Realizado por Carlos Saldanha
Com Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Queen Latifah, Simon Pegg, Seann William Scott
As sequelas são o negócio da China dos grandes estúdios norte-americanos, quando um filme corre bem, ora em crítica, ora em bilheteira, mas sobretudo em bilheteira, cria-se logo uma franquicia e contratos milionários para fazer render o peixe o mais possível. A quantidade de sequelas anunciadas para os próximos anos é assustadora, principalmente nas animações, que boas ou más têm sempre pelo menos um público garantido: as crianças.
"Ice Age" (2002) foi bastante bem conseguido naquilo a que se propunha: a co-existência e inter-ajuda entre diferentes espécies num mundo gelado e agreste, com diferentes motivações mas com um único objectivo: devolver um bebé humano ao seu povo. Assim se juntaram Manny, um mamute assombrado pelo passado, Sid, a preguiça negligenciada e distraída e claramente provocadora de risos, e Diego, um tigre dentes-de-sabre, inicialmente a tentar caçar a cria de homem mas que depois se redime no final. Personagens ricas, uma demanda que as vai levar a compreender o significado de amizade e família e uma mensagem amiga do ambiente, tudo intercalado com o esquilo mais azarado do mundo em busca de uma bolota inatingível, que rapidamente se torna num dos protagonistas. "Ice Age 2: Meltdown" (2006) resolveu introduzir mais personagens e mais elementos cómicos, resultando numa trama muito mais frágil e menos densa, da qual se safava novamente o esquilo e, por outro lado, a temática do aquecimento global, tão em voga nos dias que correm, e potencialmente a força da amizade quando se trata de ultrapassar dificuldades e correr perigos.
Este "Ice Age 3: Dawn of the Dinosaurs" já era totalmente escusado, cansados de animar cenários gelados, os responsáveis pela saga resolveram descobrir, por baixo deles, todo um novo mundo colorido, cheio de cascatas e altamente arborizado, com toda uma panóplia de novas criaturas, onde os dinossauros continuaram a sua existência. Precisões científicas à parte, trata-se, no fundo, de uma excelente desculpa para desenvolver novas técnicas de animação e maravilhar o espectador com um turbilhão de cor e movimento, ainda mais se se acrescentarem grandes e prolongadas cenas de acção para um futuro jogo de vídeo. Isto tudo mascarado de filme sobre a maternidade, as responsabilidades da idade adulta, as dúvidas existenciais sobre o nosso propósito e o nosso lugar no seio de uma família. Em "Ice Age 2", as personagens já pouco tinham sido desenvolvidas; em "Ice Age 3", era complicado reavivarem a dinâmica entre elas sem ter por base uma trama sólida e apaixonante. Até as vozes dos actores parecem pouco convictas, como se elas próprias já não acreditassem naquilo que estão a dizer e a transmitir. E ao ver os nomes que dão vozes às personagens infantis, a rodagem parece mais ter sido uma festa familiar "traga o seu filho para o trabalho" do que outra coisa.
Não tendo muito por onde pegar em conteúdo nem em complexidade, as gargalhadas ficam a cargo de uma nova personagem: Buck, uma doninha com sotaque inglês perdida no mundo dos dinossauros qual lobo do mar atrás do seu Moby Dick, que nada mais é do que interessante e excêntrico. Até o esquilo é reduzido ao derradeiro chavão: seduzido e traído por uma esquila sensual que no fim o subjuga à tirania matrimonial feminina. Restam de facto os cenários ricos e a animação competente e trepidante. Mas nesta altura, pensava que os estúdios que apostam na animação já tinham percebido que um bom filme de animação não se resume a isto; pelo contrário, baseia-se num argumento consistente e em personagens fortes! A Disney não lhes ensinou nada? Até tremo ao pensar em mais Shreks, Madagáscares e Kung-Fu Pandas. E mesmo o Toy Story 3, só há esperança porque vai ser realizado por um tipo da casa com experiência. Mais do que nunca, a animação não deveria ser tomada levianamente, mas mais do que nunca, todo o cinema norte-americano o está a ser. É desolador.
Com Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Queen Latifah, Simon Pegg, Seann William Scott
As sequelas são o negócio da China dos grandes estúdios norte-americanos, quando um filme corre bem, ora em crítica, ora em bilheteira, mas sobretudo em bilheteira, cria-se logo uma franquicia e contratos milionários para fazer render o peixe o mais possível. A quantidade de sequelas anunciadas para os próximos anos é assustadora, principalmente nas animações, que boas ou más têm sempre pelo menos um público garantido: as crianças.
"Ice Age" (2002) foi bastante bem conseguido naquilo a que se propunha: a co-existência e inter-ajuda entre diferentes espécies num mundo gelado e agreste, com diferentes motivações mas com um único objectivo: devolver um bebé humano ao seu povo. Assim se juntaram Manny, um mamute assombrado pelo passado, Sid, a preguiça negligenciada e distraída e claramente provocadora de risos, e Diego, um tigre dentes-de-sabre, inicialmente a tentar caçar a cria de homem mas que depois se redime no final. Personagens ricas, uma demanda que as vai levar a compreender o significado de amizade e família e uma mensagem amiga do ambiente, tudo intercalado com o esquilo mais azarado do mundo em busca de uma bolota inatingível, que rapidamente se torna num dos protagonistas. "Ice Age 2: Meltdown" (2006) resolveu introduzir mais personagens e mais elementos cómicos, resultando numa trama muito mais frágil e menos densa, da qual se safava novamente o esquilo e, por outro lado, a temática do aquecimento global, tão em voga nos dias que correm, e potencialmente a força da amizade quando se trata de ultrapassar dificuldades e correr perigos.
Este "Ice Age 3: Dawn of the Dinosaurs" já era totalmente escusado, cansados de animar cenários gelados, os responsáveis pela saga resolveram descobrir, por baixo deles, todo um novo mundo colorido, cheio de cascatas e altamente arborizado, com toda uma panóplia de novas criaturas, onde os dinossauros continuaram a sua existência. Precisões científicas à parte, trata-se, no fundo, de uma excelente desculpa para desenvolver novas técnicas de animação e maravilhar o espectador com um turbilhão de cor e movimento, ainda mais se se acrescentarem grandes e prolongadas cenas de acção para um futuro jogo de vídeo. Isto tudo mascarado de filme sobre a maternidade, as responsabilidades da idade adulta, as dúvidas existenciais sobre o nosso propósito e o nosso lugar no seio de uma família. Em "Ice Age 2", as personagens já pouco tinham sido desenvolvidas; em "Ice Age 3", era complicado reavivarem a dinâmica entre elas sem ter por base uma trama sólida e apaixonante. Até as vozes dos actores parecem pouco convictas, como se elas próprias já não acreditassem naquilo que estão a dizer e a transmitir. E ao ver os nomes que dão vozes às personagens infantis, a rodagem parece mais ter sido uma festa familiar "traga o seu filho para o trabalho" do que outra coisa.
Não tendo muito por onde pegar em conteúdo nem em complexidade, as gargalhadas ficam a cargo de uma nova personagem: Buck, uma doninha com sotaque inglês perdida no mundo dos dinossauros qual lobo do mar atrás do seu Moby Dick, que nada mais é do que interessante e excêntrico. Até o esquilo é reduzido ao derradeiro chavão: seduzido e traído por uma esquila sensual que no fim o subjuga à tirania matrimonial feminina. Restam de facto os cenários ricos e a animação competente e trepidante. Mas nesta altura, pensava que os estúdios que apostam na animação já tinham percebido que um bom filme de animação não se resume a isto; pelo contrário, baseia-se num argumento consistente e em personagens fortes! A Disney não lhes ensinou nada? Até tremo ao pensar em mais Shreks, Madagáscares e Kung-Fu Pandas. E mesmo o Toy Story 3, só há esperança porque vai ser realizado por um tipo da casa com experiência. Mais do que nunca, a animação não deveria ser tomada levianamente, mas mais do que nunca, todo o cinema norte-americano o está a ser. É desolador.
Classificação - 2 Estrelas Em 5