Com Michelle Yeoh, David Thewlis, Jonathan Raggett
A fortíssima história de vida de Aung San Suu Kyi tinha tudo para ser transformada num filme de luxo, mas Luc Besson (Realizador) e Rebecca Frayn (Guionista) não souberam incutir o seu inerente valor dramático e emocional a este “The Lady”, uma obra demasiado escassa que até aborda convenientemente os altos e baixos do casamento de Michael Aris e Aung San Suu Kyi, mas que infelizmente relega para segundo plano os acontecimentos que marcaram a histórica luta desta famosa activista birmanesa contra a Junta Militar, que ainda controla de forma hostil e totalitária a Birmânia/ Myanmar. O seu enredo centra-se então na bela história de amor entre Aung San Suu Kyi e Michael Aris (David Thewlis), um casal que foi abalado por inúmeros desafios e atrocidades mas que, mesmo assim, conseguiu manter o seu amor e o seu casamento até ao fim, tendo também travado uma árdua batalha pela democratização da Birmânia/ Myanmar.
O elenco de “The Lady” é soberbo, mas a excelência dramática dos incríveis trabalhos individuais de Michelle Yeoh como Aung San Suu Kyi e de David Thewlis como Michael Aris, não é suficientemente forte para compensar a medíocre narrativa desta obra, que nos oferece um relato frívolo e diminuto sobre a histórica demanda de Aung San Suu Kyi contra a ditadura e a insensibilidade humana na Birmânia/ Myanmar. É verdade que “The Lady” tem várias cenas que retratam esta sua valorosa luta democrática, mas todas elas denotam uma clara falta de credibilidade e de cuidado histórico por parte de Luc Besson e Rebecca Frayn, que também deixaram de fora vários acontecimentos violentos e extremamente relevantes, como as duas tentativas de assassinato de Aung San Suu Kyi em 1996 e 2003. O verdadeiro tema central desta obra é então o relacionamento familiar entre Aung San Suu Kyi e o seu marido (Michael Aris) e/ou os seus dois filhos (Kim e Alexander Aris). A verdade é que a fraca e redutora análise narrativa que é feita à vertente democrática e activista de Aung San Suu Kyi, contrasta com a análise calorosa e afectiva que é feita à sua faceta de mãe e mulher de família. O enorme amor e carinho que a activista nutria e ainda nutre pelo seu marido e família é nos habilmente transmitido pela história desta obra, que também nos mostra que esse enorme afecto foi muitas vezes dominado/ substituído pela sua enorme devoção e lealdade à sua nobre causa e aos cidadãos birmaneses, que ainda a vêm como uma verdadeira divindade terrestre. A sua incrível dedicação à luta democrática fica patente em vários momentos do filme, nomeadamente na sua constante recusa em sair do país para cuidar do seu marido doente, para visitar os seus filhos ou para receber o Prémio Nobel da Paz. Em suma, “The Lady” aborda com habilidade e astucidade a história familiar de Aung San Suu Kyi, mas oferece-nos uma visão demasiado escassa dos incríveis feitos desta mulher, transmitindo-nos também uma visão demasiado irrealista e calma do que realmente tem acontecido na Birmânia desde a década de oitenta.
A realização de Luc Besson também tem os seus defeitos. Já se sabe que os filmes dramáticos não são muito a onda deste famoso cineasta francês, mas esperava-se que este seu “The Lady” fosse melhor que o seu último drama, “The Messenger: The Story of Joan of Arc” (1999), mas infelizmente isso não aconteceu. A sua direcção é confusa e está cheia de falhas, mas o seu maior defeito reside claramente na sua falta de controlo sobre a história. Os cenários naturais e montanhosos de “The Lady” são belíssimos, mas a sua acção raramente se desloca dos cenários citadinos que se tornam interessantes devido à sua inerente autenticidade, que também se verifica na figuração e na caracterização dos seus intervenientes. A banda sonora não é extraordinária, mas o seu tema central fica no ouvido e retrata habilmente a leveza e afectuosidade de Aung San Suu Kyi, uma mulher icónica que merecia um filme mais sério. ambicioso e interessante.
Classificação – 3 Estrelas em 5