quarta-feira, 14 de maio de 2008

Crítica - Fight Club (1999)

Realizado por David Fincher
Com Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, Jared Leto

Como o próprio nome parece indicar, em “Fight Club” abunda a violência, não estamos, no entanto, perante um daqueles típicos filmes americanos que apenas contém grandes doses de violência gratuita não contendo uma argumento credível ou minimamente interessante. A violência física é um dos pratos principais do filme mas ganha uma superficialidade notória quando contrastada com a qualidade da realização, elenco e do próprio argumento, rico em outro tipo de violência, a psicológica. Costuma-se dizer que um bom filme é aquele que provoca uma forte reacção no espectador, seja positiva ou negativa, “Fight Club” oferece-nos sempre isso porque é impossível ficar-se indiferente a esta obra de David Fincher, baseada num livro de Chuck Palhniuk. Desde os primeiros minutos, o filme aprisiona o espectador numa acção frenética ambientada num estilo underground. A história desenvolve-se de uma forma complexa e tensa que mantém o espectador numa onda de incerteza e confusão até ao final que nos aparece de uma forma surpreendente.
Em “Fight Club” somos apresentados a Jack (Edward Norton), uma personagem com uma vida aparentemente normal, sem grandes causas de preocupação mas também sem grande interesse, isso leva-o a um grande desespero. O seu maior desejo é viver uma vida recheada de adrenalina e ocupada coisas pouco usuais que lhe tragam satisfação. O seu desejo é cumprido quando conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um carismático vendedor de sabões com uma estranha filosofia de vida, Tyler acredita que a realização pessoal é para os fracos e que é a autodestruição que torna a vida merecedora de ser vivida. As distintas personalidades das personagens chocam imediatamente num violento confronto psicológico/moral e físico, esse combate oferece a Jack uma experiência rara de adrenalina e prazer, uma sensação muito rara na sua vida e rapidamente os dois passam de inimigos a amigos e companheiros de negócio já que decidem criar um pequeno clube secreto de luta, onde homens como Jack se possam libertar do stress e da rotina diária para experimentarem uma boa dose de adrenalina e emoção pura mas nem sempre uma vida preenchida pelas emoções fortes leva a um forte sentido de realização e equilíbrio emocional, Jack vai descobrir da pior forma as surpresas que a vida lhe reserva.
O argumento do filme é verdadeiramente original e inovador, baseado na obra literária de Chuck Palhniuk, oferece uma crítica estruturada à sociedade actual, à rotina global, ao conformismo e ao consumismo. Através de diálogos filosóficos e profundos, o filme contrasta dois tipos de personalidade bastante comuns na nossa sociedade, aprofundando os seus defeitos e qualidades. Os diálogos da personagem de Brad Pitt acabam por ser aqueles que mais atenção despertam no espectador, marcados por devaneios intelectuais e por algumas frases caricatas que marcam pela sua profundidade e verdade. A realização de David Fincher volta a surpreender, depois do magnífico “se7ven”, Ficnher supera-se novamente criando mais uma obra repleta de simbolismos e inovações técnicas que inovaram de certa forma um cinema mais negro e underground. O filme marca também o final de uma gloriosa década de 90 para o realizador, infelizmente o novo milénio não lhe tem corrido tão bem porque as duas obras que apresentou até hoje, “Panic Room” e “Zodiac”, aparecem bastante distantes da qualidade das suas duas grandes obras-primas.
Tenho também que destacar o magnífico trabalho efectuado pelo elenco, tanto os actores principais como secundários actuaram a um grande nível, contribuído de uma forma decisiva para o magnífico resultado final. Edward Norton oferece à sua personagem um toque muito realista e credível, conseguindo que o público se identifique com um sujeito cuja vida não tem grande entusiasmo. Brad Pitt assume com grande qualidade e seriedade o papel de rufia filósofo, afasta-se dos papéis de galã que tinha vindo a ter para assumir um papel difícil e exigente mas que dominou com grande estilo e profissionalismo. Uma pequena palavra de destaque para Helena Bonhan Carter que interpreta Marla, a personagem feminina de maior destaque, responsável pelos escassos momentos românticos. Num filme carregado de testosterona e de fortes personagens masculinas, o toque feminino oferecido por Bonhan Carter cai muito bem na estrutura da história, desanuviando um pouco o centralismo masculino do filme. “Fight Club” contém uma forte mensagem incorporada num excelente argumento, trabalhado por um realizador talentoso e com uma grande visão a que se junta um elenco extremamente capaz e talentoso. Uma magnífica obra de cinema que foge aos padrões de Hollywood mas que fornece uma experiência muito agradável a quem o vê, apesar de tudo, devido à sua complexidade é provável que muitos não gostem ou não o entendam, para esses casos aconselho uma segunda visionação, uma nova oportunidade para prestar mais atenção a alguns detalhes e pormenores que passaram despercebidos no passado.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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