terça-feira, 29 de maio de 2012

Espaço Portugal - Zona J (1998)

Realizado por Leonel Vieira
Com Núria Madruga, Félix Fontoura, Ivo Canelas

Com argumento de Rui Cardoso Martins e Luís Pedro Nunes, “Zona J” iluminou por dentro esta zona muito problemática do bairro degradado de Chelas em Lisboa. Tó (Félix Fontoura) e Carla (Núria Madruga) são dois jovens que encontram na relação que estabelecem entre si um refúgio para a realidade sem horizontes em que vivem. Tó é negro e vive em Chelas, sonhando um dia regressar à Angola natal dos seus pais e aí conseguir uma vida digna que Portugal não lhe oferece. Carla é filha de pais divorciados, mora provavelmente nas Olaias, onde a mãe tem uma pequena florista, e tenta viver um sonho digno no meio de uma família desestruturada e neurótica. Este enquadramento social arrasta Tó para caminhos tortuosos e com ele segue Carla. É um filme trágico de vidas sem saídas apesar do sonho e da vontade de vencer. Félix Fontoura e Núria Madruga convencem na pele daqueles jovens aniquilados pela sociedade. Podemos questionar o fatalismo da narrativa mas trata-se apenas de uma história, uma história credível, e não de uma lição de moral. 

 

A banda sonora de Miguel Ângelo contrapõe o onírico à fotografia dura daquele lugar terrível para se viver, claustrofóbico e sinuoso, como a vida das personagens. Outros filmes nesta linha se seguiram, lembro-me, por exemplo de “Sangue do Meu Sangue” e de “Arena”, mas” Zona J2 não deixou de marcar o seu lugar na História do Cinema nacional por se focar naquela época naquilo que não era normalmente televisionável, imagens que escapavam ao olhar de quem vivia e trabalhava em Lisboa todos os dias. Os diálogos nem sempre convencem, o que é compensado pela autenticidade das figuras criadas pelos atores mais ou menos experientes. Alguns dos intervenientes eram eles próprios habitantes da Zona J. E no final o espetador não pode deixar de pensar se de facto tudo tinha de acontecer assim ou se haveria alternativa. Mas a verdade é que tudo isto continua a ser completamente possível 14 anos volvidos sobre a data de estreia da obra.

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