domingo, 17 de outubro de 2010

Espaço Memória – The Kid (1921)

Realizado por Charles Chaplin
Com Charles Chaplin, Jackie Coogan, Carl Miller, Edna Purviance

A primeira longa-metragem de Chaplin foi de imediato um enorme êxito de bilheteira em todo o mundo. Este enorme sucesso deve-se em grande parte à extraordinária sintonia entre o realizador e o seu pequeno Jackie Coogan, uma criança com capacidades mímicas notáveis capaz imitar Charlot nos mínimos gestos. De facto Chaplin gostava de dominar todos os aspectos do seu filme desde a realização à própria composição da música, dando pouca margem criativa aos seus actores. Coogan surgiu-lhe assim como o actor ideal, capaz de interpretar a personagem exactamente como Chaplin a concebera, uma espécie de alter-ego, um Chaplin noutra fase da sua vida.
Neste filme, Charlot, um mundialmente conhecido vagabundo de chapéu de coco, sapatos grandes e bigode pequeno, encontra um bebé abandonado e vê-se obrigado a adoptá-lo por piedade. A criança vai crescendo e desenvolvendo com ele uma enorme cumplicidade. Juntos montam um esquema para conseguirem algum dinheiro, até que a criança fica doente e as autoridades consideram que ela precisa de cuidados que o seu pai adoptivo não lhe pode dar. Chaplin investiu todas as suas emoções neste argumento. Ele próprio perdera um filho recém-nascido poucos dias antes de começar a trabalhar nesta obra. Ele também foi uma criança que cresceu em ambientes degradados na infância e que foi temporariamente retirado à mãe. Esta identificação pessoal com a personagem do miúdo é clara mesmo para quem não conheça a biografia do realizador e é talvez a chave para a interpretação da obra rodada durante um período doloroso da sua vida, pois após a morte do seu bebé ele decide divorciar-se da sua jovem esposa.


A beleza de The Kid é impossível de transpor para o cinema sonoro ou a cores. As emoções ganham expressão na mímica, cada movimento é explorado, manipulado de forma significante. Na paleta preta e branca há gradações, pormenores, elementos que constroem um todo significante e imagens intemporais. É inesquecível a imagem do bebé a beber leite por uma cafeteira suspensa do tecto, de Coogan a atirar pedras aos vidros ou de Charlot a ver o seu filho a ser levado. A interpretação é concebida de uma forma coreográfica. As personagens dançam a acção alternando o poder entre si. Esta concepção lúdica da representação é levada ao extremo no sonho final, onde os bailes, as personagens oníricas são assumidas claramente. Jackie Coogan, a estrela deste filme, considerado uma vez a criança mais bonita do mundo, não conseguiu na idade adulta manter a carreira brilhante que teve sob a direcção de Chaplin. Ainda assim ficou conhecido pela sua participação em The Addams Family.

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