Com Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvyn Douglas
A “Apartment Trilogy” de Roman Polanski iniciou-se em 1965 com “Repulsion”, tendo o mediatismo de “Rosemary’s Babie” (1969) constituído o vértice de uma inédita reflexão em torno da dimensão psicológica e do terror aplicados ao espaço e ao habitar modernos. O ciclo viria a concluir-se sete anos depois do massacre de Benedict Canyon, com a estreia de “The Tenant” (“Le Locataire”), em Paris.
Roman Polanski personifica um acinzentado inquilino polaco que revela invulgar permeabilidade à envolvente e ao passado da habitação parisiense onde reside: em “The Tenant”, o imóvel de rendimento onde a intriga decorre é recorrentemente actor principal – à imagem do “Anjo Exterminador” de Buñuel – secundarizando-se, quase de uma forma crónica, a figura do humilde e contido Monsieur Trekolvsky.
Roman Polanski personifica um acinzentado inquilino polaco que revela invulgar permeabilidade à envolvente e ao passado da habitação parisiense onde reside: em “The Tenant”, o imóvel de rendimento onde a intriga decorre é recorrentemente actor principal – à imagem do “Anjo Exterminador” de Buñuel – secundarizando-se, quase de uma forma crónica, a figura do humilde e contido Monsieur Trekolvsky.
Apartamento (de uma única assoalhada), casa-de-banho comum, acessos, senhorio e demais habitantes constituem a representação imediata de uma envolvente que, ao longo de mais de duas horas, se vai desdobrando em realidades extrapoladas de paradigmas do arrendatário comum. O enigma, lúgubre e subtilmente estruturado, passa pela existência de uma tentativa de suicídio alegadamente consumada pela anterior inquilina – egiptóloga de profissão – cuja presença se torna progressivamente indissociável do quotidiano de Trekolvsky. De contornos surpreendentes, o desfecho encerra em si uma inesperada carga cénica, culminar da paranoia à qual os aparentemente antagónicos Simone Choule (egiptóloga boémia) e Trekolvsky (burocrata introvertido) se sujeitaram.
É inevitável questionar que espaço (ou conjunto de espaços) é este, capaz de dominar os planos psicológico, comportamental e afetivo dos seus utilizadores. Tratar-se-à de mais uma construção parisiense de início de século, ou a interioridade e a vizinhança imediata que Polanski refinadamente retrata são outras, eventualmente imateriais e de génese patológica? Decorrente da adaptação preconizada pelo próprio Roman Polanski ao romance do surrealista Roland Topor “Le Locataire Chimerique” (1964), “The Tenant" aproxima-se, ainda, de determinadas realidades construídas por Edgar Allan Poe ("The Raven"), Alfred Döblin (desfecho de "Berlin Alexanderplatz") ou Nikolai Gogol (“Viy”, “The Overcoat”).
É inevitável questionar que espaço (ou conjunto de espaços) é este, capaz de dominar os planos psicológico, comportamental e afetivo dos seus utilizadores. Tratar-se-à de mais uma construção parisiense de início de século, ou a interioridade e a vizinhança imediata que Polanski refinadamente retrata são outras, eventualmente imateriais e de génese patológica? Decorrente da adaptação preconizada pelo próprio Roman Polanski ao romance do surrealista Roland Topor “Le Locataire Chimerique” (1964), “The Tenant" aproxima-se, ainda, de determinadas realidades construídas por Edgar Allan Poe ("The Raven"), Alfred Döblin (desfecho de "Berlin Alexanderplatz") ou Nikolai Gogol (“Viy”, “The Overcoat”).
Não tendo conquistado a Palma de Ouro – “Taxi Driver” e “Die Marquise von O” dividiram atenções e prémios – “The Tenant” ou “Le Locataire” integrou a seleção oficial de Cannes em 1976. Inicialmente encarado enquanto ressaca de “Chinatown”, o “Inquilino” de Polanski adquiriu, já na década de '80, o devido estatuto de filme de culto no universo do absurdo e do terror psicológico. Do elenco, parcialmente composto por velhas glórias de Hollywood (Melvyn Douglas, Shelley Winters, Jo Van Fleet), constituiu-se o competente conjunto de testemunhas de um imperdível soçobro.