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domingo, 27 de junho de 2010

Crítica - Toy Story 2 (1999)

Realizado por John Lasseter, Ash Brannon e Lee Unkrich
Com Vozes de Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Kelsey Grammer, Wayne Knight

Estreado em 1995, “Toy Story” foi uma das primeiras longas-metragens de animação a romper com o, até então, formato tradicional de desenho à mão que servia de estandarte às inúmeras películas produzidas pelos estúdios da Walt Disney. John Lasseter e a sua brilhante equipa apostavam totalmente numa área em desenvolvimento e ainda com muito potencial por explorar: a (agora vulgaríssima) animação computorizada. Para além de se afirmar como um marco da arrojada aposta nas novas tecnologias, “Toy Story” foi também o filme de apresentação de uma magnífica companhia de estúdios que viria a alterar o panorama da Sétima Arte por completo (pelo menos no que à animação diz respeito) – a Pixar Animation Studios. Hoje mundialmente conhecida e merecidamente aclamada, a Pixar teve a sua verdadeira data de nascimento com a gloriosa estreia de “Toy Story”. Este filme deu-nos a conhecer um mundo onde os brinquedos possuíam vida própria e, através das mirabolantes aventuras de Woody e de Buzz Lightyear, provou-nos que o filme de animação pode também agradar a um público adulto e ser amado por toda e qualquer faixa etária. Logo desde os seus anos mais tenros, a Pixar fez questão de nos presentear com uma história que abordava assuntos bem complexos e detentores de bastante profundidade dramática. De certa forma, poder-se-á dizer que a Pixar incutiu ao cinema de animação uma certa maturidade dramática que, até então, esse género cinematográfico não evidenciava.


“Toy Story” obteve tanto sucesso e reconhecimento que, quatro anos mais tarde, a Pixar não hesitou em lançar “Toy Story 2” nos cinemas. Contrariando, por momentos, a sua sede de apostar em novas histórias repletas de impressionante criatividade artística, os estúdios encontraram na história de Woody um potencial para explorar novos desafios e, como tal, decidiram apostar na sua primeira (e, até agora, única) sequela. E o resultado não podia ser mais satisfatório. Por muitos considerado superior ao filme original, “Toy Story 2” convenceu público e crítica por inteiro e fez esquecer o fantasma que pairava sobre as sequelas dos filmes de animação (geralmente muito inferiores ao filme original). Comprovando a imensa chancela de qualidade dos estúdios Pixar, “Toy Story” estava assim transformado numa saga de enorme sucesso e, mais importante do que isso, numa saga de colossal respeito e qualidade cinematográfica. Uma saga que terá a sua continuação já este ano, com o tão aguardado (e desde já aplaudido) “Toy Story 3”.
Mas centremo-nos no segundo tomo da saga. “Toy Story 2” inicia a sua narrativa pouco tempo depois dos acontecimentos que encerram o primeiro filme. Outrora inimigos e grandes rivais na demanda pela conquista dos afectos do seu dono humano Andy (John Morris), Woody (Hanks) e Buzz Lightyear (Allen) são agora dois amigos que se complementam. Nas suas brincadeiras, Andy não põe nenhum dos dois brinquedos acima do outro e faz questão de os colocar a ambos como os heróis das suas aventuras fantasistas. Após um período em que Woody temera perder os afectos de Andy, tudo parecia agora decorrer da melhor forma. Até ao dia em que um dos braços de Woody se rasga e todos (tanto brinquedos como humanos) se confrontam com um facto obscuro: os brinquedos não duram para sempre e, mais tarde ou mais cedo, Andy acabará por colocar Woody na prateleira (o que corresponde a colocá-lo de lado nas suas brincadeiras e esquecê-lo). Pela primeira vez na sua vida, Woody enfrenta uma crise existencial que o leva a confrontar-se com o verdadeiro propósito da sua existência, crise essa que cresceu ainda mais quando, através de uma série de eventos acidentais, Woody é raptado por um desprezível homem obcecado por bonecos (Knight) e, já no lar deste homem, conhece Jessie (Cusack) e Stinky Pete (Grammer) – dois brinquedos que fazem parte da colecção a que Woody pertence e que o fazem questionar se uma vida de dedicação total a Andy colherá os seus frutos no final. Principalmente porque o tempo não perdoa e, com a maturação do jovem rapaz, tanto Woody como todos os outros brinquedos serão abandonados e colocados à mercê de um ignóbil esquecimento. Recusando-se a desistir do seu amigo e companheiro, Buzz e um pequeno grupo dos brinquedos de Andy iniciam uma viagem para socorrer Woody e levá-lo a compreender que, pelo menos enquanto durar, o amor de Andy vale todos os sacrifícios possíveis e imagináveis.


Como se pode compreender por esta trama, “Toy Story 2” está longe de ser um filme exclusivamente para crianças. Através de brilhantes metáforas e de uma narrativa absolutamente credível e tocante, esta película acaba por reflectir sobre alguns dos aspectos mais pesarosos da existência humana (como o abandono, ou a dor causada por um amor não correspondido). Aliás, essa sempre foi a imagem de marca da Pixar e uma das razões pela qual os seus filmes são tão adorados. A Pixar não se contenta em fazer simples e agradáveis filmes de animação para crianças. Os estúdios de Lasseter e companhia fazem questão de, a cada projecto desenvolvido, confrontar miúdos e graúdos com questões sérias, profundas e extremamente humanistas. “Toy Story 2” não foge à regra e, apesar de não possuir uma mensagem tão forte e pertinente como “WALL-E” ou “Up!”, não deixa de ser uma obra com diversas mensagens e significados escondidos na sua fantástica narrativa.
A nível técnico, “Toy Story 2” consegue ser deslumbrante. A excelente realização de Lasseter e seus colaboradores faz com que a história flua sem qualquer problema, contradição ou enviesamento. Durante todos os 92 minutos da película, o espectador cola-se ao ecrã e só se atreve a desviar o olhar no desenrolar dos créditos finais. As personagens são divertidíssimas, a narrativa é cativante, as referências a clássicos do cinema são mais que muitas e o resultado final revela-se deveras recompensador. Só o 3D não consegue deslumbrar, o que só reforça a ideia de que valerá a pena investir nesta tecnologia apenas quando tal abordagem for ponderada desde as primeiras fases de pré-produção. Caso contrário, com “arranjinhos” de última hora, o efeito 3D revela-se verdadeiramente infrutífero e decepcionante.
Em suma, “Toy Story 2” afirma-se como uma grande experiência cinematográfica para todas as idades. Na minha opinião, talvez não seja tão divertido como o filme original, mas é, certamente, muito mais profundo e sumarento a nível emocional e dramático. Uma obra que, tal como era intenção da Disney com esta reposição nos cinemas mundiais, deixa água na boca e faz-nos aguardar com ansiedade pela estreia do terceiro tomo da saga. As aventuras de Woody, Buzz Lightyear e companhia seguem dentro de algumas semanas… “Toy Story 3” chega até nós já no próximo mês de Julho e promete rebentar com as bilheteiras. A ver vamos como se comporta na autêntica guerra dos números que caracteriza a época dos blockbusters de Verão.

Classificação – 4 Estrelas Em 5