientemente forte para estragar uma produção que, sem ser brilhante ou demasiado gráfica e explícita, consegue entreter e pintar um quadro muito interessante sobre a natureza humana. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Pérolas Indie - The Hamiltons (2006)

Realizado por Mitchell Altieri e Phil Flores (The Butcher Brothers) 
Com Cory Knauf, Samuel Child, Joseph McKelheer 
Género – Terror/ Thriller 

Sinopse – David (Samuel Child), Wendall (Joseph McKelheer), Darlene (Mackenzie Firgens) e Francis (Cory Knauf) são quarto irmãos aparentemente normais e emocionalmente estáveis que ficaram órfãos após a trágica e misteriosa morte dos seus pais. O irmão mais velho, David, assumiu a liderança da família e tornou-se no tutor legal do sensível Francis e dos estranhos Wendall e Darlene. Os quatro tentam lidar com os problemas do quotidiano e com a perda dos seus pais, mas por baixo da inocência e doçura dos Hamiltons esconde-se um terrível e macabro segredo familiar. 

Crítica – Os seus primeiros quinze minutos são muito enganadores porque nos levam a crer que “The Hamiltons” é um filme de terror extremamente previsível com uma história sem criatividade ou intensidade, mas após uma estranha sequência introdutória entramos no sombrio e misterioso mundo de quatro irmãos muito diferentes uns dos outros que, entre fortes crises de rebeldia, incontroláveis excessos de testosterona e controversos relacionamentos homossexuais e incestuosos, encontram algum tempo para matar e massacrar em família algumas vítimas solitárias. À medida que a sua história se desenvolve vamos conhecendo melhor os Hamiltons e chegamos à conclusão que os três irmãos mais velhos lidam muito bem com as matanças do seu dia-a-dia e até tiram muito prazer das torturas e mortes, mas reparamos que o elemento mais novo do clã nunca participa nos macabros rituais da família e parece ser o único elemento com uma consciência ativa que, em determinada altura, força-o a contrariar as ordens da família para tentar ajudar uma das vítimas. A lógica por detrás destes violentos massacres e das atitudes dos vários irmãos só é revelada nos últimos minutos do filme, mas durante o seu desenvolvimento são nos dadas algumas dicas subtis que nos levam a tirar várias conclusões erradas, que por sua vez contribuem para aumentar ainda mais a imprevisibilidade da grande e surpreendente reviravolta final que se assume claramente como o grande trunfo desta soberba produção indie, que não tem muitas sequências de violência explícita e não se desenvolve a um ritmo constante, mas que nos oferece uma narrativa muito astuta que consegue prender a nossa atenção e estimular a nossa imaginação do início ao fim. Em suma, “The Hamiltons” é um bom thriller indie com um elenco capaz e uma trama muito intensa e interessante que começa por ter algumas semelhanças com a de “The Texas Chainsaw Massacre”, mas que acaba de uma forma totalmente diferente e surpreendente. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

domingo, 8 de abril de 2012

Pérolas Indie - The Brøken (2008)

Realizado por Sean Ellis 
Com Lena Headey, Ulrich Thomsen, Melvil Poupaud 
Género – Terror 

Sinopse – Numa movimentada rua de Londres, Gina (Lena Headey) tem a impressão de se ver a guiar no seu próprio carro. Atónita com este estranho acontecimento, ela segue uma misteriosa mulher rumo ao seu apartamento. A partir daqui, os acontecimentos encadeiam-se, sinistramente, para o pior, até a consciência de Gina sobre a realidade no mundo, a assombrar mais do que os seus piores pesadelos. 

Crítica – Após o sucesso internacional de “Cashback” (2006), Sean Ellis decidiu aventurar-se nos filmes de terror com este “The Brøken”, uma ritmada e curiosa produção indie que não se aproxima da excelência ou intensidade dos grandes clássicos do género mas que irá certamente deixar muito satisfeitos os fãs dos filmes de terror psicológico. A bela Lena Headey lidera um elenco atónico que nunca é muito convincente ou avassalador, mas “The Brøken” compensa esta e outras falhas secundárias com uma trama envolvente e cheia de reviravoltas que merecia, mesmo assim, um desenvolvimento um pouco mais detalhado. Os seus minutos finais desmontam todas as dúvidas levantadas e conduzem a uma boa conclusão que reforça a essência psicológica e requintada desta produção, onde o suspense se sobrepõe claramente à violência, como tão bem comprova a ausência de sequências sangrentas e explícitas e a presença de várias cenas enigmáticas de suspense que sobressaem graças ao sombrio ambiente criado por Sean Ellis. “The Brøken” está longe de ser um completo e poderoso filme de terror, mas mesmo com os seus vários defeitos consegue incutir algum entusiasmo e interesse aos fãs do género. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

sábado, 7 de abril de 2012

Pérolas Indie - In The Land of Blood and Honey (2011)

Realizado por Angelina Jolie 
Com Zana Marjanovic, Goran Kostic, Alma Terzic 
Género – Drama 

Sinopse - Durante a Guerra da Bósnia (1992 – 1995), Danijel (Goran Kostic), um soldado que luta pelos sérvios, reencontra Ajla (Zana Marjanovic), uma mulher bósnia muçulmana que foi capturada pelas tropas sérvias e deportada para um campo de concentração. Os dois tiveram um breve romance antes da Guerra e este seu reencontro volta a despertar a forte atracão física e emocional que sentem um pelo outro, mas a violência do conflito e as suas diferenças socioculturais parecem ser demasiado fortes e ameaçam o futuro do seu amor. 

Crítica – Eu acho que é seguro afirmar que foram poucas as pessoas que ficaram entusiasmadas quando Angelina Jolie anunciou que ia fazer (escrever e realizar) um filme sobre a Guerra dos Balcãs sem nenhum actor conhecido ou mediático no elenco, porque quase ninguém acreditou que uma guionista/ realizadora inexperiente e estrangeira iria conseguir retratar, com o mínimo de emotividade e fidelidade, a violência e o melodrama do conflito. É verdade que “In The Land of Blood and Honey” tem alguns defeitos e não é propriamente um filme histórico sobre a guerra e as suas complexas questões sociopolíticas mas, através dos terríveis acontecimentos que marcam e rodeiam o atribulado romance entre Danijel e Ajla, Angelina Jolie consegue explicar-nos, de forma clara e sucinta, as razões que deram origem a este sangrento conflito e as principais causas das problemáticas tensões raciais e religiosas que ainda hoje se fazem sentir na região. Os avanços e recuos da estranha história de amor entre os dois intervenientes centrais dominam a trama do início ao fim, mas pelo meio somos confrontados com algumas cenas fortes e extremamente interessantes que retratam algumas das atrocidades que o exército sérvio cometeu contra os civis bósnios (homens, mulheres e crianças), mas também como estes se organizaram e reagiram contra o domínio sérvio. É claro que Jolie caiu no erro de santificar os bósnios e demonizar os sérvios, mas pelo menos teve o bom senso de mostrar, através de Danijel e de outros soldados insatisfeitos, que nem todos os cidadãos/ militares sérvios apoiavam incondicionalmente o governo jugoslavo e as suas ordens, algo que é constantemente reforçado pelos brilhantes diálogos entre Danijel e o seu pai/ superior hierárquico, um general sérvio que representa tudo aquilo que ainda há de errado na região. A difícil relação entre Danijel e Ajla tem alguns momentos de interesse, mas o seu romance poderia ter sido explorado com um pouco mais de ritmo e afetuosidade, algo que certamente diminuiria a excessiva duração do filme e evitaria o nosso crescente desinteresse pelo desenrolar do seu relacionamento de amor/ ódio. A frieza e distância emocional que se estabelece entre os dois após o inicio do conflito até exterioriza o ambiente frio e instável que se instalou entre sérvios e bósnios muçulmanos, mas não nos permite compreender as suas verdadeiras intenções e ambições nem descobrir se Ajla gostava verdadeiramente de Danijel que, por tudo o que fez ao longo do filme e por tudo a que foi sujeito, tem de ser encarado como o grande herói da história, mesmo sendo um dos principais soldados do exército sérvio. A realização de Angelina Jolie não é magistral nem digna de grandes elogios, mas merece algum apreço porque apresenta alguns planos e pormenores interessantes que confirmam as potencialidades da famosa actriz nesta área, no entanto, existem aspetos a melhorar e certas falhas que certamente serão retificadas no futuro. O elenco de “In The Land of Blood and Honey” tem um trabalho coletivo bastante razoável que está ao nível deste satisfatório drama/ romance de baixo custo, onde se destacam as brutais cenas que retratam as atrocidades da Guerra da Bósnia e os eventos secundários que apoiam a confusa e entediante história central que tem, ainda assim, alguns méritos e uma conclusão surpreendente. 

 Classificação – 3 Estrelas em 5

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Pérolas Indie - Go Get Some Rosemary (2009)


Realizado por Ben Safdie e Joshua Safdie 
Com Frey Ranaldo, Ronald Bronstein, Sage Ranaldo 
Género – Drama

Sinopse – Lenny (Ronald Bronstein), trinta e poucos anos, cabelo a ficar já grisalho, divorciado, vive sozinho em Nova Iorque e durante duas semanas tem a custódia dos seus dois filhos menores, Sage (Sage Ranaldo) e Frey (Frey Ranaldo). Lenny hesita entre ser pai e ser amigo dos seus filhos, gostaria que as duas semanas durassem seis meses, mas não consegue lidar com a responsabilidade de ter miúdos pequenos e acaba por negligenciá-los. Durante quinze dias, uma viagem ao campo, amigos de visita, uma namorada, cobertores “mágicos”, momentos de alegria e a anarquia total apoderam-se da vida dos três, num navegar entre a infância e a idade adulta. 

Crítica – Passou pelo Festival de Cannes 2009 e pelo Festival de Sundance 2010, onde arrancou merecidos elogios e aplausos por parte do público e da imprensa. Estreou em Portugal a 15 de Julho de 2010, mas passou ao lado de muita gente que infelizmente nem sequer se apercebeu que este maravilhoso drama indie esteve em exibição nas salas de cinema do nosso país. É verdade que é muitas vezes acusado de ser entediante e insatisfatório, mas “Go Get Some Rosemary” é um filme que tem que ser visto com uma mente aberta e com toda a calma do mundo, porque não nos oferece uma clássica jornada de redenção ou uma miraculosa transformação emocional que culmina num final feliz, mas sim uma história forte e, em certos momentos, revoltante sobre um pai negligente e algo egoísta que nunca consegue superar os seus defeitos e ser um bom exemplo para os seus dois filhos, duas crianças inocentes, com uma clara devoção pelo seu pai, que não conseguem ou não querem aceitar que nunca terão uma relação normal com ele. O filme diz-nos que há várias mulheres e homens em todo o mundo que não nasceram para serem pais atenciosos e cuidadosos, e dá-nos um exemplo flagrante sob a forma de Lenny, um homem irresponsável que nunca entrou verdadeiramente na fase adulta da sua vida e que não sabe muito bem como lidar com os seus filhos, algo que fica patente ao longo do filme quando embarca em vários comportamentos que ignoram por completo todas as regras básicas de educação e bom senso, sendo o mais grave aquele que quase culmina na morte dos dois rapazes. É claro que Lenny nunca age com malicia e todas as suas acções têm uma boa intenção, no entanto, isso é nitidamente insuficiente para compensar a sua falta de experiência e a sua atitude demasiado cool e libertina para com os seus filhos. O enredo de “Go Get Some Rosemary” consegue, por esta e por outras, provocar-nos um misto de boas ou más emoções e sensações em relação a Lenny, uma excelente personagem que nem é herói nem vilão, é simplesmente um homem com vários defeitos que não tomou as melhores decisões e que não parece ser capaz de fazer aquilo que é mais correto, muito embora seja notório que gosta verdadeiramente dos seus dois rapazes. A beleza dramática do filme não se deve apenas ao seu envolvente enredo ou à brilhante realização de Ben e Joshua Safdie, mas também ao excelente trabalho de Ronald Bronstein como o anti-herói Lenny. Os dois meninos, Sage e Ranaldo, também estão muito bem. Muitos podem olhar para “Go Get Some Rosemary” como um filme enfadonho sobre um mau pai mas, no meu entender, esta é uma obra muito interessante e sem nenhum embelezamento ou clichés hollywoodiano sobre o lado menos bom da paternidade. 

Classificação – 4 Estrelas Em 5

quinta-feira, 29 de março de 2012

Pérolas Indie - Intouchables (2011)

Realizado por Eric Toledano e Olivier Nakache 
Com Omar Sy, François Cluzet, Audrey Fleurot
Género – Comédia Dramática 

Sinopse – Após um acidente de parapente que o deixou tetraplégico, Philippe (François Cluzet), um rico aristocrata, contrata Driss (Omar Sy), um jovem dos subúrbios, praticamente acabado de sair da prisão, para o assistir no dia-a-dia, muito embora ele pareça ser a pessoa menos adequada para a função. Os dois vão enfrentar juntos a vida com otimismo e viver várias aventuras que estabelecem uma amizade tão louca, divertida e forte quanto inesperada, uma relação única que vai produzir faíscas e torná-los verdadeiros amigos improváveis. 

Crítica – A brilhante carreira internacional de “The Artist” retirou alguma visibilidade a este “Intouchables”, uma extraordinária comédia dramática que não fica nada atrás do colosso cinematográfico de Michel Hazanavicius, e que só não se tornou no candidato da França ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro porque estreou demasiado tarde nas salas de cinema francesas. A sua história é baseada em factos verídicos e obedece a duas máximas indiscutíveis – (1) a vida deve ser aproveitada ao máximo e (2) as grandes amizades não dependem de factores socioeconómicos, algo que é comprovado pela forte ligação de fraternidade que se estabelece e desenvolve entre Philippe e Driss, dois homens muito diferentes um do outro que unem esforços para enfrentar, com muito otimismo e humor, as dificuldades das suas vidas. A hábil mistura entre o melodrama e a comédia dá origem a uma série de cenas brilhantes que nos comovem e entretêm sem nunca recorrer a clichés ou a excessos, conseguindo ainda passar uma série de mensagens importantíssimas sobre o incrível poder curativo da amizade e do otimismo. Um dos maiores atrativos de “Intouchables” é o seu elenco, onde encontramos Omar Sy e François Cluzet, dois talentosos actores que nos oferecem duas performances dinâmicas e entusiasmante que muito contribuíram para o sucesso dramático e comercial desta obra. O trabalho de Eric Toledano e Olivier Nakache também é notável, afinal de contas estes dois cineastas/ guionistas são os responsáveis máximos por este filme memorável que aborda uma série de temáticas interessantíssimas sem nunca recorrer a uma forte carga dramática e moralista para sustentar o seu desenvolvimento, muito pelo contrário, aborda-as com uma incrível leveza e humor que não o tornam maçador ou confuso, mas sim um deleite para o público que muito dificilmente ficará indiferente à sua poderosa narrativa. “Intouchables” é indiscutivelmente um dos melhores “feel-good movies” dos últimos anos que, no meu entender, merece claramente duas horas da nossa vida. O seu visível sucesso chamou a atenção dos grandes estúdios norte-americanos, nomeadamente da Weinstein Co. que anunciou recentemente que vai avançar com um remake norte-americano desta valorosa obra. Será que vai ser melhor que esta incrível versão original? 

 Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pérolas Indie - Coriolanus (2011)

Realizado por Ralph Fiennes
Com Ralph Fiennes, Vanessa Redgrave, Gerard Butler
Género – Thriller

Sinopse - Caius Martius Coriolano (Ralph Fiennes) é um reverenciado e temido general romano que entra em conflito com a cidade de Roma e com os seus concidadãos. Pressionado pela sua mãe, ambiciosa e controladora, Volumnia (Vanessa Redgrave), a procurar a cobiçada e poderosa posição de Cônsul, ele está relutante em insinuar-se junto às massas, cujos votos necessita para assegurar o cargo. Quando o povo se recusa a apoiá-lo, a raiva de Coriolano gera um motim que culmina na sua expulsão de Roma. O herói banido alia-se então ao seu jurado inimigo Tullus Aufidius (Gerard Butler) para se vingar da cidade que o desprezou.

Crítica – O filme de estreia de Ralph Fiennes como realizador exige bastante do espectador, quer a nível intelectual quer a nível emocional, não devendo por isso ser visto de ânimo leve. A sua história é baseada numa das peças/ tragédias mais complexas e opacas de William Shakespeare, exigindo por isso um grande nível de concentração a quem o veja porque entre majestosos diálogos em inglês clássico e conturbadas cenas de batalha, Fiennes explora habilmente a grande maioria dos temas políticos e sociológicos que foram abordados por Shakespeare no seu homónimo trabalho literário. É verdade que “Coriolanus” é um filme algo difícil de assimilar, mas o seu olhar sagaz sobre a vingança, a ganancia, a opressão ou o despotismo é simplesmente maravilhoso e surpreendentemente actual. A luta de Caius Martius Coriolano por poder e posteriormente por vingança é acompanhada por um perigoso jogo de lealdades e traições que envolve os seus familiares, aliados e rivais que se aproveitam dos seus desejos e ambições para tentarem obter aquilo que sempre desejaram, mostrando assim o inerente individualismo dos humanos que também salta à vista quando Coriolano coloca os seus interesses e necessidades à frente das dos revoltosos habitantes de Roma, uma cidade que nesta versão actual parece resultar de um cruzamento entre Bagdad e Damasco.
O orgulho e a arrogância do General Coriolano acaba por precipitar a sua queda, mas também move a sua sede de vingança contra os cidadãos que oprimiu e que justamente recusaram as suas pretensões ditatoriais, algo que ele não aceita e que o leva a aliar-se ao seu maior inimigo. É difícil de sentir alguma empatia por Coriolano, um ditador obcecado pelo militarismo que não se importa de impor um bloqueio de alimentos e liberdades aos cidadãos da cidade que administra, enquanto a sua família dispõem de todas as riquezas possíveis e imaginárias, no entanto, é interessante seguir a sua progressiva queda e tentativa de ascensão militar pela força. Ralph Fiennes tem um bom trabalho como realizador e um ainda melhor como guionista e actor principal desta obra que conta ainda com um elenco secundário de luxo, onde se destacam os veteranos Vanessa Redgrave e Brian Cox. Jessica Chastain está um bocado apagada como a esposa do General Coriolano, mas o actor mais deslocado é mesmo Gerard Butler que se perde no meio dos diálogos arcaicos e de tantos actores de renome. “Coriolanus” não é nem foi feito para ser um “crowd pleaser”, é sim uma excelente e moderna adaptação cinematográfica de um dos maiores clássicos literários de William Shakespeare que, tal como essa valorosa e clássica obra, explora uma série de temas interessantíssimos e leva-nos numa viagem de amor/ ódio pela mente de uma personagem completíssima.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

domingo, 25 de março de 2012

Pérolas Indie - Margin Call (2011)

Realizado por J.C.Chandor
Com Kevin Spacey, Demi Moore, Paul Bettany, Zachary Quinto, Stanley Tucci
Género – Drama

Sinopse - Quando o jovem analista Peter Sullivan (Zachary Quinto) revela informação que poderá vir a originar o fim da companhia, desencadeia uma sucessão de acontecimentos que leva a que decisões ao mesmo tempo financeiras e morais poderão colocar a vida de todos os envolvidos à beira do desastre.

Crítica – Um fantástico drama/ thriller financeiro que nos leva numa intensa viajem até aos bastidores da Crise Financeira de 2008, sem nunca entrar em detalhes muito técnicos ou confusos. O novato J.C.Chandor criou um argumento inteligentíssimo e algo tendencioso que retrata, de forma clara e concisa, a progressiva  instabilidade financeira dos mercados e a degeneração gradual da estabilidade emocional e moral dos indivíduos que não conseguiram e/ou não quiseram evitar este descalabro económico que acabou por arruinar a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. O enredo de “Margin Call” oferece-nos uma série de fortes diálogos que ilustram na perfeição a ambição desmedida que tão bem caracteriza a grande maioria dos executivos financeiros, que demonstraram toda a sua falta de moralidade e altruísmo ao participarem em perigosos jogos egoístas e arriscadas apostas financeiras que beneficiaram alguns e prejudicaram milhões. É claro que no meio de tantos sujeitos individualistas e calculistas estavam várias pessoas responsáveis que fizeram tudo o que estava ao seu alcance para evitar ou minimizar este desastre financeiro e manter o seu trabalho, algo que é reforçado por J.C.Chandor que preferiu, ainda assim, centrar grande parte da atenção do filme nas práticas altamente reprováveis e na ausência de remorsos dos executivos e analistas da empresa fictícia, que se assemelha a muitas companhias e agências que na altura foram fortemente atacadas pela imprensa norte-americana. A brilhante história de “Margin Call” é interpretada por um elenco de luxo, onde se destaca Kevin Spacey como Sam Rogers, uma homem conivente mas o único “herói” assumido da história. Demi Moore, Jeremy Irons e Stanley Tucci têm também uma boa performance como os três grandes vilões/ chefes da empresa que tentaram manipular o mercado e os seus clientes para conseguirem ganhar mais dinheiro, sem se preocupar com as nefastas consequências que advieram das suas acções. O trabalho de J.C.Chandor como realizador e autor do filme é fenomenal e deixa antever uma carreira muito promissora para este jovem cineasta, cujo trabalho neste filme foi merecidamente reconhecido por vários festivais internacionais e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que nomeou o seu guião ao Óscar de Melhor Argumento Original.

Classificação – 4 Estrelas Em 5