Espaço Memória – The African Queen (1951)

Realizado por John Huston

Com Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull

Nos confins da selva africana entre negros em estado selvagem (imagem hoje possivelmente considerada politicamente incorrecta), assistimos a um fabuloso exercício de representação de dois gigantes do cinema americano, Katharine Hepburn e Humphrey Bogart. Surpreendida pela I Guerra Mundial, Rose Sayer (Katharine Hepburn) vê-se obrigada a fugir do inimigo alemão no barco a vapor de um muito másculo marinheiro agarrado ao gin, Charlie Allnut (Humphrey Bogart), empreendendo uma viagem alucinada pelo perigoso rio Congo já dominado pelos alemães. Entre paisagens exóticas, onde abundam crocodilos e hipopótamos, elefantes e macacos e soldados armados, a relação entre os dois fugitivos vai evoluindo num gradual aprofundamento da complexidade das personagens até se tornar num romance consumado. Só a grandiosidade dos protagonistas e a mestria de Huston permitiria a um inegavelmente ingénuo argumento resultar numa obra tão divertida quanto original.

Durante a fuga, Rosie arquitecta um plano para bombardear com armas artesanais um navio alemão numa clara afirmação do poderio americano, estabelecendo-se um paralelo óbvio com a posição dos EUA no mundo do pós-guerra. Iguais a si mesmos, complexos nas suas interpretações, transmitindo uma química contagiante, Bogart e Hepburn, já numa fase madura, da sua carreira provam mais uma vez o seu enorme talento. Contribuindo para a evolução das personagens que ambos constroem, encontramos uma guarda-roupa consistente que se vai degradando em todas as loucas provas por que passam e um barco muito resistente. Humphrey Bogart recebeu finalmente um Óscar pela sua interpretação, tendo o filme sido nomeado também para os Óscares de Melhor Realizador (John Huston), Melhor Actriz Principal (Katharine Hepburn) e Melhor Argumento (James Agee e John Huston) adaptado da obra de 1935 de C. S. Forester.