"The Curious Case of Benjamin Button" é um filme sobre o tempo e o seu impacto sobre as nossas vidas, impacto esse de que nem sempre nos apercebemos. Mark Twain terá dito que era lamentável que a melhor parte da vida fosse no início e a pior no fim. Tal reflexão levou Scott Fitzgerald a escrever um conto sobre o tema intitulado "The Curious Case of Benjamin Button". Foi a partir daí que o argumentista Eric Roth (que criara já Forrest Gump) concebeu esta muito livre adaptação à grande tela.
Nascido em circunstâncias pouco usuais no final da Primeira Grande Guerra, Benjamin não só perdeu a mãe à nascença , como o facto de o seu corpo de bebé ter nascido estranhamente envelhecido, levou o seu pai a abandoná-lo poucas horas depois à porta de um lar de idosos governado pela maternal Queenie (Taraji P. Henson) que logo o adoptou e criou entre os velhos que lentamente abandonavam a vida. Só que, ao contrário dos outros residentes, Benjamin (Brad Pitt) rejuvenescia a cada dia até ao momento em que se sentiu suficientemente forte para sair de casa e se fazer à vida. Foi marinheiro na Segunda Guerra Mundial, à qual escapou com vida por pouco, conheceu e amou a mulher de um espião na Rússia, viajou, correu mundo e um dia regressou a casa e descobriu que sempre amara Daisy (Cate Blanchett) que visitava, quando era pequena, a avó aos fins-de-semana no lar e que era agora uma promissora bailarina. Vivem juntos e têm uma filha mas a inexorabilidade do tempo obriga-os a afastarem-se fisicamente.
Esta grande obra de Fincher enriquece-nos enquanto espectadores de cinema de diversas formas. Em primeiro lugar, o modo com as interpretações de Blanchett e Brad Pitt dão vida a corpos e personagens que se transfiguram no tempo é fabulosa e muito bem suportada por uma excelente caracterização que não diminui o trabalho dos actores. Depois o argumento não pode deixar de tocar cada um de nós pois a personagem principal, o tempo, é o nosso companheiro de toda a vida. O tempo que nos ajuda na infância a nos tornarmos mais fortes e independentes e que gradualmente nos vai retirando todas essas conquistas, actua de forma inversa em Benjamin Button. Não sei , contudo, se esse efeito é melhor ou pior do que o envelhecimento normal. Benjamin perde, como todos nós, as pessoas que ama porque o seu relógio gira no sentido contrário, passa por todos o estádios de decrepitude até à mais exuberante juventude para terminar um bebé tão dependente como quando nasceu.
Benjamin Button é também uma reflexão sobre as relações humanas, o pai que o abandonou e que depois se torna um grande amigo – o que nos leva a pensar como seria a vida de Benjamin se a mãe não tivesse morrido de parto; Queenie que julga não poder ter filhos e por isso o adopta inteiramente – que nos faz pensar como seria vida de Benjamin se ela soubesse que podia ser mãe de verdade; a súbita interrupção da carreira de bailarina de Daisy provocada por um estúpido atropelamento – situação que suscita dentro do próprio filme uma reflexão sobre os acasos que condicionam a existência.
Classificação - 5 Estrelas Em 5
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