Capas de DVDs - Capas de Filmes e Capas de CDs

Mostrando postagens com marcador Let The Right One In. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Let The Right One In. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Crítica - Let The Right One In (2008)

Realizado por Tomas Alfredson
Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar

"Let The Right One In" é, de várias formas, como uma mãe galinha no cinema independente hodierno que mastiga, extrapola e desenvolve a partir da extracção de matérias-primas menos usuais a produção e narrativa, apesar de este ser uma adaptação do livro homónimo publicado por John Ajvide Lindqvist em 2004, escritor em ascensão, conterrâneo de Tomas Alfredson, director. Há, em cada fragmento indie, um desejo de explorar temas férteis pela simbologia do expressionismo, directa ou indirectamente ligado ao conceito. Mas não só. O melhor título (opinião pessoal) apresentado no IndieLisboa 2008 é, sem qualquer dúvida, o “filme mais inesquecível do ano”, seguido de There Will Be Blood, No Country For Old Men, [REC], Gomorra e XXY (…), por ordem decrescente – opiniões pessoais.
A sinopse é franca: uma comunidade pacata em ambiente invernal que tem uma criança vampiro do sexo feminino alojada, Eli, homicida por necessidade que se identifica com Oskar, miúdo franzino também discriminado, alvo de agressões por parte dos colegas. Esta condição comum com contornos diferentes é logo unida no princípio do filme para perpetuar o desenrole, quando Oskar desagua os desejos inconscientes encriptados sob frustração com uma naifa numa árvore do pátio exterior pertencente ao bairro onde ambos moram (vizinhos), onde Eli sai todas as noites (refém da luz durante o dia, naturalmente), personificando os víveres do tormento escolar que não consegue dominar, devido ao seu aspecto frágil, tímido. Começa-se por construir uma amizade e, achegando oportunamente um tema não relacionado com o filme em si, tal como afirma Combaluzier sobre a psicologia dos sexos, se a amizade verificar-se entre pessoas de sexo diferente, mais tarde ou mais cedo, acaba por transformar-se em amor (conclusão intelectual huh?). O que acontece é um romance distante mas sentido. Distante não só pela tenra idade de ambos (12) que lhes inculca no senso a proibição de instintos e pulsões sexuais (ainda que por lá perto andem numa fase), mas também pela diferença anatómica que não permite a reprodução (Oskar aperceber-se-á disto como testemunha ocular). Sentido porque na reciprocidade da amizade, defendem-se mutuamente dos ataques: ela por encorajar à vingança perante a opressão escolar e libertar Oskar da ultima provação realizada pelos colegas numa das cenas visualmente mais espectaculares do filme e, ele, por apagar, por assim dizer, o cadastro de homicídios na comunidade que Eli realiza para obter o sangue de que necessita. Sangue este que, até à morte do padastro de Eli, era obtido por este através de assassinatos pouco ortodoxos que reflectem mais uma vez a alternância, elegância de espírito num tema cada vez mais regulado por códices previsíveis como é o horror – que, acaba por dar a sua vida depois de ter sido hospitalizado devido a um acto racional suicida, para que não o ligassem e descobrissem a “criança assassina” na sua casa, acusado seria de cumplicidade.


Fora desta linguagem desgastante que pouco me agrada avaliar, tecnicamente a produção é soberba. Um drama que origina visualmente maquilhado pelo realismo poético um romance premido pela imagética da melhor escola do gore e horror actual francês, conceptualmente filmado de forma hipnótica em consulta omnipresente ao fade/focus da objectiva, entrelaçando, destacando ou ignorando planos pelo blur, com a composição de imagem, mais uma vez de forma omnipresente, a concretizar-se nos close-ups de perfis, bustos e 1/3 do motivo – humano ou cénico. Tudo isto e um mise-en-scène cuidadoso une emblematicamente o titulo, singulariza, embeleza drasticamente e atira-o quase para percepção first person e, ao faze-lo, abre portas à imaginação e originalidade da realização, que não deixou escapar a oportunidade e criou algumas das cenas mais fortes e invulgares no horror dos últimos anos, cedendo para isso à estupenda narrativa efeitos colaterais de forte impacto visual terrifico em contraposição ao andamento natural slow-paced do titulo.
Detentor de um argumento forte, de personagens exemplarmente construídas com anexos ricos de interpretação pelo espectador e que cimentam a enorme qualidade do guião (o sistema de comunicação criado entre Eli e Oskar nas paredes do apartamento é apenas um), possuí um desenrole enérgico mas subtilmente sereno, silencioso ofegante que fervilha emotivamente na relação estóica entre Oskar e Eli, padronizada como um conto de fadas depressivo. O filme respira por si só desde o primeiro segundo diante metodologia glicérica, característico da plasticidade visual do cinema nórdico, apoiado em LTROI pelas paisagens encobertas pela neve que proporcionam momentos de grande beleza, de extremo bom gosto e o aspecto noir intermitente oferece ao elenco o melhor ambiente para um progresso moroso, recheado de cenas únicas que prosperam no imaginário do espectador por tempo indefinido, muito longe de clichés imperantes, nobres, que se prolongam na mente com recompensas thriller, bónus gore e extras românticos. Interpretações amplas, talentosas, espontâneas dirigidas pelas coordenadas do que melhor existe no cinema indie actual, garantem um lugar muito especial na 7ª arte a "Let The Right One In".

Classificação - 5 Estrelas Em 5

Crítica - Let The Right One In (2008)

Realizado por Tomas Alfredson
Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar

"Let The Right One In" é, de várias formas, como uma mãe galinha no cinema independente hodierno que mastiga, extrapola e desenvolve a partir da extracção de matérias-primas menos usuais a produção e narrativa, apesar de este ser uma adaptação do livro homónimo publicado por John Ajvide Lindqvist em 2004, escritor em ascensão, conterrâneo de Tomas Alfredson, director. Há, em cada fragmento indie, um desejo de explorar temas férteis pela simbologia do expressionismo, directa ou indirectamente ligado ao conceito. Mas não só. O melhor título (opinião pessoal) apresentado no IndieLisboa 2008 é, sem qualquer dúvida, o “filme mais inesquecível do ano”, seguido de There Will Be Blood, No Country For Old Men, [REC], Gomorra e XXY (…), por ordem decrescente – opiniões pessoais.
A sinopse é franca: uma comunidade pacata em ambiente invernal que tem uma criança vampiro do sexo feminino alojada, Eli, homicida por necessidade que se identifica com Oskar, miúdo franzino também discriminado, alvo de agressões por parte dos colegas. Esta condição comum com contornos diferentes é logo unida no princípio do filme para perpetuar o desenrole, quando Oskar desagua os desejos inconscientes encriptados sob frustração com uma naifa numa árvore do pátio exterior pertencente ao bairro onde ambos moram (vizinhos), onde Eli sai todas as noites (refém da luz durante o dia, naturalmente), personificando os víveres do tormento escolar que não consegue dominar, devido ao seu aspecto frágil, tímido. Começa-se por construir uma amizade e, achegando oportunamente um tema não relacionado com o filme em si, tal como afirma Combaluzier sobre a psicologia dos sexos, se a amizade verificar-se entre pessoas de sexo diferente, mais tarde ou mais cedo, acaba por transformar-se em amor (conclusão intelectual huh?). O que acontece é um romance distante mas sentido. Distante não só pela tenra idade de ambos (12) que lhes inculca no senso a proibição de instintos e pulsões sexuais (ainda que por lá perto andem numa fase), mas também pela diferença anatómica que não permite a reprodução (Oskar aperceber-se-á disto como testemunha ocular). Sentido porque na reciprocidade da amizade, defendem-se mutuamente dos ataques: ela por encorajar à vingança perante a opressão escolar e libertar Oskar da ultima provação realizada pelos colegas numa das cenas visualmente mais espectaculares do filme e, ele, por apagar, por assim dizer, o cadastro de homicídios na comunidade que Eli realiza para obter o sangue de que necessita. Sangue este que, até à morte do padastro de Eli, era obtido por este através de assassinatos pouco ortodoxos que reflectem mais uma vez a alternância, elegância de espírito num tema cada vez mais regulado por códices previsíveis como é o horror – que, acaba por dar a sua vida depois de ter sido hospitalizado devido a um acto racional suicida, para que não o ligassem e descobrissem a “criança assassina” na sua casa, acusado seria de cumplicidade.


Fora desta linguagem desgastante que pouco me agrada avaliar, tecnicamente a produção é soberba. Um drama que origina visualmente maquilhado pelo realismo poético um romance premido pela imagética da melhor escola do gore e horror actual francês, conceptualmente filmado de forma hipnótica em consulta omnipresente ao fade/focus da objectiva, entrelaçando, destacando ou ignorando planos pelo blur, com a composição de imagem, mais uma vez de forma omnipresente, a concretizar-se nos close-ups de perfis, bustos e 1/3 do motivo – humano ou cénico. Tudo isto e um mise-en-scène cuidadoso une emblematicamente o titulo, singulariza, embeleza drasticamente e atira-o quase para percepção first person e, ao faze-lo, abre portas à imaginação e originalidade da realização, que não deixou escapar a oportunidade e criou algumas das cenas mais fortes e invulgares no horror dos últimos anos, cedendo para isso à estupenda narrativa efeitos colaterais de forte impacto visual terrifico em contraposição ao andamento natural slow-paced do titulo.
Detentor de um argumento forte, de personagens exemplarmente construídas com anexos ricos de interpretação pelo espectador e que cimentam a enorme qualidade do guião (o sistema de comunicação criado entre Eli e Oskar nas paredes do apartamento é apenas um), possuí um desenrole enérgico mas subtilmente sereno, silencioso ofegante que fervilha emotivamente na relação estóica entre Oskar e Eli, padronizada como um conto de fadas depressivo. O filme respira por si só desde o primeiro segundo diante metodologia glicérica, característico da plasticidade visual do cinema nórdico, apoiado em LTROI pelas paisagens encobertas pela neve que proporcionam momentos de grande beleza, de extremo bom gosto e o aspecto noir intermitente oferece ao elenco o melhor ambiente para um progresso moroso, recheado de cenas únicas que prosperam no imaginário do espectador por tempo indefinido, muito longe de clichés imperantes, nobres, que se prolongam na mente com recompensas thriller, bónus gore e extras românticos. Interpretações amplas, talentosas, espontâneas dirigidas pelas coordenadas do que melhor existe no cinema indie actual, garantem um lugar muito especial na 7ª arte a "Let The Right One In".

Classificação - 5 Estrelas Em 5