domingo, 23 de maio de 2010

Crítica - A Nightmare on Elm Street (2010)

Realizado por Samuel Bayer
Com Jackie Earle Haley, Rooney Mara, Kyle Gallner, Katie Cassidy

No ano de 1984, pelas mãos de Wes Craven, uma lenda do género fantástico nascia no seio da Sétima Arte. “A Nightmare on Elm Street” estreava nas salas de todo o mundo e dava-nos a conhecer o sádico, maléfico e horripilante Freddy Krueger. Com a sua epiderme terrivelmente conspurcada e com a fiel e dilacerante garra firmemente presa à mão direita, Freddy Krueger depressa se transformou numa das personagens mais assustadoras e originais do cinema de terror, assegurando a sua devida posição no eterno imaginário de cada espectador. O filme original de Craven era cru, arrojado e simplesmente brutal. Ele surgia numa altura em que estes filmes de série B se afirmavam como uma alternativa às limitações criativas impostas pelos grandes estúdios norte-americanos e, como muitos outros, não hesitava em brindar o espectador com descarados banhos de sangue e uma imensa panóplia da mais variada fornada de monstros freaks. Apenas uma das muitas razões pela qual se tornou um filme de culto.
Esta nova versão da tresloucada e sanguinária obra de Craven chega até nós numa altura em que o cinema de terror se encontra em profunda crise (especialmente o cinema de terror oriundo das terras do tio Sam). Este renovado “A Nightmare on Elm Street” pretende ser um remake do filme original, recuperando a génese da história e as personagens que deram início à famosa saga do serial-killer do mundo dos sonhos. Pretendia-se então apresentar o idiossincrático Freddy Krueger a uma nova geração de jovens. Aquilo que eu posso dizer é o seguinte: Samuel Bayer e a sua equipa de produção bem que podiam ter ficado quietos. Pois o “A Nightmare on Elm Street” criado para esta nova geração não possui um pingo da ousadia e da criatividade do filme original e, infelizmente como já se esperava, estamos perante um dos filmes mais pobres, medíocres e inconsequentes dos últimos anos.


A película conta-nos a história de um grupo de adolescentes que vive aterrorizado por um único pesadelo constante. Um pesadelo onde um sádico e impiedoso homem carbonizado – Freddy Krueger (grande Jackie Earle Haley) – os persegue com a promessa de que os irá esquartejar a todos… com o maior dos prazeres. A princípio, nenhum dos jovens compreende que o seu pesadelo é mútuo e ninguém se atreve a imaginar o terrível destino que os espera. Afinal de conta, não passavam de pesadelos. Que mal poderiam trazer às suas vidas? Porém, a pouco e pouco, os jovens vão falecendo durante o sono de uma forma incrivelmente brutal e invulgar. Rapidamente, todos eles começam a descurar a racionalidade dos seus pensamentos e começam a temer seriamente as constantes visitas do homem da camisa às ricas pretas e vermelhas. Caberá a Nancy (Rooney Mara) e ao seu platónico amigo Quentin (Kyle Gallner) descobrir o mistério por detrás do assombramento de Krueger, antes que seja tarde demais para ambos e um encontro com a morte se torne inevitável.
Há muito pouco de positivo a dizer acerca deste filme. Depois de muito matutar, identifico-lhe apenas dois aspectos relativamente agradáveis. O primeiro prende-se com os diabólicos e claustrofóbicos cenários do mundo de Freddy Krueger, o que é o mesmo que dizer o mundo dos sonhos (ou pesadelos, como preferirem). Aquando da previsível morte de um dos jovens intervenientes, os assombrosos e aterradores cenários fazem-nos acreditar que estamos, de facto, no mais realista e traumático dos pesadelos. O segundo aspecto positivo tem, inevitavelmente, a ver com a fabulosa e perturbadora prestação de Jackie Earle Haley. Devo admitir que Haley foi o único factor que me levou a ver este remake do clássico de Craven. O inesquecível Rorschach de “Watchmen” e o inquietante George Noyce de “Shutter Island” prometia oferecer a Freddy Krueger um sadismo e uma profundidade dramática admiráveis e nunca antes vistas. Conforme esperava, Haley oferece-nos uma interpretação brilhante, bem mais séria e demoníaca que a do seu predecessor Robert Englund. Já nomeado para um Oscar da Academia pela sua prestação em “Little Children”, Jackie Earle Haley é um grande actor, mas apesar do seu brilhantismo, não consegue salvar um filme que é o autêntico reflexo do desastre. Até porque, no cômputo geral, Freddy Krueger acaba por estar presente em apenas 20 ou 30 minutos da película.


Este “A Nightmare on Elm Street” é mais da mesma pestilenta matéria que nos tem chegado dos Estados Unidos da América, no que a filmes de terror diz respeito. Samuel Bayer deve ter estudado bem a lição do manual de fazer maus filmes. Pois esta obra é um autêntico manual de clichés, parvoíces, tiradas desnecessárias, enigmas sem qualquer mistério, interpretações em piloto automático, planos de câmara banalíssimos e um argumento provavelmente escrito sob o consumo de altas doses de crack. Uma vez mais, temos as raparigas jeitosas a tomar banho e a andar pela casa em trajes menores enquanto são confrontadas pelo monstro; temos adolescentes a entrar pelas janelas das casas às três da manhã, sem que os seus pais vejam algo de mal nisso; temos personagens que foram abusadas sexualmente e que não se lembram de um único pormenor do acontecimento mais traumatizante das suas vidas; temos a sempre agradável tirada asneirenta da personagem principal ao dar o golpe final no inimigo; e para encerrar em beleza, temos o twist final que, de tão esperado que é, acaba por não ser twist nenhum, surge sem qualquer noção de coerência narrativa e tem o singular propósito de deixar em aberto uma triste sequela.
Começo a aperceber-me de que já não tenho paciência para estes filmes. O argumento, de tão mau que é, nem sequer explica a razão de ser da rua que dá nome à obra. E o filme em si possui uma densa aura de amadorismo que já não se admite em pleno blockbuster do século XXI. As personagens interpretadas pelo conjunto de adolescentes são tão ocas e unidimensionais que até magoam a vista do espectador e fazem com que, rapidamente, torçamos pelo mau da fita. A certa altura, o tédio é tão grande que damos por nós a desejar que o Sr. Krueger acabe com os supostos heróis da fita o mais cedo possível. Fora a interpretação de Haley e o sadismo com que o seu Krueger despacha as vítimas, tudo o resto é puro lixo. E assim se dá cabo de uma das maiores, mais icónicas e mais adoradas lendas da Sétima Arte.

Classificação – 1 Estrela Em 5

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