sábado, 12 de abril de 2008

Crítica - REC (2007)

Realizado por: Jaume Balagueró e Paco Plaza
Com Manuela Velasco e Pep Sais

Estava bastante curioso e ansioso para ir ver o vencedor do Fantasporto 2008. O Fantasporto é um festival de cinema fantástico, onde se pode ver de tudo – filmes excelentes, filmes medianos e filmes que só são aceitáveis num festival desta natureza. Assim sendo, ao ver um filme no Fantas, corremos sempre o risco de ir ver um grandessíssimo flop. Porém, regra geral, o grande vencedor do festival é sempre um bom filme. E neste caso não estamos a falar apenas de um bom filme; ao falar de “REC” estamos a falar no melhor filme de terror desde “The Exorcist”. E acreditem que isto é dizer muito. Devemos então dar graças ao Fantas, pois se não fosse esse festival a premiar este filme, muito provavelmente “REC” nunca teria chegado às salas de cinema nacionais e o público amante de cinema (e particularmente o público amante do cinema de terror) perderia o melhor filme de terror dos últimos 30 anos.


O filme começa de uma forma muito calma, com um tom monótono e sem grande interesse (obviamente que isto é propositado para que se sinta a diferença com o que virá a seguir); no início da película acompanhamos a jornalista Ângela (Manuela Velasco) numa visita guiada a um departamento dos Bombeiros de Barcelona. Ángela é uma jornalista de um programa nocturno com poucas audiências que tem como missão fazer uma reportagem sobre a vida diária dos Bombeiros. Assim, numa das entrevistas a um dos Bombeiros, ficamos a saber que 70% das chamadas que fazem aos Bombeiros não têm nada a ver com fogos, sendo que eles têm que se deparar com as mais variadas problemáticas. Nesse momento Ángela diz que gostava então que naquela noite acontecesse “algo de diferente” para benefício da sua reportagem. Tanto ela como o Bombeiro se começam a rir, ignorando que a prece de Ángela seria atendida da forma mais macabra e horrível possível. O pedido de socorro chega, os Bombeiros e a equipa de reportagem correm para um prédio antigo onde aparentemente uma senhora idosa está a causar distúrbios e de um momento para o outro, todos se vêem numa situação complicada: um polícia e um bombeiro são selvaticamente atacados pela velhota e quando tentam sair do prédio para procurar ajuda médica, vêem que não podem sair pois a polícia fechou todas as saídas do prédio sob o pretexto de um eventual risco de epidemia de uma doença… Começa assim uma viagem infernal para as personagens do filme e para os espectadores confortavelmente sentados nas salas de cinema.
As minhas expectativas para este filme eram grandes. Mas confesso que não estava à espera que o filme fosse tão bom. “REC” está filmado como se estivéssemos mesmo a ver uma reportagem televisiva em directo. Assim sendo, a câmara leva encontrões, sofre problemas com o som e está sempre em movimento. Para alguns espectadores mais cínicos (para aqueles que detestaram “The Blair Witch Project” ou “Cloverfield”) esta estrutura que o filme apresenta pode tornar-se algo confusa e as pessoas podem sentir-se algo desorientadas nalguns trechos do filme em que não sabemos exactamente o que se está a passar à nossa volta. Porém, é exactamente esta estrutura de “reportagem televisiva” que confere um realismo assombroso à película e nos faz sentir como se estivéssemos também encurralados naquele prédio maldito. A realização e as interpretações (absolutamente credíveis) dos actores fazem-nos sentir como se aquilo estivesse de facto a acontecer e estejamos a ver algo na televisão que não era suposto vermos. O terror é imenso, os sustos são recorrentes e a realização raramente nos deixa antever o que vai acontecer a seguir. Assim sendo, “REC” eleva a tensão a níveis quase insuportáveis.


Desde “The Exorcist” que não via um filme que captasse tão bem a essência do terror; a essência do que o filme de terror verdadeiramente é. Já devem ter percebido (por esta e outras críticas) que este género cinematográfico é o que eu mais aprecio. E por isso custa-me ver a decadência em que este género se encontra na actualidade. Felizmente, de vez em quando (de 30 em 30 anos) surge um verdadeiro filme de terror que me faça sentir como uma criança assustada na escuridão do cinema. “REC” provoca em nós a mesma sensação arrepiante com que saímos de um comboio fantasma quando éramos crianças. O filme assusta mesmo, utilizando todas as técnicas ideais num filme de terror: temos o suspense de não saber o que vem a seguir, temos a escuridão total e os jogos de luz e som (o som é simplesmente arrepiante neste filme), temos os ângulos de câmara perfeitamente executados, enfim, temos tudo. “REC” é um filme de terror perfeito! O que eu não dava por ver “Resident Evil” adaptado desta forma ao cinema. “REC” é a prova absoluta de que o cinema espanhol está em crescimento e seria bom que os realizadores e produtores americanos estudassem bem estes filmes antes de se aventurarem na produção de mais um filme de terror americano medíocre.
Há muito tempo que não via um filme de terror assim. Há muito tempo que não me sentia tão tentado a fechar os olhos numa sala de cinema. Há muito tempo que não via uma sala inteira a saltar da cadeira e a queixar-se do terror quase insuportável do filme. Há muito tempo que não via uma reacção tão positiva e genuína do público no final de um filme de terror (houve quem batesse palmas e toda a gente parecia aliviada por ter escapado viva a tamanha viagem ao Inferno). Dito tudo isto, que mais há a dizer? Nada, a não ser afirmar a pés juntos que “REC” é um dos melhores filmes do ano e um dos melhores filmes de terror de todos os tempos!

Classificação - 5 Estrelas Em 5
2ª Crítica - AQUI

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