Realizado por António Lopes Ribeiro
com Maria Dulce, Raul de Carvalho, João Villaret
Almeida Garrett quis dotar o teatro nacional de uma obra genuinamente portuguesa e capaz de o elevar ao nível do melhor teatro europeu, consegui-o com a verdadeira obra-prima que é a tragédia Frei Luís de Sousa. António Lopes Riberio o cineasta acusado por muitos de compactuar com o regime mas que, simultaneamente, aprendeu cinema com nomes como os de Vortov e Eisenstein, entre outros, adaptou-a ao cinema. Lopes Ribeiro já havia antes tentado a versão cinematográfica de grandes êxitos da literatura como Amor de Perdição (1943) ou de teatro como A Vizinha do Lado (1945), mas em Frei Luís de Sousa juntou o seu propósito ao do dramaturgo novecentista e criou uma obra de louvor nacionalista, que adopta a linguagem teatral da época, pesada, declamada, lenta, mas também toda a simbologia de um Portugal que reclamava a sua superioridade e valentia.
A intriga é sobejamente conhecida. D. Madalena de Vilhena (Maria Sampaio) é casada em segundas núpcias com Manuela de Sousa Coutinho (Raul de Carvalho)mas vive atormentada pela sombra do seu primeiro marido, D. João de Portugal (Barreto Poeira) que desaprecera vinte anos antes em Alcácer Quibir mas cuja memória o seu fiel escudeiro, Telmo Pais (João Villaret), não deixa morrer. A resistência de Manuel aos domiandores castelhanos levam-nos a abandonar a casa onde vivem e a refugiarem-se na morada que fora de D. João. Aí os temores de D. Madalena adensam-se bem como os de D. Maria de Noronha (Maria Dulce), a sua jovem filha que tudo pressente. Numa ausência desta e de seu pai, D. Madalena é visitada por um estranho romeiro que lhe traz novas do marido que julgava morto. Só Telmo Pais reconhece nele o seu amo feito cativeiro em Jerusalém. Conhecidos os factos, Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena, que viviam assim portanto nuam situação de bigamia, decidem abandonar o mundo que até aí conheceram e ingressar num convento. D. Maria desfeita pela ignomínia do seu nasciemnto ainda os tenta impedir mas morre entretanto.
Muito já se escreveu sobre este texto, nomeadaemnte sobre quem é de facto o protagonista da tragédia . O que tenho a acrescentar a esse debate é a hipocrisia moral vigente na obra disfarçada de grande honradez. D. Madalena receia a Deus, teme o seu castigo, é por isso que ao saber-se bígama opta por ingressar num convento, ora recear não é amar. Não é um Deus bom que preside aos destinos destas personagens, nem é o amor a Ele que as move, é o medo. Ainda assim, é compreensível o sentido de actualidade que esta obra ganha em 1950, louvando os bons valores lusitanos, dotando o cinema nacional de mais uma obra emblemática da grandiosidade da nação. Mesmo sendo um documento fundamental do cinema português e o uma obra didática louvável, o seu ritmo lento, os diálogos declamados, a monotonia dos cenários tornam-na um filme pesado para o espectadores contemporâneos habituados a outros recursos narrativos. O filme está disponível em DVD numa versão restaurada pela Cinemateca Portuguesa numa edição Lisboa Filme.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5