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domingo, 10 de outubro de 2010

Crítica - [REC] 2 (2009)

Realizado por Jaume Balagueró e Paco Plaza
Com Jonathan Mellor, Óscar Zafra, Ariel Casas, Pep Molina, Manuela Velasco

Tive a feliz oportunidade de regressar ao mais claustrofóbico e amaldiçoado bloco de apartamentos de Barcelona aquando da auspiciosa exibição deste “[REC] 2” na mais recente edição do grande Fantasporto. Compreensivelmente, a expectativa era mais que muita. Passaram-se já vários meses desde essa noite, mas lembro-me perfeitamente que foi uma das noites em que o Teatro Rivoli esteve mais cheio (a sala estava a rebentar pelas costuras e muitos foram aqueles que não conseguiram arranjar bilhete). Afinal de contas, estávamos a falar da aguardada continuação do melhor filme de terror desde “The Exorcist”. E como tal, as centenas de cinéfilos presentes no Rivoli queriam apenas que as luzes se apagassem e que a irrequieta câmara de Balagueró e Plaza entrasse em acção. No decorrer da sessão, muitas foram as palmas, as gargalhadas (que, no Fantasporto, significam que o público está a adorar aquilo que está a ver) e os saltos nas cadeiras. E no final do filme, o sentimento parecia ser unânime: mais sangrento mas consideravelmente menos assustador, “[REC] 2” estava um pouco longe da qualidade do filme original, mas continuava a ser um belíssimo filme de terror.


Ao contrário do filme original, que reservava os seus minutos iniciais para introduzir as personagens e o contexto em que estas estavam inseridas com toda a calma, “[REC] 2” vai directamente ao assunto, mergulhando de imediato o espectador no ambiente caracteristicamente infernal do antiquado prédio de Barcelona. A narrativa inicia-se no preciso momento em que o filme original terminou. Poucos segundos após Ángela Vidal (Manuela Velasco) ser brutalmente arrastada para a nefasta escuridão pelas mãos da possuída menina Medeiros, um grupo de forças especiais de intervenção irrompe pelo prédio adentro, dirigindo-se imediatamente ao último andar (local onde, segundo as suas informações, este autêntico pesadelo havia despoletado) para se inteirar do estado da situação. Auxiliados por um padre com os seus próprios interesses e motivações, o grupo de agentes armados até aos dentes possui intenções nobres: conter a propagação do diabólico vírus e resgatar quaisquer sobreviventes. Basicamente, a sua missão prendia-se com o recuperar do controlo de uma situação que começava a adquirir contornos de calamidade. Porém, o que eles não contavam era entrar num confronto directo com forças malignas sobrenaturais… E, absolutamente rodeados de criaturas possuídas pelo Demo, depressa chegam à conclusão de que, por muito armados que estejam, não têm a mínima hipótese de vencer esta batalha e devolver a tranquilidade àquele, outrora pacato, bairro de Barcelona.
De certa forma, “[REC] 2” faz-nos lembrar o magnífico “Aliens” de James Cameron. Não havendo já o tão importante factor surpresa e colocando o espectador no seio de uma robusta e militarizada brigada de intervenção, a película perde aquela fundamental aura de suspense e caminha perigosamente na direcção de um estilo mais propenso para a acção. Desta forma, perdendo aquele sentimento de inocente fragilidade que a jornalista Ángela Vidal nos oferecia e deixando-se invadir por um intenso festival de tiros de metralhadora, a sequela de “[REC]” acaba por se afastar dos meandros do terror, funcionando mais como um tenso filme de acção com muitos monstros e litros de sangue a jorrar de todos os lados. Graças aos fantásticos meios de produção – com destaque para a arrepiante direcção de fotografia de Pablo Rosso, a apaixonada direcção artística de Gemma Fauria e a excelsa maquilhagem dos diversos artistas desta área – “[REC] 2” continua a assegurar-nos uma viagem assustadoramente infernal pelo decadente prédio de Barcelona. Contudo, a aposta numa narrativa com mais intérpretes, mais criaturas diabólicas e muito mais acção acaba por lhe retirar aquela aura de tensão que tanto nos fazia bater o coração.


E este é o grande problema de todas as sequelas. Com o ego bem atafulhado de palmas e elogios, as equipas de produção tentam sempre fazer com que as segundas obras sejam maiores em tudo. Maiores em orçamento, maiores em extensão e diversidade dos sets de rodagem, maiores em efeitos especiais, etc. Aliás, não é por acaso que o número dois do título aparece numa posição mais elevada, sugerindo ao público que este não é um «REC dois», mas antes um «REC ao quadrado» (ou seja, uma sequela com aspectos de produção mais elevados em todos os sentidos). E, invariavelmente, esta ambição faz com que a magia das obras originais se desvaneça um pouco.
Depois de um “[REC]” que, em termos de conteúdo narrativo, se aproximava mais de um “Resident Evil” misturado com possessões demoníacas, “[REC] 2” executa uma mais que óbvia piscadela de olho a “The Exorcist”. Aqui, a propagação do vírus infeccioso é colocada em segundo plano, falando-se muito mais de demónios, possessões demoníacas e até mesmo exorcismos (é para isso que a personagem do padre (Pep Molina) lá está). E se, por um lado, isso adensa muito mais a aura de terror sobrenatural que paira sobre toda a película, por outro lado, faz com que esta sequela destoe um pouco da obra original. E graças a esta abordagem mais sombria e fantasmagoricamente sobrenatural, a narrativa de “[REC] 2” perde algum do realismo que se afirmava como um dos pontos fortes da obra original, chegando mesmo a apresentar-nos algumas sequências dúbias e detentoras de uma credibilidade bastante reduzida.


Dizer que “[REC] 2” é um filme pior do que o seu antecessor é uma inevitabilidade tão grande como dizer que o dia se sucede à noite. Mas este facto não deve desmoralizar o espectador interessado. Até porque o filme original era tão magnífico que, por mais que as expectativas concernentes à sua sequela fossem elevadas, “[REC] 2” dificilmente poderia suplantá-lo. É necessário dizer que este segundo capítulo da menina Medeiros e seus malvados afazeres continua a ser um dos filmes de terror mais interessantes dos últimos anos. Bem melhor até que “Quarantine” – o remake norte-americano de “[REC]”. Os valores de produção são mais que suficientes para nos manterem colados à cadeira, a realização de Balagueró e Plaza continua a ser assombrosa e o argumento consegue mesmo (a espaços) surpreender-nos. E para além disto, ao contrário de muitas outras obras (como os irritantes filmes da saga Saw, que parece nunca mais acabar), “[REC] 2” termina e o espectador mantém-se interessado e ansioso por ver cenas dos próximos capítulos.
Resumindo e concluindo, “[REC] 2” pode ter baixado um pouco a fasquia mas permanece intocável no que à composição de uma atmosfera de terror diz respeito. O filme nunca cai na parolice, as personagens possuídas pelo demónio mantêm-se mais assustadoras que nunca e a realização da dupla Balagueró-Plaza volta a inserir-nos num pavoroso comboio fantasma que nunca nos deixa recuperar o fôlego. Desde que o espectador não vá à espera de ver um filme superior à obra original, “[REC] 2” não tem muito por onde desiludir e continua a deixar por terra qualquer obra de terror norte-americana dos últimos anos.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

sábado, 12 de abril de 2008

Crítica - REC (2007)

Realizado por: Jaume Balagueró e Paco Plaza
Com Manuela Velasco e Pep Sais

Estava bastante curioso e ansioso para ir ver o vencedor do Fantasporto 2008. O Fantasporto é um festival de cinema fantástico, onde se pode ver de tudo – filmes excelentes, filmes medianos e filmes que só são aceitáveis num festival desta natureza. Assim sendo, ao ver um filme no Fantas, corremos sempre o risco de ir ver um grandessíssimo flop. Porém, regra geral, o grande vencedor do festival é sempre um bom filme. E neste caso não estamos a falar apenas de um bom filme; ao falar de “REC” estamos a falar no melhor filme de terror desde “The Exorcist”. E acreditem que isto é dizer muito. Devemos então dar graças ao Fantas, pois se não fosse esse festival a premiar este filme, muito provavelmente “REC” nunca teria chegado às salas de cinema nacionais e o público amante de cinema (e particularmente o público amante do cinema de terror) perderia o melhor filme de terror dos últimos 30 anos.


O filme começa de uma forma muito calma, com um tom monótono e sem grande interesse (obviamente que isto é propositado para que se sinta a diferença com o que virá a seguir); no início da película acompanhamos a jornalista Ângela (Manuela Velasco) numa visita guiada a um departamento dos Bombeiros de Barcelona. Ángela é uma jornalista de um programa nocturno com poucas audiências que tem como missão fazer uma reportagem sobre a vida diária dos Bombeiros. Assim, numa das entrevistas a um dos Bombeiros, ficamos a saber que 70% das chamadas que fazem aos Bombeiros não têm nada a ver com fogos, sendo que eles têm que se deparar com as mais variadas problemáticas. Nesse momento Ángela diz que gostava então que naquela noite acontecesse “algo de diferente” para benefício da sua reportagem. Tanto ela como o Bombeiro se começam a rir, ignorando que a prece de Ángela seria atendida da forma mais macabra e horrível possível. O pedido de socorro chega, os Bombeiros e a equipa de reportagem correm para um prédio antigo onde aparentemente uma senhora idosa está a causar distúrbios e de um momento para o outro, todos se vêem numa situação complicada: um polícia e um bombeiro são selvaticamente atacados pela velhota e quando tentam sair do prédio para procurar ajuda médica, vêem que não podem sair pois a polícia fechou todas as saídas do prédio sob o pretexto de um eventual risco de epidemia de uma doença… Começa assim uma viagem infernal para as personagens do filme e para os espectadores confortavelmente sentados nas salas de cinema.
As minhas expectativas para este filme eram grandes. Mas confesso que não estava à espera que o filme fosse tão bom. “REC” está filmado como se estivéssemos mesmo a ver uma reportagem televisiva em directo. Assim sendo, a câmara leva encontrões, sofre problemas com o som e está sempre em movimento. Para alguns espectadores mais cínicos (para aqueles que detestaram “The Blair Witch Project” ou “Cloverfield”) esta estrutura que o filme apresenta pode tornar-se algo confusa e as pessoas podem sentir-se algo desorientadas nalguns trechos do filme em que não sabemos exactamente o que se está a passar à nossa volta. Porém, é exactamente esta estrutura de “reportagem televisiva” que confere um realismo assombroso à película e nos faz sentir como se estivéssemos também encurralados naquele prédio maldito. A realização e as interpretações (absolutamente credíveis) dos actores fazem-nos sentir como se aquilo estivesse de facto a acontecer e estejamos a ver algo na televisão que não era suposto vermos. O terror é imenso, os sustos são recorrentes e a realização raramente nos deixa antever o que vai acontecer a seguir. Assim sendo, “REC” eleva a tensão a níveis quase insuportáveis.


Desde “The Exorcist” que não via um filme que captasse tão bem a essência do terror; a essência do que o filme de terror verdadeiramente é. Já devem ter percebido (por esta e outras críticas) que este género cinematográfico é o que eu mais aprecio. E por isso custa-me ver a decadência em que este género se encontra na actualidade. Felizmente, de vez em quando (de 30 em 30 anos) surge um verdadeiro filme de terror que me faça sentir como uma criança assustada na escuridão do cinema. “REC” provoca em nós a mesma sensação arrepiante com que saímos de um comboio fantasma quando éramos crianças. O filme assusta mesmo, utilizando todas as técnicas ideais num filme de terror: temos o suspense de não saber o que vem a seguir, temos a escuridão total e os jogos de luz e som (o som é simplesmente arrepiante neste filme), temos os ângulos de câmara perfeitamente executados, enfim, temos tudo. “REC” é um filme de terror perfeito! O que eu não dava por ver “Resident Evil” adaptado desta forma ao cinema. “REC” é a prova absoluta de que o cinema espanhol está em crescimento e seria bom que os realizadores e produtores americanos estudassem bem estes filmes antes de se aventurarem na produção de mais um filme de terror americano medíocre.
Há muito tempo que não via um filme de terror assim. Há muito tempo que não me sentia tão tentado a fechar os olhos numa sala de cinema. Há muito tempo que não via uma sala inteira a saltar da cadeira e a queixar-se do terror quase insuportável do filme. Há muito tempo que não via uma reacção tão positiva e genuína do público no final de um filme de terror (houve quem batesse palmas e toda a gente parecia aliviada por ter escapado viva a tamanha viagem ao Inferno). Dito tudo isto, que mais há a dizer? Nada, a não ser afirmar a pés juntos que “REC” é um dos melhores filmes do ano e um dos melhores filmes de terror de todos os tempos!

Classificação - 5 Estrelas Em 5
2ª Crítica - AQUI