Realizado por Werner Herzog
Género – Documentário
Sinopse – Em 2001, Michael Perry e Jason Burkett foram presos e acusados de terem assassinado três pessoas. Após um longo e conturbado julgamento, Perry foi condenado à morte e Bukett recebeu uma pena de prisão perpétua. Em 2010, Werner Herzog deslocou-se ao Texas para filmar uma poderosa entrevista com estes dois assassinos condenados, que aproveitaram esta oportunidade para reforçar a sua inocência e revelar os seus maiores medos e sonhos. O famoso realizador alemão também entrevistou as famílias dos condenados e das vítimas, para tentar perceber como é que elas olham para o crime e para as sentenças que os dois homens receberam.
Crítica – Entre fantásticos filmes de ficção como “Fitzcarraldo” (1982) ou “Rescue Dawn” (2007), Werner Herzog lançou várias obras documentais de luxo como “Grizzly Man” (2005) ou “Lessons of Darkness” (1992), no entanto, é difícil de encontrar, na sua extensa filmografia documental, um filme tão complexo como este “Into The Abyss”, um fantástico trabalho, sobre a lógica da pena de morte e a complexidade da mente humana, que muito dificilmente deixará alguém indiferente. Herzog é um admirador confesso da natureza e da vida humana, não sendo por isso de estranhar o profundo ódio que sente pela pena de morte. Ao longo de “Into The Abyss”, Herzog faz questão de dizer que a morte nunca deveria ser imposta por uma entidade judicial em nenhuma circunstância, porque ninguém tem o direito de tirar a vida a uma pessoa, seja ela um inocente ou um assassino em série. É escusado dizer que os norte-americanos não gostam de ver um estrangeiro tecer duras críticas à justiça moral do seu sistema judicial, mas Herzog não se preocupa com a contestação ou com as críticas e tenta mostrar como uma justiça mortal e imoral é tão má como o crime hediondo que Perry e Burkett cometeram.
Á margem da discussão moral sobre a pena de morte, Herzog tenta explicar-nos o que é que aconteceu na semana em que os dois homens condenados mataram três pessoas por causa de um carro desportivo que, nos dias de hoje, está a apodrecer na sucata da polícia. A reconstrução do triplo homicídio é feita através de vários vídeos feitos pela polícia e entrevistas aos detetives que trabalharam no caso, sendo também acompanhada por entrevistas aos dois suspeitos/ condenados e a dois familiares das três vítimas que, para além de darem a sua opinião sobre o castigo que a lei norte-americana aplicou às pessoas que mataram os seus familiares, reforçam o seu sentimento de perda através de tocantes testemunhos sobre as qualidades das vítimas. É importante referir que “Into The Abyss” nunca coloca em causa a culpa e o envolvimento dos dois suspeitos, nem ataca de nenhuma forma a investigação da polícia ou o próprio procedimento judicial, mas discute a decisão de condenar à morte um homem que nunca confessou o crime, muito embora existam várias provas que sustem as teorias da polícia. Herzog também tenta encontrar uma explicação para o facto de Perry ter sido condenado à morte e Burkett ter recebido “apenas” uma pena de prisão perpétua, quando os dois tiveram, segundo a polícia, a mesma responsabilidade no crime. A razão, segundo parece, reside num testemunho tocante e benevolente por parte do pai de Burkett que, em pleno tribunal, emocionou e convenceu dois membros do júri quando implorou pela vida do filho, alegando que este sempre foi uma criança debilitada que cresceu num meio familiar muito conturbado. As perturbantes confissões deste pai levanta outra questão: Será que o violento ambiente familiar e as fracas condições socioeconómicas da cidade onde viviam os assassinos contribuiu, de alguma forma, para alimentar a sua ganância ao ponto de os levar a ignorar por completo o respeito pela vida humana? Ao entrevistar vários habitantes da cidade e dissecar os antecedentes familiares dos dois jovens, Herzog descobre que eles sempre estiveram rodeados pelo crime e pela pobreza, não sendo por isso de estranhar a sua inexplicável cobiça por um carro desportivo. É claro que o facto de ter sido a própria sociedade a moldar as mentes criminosas destes dois homens não é, nem nunca será, um factor absolutivo mas, segundo o cineasta, também não lhe dá o direito de condenar um deles à morte. Os próprios familiares das vítimas não acham que a pena de morte seja a mais justa e um deles até dá a entender que a pena de prisão perpétua é a mais justa e indicada para estes casos, muito embora revele posteriormente que Perry mereceu morrer porque nunca confessou nem mostrou remorsos pelos crimes que cometeu, algo que é reforçado pela última entrevista que deu para este documentário e pelas suas últimas palavras antes da execução. Burkett também continua a defender, até hoje, a sua inocência e a planear a sua vida familiar ao lado de uma mulher com quem casou após o julgamento.
No final, Herzog entrevista um antigo funcionário prisional que lhe explica todos os procedimentos técnicos que antecedem uma execução. Após ter supervisionado mais de cem execuções, esse funcionário exemplar demitiu-se porque teve uma forte crise de ansiedade após ter assistido à execução de uma mulher. Esta sua crise emocional levou-o a mudar de ideias e a considerar a pena de morte uma sentença errada, com a qual não podia continuar a compactuar. Esta entrevista final é utilizada por Herzog para mostrar que a pena de morte é tão errada e imoral que a própria consciência de quem a aplica é, mais cedo ou mais tarde, afetada. O único defeito de “Into the Abyss” é não conseguir mostrar os argumentos que várias pessoas utilizam para justificar a aplicação da pena de morte, mas fora isso é um documentário quase perfeito sobre a complexidade emocional da humanidade que se escandaliza com homicídios, mas que não se mostra assim tão preocupada com a pena de morte que é, na sua essência, uma espécie de homicídio assistido por parte do estado.
Á margem da discussão moral sobre a pena de morte, Herzog tenta explicar-nos o que é que aconteceu na semana em que os dois homens condenados mataram três pessoas por causa de um carro desportivo que, nos dias de hoje, está a apodrecer na sucata da polícia. A reconstrução do triplo homicídio é feita através de vários vídeos feitos pela polícia e entrevistas aos detetives que trabalharam no caso, sendo também acompanhada por entrevistas aos dois suspeitos/ condenados e a dois familiares das três vítimas que, para além de darem a sua opinião sobre o castigo que a lei norte-americana aplicou às pessoas que mataram os seus familiares, reforçam o seu sentimento de perda através de tocantes testemunhos sobre as qualidades das vítimas. É importante referir que “Into The Abyss” nunca coloca em causa a culpa e o envolvimento dos dois suspeitos, nem ataca de nenhuma forma a investigação da polícia ou o próprio procedimento judicial, mas discute a decisão de condenar à morte um homem que nunca confessou o crime, muito embora existam várias provas que sustem as teorias da polícia. Herzog também tenta encontrar uma explicação para o facto de Perry ter sido condenado à morte e Burkett ter recebido “apenas” uma pena de prisão perpétua, quando os dois tiveram, segundo a polícia, a mesma responsabilidade no crime. A razão, segundo parece, reside num testemunho tocante e benevolente por parte do pai de Burkett que, em pleno tribunal, emocionou e convenceu dois membros do júri quando implorou pela vida do filho, alegando que este sempre foi uma criança debilitada que cresceu num meio familiar muito conturbado. As perturbantes confissões deste pai levanta outra questão: Será que o violento ambiente familiar e as fracas condições socioeconómicas da cidade onde viviam os assassinos contribuiu, de alguma forma, para alimentar a sua ganância ao ponto de os levar a ignorar por completo o respeito pela vida humana? Ao entrevistar vários habitantes da cidade e dissecar os antecedentes familiares dos dois jovens, Herzog descobre que eles sempre estiveram rodeados pelo crime e pela pobreza, não sendo por isso de estranhar a sua inexplicável cobiça por um carro desportivo. É claro que o facto de ter sido a própria sociedade a moldar as mentes criminosas destes dois homens não é, nem nunca será, um factor absolutivo mas, segundo o cineasta, também não lhe dá o direito de condenar um deles à morte. Os próprios familiares das vítimas não acham que a pena de morte seja a mais justa e um deles até dá a entender que a pena de prisão perpétua é a mais justa e indicada para estes casos, muito embora revele posteriormente que Perry mereceu morrer porque nunca confessou nem mostrou remorsos pelos crimes que cometeu, algo que é reforçado pela última entrevista que deu para este documentário e pelas suas últimas palavras antes da execução. Burkett também continua a defender, até hoje, a sua inocência e a planear a sua vida familiar ao lado de uma mulher com quem casou após o julgamento.
No final, Herzog entrevista um antigo funcionário prisional que lhe explica todos os procedimentos técnicos que antecedem uma execução. Após ter supervisionado mais de cem execuções, esse funcionário exemplar demitiu-se porque teve uma forte crise de ansiedade após ter assistido à execução de uma mulher. Esta sua crise emocional levou-o a mudar de ideias e a considerar a pena de morte uma sentença errada, com a qual não podia continuar a compactuar. Esta entrevista final é utilizada por Herzog para mostrar que a pena de morte é tão errada e imoral que a própria consciência de quem a aplica é, mais cedo ou mais tarde, afetada. O único defeito de “Into the Abyss” é não conseguir mostrar os argumentos que várias pessoas utilizam para justificar a aplicação da pena de morte, mas fora isso é um documentário quase perfeito sobre a complexidade emocional da humanidade que se escandaliza com homicídios, mas que não se mostra assim tão preocupada com a pena de morte que é, na sua essência, uma espécie de homicídio assistido por parte do estado.
Classificação – 4,5 Estrelas em 5
0 comentários :
Postar um comentário