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domingo, 6 de março de 2011

Espaço Memória – Raging Bull (1980)

Realizado por Martin Scorsese
Com Robet De Niro, Cathy Moriaty, Joe Pesci, Frank Vincente

Inspirado nas memórias do ex-boxeur, campeão de peso-médio, Jake La Motta, o filme foi uma proposta de De Niro a Scorsese e um papel a que se entregou completamente, tendo chegado a engordar 27 Kg para representar a personagem depois da reforma. O filme não é fiel às memórias do pugilista, é antes uma obra sobre a vida de um homem que, segundo o realizador, “lutou como se não merecesse viver”. Extraordinariamente animalesco no modo como luta e vive a sua vida pessoal, passando por dois casamentos e três filhos, La Motta vivia dividido entre o seu talento inato e brutal e os ciúmes doentios da sua estonteantemente bela mulher. No meio de tudo isto estão as apostas ilegais e os combates viciados que acabaram com a sua carreira.
O filme tem uma estrutura circular, desde o início onde vemos um gordo e acabado LaMotta a recitar poesia, passando por todas as épocas da sua vida, sempre acompanhadas por uma banda sonora fiel às épocas em questão, para terminar com o período final da sua carreira, agora como entertainer num bar.


Curioso neste filme, para além da inesquecível interpretação de Deniro, é a relação que se constrói entre a sua personagem e o irmão e agente, Joey (Joe Pesci). Acusando-o de o trair com a própria esposa devido aos seus ciúmes doentios, Jake espanca-o em frente à família e destrói a relação entre ambos, por outro lado, Jake sente que o declínio da sua carreira começou quando o irmão o envolveu num combate viciado em que se viu obrigado a ser derrotado devido aos contratos com a máfia que controlava as apostas ilegais. O diálogo final de Jake La Motta com o espelho é uma evocação explícita do conflito entre os dois irmãos em “Há Lodo no Cais” que referimos na semana passada.
A personagem de Jake filmada por Scorsese e encarnada por De Niro é uma procura do boxeur pela aceitação de si mesmo e dos seus actos infames, muito menos violentos no filme que na realidade da vida do pugilista, e uma vingança constante nos outros da raiva que tinha de si mesmo. A cena da prisão, onde Jake se vê sozinho, sem ninguém onde descarregar essa raiva, é sintomática deste profundo conflito interior.


O filme foi filmado a preto e branco pela descrença do realizador na durabilidade da cor mas resultou num filme de grande impacto visual, dada a concentração no essencial que a cor faz dispersar. Para Scorsese este era o filme que viria desbloquear a sua criatividade. “ Pus tudo o que sabia e sentia nesse filme e pensei que ele seria o fim da minha carreira. Era como despejar todo o meu saber para dentro do filme, para de seguida esquecer tudo e ir à procura de outro modo de vida.”. O filme recebeu o Óscar de Melhor Actor Principal pela excelente interpretação de Robert De Niro e o de Melhor Montagem para Thelma Schoonmaker, tendo sido nomeado para outros seis que não recebeu.

domingo, 22 de agosto de 2010

Crítica – Crash (1996)

Realizado por David Cronenberg
Com James Spader, Holly Hunter, Elias Koteas

Super filme de culto gore, o polémico Crash devia ser, em meu entender, classificado para maiores de trinta e cinco e com comprovativo de sanidade mental. Cronenberg no auge de si mesmo, adapta aqui ao grande ecrã a obra de J. G. Ballard sobre a fusão da estimulação sexual com a adrenalina dos acidentes de automóveis.
James Ballard (James Spader) entra num mundo que nunca julgou possível existir depois de um violento acidente de automóvel. Nesta vertigem sexual-paranóica arrasta consigo a mulher, Catherine (Deborah Unger), com quem já mantinha uma problemática vida sexual. Muito sangue, muita manipulação dos corpos, muita segregação de adrenalina constroem um universo estranhíssimo onde o terror, à boa maneira do realizador, reside dentro do corpo de cada uma das personagens. As figuras são feias, tanto como pessoas como fisicamente, o argumento é tenebroso, a sensação transmitida ao espectador é desagradável mas talvez por isso mesmo, ao assistirmos a Crash, sentimos que este filme pode, realmente, criar um movimento de culto em seu redor e motivar praticas perversas e fatais, sentindo-nos desconcertados pelos limites aos quais a mente humana pode chegar.


Pessoalmente nunca gostei das propostas de Cronenberg desde que em adolescente assisti pela primeira vez a um filme para adultos à noite no cinema, era The Fly. No entanto, não conseguimos ficar indiferentes e a este tipo de terror, num momento de tão grande crise do género, nem não nos deixar tocar pelas marcas tão características do realizador. O filme recebeu o premio especial do júri em Cannes em 1996 e foi nomeado no mesmo ano para a Palma de Ouro.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Crítica – El Secreto De Sus Ojos (2009)

Realizado por Juan José Campanella
Com Soledad Villamil, Ricardo Darín, Pablo Rago

Há dois elementos muito interessantes nesta película argentina, uma história que merece ser contada e um modo de o fazer maduro, sólido, poético e tenso surpreendente no momento que vivemos da história do cinema. Um crime horrendo toca particularmente um funcionário de um tribunal, Benjamín Esposito (Ricardo Darín), não só pela violência usada mas sobretudo por encontrar na história de amor da vítima algo do próprio amor que o alimenta. Esposito fará tudo ao seu alcance para encontrar o culpado, envolvendo no processo no seu colega e melhor amigo e ainda a chefe do departamento, a belíssima e inatingível Irene Menéndez Hastings. Apesar dos progressivos sucessos da sua investigação e, quando tudo parecia resolvido, revezes de uma justiça demasiado cega fazem reverter todo o processo. Vinte e cinco anos mais tarde, já reformado, Esposito decide escrever a história desta caso e rescrever muitos dos acontecimentos à luz daquilo que gostaria que tivesse acontecido. Esse projecto leva-o a procurar Irene e o marido da vítima o que o leva a perceber que nada se passou noutra vida, que ainda é tempo de reverter o curso dos acontecimentos e que há sempre muitas coisas na vida de que não nos conseguimos apercebera não ser muitas vezes muitos anos depois.


O argumento é original e bem conseguido, misturando nas doses certas amor, sexo, violência, mistério, terror e uma pitada de humor narrados no ritmo certo para prender a atenção do espectador e lhe permitir simultaneamente aproveitar algo do que se passa no ecrã para a sua própria vida. As interpretações bem como o efeito da caracterização das três personagens fundamentais, Irene, Esposito e Ricardo Morales são muito convincentes, conferindo uma estrutura sólida à narrativa. A reconstituição da época é bem conseguida tanto nos cenários como nos figurinos. O final brilhante lança uma reflexão sobre a justiça que não é nunca A justiça, como lembra Irene, mas UMA justiça tão subjectiva e questionável como qualquer outra. Ainda assim é de alma lavada que saímos da sala de cinema conscientes de que assistimos a algo novo, a um cinema não americano fresco, revigorante e pronto a vingar. A película ganhou merecidamente o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

terça-feira, 18 de maio de 2010

Crítica – Papillon (1973)

Realizado por Franklin J. Schaffner
Com Steve McQueen, Dustin Hoffman, Woodrow Parfrey

Baseado no livro autobiográfico de Henri Charrière, Papillon narra a história fabulosa, e mais impressionante ainda por ser verdadeira, de Henri “Papillon” Charrière (Steve McQueen), um homem injustamente condenado à prisão perpétua por assassínio. Papillon foi então enviado para a Guiana Francesa onde deveria cumprir a sua pena nas condições mais desumanas. Cedo se torna amigo de Louis Dega (Dustin Hoffman), numa relação que durará muitos anos e que por vezes lhe é extraordinariamente útil. Charrière distingue-se dos outros presos pela sua incapacidade de aceitar o destino que lhe reservaram, tentando fugir de todas as maneiras possíveis insensível ao agravamento da pena para foragidos. Chegou mesmo a chegar a uma comunidade de leprosos e a uma tribo índia mas foi traído por uma freira católica e voltou à prisão onde cumpriu cinco anos de solitária, seria muitos anos mais tarde, quando o julgavam já perdido e quebrado, que consegue a grandiosa fuga rumo à liberdade. Charrière sobreviveu mais anos que o inumano sistema penal da Guiana Francesa.


Longo, lento e pesado como o romance de que parte, este filme faz literalmente o espectador sofrer os martírios daquele exílio com o protagonista. O ritmo narrativo é apenas alterado, durante as cerca de duas horas e meia de duração, pelos momentos de euforia provocados pela iminência da liberdade, voltando à soturnidade do isolamento, do sofrimento e do desespero dos homens ali encarcerados. Esta tendência descritiva da realização é um dos aspectos mais interessantes da obra. Sentimos de facto o calor húmido e pesado, a escuridão da solitária, o odor fétido dos corpos moribundos, bem como a energia daquele homem incapaz de aceitar as limitações que a vida lhe impõe, conseguindo o inimaginável. Notáveis são também as interpretações de Steve McQueen e de Dustin Hoffman, num dos melhores períodos da sua carreira. A caracterização dos dois prisioneiros acompanhando as transformações físicas e mentais que aquela prisão lhes infringe é também digna de nota e um bom aliado da construção das personagens. Como disse alguém a vida supera sempre a ficção e a história de Papillon é disso mesmo a prova. O filme foi nomeado para o Óscar de Melhor Música Original de Jerry Goldsmith, também Steve McQueen foi nomeado para o Globo de Ouro pela sua interpretação.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

terça-feira, 6 de abril de 2010

Crítica - The Passion Of The Christ (2004)

Realizado por Mel Gibson
Com James Caviezel, Monica Bellucci, Claudia Gerini, Maia Morgenstern,

O estrondoso sucesso comercial que “The Passion Of The Christ” conseguiu obter nos principais mercados cinematográficos está claramente ligado à gigantesca controvérsia que se desenvolveu em redor do seu impressionante realismo visual. O filme acompanha as últimas doze horas da existência terrena de Jesus Cristo através de um retrato que pretende ser religiosamente e historicamente rigoroso e a que não escapou nenhum "requinte" de crueldade e de sofrimento. Mel Gibson conseguiu nos impressionar através desta sangrenta produção que não nos apresenta uma narrativa brilhante mas que nos consegue surpreender através da sua impressionante violência gráfica.



O argumento de “The Passion Of The Christ” não é magnífico, muito pelo contrário, não existe uma construção narrativa habilidosa ou uma sucessão de diálogos inteligentes porque a esmagadora maioria da produção acompanha os sangrentos tormentos do protagonista. A narrativa também não é inteiramente fidedigna à bíblia sagrada e existem algumas sequências onde existe um claro preconceito para com os judeus, sequências essas que são pautadas por estereotipos religiosos e culturais que provocaram graves acusações da comunidade judaica contra os responsáveis por este argumento, assim sendo, podemos facilmente concluir que o grande objectivo desta produção nunca foi abordar com habilidade e qualidade os últimos momentos de Jesus Cristo mas sim apresentar um produto diferente e sangrento que conseguisse arrebatar enormes receitas nas bilheteiras mundiais através da controvérsia que é gerada pelo seu conteúdo.



A direcção de Mel Gibson é, no mínimo, polémica e violenta. O cineasta é um cristão devoto mas este pequeno pormenor não o impediu de nos apresentar uma produção que negligência as tradicionais moralidades desta história bíblica em detrimento de um testemunho religioso que não é assim tão fidedigno e que é exageradamente violento e explícito. O espectador deverá ter um estômago robusto para conseguir aguentar o visionamento de sucessivas sequências de extrema violência e sadismo que nos apresentam inúmeras formas de tortura rudimentar que normalmente culminam em esvisceramentos ou sangramentos abundantes. A violência excessiva era absolutamente dispensável e só está presente porque consegue assombrar e martirizar o espectador. Os responsáveis pela espectacular caracterização das personagens são extremamente talentosos porque conseguiram credibilizar as sangrentas sequências cinematográficas que essencialmente compõem esta longa-metragem, assim sendo, são eles os grandes criativos deste produto cinematográfico. O elenco é um mero acessório da história. James Caviezel não tem uma grande presença artística porque a sua personagem, Jesus Cristo, está quase sempre a ser violentada ou espancada. O elenco secundário também não salta à vista de ninguém porque os seus componente ou pertencem à equipa dos violentadores ou à equipa dos lamentadores.

O polémico trabalho cinematográfico de Mel Gibson não é nem nunca será um filme cristão de qualidade, no entanto, é aquele que conseguiu levar mais espectadores às salas de cinema porque em vez de acompanhar com afectividade e sensibilidade a admirável história de Jesus Cristo e de salientar as suas qualidades humanas, “The Passion Of The Christ” centra as suas atenções na vertente mais sangrenta e superficial desta história, ou seja, no julgamento e na crucificação de Jesus Cristo e no sofrimento que este acontecimento provocou e ainda provoca nos seus seguidores. A polémica e a controvérsia renderam milhões aos criadores desta produção que simplesmente não consegue ensinar nada de positivo ao seu público.

Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Crítica - Inland Empire (2006)

Realizado por David Lynch
Com Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux, Harry Dean Stanton, Julia Ormond

Quando nos deparamos com “Inland Empire” entramos num mundo à parte, no mundo de Lynch. E se para uns é um mundo indecifrável e inexplicável, para outros é um mundo fascinante onde se aceita e explora a visão de Lynch. Um mundo onde entramos para testemunhar os pesadelos do cineasta canadiano. Um mundo surrealista que me fascina, como me fascinou “Eraserhead” (entre os dois nem sei qual será mais surrealista e difícil), “Lost Highway”, “Mulholland Drive” e aquele final enigmático de “Twin Peaks”.
E “Inland Empire” é talvez o seu trabalho mais ambicioso. Um filme por detrás do filme dentro do filme. Complexo, sim. Mas fascinante. Porque estamos ali para ver, viver e sentir o seu pesadelo, testemunhar o seu mundo desafiando a lógica e a racionalidade. Porque Lynch desafia convencionalismos, regras e linearidades, porque Lynch atinge cada espectador que tente encontrar respostas pessoalmente. E “Inland Empire” transcende-se na sua espiral que se desenvolve, na sua beleza metafórica e onírica. Porque Lynch deixa-nos de tal forma envolvidos que a dado momento nos perdemos tal e qual Laura Dern (numa interpretação impressionante). E Lynch consegue criar e transmitir essa vertente sensorial, esse aglomerar de sensações e alucinações de Dern, como que se estivéssemos dentro da sua mente a testemunhar toda essa viagem alucinogénica que Dern experiencia.
“Inland Empire” perde-se e encontra-se, afunda-se nos mais obscuros pesadelos e brinda-nos com delírios lynchianos. Tal como em “Eraserhead”, “Mulholland Drive” e “Lost Highway”, Lynch cria um ambiente surrealista (in) explicável, quiçá onírico, onde explora uma dualidade de personalidades que origina um conflito entre demência e sanidade. E o cineasta cria uma obra enigmática, um filme hermeticamente poético, um reflector dos nossos medos e desesperos, onde nos cabe a nós explorar o seu mundo, onde a história tem que ser descoberta dentre os mais tenebrosos e abstractos pesadelos psicadélicos de Lynch.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica - Inland Empire (2006)

Realizado por David Lynch
Com Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux, Harry Dean Stanton, Julia Ormond

Quando nos deparamos com “Inland Empire” entramos num mundo à parte, no mundo de Lynch. E se para uns é um mundo indecifrável e inexplicável, para outros é um mundo fascinante onde se aceita e explora a visão de Lynch. Um mundo onde entramos para testemunhar os pesadelos do cineasta canadiano. Um mundo surrealista que me fascina, como me fascinou “Eraserhead” (entre os dois nem sei qual será mais surrealista e difícil), “Lost Highway”, “Mulholland Drive” e aquele final enigmático de “Twin Peaks”.
E “Inland Empire” é talvez o seu trabalho mais ambicioso. Um filme por detrás do filme dentro do filme. Complexo, sim. Mas fascinante. Porque estamos ali para ver, viver e sentir o seu pesadelo, testemunhar o seu mundo desafiando a lógica e a racionalidade. Porque Lynch desafia convencionalismos, regras e linearidades, porque Lynch atinge cada espectador que tente encontrar respostas pessoalmente. E “Inland Empire” transcende-se na sua espiral que se desenvolve, na sua beleza metafórica e onírica. Porque Lynch deixa-nos de tal forma envolvidos que a dado momento nos perdemos tal e qual Laura Dern (numa interpretação impressionante). E Lynch consegue criar e transmitir essa vertente sensorial, esse aglomerar de sensações e alucinações de Dern, como que se estivéssemos dentro da sua mente a testemunhar toda essa viagem alucinogénica que Dern experiencia.
“Inland Empire” perde-se e encontra-se, afunda-se nos mais obscuros pesadelos e brinda-nos com delírios lynchianos. Tal como em “Eraserhead”, “Mulholland Drive” e “Lost Highway”, Lynch cria um ambiente surrealista (in) explicável, quiçá onírico, onde explora uma dualidade de personalidades que origina um conflito entre demência e sanidade. E o cineasta cria uma obra enigmática, um filme hermeticamente poético, um reflector dos nossos medos e desesperos, onde nos cabe a nós explorar o seu mundo, onde a história tem que ser descoberta dentre os mais tenebrosos e abstractos pesadelos psicadélicos de Lynch.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

sábado, 22 de agosto de 2009

Crítica - Forrest Gum (1994)

Realizado por Robert Zemeckis
Com Tom Hanks, Gary Sinise, Sally Field, Robin Wright

A nobre história fictícia de “Forrest Gump” comoveu e convenceu o público que se rendeu à magia amplamente genérica desta obra extremamente completa e apelativa que rapidamente conquistou o estatuto de obra-prima cinematográfica. A história desta aclamada produção é centrada nas peripécias de Forrest Gump (Tom Hanks), uma rapaz pouco inteligente mas extremamente atencioso que durante três décadas cavalgou pela história dos Estados Unidos da América, tendo participado em inúmeros eventos de grande importância e perigosidade que o tornaram num símbolo de esperança e inocência para um país socialmente devastado e vergado à incerteza política.


O cineasta Robert Zemeckis oferece-nos uma produção extremamente ampla que nos apresenta uma grande variedade de elementos narrativos de vários géneros cinematográficos que se vão misturando harmoniosamente durante a história. A acção é desenvolvida através de flashbacks que relatam a história de Forrest Gum paralelamente à história dos Estados Unidos da América. Os acontecimentos são narrados pela própria personagem principal que, numa demonstração da sua inocência, decide contar abertamente a sua história de vida aos diferentes transeuntes que esperam ansiosamente pelo autocarro numa paragem pouco movimentada. A história da personagem interliga-se constantemente com a história da sua nação porque ele participou activamente em praticamente todos os grandes eventos sociais e políticos das três décadas em questão, tornando-se numa verdadeira celebridade norte-americana, algo que lhe passa completamente ao lado. Entre aventuras e polémicas sociais, Forrest Gump espalha a sua simpatia e simplicidade por vários quadrantes da sociedade mas em última analise, a grande missão de Forrest Gump é encontrar Jenny Curran, o grande amor da sua vida. A narrativa desdobra-se em múltiplos planos dramáticos mas a grande mensagem do filme acaba por estar ligada ao amor que todas as personagens sentem por Forrest e que Forrest sente por Jenny.


A parte técnica e superficial do filme é extremamente cuidadosa e pormenorizada. Ao longo da obra somos confrontados com inúmeros momentos de magia visual que oferecem contextualidade e qualidade à história. Desde os múltiplos pormenores de montagem fotográfica e caracterização pessoal até aos grandes momentos de espectacularidade visual que cobrem os amplos cenários com energias vibrantes e contagiantes, “Forrest Gump” convence a mente e agrada ao olhar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas reconheceu essa qualidade através da entrega do Óscar de Melhores Efeitos Especiais e Visuais. A banda sonora de Alan Silvestre também nos convence porque apresenta múltiplas sonoridades equilibradas e emotivas que enaltecem os grandes momentos dramáticos da história.
O talentoso Tom Hanks é incontestavelmente o principal atractivo do elenco e um dos principais elementos de qualidade do filme. A sua performance é absolutamente soberba, não deixando ninguém indiferente à sua dedicação e capacidade artística. Os actores secundários também brilham e convencem, nomeadamente Sally Field e Gary Sinise que arrasam a todos os níveis. A magia simplista do argumento e os restantes elementos técnicos de qualidade transformaram este “Forrest Gump” num verdadeiro clássico cinematográfico que facilmente perdurará na história do cinema.

Classificação – 5 Estrelas Em 5

Crítica - Forrest Gum (1994)

Realizado por Robert Zemeckis
Com Tom Hanks, Gary Sinise, Sally Field, Robin Wright

A nobre história fictícia de “Forrest Gump” comoveu e convenceu o público que se rendeu à magia amplamente genérica desta obra extremamente completa e apelativa que rapidamente conquistou o estatuto de obra-prima cinematográfica. A história desta aclamada produção é centrada nas peripécias de Forrest Gump (Tom Hanks), uma rapaz pouco inteligente mas extremamente atencioso que durante três décadas cavalgou pela história dos Estados Unidos da América, tendo participado em inúmeros eventos de grande importância e perigosidade que o tornaram num símbolo de esperança e inocência para um país socialmente devastado e vergado à incerteza política.


O cineasta Robert Zemeckis oferece-nos uma produção extremamente ampla que nos apresenta uma grande variedade de elementos narrativos de vários géneros cinematográficos que se vão misturando harmoniosamente durante a história. A acção é desenvolvida através de flashbacks que relatam a história de Forrest Gum paralelamente à história dos Estados Unidos da América. Os acontecimentos são narrados pela própria personagem principal que, numa demonstração da sua inocência, decide contar abertamente a sua história de vida aos diferentes transeuntes que esperam ansiosamente pelo autocarro numa paragem pouco movimentada. A história da personagem interliga-se constantemente com a história da sua nação porque ele participou activamente em praticamente todos os grandes eventos sociais e políticos das três décadas em questão, tornando-se numa verdadeira celebridade norte-americana, algo que lhe passa completamente ao lado. Entre aventuras e polémicas sociais, Forrest Gump espalha a sua simpatia e simplicidade por vários quadrantes da sociedade mas em última analise, a grande missão de Forrest Gump é encontrar Jenny Curran, o grande amor da sua vida. A narrativa desdobra-se em múltiplos planos dramáticos mas a grande mensagem do filme acaba por estar ligada ao amor que todas as personagens sentem por Forrest e que Forrest sente por Jenny.


A parte técnica e superficial do filme é extremamente cuidadosa e pormenorizada. Ao longo da obra somos confrontados com inúmeros momentos de magia visual que oferecem contextualidade e qualidade à história. Desde os múltiplos pormenores de montagem fotográfica e caracterização pessoal até aos grandes momentos de espectacularidade visual que cobrem os amplos cenários com energias vibrantes e contagiantes, “Forrest Gump” convence a mente e agrada ao olhar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas reconheceu essa qualidade através da entrega do Óscar de Melhores Efeitos Especiais e Visuais. A banda sonora de Alan Silvestre também nos convence porque apresenta múltiplas sonoridades equilibradas e emotivas que enaltecem os grandes momentos dramáticos da história.
O talentoso Tom Hanks é incontestavelmente o principal atractivo do elenco e um dos principais elementos de qualidade do filme. A sua performance é absolutamente soberba, não deixando ninguém indiferente à sua dedicação e capacidade artística. Os actores secundários também brilham e convencem, nomeadamente Sally Field e Gary Sinise que arrasam a todos os níveis. A magia simplista do argumento e os restantes elementos técnicos de qualidade transformaram este “Forrest Gump” num verdadeiro clássico cinematográfico que facilmente perdurará na história do cinema.

Classificação – 5 Estrelas Em 5

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crítica - Gladiator (2000)

Realizado por Ridley Scott
Com Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Oliver Reed, Richard Harris

Em 2000, Ridley Scott surpreendeu o mundo da sétima arte com “Gladiator”, um épico histórico de grande qualidade que acabou por conquistar o Óscar de Melhor Filme, o principal prémio cinematográfico da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América. Com uma acção temporalmente localizada na época áurea do Império Romano, “Gladiator” acompanha a saga de Maximus (Russell Crowe), um sábio e intrépido general romano que depois de vencer várias batalhas que contribuíram para a expansão territorial do Império Romano, pretende abandonar a frente de batalha para regressar a casa. Mas com a súbita e trágica morte do Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) que pretendia promove-lo a Imperador, Maximus é perseguido por Commodus (Joaquin Phoenix), o calculista e imprudente filho do falecido soberano. Depois de escapar à morte, Maximus regressa a casa mas rapidamente descobre que durante a sua ausência, as forças romanas assassinaram a sua família. Desolado pela tragédia, acaba por ser capturado e posteriormente vendido como escravo a um velho e ambicioso gladiador que o leva até Roma para participar nos violentos jogos do Coliseu, fornecendo-lhe a oportunidade perfeita para executar uma tenebrosa vingança contra o verdadeiro assassino da sua mulher e do seu filho, o Imperador Commodus.


Dentro do estilo cinematográfico de “Ben-Hur” ou “Spartacus”, “Gladiator” apresenta-nos uma história recheada de elementos dramáticos e épicos que enaltecem um herói improvável, um homem outrora grandioso que perdeu tudo e todos mas que subitamente regressa para desafiar aquele que o traiu. O argumento relata uma autêntica saga de vingança e perseverança que culmina numa trágica e emotiva conclusão que confere ao valoroso herói uma despedida digna e ao ganancioso vilão uma despedida humilhante. Os diálogos apelam ao epicismo e dramatismo da história, sempre poéticos e aguerridos, aclamam constantemente ideais de justiça e vingança que endurecem a narrativa.
Os diversos elementos históricos que compõem e completam a narrativa entrelaçam-se pacificamente com os elementos fictícios que representam uma grande maioria da história, o melhor exemplo desta situação é a ampla e vasta construção de relações pessoais entre personagens fictícias como Maximus e personagens históricas como Commodus ou Marcus Aurelius. Esta ligação entre elementos históricos e elementos fictícios origina uma narrativa historicamente incorrecta mas substancialmente apelativa e como não estamos perante uma biografia histórica, esta situação não prejudica o resultado final desta obra que desde inicio assume-se como uma produção fictícia. Os imponentes cenários e as magnânimes paisagens do filme surpreendem qualquer espectador. Os efeitos especiais utilizados transmitem ao público a grandiosidade e majestosidade de Roma e do Coliseu, mas também criam uma ilusão de realidade e proximidade com uma época tão distante no tempo mas que foi recriada na perfeição pela equipa técnica do filme.


A direcção de Ridley Scott é absolutamente irrepreensível. A capacidade técnica do cineasta é demonstrada em várias partes do filme, nomeadamente nas sequências de batalha do coliseu onde somos apresentados a magníficos espectáculos de luta, brilhantemente coreografados e captados. A banda sonora da autoria do icónico Hans Zimmer também merece uma pequena menção de apreciação porque transmite profundidade a várias cenas importantes do filme.
O elenco é liderado por Russell Crowe que nos oferece uma performance de qualidade que transmite na perfeição a raiva sentida pela personagem principal. O grande vilão da história é interpretado por Joaquin Phoenix que nos apresenta uma prestação satisfatória e convincente. Destaque também para a última prestação cinematográfica de Oliver Reed (Proximo) que morreu durante a fase final das filmagens desta produção. Durante duas horas e meia somos transportados até à Roma Antiga por Ridley Scott, através deste competente e emocionante filme que merece todos os galardões cinematográficos conquistados. “Gladiator” é uma grande produção que merece toda a nossa atenção.

Classificação – 5 Estrelas Em 5

Crítica - Gladiator (2000)

Realizado por Ridley Scott
Com Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Oliver Reed, Richard Harris

Em 2000, Ridley Scott surpreendeu o mundo da sétima arte com “Gladiator”, um épico histórico de grande qualidade que acabou por conquistar o Óscar de Melhor Filme, o principal prémio cinematográfico da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América. Com uma acção temporalmente localizada na época áurea do Império Romano, “Gladiator” acompanha a saga de Maximus (Russell Crowe), um sábio e intrépido general romano que depois de vencer várias batalhas que contribuíram para a expansão territorial do Império Romano, pretende abandonar a frente de batalha para regressar a casa. Mas com a súbita e trágica morte do Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) que pretendia promove-lo a Imperador, Maximus é perseguido por Commodus (Joaquin Phoenix), o calculista e imprudente filho do falecido soberano. Depois de escapar à morte, Maximus regressa a casa mas rapidamente descobre que durante a sua ausência, as forças romanas assassinaram a sua família. Desolado pela tragédia, acaba por ser capturado e posteriormente vendido como escravo a um velho e ambicioso gladiador que o leva até Roma para participar nos violentos jogos do Coliseu, fornecendo-lhe a oportunidade perfeita para executar uma tenebrosa vingança contra o verdadeiro assassino da sua mulher e do seu filho, o Imperador Commodus.


Dentro do estilo cinematográfico de “Ben-Hur” ou “Spartacus”, “Gladiator” apresenta-nos uma história recheada de elementos dramáticos e épicos que enaltecem um herói improvável, um homem outrora grandioso que perdeu tudo e todos mas que subitamente regressa para desafiar aquele que o traiu. O argumento relata uma autêntica saga de vingança e perseverança que culmina numa trágica e emotiva conclusão que confere ao valoroso herói uma despedida digna e ao ganancioso vilão uma despedida humilhante. Os diálogos apelam ao epicismo e dramatismo da história, sempre poéticos e aguerridos, aclamam constantemente ideais de justiça e vingança que endurecem a narrativa.
Os diversos elementos históricos que compõem e completam a narrativa entrelaçam-se pacificamente com os elementos fictícios que representam uma grande maioria da história, o melhor exemplo desta situação é a ampla e vasta construção de relações pessoais entre personagens fictícias como Maximus e personagens históricas como Commodus ou Marcus Aurelius. Esta ligação entre elementos históricos e elementos fictícios origina uma narrativa historicamente incorrecta mas substancialmente apelativa e como não estamos perante uma biografia histórica, esta situação não prejudica o resultado final desta obra que desde inicio assume-se como uma produção fictícia. Os imponentes cenários e as magnânimes paisagens do filme surpreendem qualquer espectador. Os efeitos especiais utilizados transmitem ao público a grandiosidade e majestosidade de Roma e do Coliseu, mas também criam uma ilusão de realidade e proximidade com uma época tão distante no tempo mas que foi recriada na perfeição pela equipa técnica do filme.


A direcção de Ridley Scott é absolutamente irrepreensível. A capacidade técnica do cineasta é demonstrada em várias partes do filme, nomeadamente nas sequências de batalha do coliseu onde somos apresentados a magníficos espectáculos de luta, brilhantemente coreografados e captados. A banda sonora da autoria do icónico Hans Zimmer também merece uma pequena menção de apreciação porque transmite profundidade a várias cenas importantes do filme.
O elenco é liderado por Russell Crowe que nos oferece uma performance de qualidade que transmite na perfeição a raiva sentida pela personagem principal. O grande vilão da história é interpretado por Joaquin Phoenix que nos apresenta uma prestação satisfatória e convincente. Destaque também para a última prestação cinematográfica de Oliver Reed (Proximo) que morreu durante a fase final das filmagens desta produção. Durante duas horas e meia somos transportados até à Roma Antiga por Ridley Scott, através deste competente e emocionante filme que merece todos os galardões cinematográficos conquistados. “Gladiator” é uma grande produção que merece toda a nossa atenção.

Classificação – 5 Estrelas Em 5

sábado, 11 de julho de 2009

Crítica – Hable Con Ella (2002)

Realizado por Pedro Almodóvar
Com Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores

A tão recente morte da mais influente bailarina e coreógrafa contemporânea justifica a evocação do último filme em que participou. Em Hable com ella, Almodóvar conseguiu o que muito poucos realizadores contemporâneos alcançaram, reunir numa mesma obra alguns dos maiores talentos de outras artes em extraordinários momentos de beleza única. Pina Bauch, Caetano Veloso, Geraldine Chaplin e Malou Airaudo têm neste filme participações especiais que em muito enriquecem esteticamente o filme.
Hable com ella abre com duas personagens que não se conhecem, Benigno Martín (Javier Cámara) e Marco Zuluaga (Darío Grandinetti) sentadas lado a lado numa sala de espectáculos a assistir a “Café Müller” de Pina Bauch, interpretado pela própria. Neste espectáculo duas mulheres em combinação vagueiam desesperadamente por um café cheio de cadeiras, contra as quais julgamos a todo o momento que vão tombar, numa lenta agonia como quem sente a morte a chegar. Este é o mote do filme. Benigno é um dos enfermeiros responsáveis a tempo inteiro pelo bem-estar de uma doente em coma profundo há vários anos, Alicia (Leonor Watling). No mesmo hospital, vai conhecer Marco que vela a sua namorada também em coma, a toureira Lydia Gonzáles (Rosario Flores) que fora colhida por um touro em plena arena. O que ninguém sabe e Marco só a pouco e pouco descobre é que Benigno ama Alicia há muitos anos, desde o tempo em que era uma saudável bailarina que ensaiava numa academia em frente à sua janela. Com o tempo Marco descobre também que a sua própria namorada planeava deixá-lo e regressar para uma relação anterior. Almodóvar pega neste argumento para explorar um tema muito caro a Pina Bauch, a relação entre o feminino e o masculino. Benigno preserva o corpo de Alicia e alimenta a esperança de que ela no fundo o oiça nas conversas triviais mas constantes que tem com ela. Mas um dia decide consumar esse amor. Alicia engravida, Benigno é preso, tendo Marco como único amigo. Sabendo apenas que o bebe nasceu morto e que não tem qualquer saída que inclua Alicia na sua vida, suicida-se na prisão. Marco assume então a vida que este gostaria de ter tido. Vai viver para a sua casa e apaixona-se por Alicia, que saíra do coma com o parto.


As questões morais que o filme levanta são imensas e de difícil resposta. Benigno deu vida a Alicia, o masculino gerou o feminino, mas, apesar disso, tratou-se de uma violação. Com que direito o poderia ter feito? Poderia o amor justificar este acto? Seria Benigno um pervertido? Se Alicia, ao recuperar do coma tivesse conhecimento do que se passou, perdoar-lhe-ia? Teria Marco o direito de viver a vida que Benigno sonhou com Alicia sem esta o saber? Cabe ao espectador encontrar a resposta dentro de si.
Esteticamente esta obra é sem dúvida o melhor trabalho do realizador, começando pela interessantíssima banda sonora, de onde sobressai o tema “Cucurrucucú Paloma” interpretado pelo próprio Caetano no filme, passando pela citação dos filmes mudos, que Alicia adorava e de que Benigno passou a ser admirador também - o impulso para o acto sexual com Alicia é dado por um filme mudo onde um homem, que bebeu uma fórmula mágica para emagrecer que namorada cientista inventara, diminui impressionantemente sem que nada o possa parar e que decide perder-se para sempre no sexo da mulher que ama, num trabalho de realização fabuloso do autor que é mais uma construção sobre esta ligação múltipla entre o feminino e o masculino – a qualidade de Habla com ella é reforçada ainda, dizia, pela introdução da dança contemporânea na figura do seu expoente máximo e da dança clássica na academia de Katerina Bilova (Geraldine Chaplin). Almodóvar recebeu muito justamente o Óscar de Melhor Argumento Original com este filme e foi ainda nomeado para o de Melhor Realizador.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica – Hable Con Ella (2002)

Realizado por Pedro Almodóvar
Com Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores

A tão recente morte da mais influente bailarina e coreógrafa contemporânea justifica a evocação do último filme em que participou. Em Hable com ella, Almodóvar conseguiu o que muito poucos realizadores contemporâneos alcançaram, reunir numa mesma obra alguns dos maiores talentos de outras artes em extraordinários momentos de beleza única. Pina Bauch, Caetano Veloso, Geraldine Chaplin e Malou Airaudo têm neste filme participações especiais que em muito enriquecem esteticamente o filme.
Hable com ella abre com duas personagens que não se conhecem, Benigno Martín (Javier Cámara) e Marco Zuluaga (Darío Grandinetti) sentadas lado a lado numa sala de espectáculos a assistir a “Café Müller” de Pina Bauch, interpretado pela própria. Neste espectáculo duas mulheres em combinação vagueiam desesperadamente por um café cheio de cadeiras, contra as quais julgamos a todo o momento que vão tombar, numa lenta agonia como quem sente a morte a chegar. Este é o mote do filme. Benigno é um dos enfermeiros responsáveis a tempo inteiro pelo bem-estar de uma doente em coma profundo há vários anos, Alicia (Leonor Watling). No mesmo hospital, vai conhecer Marco que vela a sua namorada também em coma, a toureira Lydia Gonzáles (Rosario Flores) que fora colhida por um touro em plena arena. O que ninguém sabe e Marco só a pouco e pouco descobre é que Benigno ama Alicia há muitos anos, desde o tempo em que era uma saudável bailarina que ensaiava numa academia em frente à sua janela. Com o tempo Marco descobre também que a sua própria namorada planeava deixá-lo e regressar para uma relação anterior. Almodóvar pega neste argumento para explorar um tema muito caro a Pina Bauch, a relação entre o feminino e o masculino. Benigno preserva o corpo de Alicia e alimenta a esperança de que ela no fundo o oiça nas conversas triviais mas constantes que tem com ela. Mas um dia decide consumar esse amor. Alicia engravida, Benigno é preso, tendo Marco como único amigo. Sabendo apenas que o bebe nasceu morto e que não tem qualquer saída que inclua Alicia na sua vida, suicida-se na prisão. Marco assume então a vida que este gostaria de ter tido. Vai viver para a sua casa e apaixona-se por Alicia, que saíra do coma com o parto.


As questões morais que o filme levanta são imensas e de difícil resposta. Benigno deu vida a Alicia, o masculino gerou o feminino, mas, apesar disso, tratou-se de uma violação. Com que direito o poderia ter feito? Poderia o amor justificar este acto? Seria Benigno um pervertido? Se Alicia, ao recuperar do coma tivesse conhecimento do que se passou, perdoar-lhe-ia? Teria Marco o direito de viver a vida que Benigno sonhou com Alicia sem esta o saber? Cabe ao espectador encontrar a resposta dentro de si.
Esteticamente esta obra é sem dúvida o melhor trabalho do realizador, começando pela interessantíssima banda sonora, de onde sobressai o tema “Cucurrucucú Paloma” interpretado pelo próprio Caetano no filme, passando pela citação dos filmes mudos, que Alicia adorava e de que Benigno passou a ser admirador também - o impulso para o acto sexual com Alicia é dado por um filme mudo onde um homem, que bebeu uma fórmula mágica para emagrecer que namorada cientista inventara, diminui impressionantemente sem que nada o possa parar e que decide perder-se para sempre no sexo da mulher que ama, num trabalho de realização fabuloso do autor que é mais uma construção sobre esta ligação múltipla entre o feminino e o masculino – a qualidade de Habla com ella é reforçada ainda, dizia, pela introdução da dança contemporânea na figura do seu expoente máximo e da dança clássica na academia de Katerina Bilova (Geraldine Chaplin). Almodóvar recebeu muito justamente o Óscar de Melhor Argumento Original com este filme e foi ainda nomeado para o de Melhor Realizador.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

domingo, 21 de junho de 2009

Crítica - Il Gattopardo (1963)

Realizado por Luchino Visconti
Com Burt Lencaster, Alain Delon, Claudia Cardinale

Se Visconti foi sempre grande nas suas obras em Il Gattopardo ele foi magistral. Foi magistral em tudo. Na escolha do elenco. Ninguém daria tanta nobreza, tanta grandiosidade e simultaneamente tanta humanidade ao Príncipe de Salina como Burt Lancaster, nenhuma burguesinha em ascensão foi mais bela que Caludia Cardinale naquele salão de baile e não podemos imaginar senão Alain Delon para interpretar um jovem aristocrata sedento de participar activamente naquele momento essencial da História que afectaria todos mas em particular a classe a que pertencia. Foi magistral no guarda-roupa sumptuoso nos mais ínfimos pormenores, que, de resto, lhe granjeou uma nomeação para o Óscar, assim como nos décors principescos e extremamente cuidados, até os quadros do palácio têm um significado, que muito beneficiaram com a câmara de Giuseppe Rotunno. Cada imagem é um fresco.


O Leopardo, um Príncipe siciliano que sente que tem de agir para manter os privilégios da sua classe naquele mundo em mudança, apoia o casamento d o seu sobrinho Tancredi Falconeri (Alain Delon) com a filha do Chacal, o presidente da câmara local (Claudia Cardinale) em detrimento do enlace com a sua própria filha. A burguesia alia assim as suas pretensões sociais e o seu dinheiro ao estatuto da aristocracia que consegue manter, desta forma, o seu poder aceitando no seu seio um membro desta classe emergente e o seu dinheiro. Novos ricos e aristocratas, o povo e o clero, todos estão presentes nesta obra, todos agem e entram em choque nos seus desejos e ambições. E Visconti, ele próprio um aristocrata que cresceu num mundo de conto de fadas e que na maioridade se aproximou da esquerda, a partir da obra original de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa entendeu-os e fê-los dançar uma dança de sedução, onde as presas e os predadores se confundem. Tudo o que já foi escrito sobre esta obra-prima do cinema é pouco e insuficiente para explicar a grandiosidade de Il Gattopardo. Quando o cinema foi inventado foi para um dia ser filmado assim.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica - Il Gattopardo (1963)

Realizado por Luchino Visconti
Com Burt Lencaster, Alain Delon, Claudia Cardinale

Se Visconti foi sempre grande nas suas obras em Il Gattopardo ele foi magistral. Foi magistral em tudo. Na escolha do elenco. Ninguém daria tanta nobreza, tanta grandiosidade e simultaneamente tanta humanidade ao Príncipe de Salina como Burt Lancaster, nenhuma burguesinha em ascensão foi mais bela que Caludia Cardinale naquele salão de baile e não podemos imaginar senão Alain Delon para interpretar um jovem aristocrata sedento de participar activamente naquele momento essencial da História que afectaria todos mas em particular a classe a que pertencia. Foi magistral no guarda-roupa sumptuoso nos mais ínfimos pormenores, que, de resto, lhe granjeou uma nomeação para o Óscar, assim como nos décors principescos e extremamente cuidados, até os quadros do palácio têm um significado, que muito beneficiaram com a câmara de Giuseppe Rotunno. Cada imagem é um fresco.


O Leopardo, um Príncipe siciliano que sente que tem de agir para manter os privilégios da sua classe naquele mundo em mudança, apoia o casamento d o seu sobrinho Tancredi Falconeri (Alain Delon) com a filha do Chacal, o presidente da câmara local (Claudia Cardinale) em detrimento do enlace com a sua própria filha. A burguesia alia assim as suas pretensões sociais e o seu dinheiro ao estatuto da aristocracia que consegue manter, desta forma, o seu poder aceitando no seu seio um membro desta classe emergente e o seu dinheiro. Novos ricos e aristocratas, o povo e o clero, todos estão presentes nesta obra, todos agem e entram em choque nos seus desejos e ambições. E Visconti, ele próprio um aristocrata que cresceu num mundo de conto de fadas e que na maioridade se aproximou da esquerda, a partir da obra original de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa entendeu-os e fê-los dançar uma dança de sedução, onde as presas e os predadores se confundem. Tudo o que já foi escrito sobre esta obra-prima do cinema é pouco e insuficiente para explicar a grandiosidade de Il Gattopardo. Quando o cinema foi inventado foi para um dia ser filmado assim.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Crítica - Braveheart (1995)


Realizado por Mel Gibson
Com Mel Gibson, Brendan Gleeson, Sophie Marceau

Nos últimos tempos, Mel Gibson tem sido uma estrela em queda. Desde que realizou o polémico filme “The Passion of the Christ” que o público em geral passou a não ir muito com a cara dele. Pessoalmente, eu achei esse filme bastante bom. Em termos técnicos foi um dos melhores filmes dos últimos anos. Porém, quando se fazem filmes polémicos que abordam a religião, corre-se sempre o risco de começar a ser olhado de lado (veja-se o que está a acontecer com Tom Hanks que já tem sido criticado por causa dos últimos “The DaVinci Code” e “Angels & Demons”, e o que aconteceu com Martin Scorsese que demorou a repor a sua imagem após “The Last Temptation of Christ”). Penso que é isso que está a acontecer com Mel Gibson, que na minha opinião é um dos melhores realizadores da actualidade. Já o seu mais recente “Apocalypto” foi bastante bom, mas mais uma vez reduzido à mediocridade pela má-língua.
Mas foi com “Braveheart” que o cinema de Gibson atingiu o seu apogeu. Filmado de forma impressionante, com uma história comovente e interpretações magníficas por parte de todo o elenco, esta obra máxima de Gibson tornou-se um épico colossal vencedor de inúmeros prémios (Oscar incluído). “Braveheart” será mesmo o melhor e mais conseguido épico de que há memória na História do cinema. Na minha opinião supera em muito os excelentes “Gladiator”, “Alexander” ou mesmo “Ben-Hur”. “Braveheart” conta-nos a história verídica de William Wallace que no séc. XII foi capaz de unir o povo escocês e liderar uma revolução contra o reinado inglês que comandava as terras escocesas. Apesar de pouco se saber sobre os verdadeiros factos da vida de Wallace, o que se sabe é que foi ele o responsável pela união dos escoceses e o primeiro revolucionário que levou a Escócia à conquista da sua independência. Tudo em nome da liberdade.


O filme acompanha a vida de Wallace desde a sua trágica infância, até ao desabrochar de um guerreiro e estratega brilhante que vê a sua vida acabar no cadafalso, mas não o seu mote de guerra e a sua ideia de liberdade que inspirou os escoceses nas batalhas que se seguiram. Como já foi dito, as interpretações dos actores são convincentes, com um toque especial para Gibson que consegue dar um carisma único ao seu personagem e encarnar William Wallace com toda a garra, orgulho e inspiração que um homem destes merece. Para além da sua interpretação, Gibson presenteia-nos com uma realização absolutamente brilhante! Uma realização que confere ao filme um nível de realismo nunca antes visto. E para mim, o bom cinema é um cinema realista. Principalmente num épico, tudo tem de ser filmado com serenidade e realismo. E é precisamente esse o ponto forte de Gibson enquanto realizador: a sua capacidade de transmitir um realismo assustador aos filmes que dirige. O que para uns é violência excessiva e desnecessária, é para mim e para Gibson uma violência necessária para conferir à obra o devido realismo, respeito, dignidade e qualidade.
Pois vejamos: se dois enormes exércitos se enfrentarem num campo de batalha, é óbvio que temos de ver sangue e cabeças decepadas. É esse realismo que confere qualidade à película e transporta o espectador para a realidade da época. Agora tudo depende da forma como se encara essa violência. Se tudo for feito de forma séria e não houver derramamento de sangue inútil e desnecessário (como nos filmes de Tarantino), essa violência é o que transmite à obra credibilidade e consistência. “Braveheart” é assim uma história intemporal, um romance cru e duro que consegue retratar a realidade de uma época na perfeição. Destaque ainda para o argumento de Randall Wallace, que consegue trazer toda a emoção necessária para uma história que não era fácil de adaptar, dada a falta de informação sobre estes tempos. E também para a magnifica banda-sonora de James Horner que capta toda a alma do filme na perfeição. Enfim, na minha opinião “Braveheart” é o mais completo filme épico de que há memória e quem ainda não o viu, não sabe o que perde!

Classificação -5 Estrelas Em 5

Crítica - Braveheart (1995)


Realizado por Mel Gibson
Com Mel Gibson, Brendan Gleeson, Sophie Marceau

Nos últimos tempos, Mel Gibson tem sido uma estrela em queda. Desde que realizou o polémico filme “The Passion of the Christ” que o público em geral passou a não ir muito com a cara dele. Pessoalmente, eu achei esse filme bastante bom. Em termos técnicos foi um dos melhores filmes dos últimos anos. Porém, quando se fazem filmes polémicos que abordam a religião, corre-se sempre o risco de começar a ser olhado de lado (veja-se o que está a acontecer com Tom Hanks que já tem sido criticado por causa dos últimos “The DaVinci Code” e “Angels & Demons”, e o que aconteceu com Martin Scorsese que demorou a repor a sua imagem após “The Last Temptation of Christ”). Penso que é isso que está a acontecer com Mel Gibson, que na minha opinião é um dos melhores realizadores da actualidade. Já o seu mais recente “Apocalypto” foi bastante bom, mas mais uma vez reduzido à mediocridade pela má-língua.
Mas foi com “Braveheart” que o cinema de Gibson atingiu o seu apogeu. Filmado de forma impressionante, com uma história comovente e interpretações magníficas por parte de todo o elenco, esta obra máxima de Gibson tornou-se um épico colossal vencedor de inúmeros prémios (Oscar incluído). “Braveheart” será mesmo o melhor e mais conseguido épico de que há memória na História do cinema. Na minha opinião supera em muito os excelentes “Gladiator”, “Alexander” ou mesmo “Ben-Hur”. “Braveheart” conta-nos a história verídica de William Wallace que no séc. XII foi capaz de unir o povo escocês e liderar uma revolução contra o reinado inglês que comandava as terras escocesas. Apesar de pouco se saber sobre os verdadeiros factos da vida de Wallace, o que se sabe é que foi ele o responsável pela união dos escoceses e o primeiro revolucionário que levou a Escócia à conquista da sua independência. Tudo em nome da liberdade.


O filme acompanha a vida de Wallace desde a sua trágica infância, até ao desabrochar de um guerreiro e estratega brilhante que vê a sua vida acabar no cadafalso, mas não o seu mote de guerra e a sua ideia de liberdade que inspirou os escoceses nas batalhas que se seguiram. Como já foi dito, as interpretações dos actores são convincentes, com um toque especial para Gibson que consegue dar um carisma único ao seu personagem e encarnar William Wallace com toda a garra, orgulho e inspiração que um homem destes merece. Para além da sua interpretação, Gibson presenteia-nos com uma realização absolutamente brilhante! Uma realização que confere ao filme um nível de realismo nunca antes visto. E para mim, o bom cinema é um cinema realista. Principalmente num épico, tudo tem de ser filmado com serenidade e realismo. E é precisamente esse o ponto forte de Gibson enquanto realizador: a sua capacidade de transmitir um realismo assustador aos filmes que dirige. O que para uns é violência excessiva e desnecessária, é para mim e para Gibson uma violência necessária para conferir à obra o devido realismo, respeito, dignidade e qualidade.
Pois vejamos: se dois enormes exércitos se enfrentarem num campo de batalha, é óbvio que temos de ver sangue e cabeças decepadas. É esse realismo que confere qualidade à película e transporta o espectador para a realidade da época. Agora tudo depende da forma como se encara essa violência. Se tudo for feito de forma séria e não houver derramamento de sangue inútil e desnecessário (como nos filmes de Tarantino), essa violência é o que transmite à obra credibilidade e consistência. “Braveheart” é assim uma história intemporal, um romance cru e duro que consegue retratar a realidade de uma época na perfeição. Destaque ainda para o argumento de Randall Wallace, que consegue trazer toda a emoção necessária para uma história que não era fácil de adaptar, dada a falta de informação sobre estes tempos. E também para a magnifica banda-sonora de James Horner que capta toda a alma do filme na perfeição. Enfim, na minha opinião “Braveheart” é o mais completo filme épico de que há memória e quem ainda não o viu, não sabe o que perde!

Classificação -5 Estrelas Em 5

domingo, 19 de abril de 2009

Crítica - Tarzan (1999)


Realizado por Chris Buck e Kevin Lima
Com Vozes de Tony Goldwyn, Minnie Driver, Glenn Close, Brian Blessed, Nigel Hawthorne, Rosie O'Donnell

Baseado num clássico da literatura da autoria de Edgar Rice Burroughs e um ícone do imaginário colectivo, este Tarzan da Disney é a adaptação animada da história mítica do homem macaco, criado na selva desde bebé por uma população de gorilas. A história começa logo com um paralelismo soberbo e representativo da abordagem que se vai adoptar: as semelhanças e diferenças de dois mundos tão longínquos mas ao mesmo tempo tão próximos, o dos humanos e o dos primatas. Tarzan perde os pais às mãos de Sabor, o leopardo, que é o responsável pela perda do filhote de Kala, uma gorila (em ambos os casos uma substancial alteração à história original). Quando estes dois seres se encontram, as suas necessidades são absolutamente complementares, mãe-filho, dar-receber. No entanto, Kerchak, o líder gorila, não vê com bons olhos esta inserção de um ser humano na sua família e rejeita-o, apesar de tolerar a sua presença. Tarzan vai ter de ultrapassar por si próprio as suas limitações físicas para ser um gorila. Sabe-se diferente dos outros, mas sabe que é um gorila e cresce com outros gorilas como a espalhafatosa Terk e o elefante Tantor, o único elefante da savana a questionar a qualidade da água do rio.


Até que tudo isto muda com a chegada de uma expedição de humanos: o Professor Porter, um académico, e a sua filha Jane, juntamente com a equipa de Clayton, o caçador-guia, e os seus homens. Tarzan entra em contacto com Jane ao salvá-la de um bando de babuínos em fúria e descobre que afinal há outros como ele. A curiosidade por este novo mundo, à vez tão familiar e tão estranho, vai levá-lo a conviver com este grupo, em especial com Jane, que lhe ensina a falar, a ler e lhe conta tudo sobre a civilização. Esta interacção desperta sentimentos totalmente desconhecidos para ele, enquanto dá a conhecer a Jane, por sua vez, o maravilhoso mundo onde vive, com vistas e cores e luzes de cortar a respiração. Tarzan acaba por levar o grupo a visitar o lar dos gorilas, mas quando Kerchak aparece e faz tenções de atacar, Tarzan luta contra ele para que os humanos possam fugir, assinando o seu exílio e decidindo que já não pertence ali e que acompanhará os da sua espécie quando regressarem a Inglaterra. Mas Clayton, cuja ambição e falta de escrúpulos não têm limites, prende-o juntamente com Jane e o pai e parte em direcção à selva para capturar gorilas e levá-los para os vender. Vai sujeitar a família de Tarzan aos verdadeiros animais, às verdadeiras bestas, à dor e à perda, e Tarzan descobre que estava certo: afinal ele sempre é um gorila.


Tal como a história original, este “Tarzan” discute aquilo que nos define como seres humanos e explora as emoções e os comportamentos de um ponto de vista neutro, através dos olhos de alguém que entra em contacto com a espécie pela primeira vez. O filme foi ligeiramente romantizado em relação a certos aspectos do livro para lhe dar mais emotividade, mas a base é a mesma: lá por se saber falar, ler, escrever, caminhar direito, não se é necessariamente humano, as acções e os sentimentos são o que importa em relação à humanidade de cada um, e um humano consegue ser mais selvagem do que a pior das bestas. É também uma viagem de uma pessoa em direcção à sua humanidade, uma espécie de alma limpa sujeita pela primeira vez às emoções humanas e à exploração das suas capacidades, à medida que se compreende que uma pessoa se define essencialmente pelas escolhas que faz e pelos princípios que ditam as suas acções. É uma obra muito emotiva e muito séria, onde colidem dois aspectos que não podem senão ter um grande impacto em quem está a ver: uma pessoa selvagem e inculta mas pura de coração e de motivos e uma pessoa culta e educada com a qual nos deveríamos identificar, mas que se revela o espelho do que há de pior no ser humano e na sociedade dita civilizada. E, ao contrário de tantas outras histórias de transição que implicam a perda de inocência, "Tarzan" relata uma excepção a essa regra, retrata um tempo e um lugar em que o Mal não deixa sequer marcas porque não há julgamento de terceiros, porque a pureza não foi corrompida e as acções foram sempre ditadas pelo amor.


Tecnicamente, o filme é também muito apelativo, com cenas muito aceleradas para ilustrar a evolução de destreza de Tarzan à medida que vai crescendo, movimentando-se pela selva como um autêntico macaco, utilização muito dinâmica de afastamento e aproximação de planos, cenas de luta e perseguição arrebatadores. A própria anatomia e movimentos do homem-macaco são hiper-realistas. Alguns animais talvez estivessem um pouco caricaturados demais, mas os cenários da selva estão soberbos e grandiosos, as luzes, até ao pormenor das partículas suspensas na luz, os verdes, a água, os jogos de luz e cor. O conjunto resulta num filme intenso e marcante, com muitas ilações a tirar sobre o nosso comportamento de hoje em dia e os nossos valores, e, claro, um apelo à defesa do ambiente e dos habitats naturais, ao respeito pela vida animal.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica - Tarzan (1999)


Realizado por Chris Buck e Kevin Lima
Com Vozes de Tony Goldwyn, Minnie Driver, Glenn Close, Brian Blessed, Nigel Hawthorne, Rosie O'Donnell

Baseado num clássico da literatura da autoria de Edgar Rice Burroughs e um ícone do imaginário colectivo, este Tarzan da Disney é a adaptação animada da história mítica do homem macaco, criado na selva desde bebé por uma população de gorilas. A história começa logo com um paralelismo soberbo e representativo da abordagem que se vai adoptar: as semelhanças e diferenças de dois mundos tão longínquos mas ao mesmo tempo tão próximos, o dos humanos e o dos primatas. Tarzan perde os pais às mãos de Sabor, o leopardo, que é o responsável pela perda do filhote de Kala, uma gorila (em ambos os casos uma substancial alteração à história original). Quando estes dois seres se encontram, as suas necessidades são absolutamente complementares, mãe-filho, dar-receber. No entanto, Kerchak, o líder gorila, não vê com bons olhos esta inserção de um ser humano na sua família e rejeita-o, apesar de tolerar a sua presença. Tarzan vai ter de ultrapassar por si próprio as suas limitações físicas para ser um gorila. Sabe-se diferente dos outros, mas sabe que é um gorila e cresce com outros gorilas como a espalhafatosa Terk e o elefante Tantor, o único elefante da savana a questionar a qualidade da água do rio.


Até que tudo isto muda com a chegada de uma expedição de humanos: o Professor Porter, um académico, e a sua filha Jane, juntamente com a equipa de Clayton, o caçador-guia, e os seus homens. Tarzan entra em contacto com Jane ao salvá-la de um bando de babuínos em fúria e descobre que afinal há outros como ele. A curiosidade por este novo mundo, à vez tão familiar e tão estranho, vai levá-lo a conviver com este grupo, em especial com Jane, que lhe ensina a falar, a ler e lhe conta tudo sobre a civilização. Esta interacção desperta sentimentos totalmente desconhecidos para ele, enquanto dá a conhecer a Jane, por sua vez, o maravilhoso mundo onde vive, com vistas e cores e luzes de cortar a respiração. Tarzan acaba por levar o grupo a visitar o lar dos gorilas, mas quando Kerchak aparece e faz tenções de atacar, Tarzan luta contra ele para que os humanos possam fugir, assinando o seu exílio e decidindo que já não pertence ali e que acompanhará os da sua espécie quando regressarem a Inglaterra. Mas Clayton, cuja ambição e falta de escrúpulos não têm limites, prende-o juntamente com Jane e o pai e parte em direcção à selva para capturar gorilas e levá-los para os vender. Vai sujeitar a família de Tarzan aos verdadeiros animais, às verdadeiras bestas, à dor e à perda, e Tarzan descobre que estava certo: afinal ele sempre é um gorila.


Tal como a história original, este “Tarzan” discute aquilo que nos define como seres humanos e explora as emoções e os comportamentos de um ponto de vista neutro, através dos olhos de alguém que entra em contacto com a espécie pela primeira vez. O filme foi ligeiramente romantizado em relação a certos aspectos do livro para lhe dar mais emotividade, mas a base é a mesma: lá por se saber falar, ler, escrever, caminhar direito, não se é necessariamente humano, as acções e os sentimentos são o que importa em relação à humanidade de cada um, e um humano consegue ser mais selvagem do que a pior das bestas. É também uma viagem de uma pessoa em direcção à sua humanidade, uma espécie de alma limpa sujeita pela primeira vez às emoções humanas e à exploração das suas capacidades, à medida que se compreende que uma pessoa se define essencialmente pelas escolhas que faz e pelos princípios que ditam as suas acções. É uma obra muito emotiva e muito séria, onde colidem dois aspectos que não podem senão ter um grande impacto em quem está a ver: uma pessoa selvagem e inculta mas pura de coração e de motivos e uma pessoa culta e educada com a qual nos deveríamos identificar, mas que se revela o espelho do que há de pior no ser humano e na sociedade dita civilizada. E, ao contrário de tantas outras histórias de transição que implicam a perda de inocência, "Tarzan" relata uma excepção a essa regra, retrata um tempo e um lugar em que o Mal não deixa sequer marcas porque não há julgamento de terceiros, porque a pureza não foi corrompida e as acções foram sempre ditadas pelo amor.


Tecnicamente, o filme é também muito apelativo, com cenas muito aceleradas para ilustrar a evolução de destreza de Tarzan à medida que vai crescendo, movimentando-se pela selva como um autêntico macaco, utilização muito dinâmica de afastamento e aproximação de planos, cenas de luta e perseguição arrebatadores. A própria anatomia e movimentos do homem-macaco são hiper-realistas. Alguns animais talvez estivessem um pouco caricaturados demais, mas os cenários da selva estão soberbos e grandiosos, as luzes, até ao pormenor das partículas suspensas na luz, os verdes, a água, os jogos de luz e cor. O conjunto resulta num filme intenso e marcante, com muitas ilações a tirar sobre o nosso comportamento de hoje em dia e os nossos valores, e, claro, um apelo à defesa do ambiente e dos habitats naturais, ao respeito pela vida animal.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica - Beauty and the Beast (1991)

Realizado por Gary Trousdale e Kirk Wise
Com Paige O’Hara, Robby Benson e Richard White

“Beauty and the Beast” é talvez, a par de “The Lion King”, o melhor e mais bem sucedido filme da Walt Disney. Este é um filme que tem todos os elementos clássicos da Disney e que explora todas as potencialidades desses elementos da melhor maneira possível. Neste grandioso filme de 1991 os animadores da Disney levaram a sua imaginação até locais nunca antes explorados e presentearam os espectadores com tudo aquilo que se espera ver num filme deste género: temos príncipes, belas e gentis donzelas, castelos, muita magia e uma história arrebatadora que nos faz acreditar num verdadeiro e imortal amor. Estamos perante um filme simplesmente encantador com uma mensagem muito clara e precisa: a beleza de cada um de nós encontra-se no nosso interior, na nossa personalidade e não no aspecto físico ou externo.
“Beauty and the Beast” conta-nos a história de um jovem príncipe amargo, egocêntrico e cruel que apenas pensa no que é melhor para ele mesmo, e ignora tudo e todos os que o rodeiam. Numa noite tenebrosa e chuvosa, uma velha aparece no castelo do príncipe e oferece-lhe uma rosa em troca de uma noite de abrigo na sua opulenta fortaleza. Frio como os píncaros do mais elevado cume montanhoso da Terra, o príncipe ri-se na cara deformada da velha e manda-a embora. Nesse momento ela avisa-o que o que realmente importa é a beleza interior de cada um e diz-lhe para ele reconsiderar a sua decisão, mas o príncipe não lhe liga nenhum. Como castigo a velha transforma-se numa bela feiticeira e transfigura o príncipe numa terrível e hedionda criatura, espalhando uma maldição por todo o castelo e os que nele vivem.
O príncipe teria 20 anos para encontrar a sua bondade interior, amar incondicionalmente alguém e fazer com que essa pessoa lhe retribuísse o amor. Caso contrário viveria para toda a eternidade transformado naquela besta horrível. As esperanças do príncipe em encontrar alguém que o amasse eram ínfimas, pois quem seria capaz de amar um monstro? Amargurado, revoltado e sem esperança, o príncipe viveu isolado no seu negro castelo até ao dia em que deu de caras com Belle – uma jovem donzela que entrara no seu castelo procurando o seu pai…


“Beauty and the Beast” é um drama romântico por excelência e consegue deliciar-nos, fazendo-nos rir mas também chorar. Estamos perante uma obra-prima da Walt Disney e da História do cinema. Este é um filme que realmente nos ensina a amar e a olhar as pessoas de uma forma diferente. O amor é o tema principal da trama e mais uma vez a Disney deixa uma mensagem. O típico homem machão que conquista todas as miúdas é retratado na personagem de Gaston como um imbecil, um bruto ignorante; por sua vez o monstro, a fera, a horrível criatura revela-se um ser gentil, respeitoso e com muito amor para dar. Assistimos então a uma autêntica troca de papéis nas personagens de vilão e herói: o monstro que devia ser vilão torna-se herói e o suposto herói transforma-se num monstro egocêntrico sem nada para oferecer. Extremamente belo e subtilmente poético.
Ao visionarmos “Beauty and the Beast” estamos a testemunhar pura magia. As personagens são bastante profundas e muito bem trabalhadas; os seres do castelo encantado são extremamente cómicos; a banda-sonora faz-nos sonhar cada vez mais alto e a história em si é do melhor que pode haver.
“Beauty and the Beast” é um dos mais belos filmes que Hollywood jamais nos ofereceu e a comprovar a sua qualidade está a nomeação para o Oscar de Melhor Filme em 1992 e a conquista do Golden Globe para Melhor Filme de Musical ou Comédia. De referir que nesta altura ainda não havia a categoria de Melhor Filme de Animação e este filme conseguiu intrometer-se no meio de filmes de imagem real, fazendo História na Sétima Arte.
“Beauty and the Beast” deixa-nos sem palavras e merece apenas os mais elaborados e rasgados elogios. Belo. Fascinante. Inesquecível!


Classificação - 5 Estrelas Em 5