O tratamento artístico da violência nunca me deixa indiferente, contudo raras vezes me repugnou tanto como o modo como é feito neste filme. O polémico argentino Gaspar Noé considera que em arte não há pornografia, tudo é permitido, tudo é manobrável. Eu contraponho que assim pode ser mas que o resultado desse percurso não é muitas vezes mais do que delírios do seu autor e não arte como se pretende.
O filme em questão conta a história de uma violação, de um triângulo amoroso, e de uma vingança. Tudo se passa numa única noite em cenários dantescos do submundo gay parisiense, em espaços claustrofóbicos, onde, como pretensiosamente a sinopse do filme anuncia, se mistura sangue e sémen. O argumento é débil, as personagens são delineadas pela sua sexualidade e pelo uso que fazem dela sem grandes elaborações, o crime e a vingança são de uma violência extrema mas pouco verosímeis. O maior investimento na narrativa é a manipulação do tempo da acção que nos é apresentada do fim para o início em episódios ligados por uma lógica de causa-efeito. O facto de a consequência nos ser apresentada antes que o acontecimento que a provocou exige um esforço intelectual do espectador, jogando com as suas expectativas, mas não vai além da linearidade invertida o que a partir de determinado momento torna tudo bastante previsível. O filme reaproveita pontualmente a personagem do Talhante que Noé criara nas suas obras anteriores, a curta Carne e o filme Seul contre tous.
O filme foi nomeado para a Palma de Ouro que, a meu ver, justissimamente não ganhou. Pouco nesta obra vai para além do exercício, da experiência, sem um resultado palpável e consistente. Tudo está pegajosamente impregnado de uma sexualidade repulsiva e de uma visão muito negativa dos circuitos homossexuais. O filme está disponível em DVD numa edição StudioCanal.
Classificação - 2,5 Estrelas Em 5