Com Armie Hammer, Julia Roberts, Lily Collins
O ilustre clássico infantil “Snow White and the Seven Dwarfs” (1937) marcou o início da Era Dourada da Walt Disney Pictures, mas também conferiu uma maior notoriedade mundial à sua bela e homónima base literária que foi editada por Jacob e Wilhelm Grimm (Irmãos Grimm) em 1812. O sucesso deste memorável filme levou outros estúdios a produzirem as suas próprias adaptações cinematográficas deste clássico conto de fadas, no entanto, nenhuma dessas produções conseguiu aproximar-se da fama e valor da versão da Walt Disney, mas entre pobres adaptações animadas e péssimas versões live action até apareceram alguns filmes de qualidade onde não se inclui este “Mirror Mirror”, um medíocre filme de Tarsem Singh que infelizmente não conseguiu dar um bom twist moderno e/ou alternativo ao clássico literário em que se baseia, muito pelo contrário, estraga-o com uma série de adições e alterações ridículas que vão contra a sua essência romântica e idealista. A sua história centra-se na Branca de Neve (Lily Colins), uma bela princesa de um reino distante que vive num enorme castelo com a sua madrasta, (Juliana Roberts), uma mulher muito egoísta e egocêntrica que assumiu o controlo do reino após o Rei ter desaparecido durante uma expedição militar. Quando um belo príncipe (Armie Harmer) com quem a Rainha tenciona casar aparece subitamente no castelo e apaixona-se à primeira vista por Branca de Neve, a Rainha decide que está na altura de eliminar a concorrência e manda o seu leal subordinando matar a sua enteada na Floresta Negra, no entanto, ele não consegue cumprir a missão e Branca de Neve acaba por fugir e encontrar um grupo de sete corajosos e rebeldes anões, com quem vai unir forças para recuperar o seu reino e conquistar o coração do seu príncipe encantado.
Já se sabia que a história de “Mirror Mirror” não ia ser inteiramente fiel ao clássico e sombrio conto da “Branca de Neve e os Sete Anões”, mas o argumento de Marc Klein e Jason Keller (Guionistas) ignora por completo o espirito e as principais mensagens morais da sua ilustre base narrativa, mas para além de não reforçar e/ou exteriorizar as ideias de amor incondicional, lealdade incontestável, ganância desmedida e inveja destrutiva, “Mirror Mirror” também aborda a rivalidade mortal entre a Branca de Neve e a Rainha Má e o bonito romance entre a Branca de Neve e o Príncipe Encantado de uma forma bastante previsível e vulgar que nada deve à emoção ou à imaginação, no entanto, estes dois elementos centrais são, mesmo assim, alvo de um desenvolvimento muito mais detalhado que a forte relação de amizade que nasce entre a Branca de Neve e os Sete Anões, relação essa que, ao longo do filme, é pobremente explorada em duas ou três cenas que denotam uma grande falta de sensibilidade e cuidado. A par de uma irritante vertente romântica e de uma rivalidade feminina sem chama ou interesse, “Mirror Mirror” também tem um lado cómico bastante medíocre que é dominado por pequenas cenas constrangedoras e algumas falas da Rainha Má, cuja leve e descontraída construção até me agradou bastante, muito por culpa de Julia Roberts que conferiu a esta icónica e maléfica personagem um pequeno toque de sofisticação. O mesmo não se pode dizer de Lily Collins, cuja terrível performance contribuiu para transformar a adorável Branca de Neve numa menina irritante e detestável.
A agradável performance de Julia Roberts é, sem dúvida, um dos grandes destaques desta comédia infantil, mas o grande trunfo qualitativo desta medíocre produção é a sua bela e detalhada vertente técnica/ visual. É ponto assente que Tarsem Singh não é o realizador mais talentoso e astuto do mundo, mas todos os seus filmes são tecnicamente deslumbrantes e este “Mirror Mirror” não foge à regra. Os seus cenários são muito bonitos e têm um ar muito cuidado e detalhado que confere uma dimensão bastante singular ao filme, mas a grande estrela técnica desta obra é o seu extravagante guarda-roupa que cativa a imaginação dos espectadores com os seus minuciosos vestidos e uniformes cheios de cor. O terrível monstro e as enormes marionetas que a Rainha Má utiliza para tentar matar a Branca de Neve e os Sete Anões também têm uma construção gráfica muito eficaz, mas as sequências de acção em que estas criaturas aparecem são bastante fracas e demasiado curtas para os deixar brilhar. Em suma, “Mirror Mirror” tem uma estética maravilhosa e não é um filme tão fraco como os seus trailers levam a crer mas é, mesmo assim, uma adaptação cinematográfica muito fraca de “A Branca de Neve e os Sete Anões” que, muito provavelmente, só conseguirá satisfazer as necessidades do seu público-alvo, ou seja, as crianças.
Classificação – 2 Estrelas em 5