Capas de DVDs - Capas de Filmes e Capas de CDs

Mostrando postagens com marcador Espaço Memória. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Espaço Memória. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Espaço Memória – Paths of Glory (1957)

Realizado por Stanley Kubrick
Com Kirk Douglas, Ralph Meeker, Christiane Kubrick

A guerra analisada em toda a sua insanidade através um lirismo tão cru que se torna perturbante é a pedra de toque de Paths of Glory. Kubrick expos neste filme o trágico e verídico caso de um ataque quase suicida do exército francês aos inimigos alemães durante a Primeira Grande Guerra. O argumento foi adaptado da obra de Humphrey Cobb.


Como resultado deste desastre, onde morreram centenas de homens estupidamente, e para isentar de culpas os mandantes de tal atrocidade foram escolhidos e acusados de cobardia três soldados franceses dos poucos que conseguiram regressar com vida. O resultado do seu muito injusto julgamento, apesar dos esforços da defesa encabeçada pelo Coronel Dax (Kirk Douglas), é a condenação à morte pelo tribunal militar, procedimento comum naquele exército. Esta brutalidade é ainda visível na violência aplicada sobre uma jovem alemã que é obrigada a cantar para os soldados franceses numa caserna. Contudo, a sua voz, a inocência da canção e a simplicidade do acto acabam por derreter a aspereza dos homens e lembrá-los da sua mísera condição  sob o jugo de políticas que os transcendem mas que lhes podem tirar a vida.
Influência marcante sobre os filmes de guerra que se lhe seguiram, alguns dos quais lembrados já neste espaço, Paths of Glory apresenta  a marca da originalidade e superioridade do realizador que nunca sobrepõe a narrativa à plenitude de elementos que compõe um filme. A importãncia desta obra não foi reconhecida na época da sua estrei ainda que as suas repercussões no cinema subsequente sejam hoje inegáveis.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Espaço Memória – Platoon (1986)

Realizado por Oliver Stone
Com Tom Berenger, Willem Dafoe, Charlie Sheen

Oliver Stone, ele próprio um veterano do Vietnam, dirigiu, em 1986, aquele que se tornou de imediato um dos clássicos da década sobre esta guerra. De forma comedida, Stone apresenta-nos os horrores do combate vistos pelos olhos de um jovem de dezanove anos, Chris Taylor (Charlie Sheen), que se voluntariou para combater em nome de ideais patrióticos que vê caírem por terra a cada dia.
Não entrando nunca na crítica ostensiva, o filme apresenta-nos uma guerra onde não há nada de grandioso, apenas homens com todas as suas fragilidades. Ainda que o ponto de vista do inimigo não nos seja mostrado, assistimos as atrocidades contra inocentes que o exército dos EUA comete, e ainda às próprias lutas internas dentro do pelotão, entre os sargentos Elias Grodin (Willem Dafoe) e Bob Barnes (Tom Berenger). Nada é heróico neste filme, pelo contrário, qualquer orgulho nacionalista cai por terra a cada minuto. A guerra é filmada como um cenário caótico onde matar o inimigo e não ser morto é a palavra de ordem a um ponto em que as verdadeiras motivações individuais deixam de fazer sentido. A montagem do filme acompanha com precisão a vertigem dos soldados que combatem num mundo louco sem saber ao certo porquê nem para quê.


Sem atingir a grandiosidade de obras como Apocalypse Now, Platoon conseguiu dar a visão certa na época em que estreou de uma guerra fatal para milhares de soldados sem um verdadeiro sentido lógico. Como já lembrei, este filme cedo se tornou um dos filmes de culto sobre guerra e uma obra inesquecível da carreira do realizador. Platoon arrecadou os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Montagem, e Melhor Som e foi ainda nomeado para outras quatro estatuetas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Espaço Memória – Kiss of the Spider Woman (1985)

Realizado por Hector Bebenco
Com William Hurt, Raul Julia, Sonia Braga

Filme quase teatral, onde dois presos vão dialogando dentro de uma exígua cela de um não especificado país da América Latina, o Beijo da Mulher Aranha é também uma obra simbólica, construída sobre diversos níveis de significação. Num primeiro nível, Valentin Arregui (Raul Julia) é um prisioneiro político num país sem liberdade, que, a fim de proteger os seus companheiros, suporta em silêncio a tortura, sonhando com a mulher que ama e o seu beijo redentor e com um mundo melhor. Na mesma cela, vive Luis Molina (William Hurt), um homossexual, por vezes travesti, preso por desvio de um menor. Molina também sonha com um mundo melhor, o mundo de um filme romântico que vira em tempos e que narra a Arregui, onde uma cantora de cabaret francesa (Sonia Braga) se apaixona por um oficial da Gestapo e se deixa convencer que o nazismo era um bom e justo sistema político, pagando com a vida essa sua traição. Molina sonha ainda com uma vida em liberdade, não só fora das paredes da prisão mas para além do preconceito e das limitações que a moral instituída lhe impõem.

Entre a dureza da realidade e o abraço quente do sonho, os dois homens criam uma ligação muito forte entre si, evoluindo gradualmente ao longo da história até chegarem ao momento de terem de tomar as decisões mais radicais das suas vidas. O ponto mais forte da obra é a complexidade emocional destas figuras tão humanas e tão emblemáticas de problemas sociais muito pertinentes nos anos 80 como a homossexualidade, a política, e em última análise a liberdade individual e colectiva. A interpretação de Hurt, num papel inicialmente pensado para Burt Lencaster, grande impulsionador do projecto, foi tão notável que a Academia o galardoou com o Óscar de Melhor Actor Principal e Cannes com o prémio de Melhor Actor de 1985. O filme, realizado pelo brasileiro Hector Bebenco, baseou-se na obra homónima de Manuel Puig e foi ainda nomeado para os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado

domingo, 16 de outubro de 2011

Espaço Memória – Dead Poets Society (1989)

Realizado por Peter Weir
Com Robin Williams, Ethan Hawke, Josh Charles

Este filme nada tem de extraordinário para além da enorme pertinência do seu argumento. O apelo ao não conformismo que o professor de Literatura Inglesa John Keating faz aos seus alunos atingiu fundo a alma de toda uma geração. A máxima latina Carpe Diem passou para a boca de todos os jovens e os versos de Walt Witman “Oh Capitain, my capitain” tornaram-se um grito de guerra e de união.


Num colégio rigoroso, os jovens estudantes internos são impelidos pelo seu professor de literatura a assumir uma postura irreverente perante as imposições sociais, a escola e os seus próprios pais. Essa afirmação do eu vai marcá-los de forma profunda para toda a vida. Quando a individualidade de um dos alunos choca frontalmente com a mentalidade dos seus pais, todo o Clube dos Poetas Mortos é perseguido a fim de determinar a responsabilidade do professor Keating (Robin Williams). Aí se revelam os caracteres de cada jovem, anunciando já em que tipo de adultos se tornarão num leque de personalidades que nos são, ao fim e ao cabo, familiares.
A meu ver, como já afirmei, o filme vale pelo impacto que este argumento teve na famosa geração-X, que tinha andado até aí em busca de uma causa e de uma atitude. A interpretação dos jovens actores bem como a de Robin Williams dá consistência às personagens mas não sobressai, tal como nenhum outro aspecto da obra, que poderia ter ficado esquecida no tempo não fora essa força que contém. A Academia reconheceu o seu valor galardoando-o com a estatueta de Melhor Argumento Original.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Espaço Memória – From Here to Eternity (1953)

Realizado por Fred Zinnermann
Com Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra

Este retrato sombrio da vida na base militar de Pearl Harbor pouco antes do ataque japonês , foi realizado com o argumento adaptado por Daniel Taradash a partir do best seller de James Jones. A versão fílmica atenua em muito a crueza da obra original onde a bestialidade, a prostituição de ambos os sexos, a podridão da vida militar era mostrada sem pudor. A linguagem foi suavizada, a prostituição mascarada embora a crueldade nas perseguições internas aos soldados Prewitt (Montegomery Clift) e Maggio (Frank Sinatra) esteja lá bem patente, numa glorificação do valor individual por oposição à força bruta do colectivo.

O erotismo da famosíssima cena em que Lancaster e Kerr se beijam apaixonadamente à beira-mar não condiz com o resto da obra na qual sobressai a degradação do comportamento humano dentro de um grupo fechado e a conivência de todos no abafar desses crimes. As figuras femininas, ainda que um pouco apagadas pelo porte do elenco masculino, representam também elas a decadência moral que circunda a própria base militar. Deborah Kerr é a mulher de um oficial, adúltera e promíscua, e Donna Reed, a prostituta cheia de sonhos, que se envolvem respectivamente com o sargento Milton Warden (Burt Lancaster) e com o soldado Robert E. Lee. Prewitt (Montgomery Clift), não conseguindo, contudo, nem com todo o seu amor, atingir a dignidade dos seus companheiros. Fantasmas decadentes todas as personagens do filme tentam a todo o custo sair do lodo moral em que estão submersas e que culmina no massacre japonês. Apesar de todos estes elementos, os filmes sobre militares que se lhe seguiram retiraram à obra grande parte do impacto que teve na época em que estreou. Obra do realismo, From Here to Eternity impressionou de tal modo que catapultou as carreiras de Zinnermann, Burt Lancaster, Montgomery Clift e de Frank Sinatra ao conseguir os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhor Actor Secundário, Melhor Actriz Secundária, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e Melhor Som, num total de oito estatuetas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Espaço Memória – Cape Fear (1991)

Realizado por Martin Scorcese
Com Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange

O segundo sucesso comercial de Scorcese em dois anos, no ano anterior havia realizado Goodfellas, vem na sequência do contrato do realizador com a Universal Studios de forma a garantir financiamento para a rodagem de The Last Temptation of Christ. A obra é um remake do filme homónimo realizado por Jack Lee Thompson em 1962 com Robert Mitchum (que desenpenha também um pequeno papel nesta versão) e Gregory Peck, superando-o em qualidade. Um psicopata, Max Cady (Robert De Niro) decide vingar-se do advogado que o defendera catorze anos antes mas que considera responsável pela sua condenação. O filme desenvolve-se num crescendum de tensão que acompanha um desvelar da verdadeira natureza de cada uma das personagens principias, revelando os seus segredos mais ocultos, os seus desejos e o seu sentido do limite entre o Bem e o Mal. No final os papéis de vítima e de assassino tomam uma nova dimensão num clímax de terror que deixa o espectador preso à cadeira.


Sempre brilhante, De Niro faz uma excelente interpretação em contraste com o sóbrio Nick Nolte mas que encontra uma parceira à altura na jovem Juliette Lewis. Cada uma das quatro figuras principais foi concebida com uma enorme complexidade psicológica, factor que determina o fio de tensão crescente que marca a obra. Com efeitos especiais perfeitamente coordenados com a natureza do argumento, Cape Fear não foi a melhor obra de Scorcese mas é sem dúvida um exercício de estilo do realizador. O filme conseguiu duas nomeações aos Óscares para Melhor Actor Principal (Robert De Niro) e para Melhor Actriz Secundária (Juliette Lewis).

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Espaço Memória – Thelma & Louise (1991)

Realizado por Ridley Scott
Com Susan Saradon, Geena Davis, Brad Pitt
Duas mulheres decidem ir passar um fim-de-semana juntas às montanhas, deixando em casa as frustrações das suas vidas insípidas contudo esta viagem torna-se mais importante que qualquer outra coisa. À medida que cruzam as estradas, Thelma e Louise vão-se descobrindo e deitando fora todo o lixo emocional que carregam. Mais que um road movie esta película é uma obra é uma homenagem às mulheres e a todas as pessoas para quem os sonhos são cada vez mais distantes de alcançar num mundo dominado por homens, por preconceitos e por oportunidades que não surgem.


Notáveis são as interpretações de Susan Saradon e Geena Davis graças também à elaboradíssima complexidade emocional das personagens que encarnam. Um muito jovem Brad Pitt é talvez uma das mais positivas personagens masculinas da obra repleta de homens doentios e castradores mas verosímeis .A banda sonora de Hans Zimmer dá o enquadramento perfeito à fotografia de Adrian Biddle que nos apresenta a América de uma forma tão bela que é inevitável o contraste com a vida das protagonistas. Thelma & Louise arrecadou a estatueta de Melhor Argumento da autoria de Callie Khouri e foi ainda nomeado para os Óscares de Melhor Realizador, Melhor Actriz Principal, Melhor Fotografia e Melhor Montagem.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Espaço Memória – O Anjo Azul [Der Blaue Engel] (1930)

Realizado por Josef von Stenberg
Com Marlene Dietrich, Emil Jannings, Kurt Gerron

A obra de Josef von Stenberg que catapultou a até então quase desconhecida Marlene Dietrich para o sucesso mundial baseou-se no livro Professor Unrat de Heinrich Man, irmão do famosíssimo Thomas Mann. Esta foi a primeira de muitas colaborações de von Stenberg com Dietrich e um marco na transição do Expressionismo Alemão para o Realismo. De facto, a história apresenta-nos a decadência progressiva do sisudo professor liceal Immanuel Rath (o recém-oscarizado Emil Jannings) depois de, numa tentativa moralizante de disciplinar os seus alunos, entrar no cabaret Anjo Azul e aí conhecer a muito sensual corista Lola-Lola (Marlene Dietrich) por quem se apaixona e com quem casa.


O filme conheceu duas versões, rodadas em simultâneo ainda que não exactamente iguais, uma em alemão e outra em inglês, solução corrente então, para o lançamento além fronteiras da fita., sendo a alemã a mais interessante e mais curta. O hábil uso do som associado à música inesquecível de Frederick Hollander e à sensual voz de Dietrich foram uma das mais-valias da obra e um dos factores da sua importância histórica e estética, perdurando até hoje melodias como “Falling in Love Again”. A personagem de Lola-Lola definiu a imagem futura de Dietrich como uma mulher fatal que seduz e humilha os homens com grande glamour e um poder irresistível de atracção. Von Stenberg usou com neste filme os famosos cenários barrocos em que filmaria Dietrich no futuro com grande cuidado nos quadros criados e uso magistral da expressividade do preto-e-branco.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Espaço Memória – The Silence of The Lambs (1991)

Realizado por Jonathan Demme
Com Jodie Foster, Anthony Hopkins, Ted Levine

Arrebatador é o adjectivo que me ocorre para descrever esta obra ímpar de Jonathan Demme. Da mesma opinião partilham os membros da Academia que lhe atribuíram, apenas pela terceira vez na história dos Óscares até então, as cinco mais importantes estatuetas: Melhor Filme (Edward Saxon, Kenneth Utt e Ronald M. Bozman); Melhor Realizador (Jonathan Demme); Melhor Actor Principal (Anthony Hopkins); Melhor Actriz Principal (Jodie Foster); Melhor Argumento Adaptado (Ted Tally a partir da obra de Thomas Harris). O filme foi ainda nomeado para as categorias de Melhor Montagem e Melhor Som.
São dois os vilões, dois psicopatas serial killers, Dr. Hannibal (The Canibal) Lecter (Anthony Hopkins) e Buffalo Bill (Ted Levine). Lecter é o psiquiatra, preso há oito anos em alta segurança por devorar as suas vítimas, que a jovem recruta do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster) é encarregue de interrogar pelo seu superior e protector. O objectivo, que Clarice cedo descobrirá, é levar Lecter, perito em deslindar os meandros da mente humana, a colaborar na captura do psicopata que assassina e esfola as suas vítimas, Buffalo Bill. O jogo de inteligência que se trava entre a agente do FBI e o louco psiquiatra é o ponto mais fascinante deste soberbo thriller e raia quase a amizade e respeito mútuos.


The Silence of The Lambs prende completamente o espectador à cadeira, tal é a intensidade do suspense, que se transformou numa referência incontornável neste género e uma das mais importantes obras do cinema norte-americano. Ainda assim, a quando da sua estreia não todos os sectores da sociedade conseguiram compreender as subtilezas do argumento e as nuances das interpretações inesquecíveis de Foster, Hopkins e Levine, gerando-se grande polémica entre a comunidade homossexual que via na obra uma mensagem homofóbica, ainda que o filme contenha nele mesmo os elementos necessários para desmontar esta teoria. Obra imperdível graças ao argumento ímpar e às inigualáveis interpretações dos actores principais, The Silence of The Lambs é, sem qualquer dúvida, um filme maior da cinematografia contemporânea. A personagem de Hanibbal Lecter marcou de tal modo o nosso imaginário que surgiu depois em duas outras obras de qualidade muito inferior.

sábado, 30 de julho de 2011

Espaço Memória – Dune (1984)

Realizado por David Lynch
Com Kyle MacLachlan, Sting, Virginia Madsen

Dune foi a meu ver o menos bem conseguido filme de Lynch. Ainda que seja um filme de culto para muitos, esta adaptação da famosa obra de Frank Hebert, desenvolvida num futuro 10 000 anos distante, tem graves falhas e é talvez o menos lynchiano filme do realizador.A intriga assenta na luta tremenda entre os Atreides e os Harkonnens pela especiaria Melange cujos poderosos efeitos sobre a mente humana garantiam o domínio do universo ao seu possuidor. Paul Atreide (Kyle MacLachlan) surge gradualmente como o grande e tão esperado salvador cujos altos poderes permitirão à sua família conquistar o almejado poder, não sei antes ter de ultrapassar os necessários obstáculos exigidos a um herói.


As falhas do filme começam logo pela adaptação do argumento. A intriga torna-se muito intrincada e pesada para o espectador que não conheça a obra, as personagens surgem descontextualizadas – o número de personagens foi muito reduzido nesta adaptação - e a acção é fragmentada como se de um resumo se tratasse. As figuras secundárias são completamente bizarras, ao gosto do realizador, mas pouco coerentes com os protagonistas.Por outro lado, se é inegável a grandiosidade dos cenários e efeitos especiais de Carlo Rambaldi também me parece consensual que o futurismo pretendido surge demasiado “anos 80”. A inspiração dos guerreiros da idade das trevas visível no próprio guarda-roupa feminino, os nomes gregos e a necessidade de colocar lutas no deserto (as incursões americanas no Médio Oriente são uma das referências) remetem mais para o passado e para o momento da estreia da obra do que para uma recriação visionária do mundo num futuro tão longínquo. O filme foi nomeado para o Óscar de Melhor Som e recebeu o Saturn Award para o Melhor Guarda-Roupa.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Espaço Memória – Taxi Driver (1976)

Realizado por Martin Scorsese
Com Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd

Filme que marcou a grande ascensão de Scorsese, De Niro e Foster, que então tinha apenas doze anos, Taxi Driver é uma das mais marcantes obras do cinema americano. Travis Bickle (Robert De Niro) é um ex-fuzileiro e ex-combatente no Vietnam que não se consegue integrar na cidade de Nova Iorque que percorre doze horas por dia ao volante de um táxi já que os speeds que toma o não deixam dormir. Esta deambulação pela cidade permitem-lhe contactar com toda a escória social que abomina num grande conflito interior pois nunca assume que faz parte dela. A figura de Travis é altamente complexa, ao seu puritanismo e moralismo associa-se um lado perverso e distorcido. Inicialmente tenta namorar uma empregada da campanha eleitoral para eleger o candidato Palantine, Betsy (Cybill Shepherd)). Loura, bela e vestida de branco surge a seus olhos como um anjo, mas a imersão de Trevis na degradação social é mais profunda do que imagina e acaba por estragar o possível romance. A partir daqui perde o controle das suas emoções e planeia o assassínio do candidato, plano que não consegue levar a bom termo, para depois disso, assumindo como missão purificar a cidade, chacinar os homens que exploram uma menina-prostituta de apenas doze anos, Iris (Jodie Foster), que, note-se, não queria ser salva.


O filme está construído sob uma estrutura circular, terminando onde começa, sem deixar contudo de ser uma narrativa bastante aberta. Trevis continua, no final, a percorrer as ruas da cidade e a sua degradação pessoal e a sua incapacidade de se inserir no meio em que vive deixam antever o pior dos destinos. Scorsese, que interpreta também um pequeno mas curioso papel no filme, utilizou nesta obra algumas técnicas que o notabilizariam, como o uso de slow motion em planos fixos. A banda sonora de Bernard Herrmann é mítica como são as interpretações de De Niro e de Foster e o próprio argumento de Paul Schrader. Taxi Driver foi nomeado para os Óscares de Melhor Actor Principal, Melhor Actriz Secundária, Melhor Banda Sonora e Melhor Filme. Em Cannes, recebeu no ano da sua estreia a Palma de Ouro.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Espaço Memória – 8 ½ (1963)

Realizado por Frederico Fellini
Com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée

A perfeita obra art-house de Fellini é uma fantasia autobiográfica sobre a criação de um filme. Guido (Marcello Mastroianni) é um realizador em crise criativa e existencial que tem de produzir uma película e tem tudo pronto para o fazer excepto um argumento. Com 43 anos, acabado de entrar portanto na meia-idade, Guido, recolhido numas termas, sente-se oprimido pelas pessoas que o rodeiam mas que de facto lhe dão a estrutura que não possui. Isto é especialmente verdade para as mulheres da sua vida, e são muitas. Entre a mãe, a esposa, a amante, a estrela de cinema muitas outras o preenchem e o fazem perder-se num emaranhado de relações que já não controla. A fantasia e a realidade confundem-se sistematicamente, culminando num delírio com o seu sonhado harém mas mesmo esse acaba mal.

8 ½ foi rodado a preto-e-branco com uma digna de menção fotografia Gianni Di Venanzo e uma não menos notável e criativa banda-sonora de Nino Rota e integra-se no período da obra de Fellini em que este se afasta do neo-realismo com que começou a sua carreira para enveredar por um estilo muito pessoal onde o inconsciente e o consciente se confundem. O filme deixou no imaginário do cinema imagens marcantes e o desempenho de Mastroianni foi brilhante na criação de um muito sedutor e igualmente fraco sofisticadíssimo realizador. Em 1964 esta obra recebeu os Óscares de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Guarda-roupa (devido aos figurinos muito cuidados de Piero Gherardi), tendo sido nomeado para outros três, entre inúmeros outros prémios. Em 2009, Rob Marshall realizou uma homenagem a esta obra com o musical Nine, onde participaram actores de grande capacidade como, por exemplo, Daniel Day-Lewis, Marion Coutillard, Penélope Cruz, Sophia Loren e Nicole Kidman.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Espaço Memória – Cold Mountain (2003)

Realizado por Anthony Minghella
Com Jude Law, Nicole Kidman, Renée Zellweger

Nos alvores da Guerra Civil Americana, a jovem Ada (Nicole Kidman), filha do reverendo Monroe (Donald Sutherland), vê e apaixona-se imediatamente por Inman (Jude Law), sendo correspondida depois de poucas palavras. Mas depressa a guerra estoira, Inman é mobilizado, e Ada passa os restantes anos à espera do seu amor, que, a bem da verdade, mal conhece. Debilitado, o reverendo acaba por morrer e Ada entra num processo de abandono de sim mesma e da sua propriedade até ser interpelada pela enérgica Ruby (Renée Zellweger) com quem consegue ganhar uma nova vida e uma garra até aí desconhecidas dela mesma.


Estas são as premissas deste longo e quase extemporâneo épico de quase duas horas. Muitas peripécias e da mais variada índole dão dinamismo à acção, chegando mesmo a momentos de grande violência física e de sexo mais ou menos explícito. Recordo, por exemplo, a casa onde as mulheres se oferecem para ter sexo ou a tortura de Sally. Para além destes aspectos mais sombrios, a obra, baseada no homónimo romance de Charles Frazier, estrutura-se sobre um amor muito pueril e tipicamente americano mas com alguma verosimilhança, pois, dadas as condições que a guerra impôs aos sulistas, ele era o único baluarte das duas personagens. Por outro lado, há uma feroz crítica ao modo como os sulistas encararam o conflito e especialmente à perseguição levada a cabo pela Guarda aos desertores e a todos os que os acolhiam, chegando a vinganças de horror atroz.
Realizado claramente com os Óscares em vista, o filme apostou numa interessante reconstituição histórica, cenários naturais impressionantes, interpretações sóbrias mas competentes de Kidman e Law e uma verdadeira explosão de talento de Zellweger. Contudo falta claramente calor a esta montanha tão fria que é o filme. Pediam-se momentos emocionalmente mais intensos, picos de emoção a quebrar a narrativa diversificada e por vezes mesmo chocante mas sempre muito contida que fica assim muito àquem de The English Patient também realizado por Minghella. Ainda assim o filme recebeu sete nomeações aos Óscares da Academia, incluindo o de Melhor Actor Principal, tendo apenas Zellweger arrecadado a estatueta de Melhor Actriz Secundária no mesmo ano em que concorreram aos Óscares filmes como The Lord of The Rings – The Return of The King ou Mystic River.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Espaço Memória – Midnight Cowboy (1969)

Realizado por John Schlesinger
Com John Voight, Dustin Hoffman, Sylvia Miles

Quanto mais não fosse por ter sido o primeiro X-Rated Film a receber um Óscar, Midnight Cowboy é uma obra que merece ser recordada neste espaço. Debruçando-se sobre a história de um rapaz provinciano, Joe Buck (Jon Voight), que vai para Nova Iorque tentar a vida como  gigolô e na sua pungente amizade com um rato de rua, Enrico “Ratzo” Rizzo (Dustin Hoffman), esta obra de John Schlesinger poderia ter ficado perdida na História mas tal não aconteceu. A intemporalidade de Midnight Cowboy reside tanto nas interpretações únicas de Voight e Hoffman de dois miseráveis que tentam manter uma centelha de vida digna na imundice das ruas da Big Apple, como no argumento magistral que analisa ao detalhe a psicologia humana e as relações que cada homem pode estabelecer com o seu semelhante. Entre clientes que não pagam e amizades duvidosas, Joe Buck consegue manter a pureza da sua alma através da ligação que desenvolve com Ratzo, um deficiente, que o rouba mal chega à cidade.


O filme, ainda que demasiado preso a uma estética anos 60, vai longe ao abordar temas controversos como a prostituição masculina, a homossexualidade, a situação dos sem-abrigo, a migração dentro da América com todos os seus contrastes, dando-lhes uma estrutura emocional que nos toca ainda hoje. Merecidamente esta obra recebeu os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado. Foi ainda nomeado para as estatuetas de Melhor Actor Principal (Hoffman e Voight), Melhor Actriz Secundária (histórica nomeação da mais curta intervenção de uma actriz num filme, cerca de 6 minutos, para Sylvia Miles), e Melhor Montagem.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Espaço Memória – Mulholland Dr. (2001)

Realizado por David Lynch
Com Naomi Watts, Laura Harring, Dan Hedaya

Se filme há que assinale uma viragem decisiva nos caminhos da narrativa contemporânea esse filme é Mulholland Dr. Concebido inicialmente para uma série da ABC, foi transformado por Lynch num filme completo ao ser recusado o episódio-piloto pela estação televisiva. Envolvendo um estranho acidente na Mulholland Dr. em Hollywood, ao qual apenas uma estonteante morena escapa com vida (Laura Harring), a obra apresenta-nos o estranho clube Silencio, o tenebroso mundo de uma aspirante a estrela (Naomi Watts), relações lésbicas, amores não correspondidos, chantagem, num emaranhado difícil de entender mas que contém em si algumas das chaves para a sua decifração.


É no fundo o apogeu do universo do realizador, onde vários níveis de realidade se cruzam e constroem ou desconstroem sentidos. Para esta harmonia contribuem as bem concebidas personagens, evocando elas próprias o universo do cinema, como Rita, cujo nome é copiado do de Rita Hayworth, e que é ela própria uma digna figura de film noir, ou o cowboy, bem como a enigmática banda sonora de Angelo Badalamenti ou os sets anos 50. Mas Lynch não se fica pela perfeição estética. O realizador espeta uma incisiva farpa nos bastidores do meio cinematográfico, com os seus jogos de poder, as intrigas, as cunhas, as pressões, os ambientes carregados, a ambição desmedida, fá-lo contudo sob um véu de irrealidade que baralha o espectador menos precavido e fascina os admiradores do seu trabalho.
Filme incontornável para quem acompanha o trabalho de David Lynch e a sua influência no cinema seu contemporâneo, Mulholland Dr. garantiu ao realizador a nomeação para o Óscar bem como a Palma de Ouro em Cannes em 2001, tendo Lynch acabado por receber nesse mesmo festival o prémio de Melhor Realizador.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Espaço Memória – Pulp Fiction (1994)

Realizado por Quentin Tarantino
Com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman

Obra emblemática da carreira como realizador de Quentin Tarantino, Pulp Fiction é um patchwork de inúmeros filmes que cabe ao espectador descortinar. Assente no percurso de alguns dias de dois gangsters, o filme leva-nos aos inesquecíveis ambientes dos anos 70, usando uma narrativa não linear nem sequer lógica. Cada frame deste filme é um quadro tal a minúcia dos cenários e a sábia câmara de Andrzej Sekula, construindo um universo coeso e consistente que dá uma estrutura à fragmentada narrativa.


As personagens são deliberadamente estereótipos nossos conhecidos de outras obras, machões cuja virilidade é ameaçada, durões sentimentais, mulheres sedutoras e vulneráveis, deambulando pelo mundo do crime organizado repleto de fantasias homossexuais e não só. Estas personagens, desde o mais pequeno criminoso até aos aos protagonistas, os sempre competentes John Travolta, Samuel L. Jackson e Uma Thurman, estão perdidas nos seus universos e lutam desesperadamente por um sentido para as suas bizarras existências.
Muitas cenas de Pulp Fiction, já por sim pleno de citações a outros filmes, ficaram no cinema que se lhes seguiu como referências constantes. Lembro por exemplo a histórica dança de John Travolta e Uma Thurman na danceteria anos 50. Os louros da obra foram reconhecidos de imediato no ano do seu lançamento. Em 1994 o filme recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e no ano seguinte o Óscar de Melhor Argumento Original (Quentin Tarantino e Roger Avary) , tendo sido também nomeado para as categorias de Melhor Filme, Melhor Actor Principal, Melhor Actor Secundário, Melhor Actriz Secundária e Melhor Montagem entre inúmeros outros galardões

terça-feira, 17 de maio de 2011

Espaço Memória – Crouching Tiger Hidden Dragon [Wo Hu Cang Long] (2000)

Realizado por Ang Lee
Com Chow Yun-Fat, Michelle Yeoh, Zhang Ziyi, Chen Chang

Ang Lee (Hulk, Brokeback Mountain, Taking Woodstock) conseguiu com esta película realizar o mais impressionante filme de artes marciais de sempre. Em muitos momentos nos parece que estamos a assistir a um western asiático, tantas são as evocações de caravanas no deserto, cenas de taberna, mortes em rixas mas a cultura chinesa está lá também e no seu melhor.
O filme é rodado em mandarim e apresenta extraordinárias lutas coreografadas pelo genial Lee Wu-Ping que eleva as personagens a inacreditáveis lutas sobre as árvores, voos pelos telhados, paredes escaladas, o que dá uma graciosidade e uma elegância irresistível ao filme. A beleza oriental dos protagonistas, que lutam por uma espada roubada e nessa luta envolvem os seus amores pessoais e a honra imposta pela tradição aos guerreiros, e as suas notáveis interpretações levam o filme além das artes marciais para o campo da psicologia e da reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade chinesa da época. De facto as duas principais guerreiras são mulheres, irmãs pelo coração, que por motivos diferentes lutam até ao fim por aquilo que acreditam, tentando a todo o custo encontrar um escape para as leis chinesas do casamento.


A fotografia belíssima de Peter Pau e o guarda-roupa de Timmy Yip bem como a banda sonora de Jorge Calandrelli, Young King e Tan Dun Melhor Realizador, complementam-se perfeitamente e contribuem de sobremaneira para a perfeição artística de Crouching Tiger Hidden Dragon. O filme foi nomeado para dez estatuetas, tendo recebido justamente os Óscares de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direcção Artística, Melhor Fotografia e Melhor Banda Sonora. Um filme obrigatório portanto.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Espaço Memória – Romper Stomper (1992)

Realizado por Geoffrey Wright
Com Russel Crowe, Daniel Pollock, Jacqueline McKenzie

Por sugestão de um dos nossos leitores aquando do post sobre American History X, falamos hoje do filme que lhe esteve na base, o australiano Romper Stomper. Com muitas influências de A Clockwork Orange e de Rebels Without a Cause, Romper Stomper apresenta um grupo de skinheads dos subúrbios de Melbourne, liderados pelo carismático Hando (Russel Crowe em início de carreira) que consideram ter como missão salvaguardar a Austrália do perigo que os imigrantes, sobretudo os vietnamitas, a seu ver representam. No meio do gang infiltra-se uma menina rica , revoltada e epiléptica, Gabe (Jacqueline McKenzie) que, depois de se envolver com o líder, acaba nos braços do seu homem de confiança, Davey (Daniel Pollock), gerando-se assim um triângulo amoroso eivado de ódio e de cegueira que terminará de forma dramática.


Repleto de cenas de violência fortíssima, agudizadas pelos filtros azuis que o realizador optou por usar em muitas cenas conferindo-lhes um tom mais dramático e underground, Romper Stomper despoletou uma acesa discussão na Austrália aquando da sua estreia sobre se tratar ou não de um filme racista. De facto, não são emitidos juízos de valor.  Aqueles jovens são apresentados na sua realidade sem desenvolvimentos sobre o seu passado familiar ou as razões que os levaram a deixar crescer a tal ponto o seu ódio xenófobo, à excepção de um ou outro apontamento nomeadamente sobre Gabe e Davey. Os sentimentos que nutrem em relação uns aos outros também não são aprofundados, centralizando-se o foco no poder aglutinador de Hando, na sua crença no Mein Kampf e na vertigem que a violência desperta, viciando-os a pontos incalculáveis e levando-os a desprezar a própria vida. Muito actual para o momento em que foi estreado, o filme choca o espectador sem nunca cair na violência gratuita nem no sexo despropositado. Tudo é tensão e drama e nós estamos no meio dela. Chamo ainda a atenção para a banda sonora electrizante de John Clifford White.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Espaço Memória – La Dolce Vita (1960)

Realizado por Frederico Fellini
Com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Anouk Aimée, Alain Cuny

La Dolce Vita é um filme de tal modo emblemático que já pouco resta a dizer sobre ele. Ainda assim gostaria de lembrar que marca a transição de Fellini do neo-realismo inicial para um caminho em direcção ao surrealismo. Filmado inteiramente a preto e branco como os filmes neo-realistas, La Dolce Vita retrata não a classe dos explorados mas sim a decadente alta e mediática sociedade italiana ao longo de sete noites eivadas de mulheres belas e ocas e de homens, sobretudo do jornalista Marcello (Marcello Mastroianni), em busca de um sentido para a sua própria vida no meio daquele caos moral. Esta ideia da crise total de valores é pioneira e visível logo na cena inicial quando a cidade é sobrevoada por um Cristo preso a um helicóptero.
Marcello vai deambular durante este período que corresponde a quase três horas de filme entre a namorada neurótica, menáges, orgias, festas e tareias. Há qualquer coisa de sufocante neste filme como sufocante é o fascínio de Marcello pelas mulheres bonitas que o rodeiam, lembremo-nos por exemplo da sua noite com a diva (Anita Ekberg) na Fonte de Trevi, ou o assédio constante dos paparazzi em torno das personagens. O próprio nome paparazzo vem do nome do amigo do jornalista, Paparazzo.


Riquíssima a todos os níveis e obra de grande influência sobre o cinema que se lhe seguiu, La Dolce Vita recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e foi nomeado para os Óscares de Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhor Direcção Artística e Melhor Guarda-Roupa, tendo recebido apenas este último. Outro elemento a reter é a contínua falta de comunicação entre as personagens, ou porque falam línguas diferentes, ou porque entre elas reina o vazio, ou ainda na cena final porque o ruído não permite que Marccello compreenda os sinais da jovem na praia, tal como todas as restantes personagens estão demasiado submersas na vertigem da depravação glamourosa para se ouvirem a si mesmas. Resta-lhes o monstro marinho que é pescado no final do filme metáfora da monstruosidade do resultado das suas vidas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Espaço Memória – Million Dollar Baby (2004)

Realizado por Clint Eastwood
Com Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman

A obsessão de Eastwood com a morte, visível em obras como Gran Torino e Hereafter, surge já em Million Dollar Baby, um filme sobre a ligação de uma aspirante a pugilista de alta competição, Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), e o seu treinador, Frankie Dunn (Clint Eastwood). Embora passado no ambiente de extrema violência física do boxe profissional, filmado por Tom Stern numa penumbra terrivelmente depressiva, o filme conta a história improvável de uma amizade. Dunn vive angustiado pela má relação que mantém com a filha, frequenta a igreja e não treina raparigas por considerar este desporto demasiado violento para elas. Maggie provém de uma família disfuncional, é empregada de mesa, mas tem uma enorme força de vontade e o sonho de ser boxeur profissional. Ajudada inicialmente por um ex-pugilista Edie-Scrap-Iron-Dupris (Morgan Freeman), acaba por conseguir os seus intentos, convencer Dunn a treiná-la e chegar aos campeonatos internacionais.


Nada há de bonito neste filme, até a personagem de Swank é de um beleza feia, mas a força do argumento de Paul Haggis, a elaborada construção psicológica destas personagens, as notáveis interpretações de Swank (Óscar de Melhor Actriz Principal), Eastwood (Nomeado para o Óscar de Melhor Actor Principal) e Freeman (Óscar de Melhor Actor Secundário), conferem-lhe o realismo da própria vida como ela é fora de Hollywood. A história é terrível mas a vida também o pode ser. O argumento beneficia em muito pelo facto de conciliar a violentíssima e dolorosa exploração da dureza do boxe profissional com a vida das próprias personagens, as suas frustrações, a busca de resposta dentro de si mesmas (Maggie Fitzgerald), em Deus (Frankie Dunn) ou no amor ao próximo (Dupris), tornando-se assim numa obra capaz de surpreender a cada instante porque de tão humanas e tão consistentes as personagens vão além da tela e ganham autonomia.
É uma prova difícil assistir ao filme não só devido à não evitada violência mas também por causa das questões que coloca ao espectador. Teremos nós os sonhos certos? Para onde canalizamos a nossa força de vontade? Valorizaremos de facto o que é realmente importante? Deixaremos para trás pessoas, afectos irresgatáveis? Qual a motivação para viver? Por estas razões o filme ganhou quatro Óscares da Academia, incluindo o de Melhor Filme, tendo sido nomeado para um total de sete.