Realizado por Joaquim Leitão
Com Virgílio Castelo, Carlos Nunes, José Carlos Cardoso, Alcídia Vaz, Ana Padrão
O mais recente filme de Joaquim Leitão é seguramente uma das obras portuguesas mais ambiciosas dos últimos anos. Depois das desastrosas produções nacionais que têm estreado nos últimos tempos, “A Esperança Está Onde Menos Se Espera” afirma-se como um filme de patamar superior e que, apesar de estar longe de ser brilhante, consegue estar acima da média e agradar ao espectador. O filme conta-nos a história de uma família privilegiada que, de um dia para o outro, se vê confrontada a problemática do desemprego e consequente baixa no estilo de vida a que estavam habituados. Francisco Figueiredo (Castelo) é um promissor treinador de futebol que consegue levar uma modesta equipa dos distritais à final da Taça de Portugal e tem o mundo a seus pés. Contudo, tudo muda quando uma grande penalidade polémica aviva a consciência e integridade de Francisco, levando-o a tomar uma decisão que faz com que perca o jogo. Após o incidente, Francisco é despedido e vê a sua carreira promissora ameaçada para sempre. Incapaz de arranjar um emprego, Francisco vê-se forçado a “cortar” nalguns luxos da família, transferindo o filho Lourenço (Nunes) para uma escola pública problemática da Amadora e tomando decisões drásticas que acabam por afastar a esposa Helena (Padrão) do seio familiar. Aqui começa uma dura luta pela sobrevivência, à medida que Francisco tenta desesperadamente arranjar um emprego que pague as contas e Lourenço se esforça por adaptar a uma nova realidade na escola. Pai e filho vêem-se confrontados com a dura realidade de uma vida sem luxos, ao mesmo tempo que lutam para dar um novo rumo à sua relação deteriorada.
Joaquim Leitão e o duo de argumentistas lançam várias achas para uma fogueira que pretende fazer o espectador reflectir sobre várias realidades da vida actual na sociedade portuguesa: a difícil adaptação de um adolescente a uma escola problemática onde a rebeldia e o crime parecem prevalecer; o difícil relacionamento entre as várias classes sociais; a dificuldade de viver sob a alçada do desemprego e da crise que parece nunca mais acabar; as dificuldades de relacionamento entre pai e filho na sociedade dos dias de hoje, uma sociedade cada vez mais distante e obcecada pela carreira profissional. Todos estes temas são abordados de uma forma competente, mas por vezes algo forçada. Percebe-se a mensagem de esperança e paz que o filme pretende transmitir. Porém, por vezes (devido a algumas falhas do argumento), essa mensagem é passada de forma demasiado forçada e mesmo irrealista.
O trabalho de realização de Leitão é sóbrio e competente, deixando o espectador compreender que o principal propósito desta história é analisar a relação de Francisco com Lourenço; uma relação que precisa de passar pelo pior, para conseguir melhorar e tornar-se verdadeiramente forte. Os actores têm performances razoáveis, com principal destaque para os jovens Carlos Nunes e José Carlos Cardoso (indícios de uma nova geração que venha salvar a representação portuguesa, qual D. Sebastião?), que complementam a interpretação segura do veterano Virgílio Castelo de forma eficaz e convincente.
Ainda assim, tenho que dizer que o filme sofre dos síndromas habituais que tanto contribuem para a má imagem dos filmes portugueses. Quando uma personagem está chateada, não tem necessariamente de dizer asneiras em todas as frases que diz, pois se nota claramente que é forçado e/ou exagerado. Para além disso, é preciso ter mais cuidado com o som do filme. Isto porque nas cenas em que aparecem multidões a falar (como por exemplo nos intervalos da escola), o ambiente é muito silencioso apesar de vermos dezenas de alunos e professores a abrir e fechar a boca… Isto corrige-se com mais trabalho e meios empregues na pós-produção. Este tipo de pormenores podem parecer mesquinhos, mas fazem toda a diferença no ritmo da película e no realismo da cena que o espectador está a ver. O que beneficia de forma indelével a qualidade da película.
Mas enfim, apesar de conter alguns erros habitualmente presentes na cinematografia portuguesa, devo dizer que “A Esperança Está Onde Menos Se Espera” é um filme bastante agradável e competente. O cinema português precisa de mais filmes assim. Filmes com ambição, filmes que pretendam contar histórias cativantes, realistas e que nos façam reflectir. Assim sendo, esta obra merece algum destaque, pois apesar de não ser brilhante, é sem dúvida alguma melhor do que muitos dos filmes que têm esgotado as salas de cinema portuguesas nos últimos tempos.
Classificação - 3,5 Estrelas Em 5