domingo, 15 de janeiro de 2012

Crítica - Moneyball (2011)

Realizado por Bennett Miller
Com Brad Pitt, Jonah Hill, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright

Bennett Miller já não nos presenteava com um dos seus filmes desde o longínquo ano de 2005, altura em que encantou as plateias mundiais com o frio e melancólico “Capote”. O seu currículo como realizador, aliás, é escasso. Apenas duas longas-metragens (“Capote” e este “Moneyball”) e um documentário chamado “The Cruise” (não, não é um documentário sobre o Tom Cruise). Miller surge assim no panorama cinematográfico como um daqueles realizadores que só se envolve nos projectos que realmente lhe dizem alguma coisa, afastando-se um pouco da imparável máquina de fazer cinema que é Hollywood. Mas por muito escasso que o seu currículo seja (em termos de quantidade), o que é certo é que tudo aquilo que o cineasta nova-iorquino faz parece ser muito bem feito, o que o aproxima de realizadores tão talentosos e enigmáticos como Terrence Malick e David Lynch, só para nomear dois. “Capote” convenceu o público e a crítica internacional, tendo sido nomeado para cinco Óscares da Academia, abandonando depois a cerimónia com o prémio de Melhor Actor Principal para Philip Seymour Hoffman. E este “Moneyball”, a julgar pelas primeiras impressões, parece perfeitamente capaz de enveredar por um caminho muito similar nas cerimónias de prémios que agora se começam a realizar. É certo que o filme não terá estofo para arrecadar prémios de Melhor Filme e Melhor Realizador. Mas o argumento de Steven Zaillian e Aaron Sorkin prende o espectador por completo à tela e Brad Pitt tem aqui uma das melhores prestações da sua carreira, pelo que não se deve descartar completamente “Moneyball” da corrida de prémios cinematográficos que vai ainda na primeira volta de um longo percurso.


Baseado em acontecimentos verídicos, “Moneyball” acompanha as desventuras de Billy Beane (Brad Pitt) no mundo do basebol. Após uma temporada tão gloriosa quanto frustrante, Billy – o director desportivo dos Oakland A’s (uma equipa de basebol do meio da tabela) – cansa-se do padrão de funcionamento do seu desporto de eleição. Fruto de capacidades económicas mais frágeis, os Oakland A’s vêem os seus melhores jogadores constantemente desviados para as equipas mais abastadas, impedindo-os de competir numa prova marcada pela lei do mais forte e pela falta de fair-play financeiro. Incapaz de convencer os seus jogadores a jogar pelo amor à camisola, Billy vê o seu amor pelo jogo esfumar-se a cada dia que passa, tornando-se um homem cada vez mais sorumbático e associal. Os captadores de talentos da equipa revelam-se incapazes de detectar a raiz do problema, estando dispostos a baixar os braços e nada fazer para alterar o rumo dos acontecimentos. Mas Billy está farto de ser ludibriado pelos managers das outras equipas. E como tal, resolve romper drasticamente com o modus operandi do passado, apostando nos serviços de Peter Brand (Jonah Hill) – um jovem licenciado em economia e estudioso do basebol – para revolucionar a face do jogo. Em vez de contratar jogadores pela sua aparência física ou popularidade das respectivas namoradas, Billy aposta num sistema complexo de gráficos e estatísticas para contratar uma equipa de jogadores trabalhadores e cumpridores, ao invés de uma equipa de super-estrelas fanfarronas. Ao encarar o basebol como um desporto onde deve imperar a lógica e o raciocínio, Billy faz inúmeros inimigos e arrisca-se a perder o emprego. Porém, o seu coração diz-lhe que esse é o caminho a seguir para fazer a diferença e alcançar os objectivos a que se propôs. E nada o fará desistir dessa jogada de risco.


O grande problema dos filmes sobre desporto (seja qual for o desporto retratado) é que eles caem constantemente numa torrente de clichés que lhes retira todo o interesse e valor artístico. Geralmente, a história é sempre a mesma. E isso nunca traz nada de bom. Apresentam-nos sempre equipas em sérias dificuldades (muitas vezes com problemas de entendimento entre jogadores e equipa técnica), mas que com um discurso inspirador ou um acontecimento simbólico qualquer lá conseguem surpreender tudo e todos, vencendo a taça no final e encerrando o plano com o rosto sorridente do grande estratega de tal milagre improvável. O fio narrativo é quase sempre o mesmo, tornando a película previsível e francamente aborrecida. Felizmente, nada disto acontece em “Moneyball”. Ou pelo menos não inteiramente, o que o transforma num produto cinematográfico especial. A narrativa da obra em questão não se livra de alguns dos habituais lugares-comuns do género, que isso fique bem claro. Mas alguns acontecimentos inesperados sempre lhe dão algum espaço para brilhar e inovar, transformando aquilo que poderia ser um filme previsível numa obra repleta de simbolismo e uma forte carga emocional. Claro que a prestação de Brad Pitt e a realização segura e eficaz de Bennett Miller ajudam à festa. Pitt faz-nos acreditar na dor interna de Billy Beane com uma facilidade tremenda e Miller insere-nos na esfera dos acontecimentos com uma naturalidade deveras abismal. É certo que o basebol não é o desporto mais popular em terras europeias. Mas “Moneyball” é muito mais que um filme sobre basebol, não devendo o espectador assustar-se com o pano de fundo de uma história que serve, sobretudo, para emitir uma enorme mensagem de esperança e alertar a humanidade para a importância da integridade numa era pautada pela doença do dinheiro. Não será o melhor filme do ano, mas dificilmente desiludirá o público disposto a absorver mais uma grande lição de vida.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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