terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Crítica - Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street (2007)

Realizado por Tim Burton
Com Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen

"Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street" é um filme de género musical baseado na obra teatral escrita por Stephen Sondheim e Hugh Wheeler. "Sweeney Todd", foi um estrondoso sucesso durante a sua exibição teatral, esta peça de carácter gótico e alternativo oferecia aos seus espectadores um espectáculo musical diferente dos restantes. É óbvio que muito poucos realizadores conseguiriam adaptar na perfeição esta peça de teatro para as telas de cinema devido ao seu carácter alternativo e gótico, assim sendo, a escolha de um realizador competente em filmes com essas características era necessário e quem melhor do que Tim Burton. O icónico realizador foi sem dúvida a pessoa mais indicada para dar ao barbeiro demoníaco um filme que fizesse justiça à sua reputação. Para uma das suas grandes obras, Burton chamou dois dos seus actores favoritos, Johnny Depp e Helena Bonham Carter, atribuindo-lhes e bem os principais papeis mas antes de avançar mais vamos à história do filme. Estamos no Século XIX em Londres, uma das maiores metrópoles do mundo, onde numa das suas movimentadas ruas existe uma simpática barbearia que é propriedade de Benjamin Barker (Johnny Depp), um simples barbeiro londrino a quem a vida corre bem. Barker é respeitado pelos seus clientes, tem o amor incondicional da sua bonita esposa e recentemente foi pai de uma linda menina, no entanto, este seu bonito quadro rapidamente se torna num pesadelo devido à inveja e à ganância. Barker é injustamente condenado pelo Juiz Turpin (Alan Rickman) por um crime que não cometeu e é enviado para uma das prisões mais escuras e tenebrosas de Inglaterra. Quinze anos depois, Benjamin Barker regressa a Londres mas é um homem mudado, mais frio e tenebroso, mudou o seu nome para Sweeney Todd e jurou vingança sob aqueles que o condenaram injustamente e o afastaram da sua família. Para piorar a situação, Sweeney descobre que a sua mulher cometeu suicídio logo após ele ter sido preso e que a sua filha, Johanna, foi adoptada pelo homem que o condenou. Para por em prática a sua vingança reabre a sua barbearia e alia-se à lunática Miss Lovett (Helena Bonhan Carter) que é a proprietária de uma pobre loja de tortas. À medida que Sweeney Todd vai matando os seus clientes, Miss Lovett usa os seus corpos para cozinhar as suas deliciosas tortas que se tornam sensação em Londres mas, por muitos clientes que mate, o desejo de vingança de Sweeney só estará completo quando cortar com a sua navalha o pescoço do Juiz Turpin. Para aliviar um pouco a tensão da história sombria de Sweeney, o filme também nos apresenta uma interessante história de amor proibido entre Johanna (Jayne Wisener) e o marinheiro que salvou a vida a Sweeney no início do filme, Anthony Hope (Jamie Campbell Bower). Ao longo da história temos sempre a música como pano de fundo.
Ao longo dos anos, Tim Burton já nos habituou ao seu estilo muito peculiar de realização mas a verdade é só uma, ou se gosta ou se odeia ests cineasta porque é praticamente impossível ficar indiferente às suas obras. Se muita gente acha que os filmes de Burton são obra de um génio há também muitos que acham que os seus filmes são da autoria de um louco sem jeito para produzir boas obras. A verdade é que os Burton-Haters não devem aproximar-se do filme porque certamente o vão achar mau e enche-lo de defeitos mas os fãs do realizador irão ficar certamente muito satisfeitos com este "Sweeney Todd". Poder-se-á pensar que por se tratar de um musical, Tim Burton poderia estar a caminhar sobre “gelo fino” mas a verdade é que ele já introduziu algumas cenas musicais em filmes anteriores como "Charlie e a Fábrica de Chocolate", assim sendo, a realização de um musical seria a evolução natural. Burton não interfere nada na história de Sweeney Todd, é claro que fez alguns cortes necessários à peça de teatro mas a essência da obra está lá. Burton confere a Londres uma imagem escura e cinza, estando em coerência com o sentimento de vingança de Sweeney Todd. As cores brilhantes e reluzentes raramente aparecem no grande ecrã, as excepções à regra são os flashbacks que recordam o passado feliz de Sweeney, as cenas de romance entre Johanna e Anthony que simbolizam o verdadeiro amor e claro, as cenas de morte dos clientes de Sweeney onde, no meio das cores escuras, sobressai o sangue vermelho vivo das suas vítimas. Este contraste entre cores escuras e cores brilhantes é apenas um dos exemplos da realização de génio de Burton. É praticamente impossível comparar a realização de "Sweeney Todd" com a dos seus filmes anteriores mas diria que é uma mistura entre "Sleepy Hollow" e "Eduardo Mãos de Tesoura". Os ambientes góticos e alternativos estão lá mas com um toque de terror e suspence aliados ao forte desejo de vingança de Sweeney. Pode-vos parecer estranho visto ser um musical mas "Sweeney Todd" é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais negros de Tim Burton.
Os números musicais estão, na sua generalidade, muito bem dirigidos e construídos. Johnny Depp surpreendeu e muito com os seus talentos de cantor, apesar de não ser nenhum soprano, tem uma voz profunda e obscura mesmo dentro do estilo do filme. Os números musicais apresentados no cinema devem ser de inferior qualidade aos apresentados na peça de teatro mas penso que a força e a ideia das músicas ficou bem patente. O seu elenco também está muito bem, especialmente Johhny Depp e Helena B. Carter. Os dois actores formam uma dupla potentíssima no ecrã, como já se notou em filmes anteriores. Johnny Depp mostra neste filme o porque de ser um dos maiores nomes de Hollywood porque ele canta, representa na perfeição, faz comédia e faz drama sem nenhuma dificuldade, ou seja, mais versatilidade é impossível. Há também um pouco de comédia nesta obra, comédia essa que contrasta com o género pesado e escuro do filme, uma jogada inteligente porque retira um pouco da carga dramática ao filme permitindo algumas risadas de vez em quando, assim sendo, para além do humor negro da personagem de Depp temos também o humor alegre de Adolfo Pirelli (Sasha Baron Cohen), um agradável contraste que funciona muito bem. A caracterização das personagens está muito boa, Sweeney e Miss Love aparecem com um ar muito vampírico e tenebroso enquanto que as restante personagens aparecem como snobs ingleses de nariz empinado, muito elegantes e muito limpinhos, um contraste engraçado que também simboliza dois lados do mal. O guarda-roupa está fiel ao século XIX inglês com peças clássica e finas.
"Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street" é uma forte e trágica história sobre futilidades. A futilidade da vingança (Sweeney Todd) a futilidade da inveja e de desejar algo que não é nosso (Turpin), a futilidade da esperança e do amor (Anthony e Johanna) e a futilidade da ambição e do desejo (Miss Lovett). Trazer uma história deste calibre e desta complexidade ao cinema é uma tarefa difícil mas Tim Burton fê-lo na perfeição, apresentando sem dúvida um dos melhores filmes de 2007.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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