quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Crítica - Le Scaphandre et le Papillon (2007)

Realizado por Julian Schnabel
Com Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Max Von Sydon

Jean-Dominique Baulby é um famoso editor de uma grande revista francesa. Aos 43 anos tem tudo o que um homem pode materialmente desejar mas no auge da sua carreira sofre um acidente vascular que lhe paralisou o corpo inteiro com a excepção de um olho. O acidente vascular pode-lhe ter deixado graves limitações físicas, mas não lhe deixou quaisquer limitações mentais porque a sua mente e o seu espírito continuam inalteráveis. "Le Scaphandre et le Papillon" conta a forte história de Baulby, um homem que não se deixou vencer pela paralisia e que conseguiu comunicar com o mundo em seu redor através do seu olho, descrevendo com detalhe e sentimento todos os seus tormentos, sonhos e esperanças, acabando por editar um magnífico livro autobiográfico com uma mensagem poderosíssima de esperança e alento. O filme é considerado uma obra-prima em todo o mundo, tendo arrecadado prémios atrás de prémios e até valeu ao seu realizador, Julian Schnabel, o Globo de Ouro e o Prémio de Cannes para Melhor Realizador.
Julien Schnabel merece todo o crédito por este filme porque demonstrou uma enorme capacidade criativa e emocional ao criar uma obra-prima cinematográfica de um argumento que à partida poderia ser considerado limitado e aborrecido. Analisando por alto a ideia original do filme, pode-se pensar que uma obra sobre um homem paralisado que só pode usar um olho para comunicar com o mundo daria pouco pano para mangas, por muito emocional/ dramático que o argumento seja, a história necessitaria de uma realização forte para resultar na perfeição e é isso que Schnabel oferece, completando o argumento do filme com uma realização dinâmica, competente, mágica e talentosa.A forma como Schnabel capta a vida na mente do protagonista é incrível. À partida poderia pensar-se que a história ir-se-ia desenvolver em redor das personagens que acompanham e cuidam de Baulby e que a personagem interpretada por Mathieu Almaric seria estática, puramente presencial, contudo essa presunção é falsa porque Schnabel consegue dar vida e dinâmica a uma personagem aparentemente imóvel. Através de monólogos interiores, temos a oportunidade de saber o que Baulby está a pensar e a sentir, Baulby aparece-nos então como o narrador da sua própria história e o principal enfoque do filme. Para além dos monólogos, o filme apresenta também vários flashbacks que nos permitem conhecer melhor Baulby antes do acidente, o que nos leva a avaliar as diferenças psicológicas do antes e do depois do insólito.
Outro brilhante aspecto do filme, fruto da brilhante realização de Schnabel, é a captação dos diversos olhares de Baulby que com apenas um olho, consegue transmitir as diferentes emoções que sente, os movimentos, as percepções, as emoções são todas importantes no momento de avaliar o seu estado de espírito e de saber o que lhe vai na mente. Este constante jogo de advinhas e percepções é essencial para as restantes personagens entenderem o que Baulby quer. A sonoridade e o aspecto visual do filme são outras duas características positivas. A fotografia está muito bem conseguida, usando uma mistura de imaginação com realismo. É difícil não ficar maravilhado com a magnífica qualidade estética das cenas que nos vão sendo apresentadas. Este espectáculo visual é acompanhado por músicas calmas e relaxantes, melodias simples que contrastam muito bem com a complexidade do filme.
O elenco está dentro das expectativas. Os principais actores, apesar de desconhecidos para a maior parte do público, são actores experientes que estão habituados a papéis de elevada intensidade dramática. Mathieu Almaric está muito bem como protagonista, narrando na perfeição os seus pensamentos e apresentando sempre uma expressão bem reveladora do estado de espírito da sua personagem. Tenho também que destacar Marie-Josée Croze e Max Von Sydon que fazem justiça à sua reputação, apresentando um trabalho exímio. "O Escafandro e a Borboleta" é um filme quase perfeito. O seu argumento aborda um tema duro e complexo, suavizado e completado por uma realização brilhante. É uma obra visualmente e sonoramente bela, muito elegante e concisa sem nunca desviar a atenção do tema principal e claro, como todos os bons dramas, bastante emotivo.

2ª Crítica - AQUI

Classificação - 5 Estrelas Em 5

0 comentários :

Postar um comentário