Com Brad Pitt, Jessica Chastain, Sean Penn, Hunter McCracken
Um aviso para começar: “The Tree of Life” não é um filme para todos os públicos. Isto não quer dizer que ele não deva ser visto, especialmente no cinema. Mas quem entrar na sala à espera de ver um filme com uma estrutura narrativa convencional, muito provavelmente irá abandonar essa mesma sala em pouco mais de meia hora. Ao contrário do que se esperava, a mais recente obra do enigmático realizador Terrence Malick não é um firme candidato aos Óscares do próximo ano. Isto porque “The Tree of Life” é, simplesmente, demasiado bizarro para cair nas graças dos membros da Academia e do grande público em geral. Os mais distraídos ficam desde já avisados: esta obra apresenta-nos um Terrence Malick no seu estado mais puro, afirmando-se como um autêntico “Malick vintage”. O que quero dizer com isto? Que “The Tree of Life” é um dos filmes mais filosóficos e subjectivos de todos os tempos, fugindo de tudo aquilo que possa ser apelidado de convencionalismo cinematográfico.
Após uma deslumbrante sequência de mais de quinze minutos que visa o Big Bang e os primórdios do planeta Terra, a narrativa centra-se numa típica família norte-americana dos anos 50. O Sr. O’Brien (Brad Pitt num dos papéis mais interessantes da sua carreira) é um pai de família rígido e austero. A sua esposa (fascinante Jessica Chastain, que rouba por completo as atenções aos dois monstros do cinema com quem contracena), sempre fiel e submissa, vê o mundo como um palco de beleza inolvidável, onde todos os seres vivos são dignos de amor e de respeito. Mas o homem da casa insiste que o mundo não pode ser encarado dessa forma ingénua, preferindo viver a vida ao sabor de um código de conduta militarista, onde apenas os mais fortes e disciplinados sobrevivem. Um tipo de comportamento que acaba por lesar a relação com os próprios filhos, sobretudo com Jack (Hunter McCracken na versão jovem, Sean Penn na versão adulta) – o mais velho dos três rebentos –, que não se adapta às exigências ditatoriais do pai e, como consequência deste núcleo familiar disfuncional, começa a entrar nos terrenos da delinquência juvenil. E é ao entrar em contacto com o lado mais rebelde da existência humana que Jack perde a sua inocência de criança, reflectindo sobre o significado de emoções tão poderosas como o ódio, o desejo de vingança, ou até mesmo o sentido da vida.
Analisar um filme tão singular como “The Tree of Life” não é tarefa fácil. Por um lado, a beleza das suas imagens e a natureza reflexiva do seu argumento sidera-nos por completo, deixando-nos com a sensação de estarmos a assistir a algo verdadeiramente único e original. Algo que, decerto, ficará para a História do cinema. Mas por outro lado, o excesso de existencialismo torna-o demasiado bizarro, experimental e subjectivo, fazendo com que dificilmente funcione como um filme na verdadeira acepção da palavra.
De facto, “The Tree of Life” assemelha-se mais a uma exposição de fotografia em movimento. De certa forma, é como se estivéssemos a assistir a um poema visual. Malick não hesita em presentear-nos com todo o tipo de planos centrados em florestas, riachos e explosões cósmicas, pretendendo levar o espectador ao êxtase visual e auditivo. A transmissão de várias mensagens pró-Natureza; a análise do Homem como um ser semelhante a uma bomba-relógio; a colocação das personagens num estado constante de dúvida religiosa; tudo isto é digno de aplauso, numa obra que, por vezes, quase chega a ter mais olhos que barriga. O problema é que os devaneios excessivos de Malick prejudicam (e de que maneira) o equilíbrio da narrativa, não abonando a favor de nada nem ninguém.
Mais do que qualquer outra coisa, “The Tree of Life” é uma ode aos aspectos mais minimalistas da Natureza e da vida humana. Malick é um poeta. E esta obra é um poema sobre a essência do ser humano, seus receios, defeitos, virtudes, sonhos, emoções e tudo o mais. Tornando-a um produto cinematográfico extremamente interessante… mas excessivamente bizarro e pessoal para agradar a gregos e troianos. A espaços, a sua estrutura narrativa chega a obedecer à teoria do caos. O argumento (igualmente escrito por Malick) passa de dinossauros a malmequeres num piscar de olhos, em múltiplas sequências que só o próprio realizador poderá saber o que significam e o que pretendem transmitir. O espectador mais embasbacado terá dificuldade em compreender qual foi o critério utilizado na montagem do filme, já que Malick parece utilizar todos os pedacinhos de fita que gastou nestes últimos anos de filmagem. O que só poderá significar uma valente dor de cabeça para o espectador menos tolerante e menos habituado a este tipo de devaneios artísticos. E se a cena inicial do Big Bang ainda é tolerável, a derradeira meia hora de película deixa os neurónios dos espectadores à chapada uns com os outros. De cem pessoas, oitenta certamente interpretarão essa sequência final de maneira diferente. Desde Jessica Chastain a falar com anjos transparentes, até Sean Penn a cambalear pelo deserto, a subir e descer elevadores, e a atravessar portas místicas como se tivesse acabado de fumar doses incomportáveis de haxixe, ninguém consegue perceber muito bem onde Malick quer chegar com aqueles últimos minutos da película.
Uma coisa é certa: “The Tree of Life” jamais atingirá consenso crítico e comercial. Os fãs de Kubrick, Lynch, von Trier e outros que tais acharão Terrence Malick genial e “The Tree of Life” uma obra-prima. Os seguidores de um cinema mais convencional, com histórias segmentadas em princípio, meio e fim, adormecerão a meio do filme e nunca mais quererão ouvir falar de Malick para o resto das suas vidas. Eu cá me fico pelo meio-termo. “The Tree of Life” apresenta muitas virtudes (como a estrondosa banda-sonora de Alexandre Desplat, complemento ideal das imagens que irrompem pelos nossos olhos adentro), mas afirma-se como uma obra demasiado caótica e filosófica para os meus gostos.
Classificação – 3 Estrelas Em 5
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