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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Crítica – Two Lovers (2008)

Realizado por James Grey
Com Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw

Uma vez alguém me disse que o que havia de mais fantástico na música é que quando que todas as combinações foram já feitas surge alguém com algo totalmente novo. O mesmo se passa, julgo, nas outras artes. Este Two lovers (tristemente traduzido para português por Duplo Amor) consegue abordar o tema do amor, e o tudo o que a ele está subjacente sem cair no sentimentalismo bacoco nem nos enredos batidos.
Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix) é um doente bipolar, razoavelmente controlado quando toma a medicação, mas que ainda assim só consegue ter uma vida a aparentemente normal. O filme começa aliás com uma estúpida e inconsequente tentativa de suicídio do protagonista. Os seus pais amantíssimos, Ruth (Isabella Rosellini) e Reuben (Moni Moshonov), convivem com uma revolta contida com todos os problemas que o filho lhes traz enquanto este brinca com a vida numa incapacidade de desenvolver a sua personalidade de um modo forte sobre a angústia que o domina. Vulnerável, jovem e infantil Joaquin deixa-se empurrar para um relacionamento sensato com a jovem filha, judia como ele, de um casal que pretende comprar o negócio da sua família, Sandra Cohen (Vinessa Shaw), mas fá-lo de um modo muito pouco empenhado. Quase ao mesmo tempo conhece acidentalmente uma lindíssima vizinha, Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow) por quem vem a nutrir uma obsessão e que se vem a revelar tão desequilibrada quanto ele.

Phoenix e Paltrow constroem fabulosamente as suas personagens, não só conquistando a nossa simpatia mas gerando no espectador a reacção natural de quem tem de conviver com pessoas emocionalmente tão instáveis, a raiva e a frustração de não conseguirmos travar tantos problemas evitáveis. O argumento de James Grey e Ric Menello é extraordinariamente realista, humano, miseravelmente humano. O inesperado final é o final possível na vida real, injusta e pouco heróica. Aliás nenhuma personagem do filme é totalmente má ou totalmente boa, são redondas, complexas, cheias de contradições e fracas, acima de tudo tão fracas que se agarram aos outros como tábua de salvação sem considerarem os danos colaterais que lhes infligem. A fotografia da beira-mar em Brooklyn acompanha sempre os altos e baixos emocionais dos protagonistas. É uma história de amor surpreendente porque nos mostra como o amor provavelmente não é nada daquilo que julgamos ser e idealizamos. O filme foi nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes, e para o Melhor Filme Estrangeiro dos prémios César.


Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

Crítica – Two Lovers (2008)

Realizado por James Grey
Com Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw

Uma vez alguém me disse que o que havia de mais fantástico na música é que quando que todas as combinações foram já feitas surge alguém com algo totalmente novo. O mesmo se passa, julgo, nas outras artes. Este Two lovers (tristemente traduzido para português por Duplo Amor) consegue abordar o tema do amor, e o tudo o que a ele está subjacente sem cair no sentimentalismo bacoco nem nos enredos batidos.
Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix) é um doente bipolar, razoavelmente controlado quando toma a medicação, mas que ainda assim só consegue ter uma vida a aparentemente normal. O filme começa aliás com uma estúpida e inconsequente tentativa de suicídio do protagonista. Os seus pais amantíssimos, Ruth (Isabella Rosellini) e Reuben (Moni Moshonov), convivem com uma revolta contida com todos os problemas que o filho lhes traz enquanto este brinca com a vida numa incapacidade de desenvolver a sua personalidade de um modo forte sobre a angústia que o domina. Vulnerável, jovem e infantil Joaquin deixa-se empurrar para um relacionamento sensato com a jovem filha, judia como ele, de um casal que pretende comprar o negócio da sua família, Sandra Cohen (Vinessa Shaw), mas fá-lo de um modo muito pouco empenhado. Quase ao mesmo tempo conhece acidentalmente uma lindíssima vizinha, Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow) por quem vem a nutrir uma obsessão e que se vem a revelar tão desequilibrada quanto ele.

Phoenix e Paltrow constroem fabulosamente as suas personagens, não só conquistando a nossa simpatia mas gerando no espectador a reacção natural de quem tem de conviver com pessoas emocionalmente tão instáveis, a raiva e a frustração de não conseguirmos travar tantos problemas evitáveis. O argumento de James Grey e Ric Menello é extraordinariamente realista, humano, miseravelmente humano. O inesperado final é o final possível na vida real, injusta e pouco heróica. Aliás nenhuma personagem do filme é totalmente má ou totalmente boa, são redondas, complexas, cheias de contradições e fracas, acima de tudo tão fracas que se agarram aos outros como tábua de salvação sem considerarem os danos colaterais que lhes infligem. A fotografia da beira-mar em Brooklyn acompanha sempre os altos e baixos emocionais dos protagonistas. É uma história de amor surpreendente porque nos mostra como o amor provavelmente não é nada daquilo que julgamos ser e idealizamos. O filme foi nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes, e para o Melhor Filme Estrangeiro dos prémios César.


Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

sábado, 20 de junho de 2009

Crítica - Two Lovers (2008)

Realizado por James Gray
Com Joaquim Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Isabella Rossellini, Elias Koteas

A expectativa era enorme à partida para ver este filme. Dos textos que havia lido, todos eles o referenciavam como um grande filme, um dos melhores de 2008. E a verdade é que nenhum deles se engana, a verdade é que é um filme fenomenal. Um drama romântico clássico que Gray filma magistralmente. Um Joaquim Phoenix portentoso, fabuloso e Paltrow a impressionar.
Mas é todo o classicismo que preenche o filme, todo o ambiente que James Gray cria desde o início do filme que nos prende à obra. Todo o desenvolvimento em tons de negro num caos hipotético que é criado dá a ideia que a história vai acabar mal, o que não é necessariamente mentira, dependendo do ponto de vista. Mas Gray cria uma mente instável e que nem ela própria sabe o que fazer, que caminhos tomar, porque o amor é aqui o grande âmago da história. E se a história é banal, porque o é, a forma como é narrada, a mão de Gray transforma-a numa história emocionante e tocante. Porque o filme nunca cai em lamechices, porque apesar de Leonard passar à frente da tela quase o filme inteiro, porque apesar de Leonard tentar o suicídio logo no inicio do filme, apesar de toda a instabilidade mental e emocional (no inicio os pais falam em doença bipolar), apesar de quando rejeitado ele se desfazer em lágrimas, apesar disso tudo Gray nunca nos leva a um ambiente lamechas, ao típico ambiente novelístico do coitadinho que sofre por amor. Não, aqui ele envereda por outra vertente, aqui ele fecha uma porta mas abre outra (relativamente a Leonard), aqui ele não cai no facilitismo de encontrar a tragédia que vai assolando o filme desde o inicio e cria uma história mais real, menos melodramática, mais credível. E aqui não há final feliz nem trágico, há o final apropriado, o final mais real e credível para o senso comum, o final que nos deixa satisfeitos porque era o que nós faríamos. E o amor é isso, é tentar tudo por ele mas parar quando se percebe que não há mais nada a fazer. E é esse realismo sem ser exasperado que faz de “Two Lovers” um filme magnífico. São os planos magníficos que Gray filma que enaltecem a obra, a simplicidade de uma beleza ímpar de Gray filmar os pormenores, os detalhes para uns desnecessários que Gray prova serem necessários. É a beleza de Gray contar uma história de amor de modo arriscado mas competente, de modo a não cair nos clichés, de modo a fugir ao mainstream, de modo a retirar o que de melhor um actor pode dar ao filme. Porque há realizadores que têm essa capacidade, esse dom de conseguirem arrancar uma portentosa interpretação a um mediano actor (o que não é o caso). E Phoenix transcende-se, mergulha na interpretação de uma vida e dá corpo a Leonard de um modo de tal apaixonante que sem ele o filme não alcançava tal proeza.
E a instabilidade emocional de Leonard oscila entre o amor obsessivo e incerto mas explosivo e cego, e a certeza de uma relação com futuro e lealdade mas que não ultrapassa essa calma e paz interior que lhe traz, essa consolação de ter estabilidade, essa paixão acesa que falta e que encontra na outra. Por outras palavras, uma dualidade de atitudes que Leonard tem de adoptar, a escolha entre o amor e a razão, a decisão entre o que o coração lhe pede e o que a cabeça lhe indica. E independentemente das condições que o fazem decidir, das adversidades que sucedem, Leonard vai ter que decidir. Porque o que Gray quer mostrar é o poder do amor vs o poder da mente, da “reabilitação”, da resignação – porque muito que custe, ela chega, porque nunca ninguém morreu de amor. E o filme é isso, essa dualidade de sentimentos, esse conflito entre amor e razão, essa viagem emocional que Leonard vai fazer e que lhe vai deixar marcas. E se o tema é banal, a realização, as interpretações, a luz e as sombras, a mise-en-scène de Gray torna tudo extraordinário, clássico. “Two Lovers” é sem dúvida um grande filme, dos melhores de 2008.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

Crítica - Two Lovers (2008)

Realizado por James Gray
Com Joaquim Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Isabella Rossellini, Elias Koteas

A expectativa era enorme à partida para ver este filme. Dos textos que havia lido, todos eles o referenciavam como um grande filme, um dos melhores de 2008. E a verdade é que nenhum deles se engana, a verdade é que é um filme fenomenal. Um drama romântico clássico que Gray filma magistralmente. Um Joaquim Phoenix portentoso, fabuloso e Paltrow a impressionar.
Mas é todo o classicismo que preenche o filme, todo o ambiente que James Gray cria desde o início do filme que nos prende à obra. Todo o desenvolvimento em tons de negro num caos hipotético que é criado dá a ideia que a história vai acabar mal, o que não é necessariamente mentira, dependendo do ponto de vista. Mas Gray cria uma mente instável e que nem ela própria sabe o que fazer, que caminhos tomar, porque o amor é aqui o grande âmago da história. E se a história é banal, porque o é, a forma como é narrada, a mão de Gray transforma-a numa história emocionante e tocante. Porque o filme nunca cai em lamechices, porque apesar de Leonard passar à frente da tela quase o filme inteiro, porque apesar de Leonard tentar o suicídio logo no inicio do filme, apesar de toda a instabilidade mental e emocional (no inicio os pais falam em doença bipolar), apesar de quando rejeitado ele se desfazer em lágrimas, apesar disso tudo Gray nunca nos leva a um ambiente lamechas, ao típico ambiente novelístico do coitadinho que sofre por amor. Não, aqui ele envereda por outra vertente, aqui ele fecha uma porta mas abre outra (relativamente a Leonard), aqui ele não cai no facilitismo de encontrar a tragédia que vai assolando o filme desde o inicio e cria uma história mais real, menos melodramática, mais credível. E aqui não há final feliz nem trágico, há o final apropriado, o final mais real e credível para o senso comum, o final que nos deixa satisfeitos porque era o que nós faríamos. E o amor é isso, é tentar tudo por ele mas parar quando se percebe que não há mais nada a fazer. E é esse realismo sem ser exasperado que faz de “Two Lovers” um filme magnífico. São os planos magníficos que Gray filma que enaltecem a obra, a simplicidade de uma beleza ímpar de Gray filmar os pormenores, os detalhes para uns desnecessários que Gray prova serem necessários. É a beleza de Gray contar uma história de amor de modo arriscado mas competente, de modo a não cair nos clichés, de modo a fugir ao mainstream, de modo a retirar o que de melhor um actor pode dar ao filme. Porque há realizadores que têm essa capacidade, esse dom de conseguirem arrancar uma portentosa interpretação a um mediano actor (o que não é o caso). E Phoenix transcende-se, mergulha na interpretação de uma vida e dá corpo a Leonard de um modo de tal apaixonante que sem ele o filme não alcançava tal proeza.
E a instabilidade emocional de Leonard oscila entre o amor obsessivo e incerto mas explosivo e cego, e a certeza de uma relação com futuro e lealdade mas que não ultrapassa essa calma e paz interior que lhe traz, essa consolação de ter estabilidade, essa paixão acesa que falta e que encontra na outra. Por outras palavras, uma dualidade de atitudes que Leonard tem de adoptar, a escolha entre o amor e a razão, a decisão entre o que o coração lhe pede e o que a cabeça lhe indica. E independentemente das condições que o fazem decidir, das adversidades que sucedem, Leonard vai ter que decidir. Porque o que Gray quer mostrar é o poder do amor vs o poder da mente, da “reabilitação”, da resignação – porque muito que custe, ela chega, porque nunca ninguém morreu de amor. E o filme é isso, essa dualidade de sentimentos, esse conflito entre amor e razão, essa viagem emocional que Leonard vai fazer e que lhe vai deixar marcas. E se o tema é banal, a realização, as interpretações, a luz e as sombras, a mise-en-scène de Gray torna tudo extraordinário, clássico. “Two Lovers” é sem dúvida um grande filme, dos melhores de 2008.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5