domingo, 19 de abril de 2009

Crítica - Tarzan (1999)


Realizado por Chris Buck e Kevin Lima
Com Vozes de Tony Goldwyn, Minnie Driver, Glenn Close, Brian Blessed, Nigel Hawthorne, Rosie O'Donnell

Baseado num clássico da literatura da autoria de Edgar Rice Burroughs e um ícone do imaginário colectivo, este Tarzan da Disney é a adaptação animada da história mítica do homem macaco, criado na selva desde bebé por uma população de gorilas. A história começa logo com um paralelismo soberbo e representativo da abordagem que se vai adoptar: as semelhanças e diferenças de dois mundos tão longínquos mas ao mesmo tempo tão próximos, o dos humanos e o dos primatas. Tarzan perde os pais às mãos de Sabor, o leopardo, que é o responsável pela perda do filhote de Kala, uma gorila (em ambos os casos uma substancial alteração à história original). Quando estes dois seres se encontram, as suas necessidades são absolutamente complementares, mãe-filho, dar-receber. No entanto, Kerchak, o líder gorila, não vê com bons olhos esta inserção de um ser humano na sua família e rejeita-o, apesar de tolerar a sua presença. Tarzan vai ter de ultrapassar por si próprio as suas limitações físicas para ser um gorila. Sabe-se diferente dos outros, mas sabe que é um gorila e cresce com outros gorilas como a espalhafatosa Terk e o elefante Tantor, o único elefante da savana a questionar a qualidade da água do rio.


Até que tudo isto muda com a chegada de uma expedição de humanos: o Professor Porter, um académico, e a sua filha Jane, juntamente com a equipa de Clayton, o caçador-guia, e os seus homens. Tarzan entra em contacto com Jane ao salvá-la de um bando de babuínos em fúria e descobre que afinal há outros como ele. A curiosidade por este novo mundo, à vez tão familiar e tão estranho, vai levá-lo a conviver com este grupo, em especial com Jane, que lhe ensina a falar, a ler e lhe conta tudo sobre a civilização. Esta interacção desperta sentimentos totalmente desconhecidos para ele, enquanto dá a conhecer a Jane, por sua vez, o maravilhoso mundo onde vive, com vistas e cores e luzes de cortar a respiração. Tarzan acaba por levar o grupo a visitar o lar dos gorilas, mas quando Kerchak aparece e faz tenções de atacar, Tarzan luta contra ele para que os humanos possam fugir, assinando o seu exílio e decidindo que já não pertence ali e que acompanhará os da sua espécie quando regressarem a Inglaterra. Mas Clayton, cuja ambição e falta de escrúpulos não têm limites, prende-o juntamente com Jane e o pai e parte em direcção à selva para capturar gorilas e levá-los para os vender. Vai sujeitar a família de Tarzan aos verdadeiros animais, às verdadeiras bestas, à dor e à perda, e Tarzan descobre que estava certo: afinal ele sempre é um gorila.


Tal como a história original, este “Tarzan” discute aquilo que nos define como seres humanos e explora as emoções e os comportamentos de um ponto de vista neutro, através dos olhos de alguém que entra em contacto com a espécie pela primeira vez. O filme foi ligeiramente romantizado em relação a certos aspectos do livro para lhe dar mais emotividade, mas a base é a mesma: lá por se saber falar, ler, escrever, caminhar direito, não se é necessariamente humano, as acções e os sentimentos são o que importa em relação à humanidade de cada um, e um humano consegue ser mais selvagem do que a pior das bestas. É também uma viagem de uma pessoa em direcção à sua humanidade, uma espécie de alma limpa sujeita pela primeira vez às emoções humanas e à exploração das suas capacidades, à medida que se compreende que uma pessoa se define essencialmente pelas escolhas que faz e pelos princípios que ditam as suas acções. É uma obra muito emotiva e muito séria, onde colidem dois aspectos que não podem senão ter um grande impacto em quem está a ver: uma pessoa selvagem e inculta mas pura de coração e de motivos e uma pessoa culta e educada com a qual nos deveríamos identificar, mas que se revela o espelho do que há de pior no ser humano e na sociedade dita civilizada. E, ao contrário de tantas outras histórias de transição que implicam a perda de inocência, "Tarzan" relata uma excepção a essa regra, retrata um tempo e um lugar em que o Mal não deixa sequer marcas porque não há julgamento de terceiros, porque a pureza não foi corrompida e as acções foram sempre ditadas pelo amor.


Tecnicamente, o filme é também muito apelativo, com cenas muito aceleradas para ilustrar a evolução de destreza de Tarzan à medida que vai crescendo, movimentando-se pela selva como um autêntico macaco, utilização muito dinâmica de afastamento e aproximação de planos, cenas de luta e perseguição arrebatadores. A própria anatomia e movimentos do homem-macaco são hiper-realistas. Alguns animais talvez estivessem um pouco caricaturados demais, mas os cenários da selva estão soberbos e grandiosos, as luzes, até ao pormenor das partículas suspensas na luz, os verdes, a água, os jogos de luz e cor. O conjunto resulta num filme intenso e marcante, com muitas ilações a tirar sobre o nosso comportamento de hoje em dia e os nossos valores, e, claro, um apelo à defesa do ambiente e dos habitats naturais, ao respeito pela vida animal.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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