quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Crítica - Blair Witch Project (1999)

Realizado por Daniel Myrick & Eduardo Sanchez
Com Heather Donahue, Joshua Leonard, Michael C. Williams

Em Outubro de 1994 três estudantes desapareceram na floresta de Burkittsville. O único vestígio deixado por eles são os vários vídeos encontrados pelos bosques que narram estranhos acontecimentos. Os jovens tinham ido acampar para a floresta para filmar um documentário sobre a lenda local da Bruxa de Blair, uma criatura misteriosa e impiedosa. Confiantes que tudo não passa de uma lenda, os jovens não dão sinais de preocupação até que uma série de infelizes coincidências faz com que eles se percam, vários sinais e ruídos indicam-lhes que eles podem não estar completamente sozinhos. Esta é a premissa de um dos maiores filmes de culto/independente de sempre, "Blair Witch Project". Realizado e escrito por Daniel Myrick e Eduardo Sanchez, o filme gozou de uma tremenda popularidade, principalmente entre os jovens, visto ser uma história pouco convencional e facilmente credível, combinando aspectos inovadores de realização com uma história de forte carga emocional e psicológica.
"Blair Witch Project" resultou do génio de Myrick e Sanchez que ao verem um filme independente de 1998, "The Last Broadcast", sentiram-se inspirados em criar algo de inédito que superasse tudo o que já tinha sido feito a nível de terror e suspense. A produção deste filme foi tudo menos convencional, Myrick e Sanchez escreveram por alto uma história envolvendo uma lenda americana e contrataram actores desconhecidos para desempenhar os seus papéis unicamente por improviso, fornecendo apenas algumas linhas gerais do argumento. O filme é todo ele espontâneo, os diálogos são improvisados e a realização não apresenta planos cuidados nem grandes trabalhos de correcção, foi tudo originalmente filmado no calor do momento como se de um vídeo caseiro se tratasse, onde assistimos ao desenrolar da história pelos olhos dos estudantes. Mas o grande motivo do sucesso do filme foi a sua campanha publicitária na Internet. Em diversos sites e fóruns o filme era publicitado como um acontecimento real, criaram-se teorias e especulações que aumentaram o nível de expectativa em redor do filme. Quando estreou no Festival de Sundance, este filme foi alvo de críticas muito positivas, tendo superado todas as expectativas. Nas bilheteiras, um filme que custou cerca de 25 mil dólares rendeu 250 milhões, tornando-se no filme independente mais lucrativo de sempre.
É uma obra formidável, um excelente exemplo que mostra que não é necessário gastar milhões em caracterizações e efeitos especiais para criar um filme intrigante e aterrorizante. Todas as cenas são excelentes porque transmitem ao espectador uma sensação muito realista e logo muito credível. Não é nada difícil de acreditar que se trata de um filme baseado em factos reais ou que aqueles vídeos tinham realmente pertencido aos estudantes (apesar de ser tudo uma farsa). As actuações são muito naturais e verosímeis. O trabalho que os três estudantes protagonizam é simplesmente sublime, demonstram de uma forma clara e estranhamente assustadora as suas emoções e expressões. A escalada de histeria é formidável, os estudantes embarcam numa espiral decadente de depressão, euforia, violência, desespero, medo e incerteza. A verdade é que a situação não é nada fora do comum porque se nos aventurarmos numa floresta que não conhecemos estamos sujeitos a nos perdermos deve ser tremendamente difícil manter a clama e o bom senso. As teorias e ideias impensáveis num momento normal ganham força e o raciocínio lógico é simplesmente esquecido. O filme transmite exactamente essa ideia, uma expedição normal que corre mal e todos os intervenientes a ficarem convencidos que não estão sozinhos naquela floresta, contudo não pensam que pode ser outro ser humano ou até mesmo um animal mas sim uma criatura mítica que supostamente ali vive. Nunca sabemos se realmente está alguém com eles e se esse alguém é ou não humano, tudo não passa de imaginação e especulação da nossa parte.
Ao acompanhar a história através de uma câmara de filmar que funciona como os olhos dos estudantes, sabemos exactamente o mesmo que eles sabem, não sabemos portanto o que se vai passar a seguir e é impossível prever já que toda a história é imprevisível. As próprias “pistas” que os intervenientes encontram parecem remeter para a existência da bruxa, obviamente que sabemos que isso não é possível mas no calor do momento alinhamos com as teorias e é obvio que quando chega a altura do clímax final, com os “sobreviventes” a se refugiarem numa cabana abandonada no bosque, já temos a ideia fixa de que a bruxa de Blair existe mas existirá mesmo? Ou é só fruto da imaginação? Que provas concretas temos? O que acabou por acontecer aos intervenientes? Para onde ou para quem estava a olhar Mike nos momentos finais do filme? Quem é que gritava? Demasiadas perguntas que não são respondidas mas se todo o filme se baseia em teorias e em especulações, qual final seria melhor do que aquele que nos permite especular à vontade.
É difícil classificar "Blair Witch Project" consoante o seu género, terror, mockumentary, thriller e até mesmo drama são todos possíveis já que apresenta um bocadinho de cada um. É uma história de pânico sem duvida, apresentando o terror de se estar perdido no meio do nada e o medo de morrer às mãos de uma criatura implacável. O suspense de não se saber o que realmente se está a passar, o que é verdadeiro ou falso ou o que é real ou imaginário. É também um mockumentary porque se formos a ver, estanos perante um documentário falso fruto da imaginação de dois homens mas é também um drama porque a carga emocional e o clima é de tal forma forte e intenso que provoca uma enchente de emoções ao espectador. Com uma técnica de realização original e inovadora, um elenco magnífico na capacidade do improviso, uma história intrigante e um frenesim mediático, "Blair Witch Project" conquistou um lugar cativo na história do cinema, quem já o viu dificilmente o esquecerá.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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