Com Taylor Kitsch, Dominic West, Mark Strong
A Walt Disney Pictures gastou trezentos milhões de dólares na produção e promoção deste “John Carter”, um estiloso blockbuster de ficção científica que foi criado para ser tão bom e tão bem-sucedido como “Avatar” ou a “Star Wars Saga”, no entanto, uma série de inacreditáveis falhas ao nível da sua narrativa e elenco acabaram por ditar o fracasso qualitativo e, muito provavelmente, financeiro desta mega-produção que já é tida como o primeiro grande flop deste ano e como um dos maiores desastres comerciais desde “Speed Racer” (2008). A sua história é baseada no clássico literário “A Princess of Mars”, de Edgar Rice Burroughs, e centra-se em John Carter (Taylor Kitsch), um veterano de Guerra Civil Norte-Americana, que é inexplicavelmente transportado para Marte (Barsoom) onde, e ainda que relutantemente, é envolvido num conflito de proporções épicas entre as duas principais cidades do planeta – Helium e Zodanga. Num mundo à beira do colapso, Carter redescobre a sua humanidade quando percebe que a sobrevivência de Barsoom e do seu povo está nas suas mãos.
Os filmes de ficção científica não têm que ser realistas mas têm que ter um conteúdo minimamente cativante e robusto que consiga envolver e motivar os espectadores a se interessarem pela sua história. Um dos maiores defeitos de “John Carter” reside precisamente na sua inabilidade de prender o público à sua limitada trama que deixa demasiadas coisas em aberto e que se torna, em certas alturas, um bocado ridícula e confusa devido em grande parte às extravagantes explicações cientificas e mitológicas sobre o funcionamento ou relevância de certos elementos místicos da cultura marciana e ao facto de nunca conseguirmos compreender muito bem o que é que os verdadeiros vilões do filme – Therns – são e o que esperam conseguir com os seus elaborados e intricados planos. As motivações dos vilões não são, infelizmente, o único elemento do seu enredo a ser afectado por uma clara falta de coerência e de informações concretas, porque outros momentos fulcrais do filme também sofrem do mesmo mal, diminuindo assim drasticamente o valor e o nível de entretenimento deste filme porque ninguém gosta de ver uma obra que não compreende ou que esteja cheia de lacunas. A construção narrativa dos seus vários intervenientes também está cheia de falhas que também contribuem para o alienamento da atenção e interesse do espectador, sendo de destacar o fraco desenvolvimento romântico e emocional do casal maravilha – John Carter e Dejah Thoris (Lynn Collins) - ou o facto de o passado de John Carter nunca ser abordado com muito detalhe, algo que nos impede de simpatizar com os seus dilemas ou compreender algumas das suas atitudes. É claro que a isto tudo temos que somar os inevitáveis clichés românticos e/ou comerciais que aparecem em quase todos as grandes produções de Hollywood e que estão bem presentes em "John Carter". A sua conclusão não é melhor ou mais cativante que o seu desenvolvimento, muito embora, tenha uma clássica batalha final que infelizmente é intercalada por dois casamentos desprovidos de qualquer emoção e uma mais que previsível reviravolta que abre as portas para uma continuação, que só deverá acontecer se a Walt Disney não tiver amor ao dinheiro ou mudar drasticamente o rumo e essência deste franchise.
O seu argumento deixa muito a desejar mas felizmente há alguns elementos de interesse em “John Carter”, nomeadamente a sua deslumbrante estética e audaciosa vertente sonora que não o salvam da mediocridade, mas que acabam por evitar um desastre ainda maior. Andrew Stanton deu o seu melhor e criou uma variedade de maravilhosos cenários e uma série de intensas cenas de acção que são ilustradas por deslumbrantes efeitos visuais que reforçam o elevado nível de entretimento das batalhas físicas e aéreas que envolvem John Carter e os seus aliados. As várias criaturas monstruosas que vão aparecendo ao longo do filme também têm uma construção gráfica muito pormenorizada e sumptuosa, sendo de destacar o visual dos Tharks. Entre a mediocridade da sua história e a excelência dos seus elementos técnicos encontramos o seu elenco, um misto de boas e más escolhas que não conta com nenhum actor de relevo que consiga atrair e cativar as massas. Eu não tenho nada contra Taylor Kitsch e até o acho um actor relativamente talentoso e interessante que até tem um bom trabalho nesta obra, no entanto, ele não tem a fama nem o carisma necessários para protagonizar um blockbuster desta dimensão que, no meu entender, necessitava de um actor estabelecido e apreciado pelo grande público, ou seja, um astro como Robert Downey Jr. em “Iron Man” ou Hugh Jackman em “X-Men”, dois actores que arrastam multidões e sobressaem no meio dos efeitos visuais dos seus respetivos filmes. Ao nível do elenco secundário, Lynn Collins está bem como a atrativa beldade da história, mas Dominic West e Mark Strong não convencem como vilões. Willem Dafoe, Samantha Morton e Thomas Haden Church cumprem a sua função ao emprestarem a sua voz aos três principais elementos dos Tharks. É difícil de recomendar “John Carter” a alguém que aprecie um filme com pés e cabeça, mas se apenas estiver interessado num excelente festival de acção e efeitos visuais/ sonoros, então este é um blockbuster que não pode perder.
Classificação - 2,5 Estrelas Em 5