Realizado por Nima Nourizadeh
Com Thomas Mann, Oliver Cooper, Jonathan Brown, Kirby Blanton
Não é à toa que as comparações com “The Hangover” têm surgido em catadupa. Com o realizador dessa obra (o nova-iorquino Todd Phillips) a exercer aqui as funções de produtor, “Project X” faz de uma residência numa urbanização tranquila de Pasadena aquilo que o outro filme fez de Las Vegas: um autêntico pandemónio, onde um grupo de amigos facilmente perde o controlo da situação e se vê perante algo que vai para além de tudo o que é imaginável. Com uma realização segura por parte de Nima Nourizadeh, um argumento sem papas na língua e um sentido de ritmo narrativo bastante aceitável, “Project X” emerge assim como uma espécie de irmão mais novo de “The Hangover”, servindo-se do género found-footage para filmar o caos e a desordem de uma forma original. De certa forma, “Project X” possui também alguns genes da saga “American Pie”, cruzando elementos das peripécias sexuais de Jim e companhia com as noites tresloucadas de Phil, Alan e Stu. Felizmente, absorveu mais genes do filme de Todd Phillips do que do franchising criado por Paul Weitz. No entanto, por muito cómico e competente que seja, não deixa de recorrer demasiado ao calão para puxar a gargalhada fácil do espectador, assim como não deixa de tomar opções criativas que adulteram um pouco a credibilidade dos eventos retratados.
Thomas (Thomas Mann) é o típico adolescente acanhado das escolas secundárias norte-americanas. Longe de ser popular, as miúdas desprezam-no e os fanfarrões com queda para o bullying despejam nele as frustrações de um ambiente familiar quebrado e de uma autoestima com o tamanho de um inseto. A sua existência é, portanto, perfeitamente vulgar e rotineira. Até ao dia em que Costa (Oliver Cooper), o seu melhor amigo de ascendência judaica e detentor de uma língua mais afiada que uma espada de samurai, sugere a realização de uma festa caseira no fim-de-semana em que os seus pais lhe deixam a casa por sua conta. Relutante, Thomas começa por rejeitar a ideia, temendo a reação dos progenitores caso alguma coisa desse para o torto. Porém, farto de ser um zé-ninguém aos olhos dos seus pares, o pacato e introvertido rapaz lá se compromete com a realização da tal festa, desde que esta não ultrapasse os limites do bom senso. O problema é que Costa está determinado em organizar a festa mais épica e lendária de que há memória. E como tal, convida um monte enorme de gente nas costas de Thomas, dando azo à concretização de um evento que depressa escapa ao controlo de todos e instalando a anarquia um pouco por toda a residência e arredores…
“Project X” não é mau de todo, proporcionando bons momentos de comédia e cumprindo com sucesso o seu objetivo primordial: entreter o espectador. Consegue até fazer um estudo sociológico (à sua maneira) acerca do comportamento puramente autodestrutivo das novas gerações modernas, tendo aqui muito material sincero e não censurado que poderá eventualmente interessar a sociólogos e psicólogos. Todavia, o problema é que também não oferece nada de realmente novo, ou seja, nada que não tenhamos visto antes num qualquer outro filme de adolescentes descontrolados com queda para os copos. A abordagem ao estilo do found-footage ainda traz alguma frescura ao tema retratado, mas a insistência no humor físico e a utilização excessiva do calão (maioritariamente sexual) tornam a película um pouco banal e até mesmo grosseira. “The Hangover” ainda apresentava um argumento original, com uma premissa bastante inteligente. Este “Project X” é pouco mais do que um “American Pie” levado ao extremo. Para além da eficácia e da criatividade com que a evolução da balbúrdia é filmada, o que nos fica na memória são duas personagens que decerto ficarão para os anais da comédia cinematográfica: o ganzado e problemático T-Rick (Rick Shapiro), e o espevitado e desavergonhado Costa, que carrega com os maiores momentos de comédia às costas e se afirma como a grande alma tresloucada do filme. De resto, pouco mais há a assinalar. Excetuando talvez o facto de a película escarrapachar sem reservas aquilo que a cultura norte-americana tem de pior, colocando a nu as razões pelas quais tantos povos neste mundo não toleram o modo de pensar (e de atuar) dos autodenominados escolhidos de Deus. Resta saber se Nima Nourizadeh fez isto conscientemente, ou não.
Classificação - 3 Estrelas Em 5