Uma vez alguém me disse que o que havia de mais fantástico na música é que quando que todas as combinações foram já feitas surge alguém com algo totalmente novo. O mesmo se passa, julgo, nas outras artes. Este Two lovers (tristemente traduzido para português por Duplo Amor) consegue abordar o tema do amor, e o tudo o que a ele está subjacente sem cair no sentimentalismo bacoco nem nos enredos batidos.
Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix) é um doente bipolar, razoavelmente controlado quando toma a medicação, mas que ainda assim só consegue ter uma vida a aparentemente normal. O filme começa aliás com uma estúpida e inconsequente tentativa de suicídio do protagonista. Os seus pais amantíssimos, Ruth (Isabella Rosellini) e Reuben (Moni Moshonov), convivem com uma revolta contida com todos os problemas que o filho lhes traz enquanto este brinca com a vida numa incapacidade de desenvolver a sua personalidade de um modo forte sobre a angústia que o domina. Vulnerável, jovem e infantil Joaquin deixa-se empurrar para um relacionamento sensato com a jovem filha, judia como ele, de um casal que pretende comprar o negócio da sua família, Sandra Cohen (Vinessa Shaw), mas fá-lo de um modo muito pouco empenhado. Quase ao mesmo tempo conhece acidentalmente uma lindíssima vizinha, Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow) por quem vem a nutrir uma obsessão e que se vem a revelar tão desequilibrada quanto ele.
Phoenix e Paltrow constroem fabulosamente as suas personagens, não só conquistando a nossa simpatia mas gerando no espectador a reacção natural de quem tem de conviver com pessoas emocionalmente tão instáveis, a raiva e a frustração de não conseguirmos travar tantos problemas evitáveis. O argumento de James Grey e Ric Menello é extraordinariamente realista, humano, miseravelmente humano. O inesperado final é o final possível na vida real, injusta e pouco heróica. Aliás nenhuma personagem do filme é totalmente má ou totalmente boa, são redondas, complexas, cheias de contradições e fracas, acima de tudo tão fracas que se agarram aos outros como tábua de salvação sem considerarem os danos colaterais que lhes infligem. A fotografia da beira-mar em Brooklyn acompanha sempre os altos e baixos emocionais dos protagonistas. É uma história de amor surpreendente porque nos mostra como o amor provavelmente não é nada daquilo que julgamos ser e idealizamos. O filme foi nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes, e para o Melhor Filme Estrangeiro dos prémios César.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5
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