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Realizado por Steven Spielberg
Com Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Simon Pegg
Por alturas da estreia de “Raiders of the Lost Ark”, decorria o ano de 1981, alguns críticos franceses não hesitaram em comparar a mítica personagem de Indiana Jones com a não menos mítica personagem de Tintin. Tanto o arqueólogo do chapéu e da barba de dois dias como o jovem jornalista de poupa levantada criado por Hergé pareciam ter uma propensão quase fatalista para a grande aventura. Ambos partilhavam o mesmo código genético. De intenções nobres e coração intrépido, tanto o Dr. Jones como o destemido Tintin entregavam-se à aventura com a maior das facilidades, facilmente afundando-se em tramas que nunca os favoreciam mas que conseguiam despertar o que de melhor havia neles. É claro que o arqueólogo saído da mente de Steven Spielberg e George Lucas atingiu níveis de popularidade bem mais elevados por esse mundo fora, não fosse o cinema uma arte muito mais popular do que a banda-desenhada (já para não falar da maior facilidade com que uma personagem americana se torna universal, quando comparada com uma franco-belga). De qualquer forma, cada um à sua maneira, Indiana Jones e Tintin depressa reservaram o seu espaço merecido no seio da cultura popular. Mas a verdade é que este último nunca se conseguiu impor verdadeiramente no mercado norte-americano (ainda hoje muitos americanos desconhecem as aventuras de Tintin, razão pela qual este projecto cinematográfico sempre foi considerado um projecto de risco moderado) e até Steven Spielberg só passou a conhecê-lo quando tomou conhecimento das tais comparações com o “seu” Indiana Jones. Claro que a partir do momento em que tratou de se familiarizar com o jornalista mais famoso da banda-desenhada europeia, um mundo de novas oportunidades abriu-se na mente de Spielberg. Poder-se-á falar de amor à primeira vista. Com a chancela do próprio Hergé, Spielberg não perdeu nem mais um segundo a adquirir os direitos de adaptação cinematográfica de Tintin. E 30 anos passados, com a tecnologia por que Spielberg esperava finalmente disponível e a um nível aceitável, eis que “The Adventures of Tintin” aterra nos cinemas de todo o mundo para arrasar com tudo e todos.
Com Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Simon Pegg
Por alturas da estreia de “Raiders of the Lost Ark”, decorria o ano de 1981, alguns críticos franceses não hesitaram em comparar a mítica personagem de Indiana Jones com a não menos mítica personagem de Tintin. Tanto o arqueólogo do chapéu e da barba de dois dias como o jovem jornalista de poupa levantada criado por Hergé pareciam ter uma propensão quase fatalista para a grande aventura. Ambos partilhavam o mesmo código genético. De intenções nobres e coração intrépido, tanto o Dr. Jones como o destemido Tintin entregavam-se à aventura com a maior das facilidades, facilmente afundando-se em tramas que nunca os favoreciam mas que conseguiam despertar o que de melhor havia neles. É claro que o arqueólogo saído da mente de Steven Spielberg e George Lucas atingiu níveis de popularidade bem mais elevados por esse mundo fora, não fosse o cinema uma arte muito mais popular do que a banda-desenhada (já para não falar da maior facilidade com que uma personagem americana se torna universal, quando comparada com uma franco-belga). De qualquer forma, cada um à sua maneira, Indiana Jones e Tintin depressa reservaram o seu espaço merecido no seio da cultura popular. Mas a verdade é que este último nunca se conseguiu impor verdadeiramente no mercado norte-americano (ainda hoje muitos americanos desconhecem as aventuras de Tintin, razão pela qual este projecto cinematográfico sempre foi considerado um projecto de risco moderado) e até Steven Spielberg só passou a conhecê-lo quando tomou conhecimento das tais comparações com o “seu” Indiana Jones. Claro que a partir do momento em que tratou de se familiarizar com o jornalista mais famoso da banda-desenhada europeia, um mundo de novas oportunidades abriu-se na mente de Spielberg. Poder-se-á falar de amor à primeira vista. Com a chancela do próprio Hergé, Spielberg não perdeu nem mais um segundo a adquirir os direitos de adaptação cinematográfica de Tintin. E 30 anos passados, com a tecnologia por que Spielberg esperava finalmente disponível e a um nível aceitável, eis que “The Adventures of Tintin” aterra nos cinemas de todo o mundo para arrasar com tudo e todos.
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The Secret of the Unicorn foi o livro escolhido para esta primeira adaptação cinematográfica. A narrativa apresenta-nos um Tintin (Jamie Bell) descontraído e bem-disposto, cuja vida começa a andar para trás no preciso momento em que adquire o modelo de um navio antigo baptizado com o nome de The Unicorn numa feira de antiguidades. Meros segundos após a compra, Ivanovich Sakharine (Daniel Craig) aborda o então desconhecido Tintin, prestando-se a comprar-lhe o navio pelo dobro do preço. Mas o rapaz recusa cordialmente a oferta e vira as costas ao homem de vestes excêntricas. O seu destino fica selado com tal decisão. Ainda no decorrer desse dia, o apartamento de Tintin é vandalizado por rufias que procuravam um pergaminho escondido no pequeno navio de madeira. Com a ajuda de Snowy (Milú, na versão portuguesa), Tintin acaba por encontrar o tal pergaminho por debaixo de um móvel, pergaminho esse que contém um poema enigmático e uma série de símbolos deveras invulgares. Perante isto, o jovem repórter depressa compreende que foi empurrado para uma trama perigosa e com muito que se lhe diga. Razão pela qual, incapaz de permanecer quieto no seu cantinho, decide começar a investigar o caso com o intuito de descobrir o que o The Unicorn tem de tão especial. Determinado em desvendar os segredos do navio e da história que este tem por detrás, Tintin embarca assim numa viagem pelos quatro cantos do mundo. Uma viagem cheia de perigos e muitas reviravoltas, que o levará a conhecer um capitão dos mares com sérios problemas de bebida chamado Haddock (Andy Serkis) e também a colaborar de bem perto com um par de inspectores que criam o caos por onde passam.
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Foram já feitas muitas comparações com Indiana Jones ao longo dos anos, mas esta será talvez aquela que mais sentido faz. Isto porque se no papel Indy e Tintin já apresentavam semelhanças, na tela de cinema quase que parecem duas faces da mesma moeda. É inevitável. Vemos “The Adventures of Tintin” a desenrolar-se no grande ecrã e sentimos a alma de Indiana Jones por mais do que uma vez. O espírito enérgico e subtilmente cómico da aventura é exactamente o mesmo, sendo justo dizer que este Tintin de Steven Spielberg é uma espécie de Dr. Jones animado. Claro que o estilo de filmagem de Spielberg e a banda-sonora sempre envolvente de John Williams ajudam a estabelecer tais comparações e sensações de déjà-vu. Com outro realizador e outra equipa técnica atrás das câmaras, os pontos de contacto entre as duas personagens seriam assim tão óbvios? Provavelmente não. Mas o que é certo é que Spielberg e companhia potenciam as qualidades do mundo idealizado por Hergé ao máximo dos máximos, criando aqui um universo cinematográfico tão cativante quanto explosivo. “The Adventures of Tintin” ainda pode ter chegado a causar algumas dúvidas no que à sua qualidade e competência diz respeito. Mas depois de ver os resultados finais, é difícil imaginar alguém que saia desiludido ou cabisbaixo da sala de cinema. Só mesmo quem não for fã do universo Tintin ou quem estiver à espera de ver um filme de imagem real pode sair da sala com as expectativas defraudadas. Todos os outros decerto ficarão encantados com um crescendo narrativo tão bombástico e empolgante, e personagens tão genuínas e reais que nem parece que são animadas. E isto porque “The Adventures of Tintin” é o filme de grande aventura para toda a família que Spielberg tem tentado fazer desde “Indiana Jones and the Last Cruzade” e que “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull” não conseguiu ser.
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A técnica de performance capture utilizada neste filme (e já usada em obras como “Avatar”, “King Kong”, “A Christmas Carol” ou o pioneiro “The Lord of the Rings”) continua a deixar algo a desejar. Ainda estamos muito longe de poder dizer que esta técnica está pronta a substituir os filmes de imagem real, de tal forma que os actores de carne e osso mais conservadores podem desde já ficar descansados. Ainda assim, quando utilizada num contexto de fábula ou de aventura infantil, a performance capture começa já a mostrar-se minimamente competente e até mesmo prometedora. “A Christmas Carol” funcionou porque se tratava de um conto mágico sobre o Natal. Este “The Adventures of Tintin” também funciona porque se trata de uma homenagem à banda-desenhada de Hergé, sendo a única forma de os produtores se manterem cem por cento fiéis ao material original. Já em filmes como “Beowulf”, porque não têm este contexto de homenagem a material de outras áreas artísticas, a coisa não funciona tão bem. No filme aqui em questão, no entanto, a performance capture faz mesmo todo o sentido porque seria impossível obter um Tintin ou um Capitão Haddock tão fiéis à banda-desenhada (física e mesmo psicologicamente) se os produtores tivessem optado seguir o formato de imagem real. Spielberg e o produtor Peter Jackson saem portanto triunfantes deste projecto arriscado, apesar de ainda não sabermos como os americanos irão reagir às aventuras do repórter belga mais famoso do mundo (nos EUA o filme só estreará em Dezembro). Demonstrando toda a sua genialidade, Spielberg aproveita mesmo esta abordagem animada para criar sequências de acção verdadeiramente deliciosas. Sequências de acção sem cortes e detentoras de uma dinâmica extraordinária, que levariam meses e meses de planeamento numa filmagem de imagem real (para não dizer que seriam simplesmente impossíveis de filmar, pelo menos com os mesmos resultados tão deslumbrantes e espectaculares). Comprovando que ainda está aqui para as curvas, o velho mestre do cinema-espectáculo utiliza a performance capture para pôr em prática todo o potencial do seu génio criativo, escapando às fragilidades desta tecnologia para nos oferecer uma das obras mais dinâmicas, empolgantes e excitantes do ano. Um verdadeiro mimo para os fãs de Hergé; um compromisso obrigatório para os fãs da Sétima Arte.
Classificação – 4 Estrelas Em 5