Realizado por Jon Favreau
Com Robert Downey Jr., Don Cheadle, Gwyneth Paltrow, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Mickey Rourke, Samuel L. Jackson
Quando “Iron Man” estreou na Primavera de 2008, as expectativas em relação à qualidade do filme eram consideravelmente baixas. Ainda antes desse projecto entrar em fase oficial de produção, os responsáveis da Paramount Pictures – estúdio financiador do projecto – tomavam duas decisões invulgarmente arriscadas e que deixavam a comunidade cinéfila sem saber o que esperar da adaptação deste super-herói da Marvel. Jon Favreau – actor relativamente conhecido, mas sem grande experiência na área da realização – era o escolhido para dirigir uma obra de orçamento elevado e o controverso (e até então afastado da glória do estrelato) Robert Downey Jr. era o eleito para encarnar o playboy milionário transformado em herói Tony Stark. Downey Jr. acabava de sair de um período conturbado da sua carreira (período marcado pela dependência de drogas e consequente rebeldia) e muitos achavam que não teria estofo para açambarcar aos ombros o peso de interpretar a personagem principal de um blockbuster norte-americano. Conjuntamente com o facto de o Homem de Ferro não ser uma das personagens mais conhecidas e aclamadas do universo Marvel, a película parecia estar destinada a um ribombante fracasso. Porém, para agradável surpresa de todos os cinéfilos, a equipa de produção não prestou atenção ao alarido e deu à luz um dos filmes mais refrescantes, dinâmicos e divertidos dos últimos anos. Começando nos assombrosos efeitos especiais e acabando na maravilhosa química entre todo o elenco, “Iron Man” depressa se tornou um dos filmes mais acarinhados de 2008. E, brilhantemente interpretando a louca, narcisista e descontraída personagem de Tony Stark, Robert Downey Jr. fez esquecer o seu passado polémico, saltando para a ribalta de Hollywood como um dos mais competentes e conceituados actores da actualidade.
Dois anos depois, como facilmente se compreende, as expectativas para com a inevitável sequela passaram a ser muito mais elevadas. Com “Iron Man 2”, os espectadores de todo o mundo desejavam voltar a viver uma grande aventura ao lado de Tony Stark, Pepper Potts (Paltrow), o coronel Rhodes (agora interpretado por Don Cheadle, após abandono de Terrence Howard) e os demais. Aquilo que posso dizer é que tais expectativas dificilmente serão defraudadas. “Iron Man 2” em nada fica a dever ao original. A fórmula de sucesso do primeiro filme volta a funcionar por inteiro nesta sequela onde, ao longo de duas horas, somos presenteados com uma história que, embora pautada por alguns detalhes mal elaborados, consegue ser imensamente criativa, dinâmica, divertida e com vistosas sequências de acção para todos os gostos.
No início do filme, Tony Stark vive o período mais áureo da sua vida. Sozinho e graças ao seu ultra-moderno fato de guerra indestrutível, Stark consegue privatizar a segurança mundial e todos parecem adorá-lo. Todos… menos o governo dos Estados Unidos da América. Não concordando com esta privatização da segurança e, acima de tudo, não confiando no estouvado e arrojado milionário, o governo exige que ele deixe de combater o terrorismo por conta própria e partilhe com eles os segredos da física que lhe permitiram construir o glorioso fato de ferro. Sedentos de poder, os militares não vêem o dia de pôr as mãos num equipamento que lhes garantiria domínio absoluto sobre todos os países do mundo. Para além disso, eles temem que esses segredos caiam nas mãos erradas e que os inimigos da América comecem a reforçar os seus exércitos com este glorioso armamento. Porém, Stark defende-se sob o argumento de que, pelo menos tão cedo, ninguém no mundo deteria os meios necessários para construir um fato como o dele e recusa-se a partilhar a sua glória com o governo. Mas Stark estava enganado. Do outro lado da Terra, nos frios terrenos de Moscovo, Ivan Vanko (Rourke) – um físico russo crescido num ambiente de cortar à faca – criava um fato igualmente digno de respeito e preparava-se para abordar o Homem de Ferro da pior das maneiras. Perante este novo inimigo, Stark terá de contar com a ajuda do seu amigo Rhodes e de uma misteriosa agente chamada Natalie Rushman (Johansson) para evitar uma catástrofe em solo americano. E tudo isto enquanto descobre que o plutónio que alimenta o fato e o mantém vivo está, igualmente, a causar-lhe danos irreparáveis no corpo.
“Iron Man 2” cumpre os seus objectivos principais. Os espectadores mais ávidos que ainda não tenham visto o filme podem dormir descansados. Esta segunda entrega do Homem de Ferro respira doses elevadas do mais puro entretenimento e apresenta-nos algumas sequências de cortar a respiração. Mas, curiosamente, o ponto forte do filme não está nos efeitos especiais. “Iron Man 2” é um grande blockbuster de Hollywood mas, ao contrário de muitos outros, não depende inteiramente das sequências de acção para cativar o espectador. De facto, na minha opinião, até acho que a acção (apesar de deslumbrante) é diminuta e o herói acaba por não passar por desafios verdadeiramente perigosos, estimulantes e dignos de um super-herói. Nota-se que os produtores quiseram, desta vez, confrontar o herói com um vilão de carne e osso e duro de roer. Porém, apesar dos valorosos esforços de Rourke, sente-se que tudo acaba por ser demasiado fácil para o indestrutível e inabalável Homem de Ferro.
Curiosamente, o ponto forte do filme reside, sem sombra de dúvida, no fantástico elenco e na maravilhosa química entre os diversos actores. Em certos pontos da película, sentimo-nos como se estivéssemos de volta ao universo de Danny Ocean criado por Steven Soderbergh. A química e a sensação de puro divertimento entre os actores alcançam mesmo esse nível de grandiosidade. E isto é algo que só beneficia o filme e o resultado que desabrocha no final. Downey Jr. está, mais uma vez, brilhante na interpretação de Tony Stark e todo o elenco cumpre o seu papel na perfeição. Destaque também para uma banda-sonora repartida entre trechos da banda AC/DC e vibrantes partituras do compositor John Debney, que encaixam perfeitamente na alma épica mas, ao mesmo tempo, descontraída do filme. Só não achei grande piada à forma algo desconchavada como os alter-egos das personagens de Johansson e Samuel L. Jackson se revelam. Cheira a artificialismo. E acima de tudo, não gostei da explicação arranjada para Downey Jr. não conduzir o seu fato de ferro num incursão pelo mundo dos Avengers. Cheira a falhas de negociação contratual e imposição dos estúdios nos bastidores de produção.
Despretensioso, dinâmico e divertido, “Iron Man 2” acaba por ser uma sequela digna do seu antecessor. Tem os seus prós e contras, mas consegue sempre entreter e surpreender o espectador. Talvez só desiluda no facto das sequências de acção terminarem de forma demasiado rápida e branda, encerrando o filme quando ele começa a tornar-se mais interessante. Não é um portento da Sétima Arte, mas é certamente uma boa aposta para quem estiver à procura de passar um bom momento na mágica escuridão duma sala de cinema.
Classificação – 3,5 Estrelas Em 5