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terça-feira, 20 de julho de 2010

Crítica – Cidade de Deus (2002)

Realizado por Fernando Meirelles e Kátia Lund
Com Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino, Phellipe Haagensen

Realizado a partira da obra homónima de Paulo Lins, Cidade de Deus narra a vida dentro da enorme favela do Rio de Janeiro, acompanhando o percurso de diversas personagens que se vão encontrando e reencontrando naquele universo de crime organizado tão intrincado como as ruas da própria cidade. Seguindo de perto a personagem de Buscapé (Alexandre Rodrigues), um rapaz que tenta a todo o custo manter-se honesto e lutar pelo seu sonho de ser fotógrafo de rua, vamos assistindo com ele à progressivo domínio de toda a favela por ZéPequeno (Leandro Firmino), traficante de droga , e rival de Sandro Cenoura (Matheus Nachtergaele), chefe de outra organização de traficantes que domina parte da Cidade de Deus. Assistimos a rivalidade ainda por amor, à tentativa de viver com normalidade numa comunidade que passou para lá da fronteira dos valores morais, onde a vida não tem qualquer importância, onde as crianças andam armadas, mas dentro da qual, por curiosos princípios, não pode haver roubos.


O cinema de Meirelles, revelado internacionalmente por esta obra, é extraordinariamente cruel, chocante mesmo, mas prima - e este filme é fabuloso nisso – pela fórmula narrativa muito original. O modo como o fio narrativo é conduzido, acompanhando e largando personagens para as recuperar mais adiante, o uso de flashbacks para explicar a razão de ser de determinado facto, a inversão da ordem dos factores, conta, sem se perder o fluxo narrativo, uma história como quem a evoca da memória e vai revelando os factos à medida que eles se tornam pertinentes e não por uma insignificante ordem cronológica. O uso de diferentes velocidades na edição de imagem manipula também com malvadez quase a atenção do espectador. As interpretações das crianças e dos actores muito jovens é absolutamente credível e as personagens que encarnam muito complexas. A história baseia-se em vidas reais e passa-se durante os anos 60, mas isso não é relevante, relevante é o banho de sangue, a morte sem sentimentos, a vingança, a vertigem alucinada do tráfico de drogas e de armas pelo qual tudo se faz, tudo é legítimo, contando mesmo com o envolvimento da polícia. Ainda que os filmes de cariz social brasileiros já cansem, Cidade de Deus é uma pequena pérola narrativa se pérola se pode chamar a uma história tão bárbara. O filme foi nomeado para os Óscares de Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Edição de Imagem mas não recebeu nenhum destes galardões.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5