A lucrativa estreia mundial de “Watchmen” voltou a confirmar as potencialidades comerciais das adaptações cinematográficas das Bandas-Desenhadas e Graphic Novels. No entanto, nem todos estes produtos têm uma adaptação feliz à 7ª arte, no passado, obras de ficção bastante famosas como “Daredevil” ou “Elektra” fracassaram no cinema apesar do seu aparente sucesso no circuito literário. A este grupo de fracassos junta-se agora “The Spirit”, a adaptação cinematográfica da famosa Graphic Novel do falecido cartoonista Will Eisner que infelizmente, não pode criticar a débil e inexperiente realização de Frank Miller que conduziu um argumento bastante pobre e confuso que praticamente ignora a essência da novela gráfica. Esta versão cinematográfica conta-nos a história de Denny Colt, um polícia que é assassinado mas que misteriosamente regressa do mundo dos mortos como The Spirit, um vigilante mascarado determinado a combater o crime organizado nas ruas obscuras de Central City, a sua querida cidade. O seu maior inimigo é o psicótico Octopus que na sua busca pela imortalidade destrói tudo por onde passa. No caminho de Spirit cruzam-se várias mulheres sublimes que procuram seduzi-lo, amá-lo ou matá-lo. Só o seu amor de sempre não o trairá, Central City, a cidade que o viu nascer duas vezes.
Infelizmente, “The Spirit” assemelha-se demasiado a uma spin-off de “Sin City” porque nos apresenta um visual e uma evolução narrativa semelhante à dessa obra cinematográfica, adaptada da homónima Graphic Novel de Frank Miller. Em termos literários, “The Spirit” e “Sin City” são duas obras bastante diferentes que apostam em vertentes criativas bastante distintas, assim sendo, “The Spirit” aborda a sua história de uma forma mais relaxada e cómica ao passo que “Sin City” aposta num estilo mais duro e áspero. Infelizmente, o desinspirado argumento não se preocupou em transpor fielmente essas vertentes criativas e únicas da obra de Will Eisner e o fraco resultado dessa postura, salta agora à vista de todos. Esse trabalho de adaptação narrativa coube precisamente a Frank Miller que não conseguiu distanciar-se da sua própria realidade criativa para transpor fielmente o trabalho do seu falecido colega de profissão. A influência negativa de Miller não se ficou pelo argumento e também atingiu a realização que na minha opinião, destaca-se como um dos piores elementos do filme. É neste campo que observamos a grande proximidade visual que se estabeleceu entre “Sin City” e “The Spirit”. As parecenças na captação das sequências de acção são impressionantes e até o próprio ambiente criado, assemelha-se demasiado ao da obra anteriormente dirigida por Frank Miller. Esta “cópia” de estilos poderia ser desculpada se estivéssemos a falar de “Sin City 2”mas estamos a falar de “The Spirit”, uma obra completamente autónoma que merecia um tratamento visual original, digno da sua fama.
Com a ilustre excepção de Samuel L. Jackson, nenhum dos principais nomes do elenco conseguiu obter uma prestação minimamente positiva. O experiente actor que incorpora o temível vilão de Central City foi o único que conseguiu vender na perfeição a sua personagem, atribuindo a Octopus, o psicótico carisma que o caracteriza. A grande desilusão do elenco recai sobre Gabriel Macht (Spirit) porque em nenhum momento, mostrou as qualidades necessárias para desempenhar um papel desta relevância e dificuldade, a sua personagem ressentiu-se disso e acabou por não corresponder às grandes expectativas criadas pelos fãs da história. As actrizes femininas interpretam personagens bastante secundárias que apenas existem para embelezar a história, logo a sua prestação nunca poderia ultrapassar a mediocridade porque o argumento nunca puxa pelo seu talento e profissionalismo. Na minha modesta opinião, Frank Miller transformou “The Spirit” numa cópia barata do seu “Sin City”. A incapacidade que demonstrou em distanciar-se do seu estilo gráfico prova que ainda não tem capacidade suficiente para comandar objectivamente, uma adaptação cinematográfica duma obra literária doutro autor. A grande vítima deste fracasso acaba por ser a Graphic Novel de Will Eisner que merecia um tratamento adequado à sua fama e estatuto.
Classificação - 2 Estrelas Em 5