Com Benjamin Walker, Dominic Cooper, Rufus Sewell, Anthony Mackie
Os filmes de vampires estão na moda. E as adaptações cinematográficas dos polémicos livros de Seth Grahame-Smith também. “Pride and Prejudice and Zombies” (que muitas voltas no caixão terá provocado à pobre Jane Austen) tem enfrentado algumas contrariedades no que à constituição da equipa de produção diz respeito, mas a produção está assegurada e tem já estreia marcada para 2013. E enquanto essa obra muito curiosa não chega a bom porto, eis que Hollywood nos traz a adaptação de outra história tresloucada de Seth Grahame-Smith: este “Abraham Lincoln: Vampire Hunter”. “Pride and Prejudice and Zombies” colocava Elizabeth Bennet e Mr. Darcy a efetuarem golpes de karaté contra hordas infindáveis de zombies sedentos de sangue. “Abraham Lincoln: Vampire Hunter” coloca um dos mais ilustres presidentes dos Estados Unidos da América a levar uma vida secreta enquanto impiedoso e sanguinário caçador de vampiros. É como se esta obra quisesse competir com a primeira no que concerne a polémica e a falta de lógica da narrativa. Grahame-Smith gosta de provocar e de brincar com conteúdos históricos e/ou classicistas. Já todos compreendemos isso, e é até de louvar a forma como ele consegue colocar personagens “sérias” nas situações mais imprevistas e hilariantes. Porém, se por um lado as suas histórias funcionam como produtos de entretenimento fácil, por outro lado jamais conseguem atingir a consistência necessária para serem levadas muito a sério. Um argumento que é perfeitamente válido para este “Abraham Lincoln: Vampire Hunter”. Pois se é verdade que este filme entretém quanto baste, também é verdade que pouca ou nenhuma lógica possui, levando a sua premissa longe demais e perdendo pontos com um estilo de rodagem quase à imagem de um videojogo desmiolado.
Assumindo obviamente uma abordagem ficcional à vida de Abraham Lincoln, a película começa por nos apresentar um Abraham muito jovem, embora já detentor de convicções firmes e ideais incomuns. Enquanto ajudava o seu pai nas tarefas de lenhador, Abraham (Benjamin Walker na versão adulta da personagem) vê o seu amigo de infância Will Johnson (Anthony Mackie também na versão adulta) ser espancado por Jack Barts (Marton Csokas), um empresário rude e pouco amistoso. Pretendendo defender o amigo em apuros, Abraham lança-se então contra Barts, mas acaba apenas por piorar a situação porque provoca o despedimento do pai e a fúria do empresário. Poucos dias mais tarde, a mãe de Abraham morre misteriosamente e o rapaz convence-se de que o responsável pela tragédia é Barts, jurando vingar-se dele quando o momento mais oportuno surgisse. Ao atingir a maioridade, o momento surge finalmente e Abraham enfia um balázio na cabeça de Barts. Porém, de forma verdadeiramente surpreendente, Barts ergue-se do chão como se nada tivesse acontecido e ataca Abraham com uma bocarra repleta de dentes afiados. Com a ajuda do misterioso Henry Sturgess (Dominic Cooper), Abraham acaba por sobreviver ao ataque, mas entra em colisão com um mundo que julgava não existir: um mundo repleto de vampiros e demónios das profundezas. Incapaz de ficar indiferente ante esta nova realidade, Abraham forma então uma equipa com Sturgess para caçar vampiros um pouco por toda a América. Mas conseguirá ele conciliar a vida de caçador de demónios com a sua ambição de se tornar um advogado e um político de renome?
O que se pode dizer de um filme que coloca Abraham Lincoln com um machado na mão a perseguir vampiros, a despedaçar árvores gigantescas com um só golpe e a saltar de comboios em chamas enquanto rodopia o machado nos punhos em grande estilo? Bom, pode dizer-se que é um filme onde a loucura impera e onde nada deve ser levado muito a sério. É quase como se tivéssemos um D. Afonso Henriques a caçar lobisomens nas florestas do condado portucalense. Obviamente que tal coisa tem de ser vista com um espírito muito (muito mesmo) aberto e sem grandes esperanças de se encontrar um Abraham Lincoln minimamente credível e fiel à realidade histórica. Depois deste filme, Timur Bekmambetov vai seguramente passar a ser conhecido como um dos realizadores mais loucos do cinema contemporâneo. E isto porque “Abraham Lincoln: Vampire Hunter” desafia tudo o que se possa considerar lógico e sensato, oferecendo-nos hora e meia da ação mais tresloucada (e desproporcionada) dos últimos tempos. Todos sabemos que o principal objetivo desta película passa por entreter o espectador. E não há mal nenhum nisso, porque nem todos os filmes têm de ser ensaios filosóficos sobre as crises da vida. Todavia, mesmo os produtos claramente pipoqueiros têm de ter uma base de credibilidade minimamente sólida e consistente. O que está longe de acontecer nesta obra. Dizer que “Abraham Lincoln: Vampire Hunter” abusa do CGI é dizer pouco. De facto, algumas cenas de ação são tão artificiais e inverosímeis que a fita chega mesmo a cair no ridículo. Aqui e ali, alguns movimentos do machado de Lincoln e algumas interações entre personagens exalam alguma piada. Mas como um todo, “Abraham Lincoln: Vampire Hunter” quer ser tão espetacular que acaba por se tornar simplesmente risível. Nota-se claramente que Benjamin Walker não possui ainda o estofo para interpretar uma personagem tão rica e pesada como Lincoln, assim como se nota o absoluto descontrolo narrativo em que Bekmambetov se deixa tombar, privilegiando (e mal) o estilo visual em detrimento do bom senso. Mas o que mais se poderia esperar de uma obra que coloca o nome “Abraham Lincoln” e as palavras “Vampire Hunter” lado a lado no seu título?
Classificação – 1,5 Estrelas Em 5