Realizado por Marco Martins
Com Nuno Lopes, Beatriz Batarda e Miguel Guilherme
O melhor filme português de todos os tempos. Uma pérola escondida que se liberta das profundas entranhas trágicas do cinema português. Finalmente alguém teve a coragem de fazer algo diferente (eu diria mesmo algo com cabeça, tronco e membros) na cinematografia portuguesa. Felizmente nasceu Marco Martins para o mundo do cinema.
Realizador ainda bastante jovem (“Alice” foi a sua primeira longa-metragem), Marco Martins escreveu e realizou um filme brilhante, que ficará para sempre na História do cinema português, bem como nas nossas memórias mais agradáveis. Deve ter sido a primeira vez que eu vi um trailer de um filme português que NÃO enviasse a seguinte mensagem implícita ao público: “Por favor não vejam este filme; ele é demasiado mau para ser verdade…”. Pelo contrário, o trailer despertava curiosidade, mostrava alguma qualidade e conseguia chamar público às salas (mas que fenómeno estranho seria este no cinema português? Uma apresentação de um filme em que eu consigo perceber minimamente aquilo de que a história trata? Hmm, deve ser mentira). Mas não! Era verdade! E assim sendo, fui ver o filme ao cinema com verdadeiro entusiasmo e saí da sala completamente pasmado. Estaria a sonhar? Belisquei-me e vi que não estava a sonhar. Tinha mesmo acabado de ver um filme português que era um dos melhores filmes do ano; um dos melhores filmes de sempre! Foi a partir daí que comecei a acreditar que era possível fazer bom cinema em Portugal. O filme aborda o desespero e a angústia de um casal que vive sofregamente com o desaparecimento da sua única filha, e tenta a todo o custo manter viva a esperança de que é possível encontrá-la e tê-la de novo nos seus braços. Se não com a ajuda da polícia, então através de meios pessoais.
Extremamente bem filmado, com uma storyline bem ao estilo americano (em vez da habitual esquizofrenia portuguesa), com uma fotografia escura, fria e pesada mas bela, e uma banda sonora (composta por Bernardo Sassetti) que nos assombra pela sua triste beleza, “Alice” é um grande filme. Uma grande obra cinematográfica. Por vezes o filme pode parecer muito parado e ter um ritmo lento; mas isso é propositado para demonstrar a metáfora da solidão, da melancolia, da rotina e do desespero. As interpretações dos actores são absolutamente fenomenais (sim, existem bons actores em Portugal! Eles têm é que ser bem escolhidos). Nuno Lopes foi a grande revelação da representação a nível dramático (dado que antes só o havíamos visto em alguns sketches cómicos de Herman José) e que grande actuação ele nos oferece! Encarnando na perfeição o papel de um pai desesperado, um pai que está disposto a abdicar de tudo (até da própria vida) para simplesmente encontrar a sua menina perdida, Nuno Lopes afirmou-se como sendo um verdadeiro actor. Quanto a Beatriz Batarda, só se pode dizer uma coisa: ela é muito provavelmente a melhor actriz portuguesa da actualidade e talvez de sempre (conjuntamente com Maria de Medeiros). A sua interpretação mostra-nos a verdadeira face de uma mulher destruída, uma mulher sem esperança e sem vida, Miguel Guilherme cumpre também o seu papel com profissionalismo e competência. Por fim, a história está muito bem contada, os níveis dramáticos estão sempre ao rubro e a sequência final do filme quase nos faz berrar para o ecrã e correr com o protagonista. Um verdadeiro filme dramático, carregado de emoções poderosas.
“Alice” venceu alguns prémios (nacionais e internacionais), dos quais se destaca o prémio Prix Regards Jeune do festival de Cannes para Marco Martins. Sinceramente, cheguei mesmo a esperar (pela primeira vez na minha vida) que o filme fosse nomeado para os Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Infelizmente não foi e acho que bem merecia. Mas enfim, os Oscar envolvem também muitos interesses políticos e Portugal continua a ser um país bem pequenino. Numa era em que cada vez mais surgem casos como este, de crianças desaparecidas e raptadas (como o caso bem mediático e bem recente de Madeleine McCann), o filme é obrigatório e termina com uma mensagem sublime mas bem demarcada: por mais que a esperança seja escassa, nunca devemos desistir e deixar de perseguir os nossos objectivos. Com tudo dito, o meu único lamento é que no mesmo ano de lançamento deste filme, o filme português mais visto no cinema tenho sido “O Crime do Padre Amaro”… Ter a Soraia Chaves nua em quase ¾ da película tem os seus frutos e os produtores portugueses sabem disso. Chamem-lhes burros. Triste, angustiante, belo e brilhante. Assim é “Alice”.
Com Nuno Lopes, Beatriz Batarda e Miguel Guilherme
O melhor filme português de todos os tempos. Uma pérola escondida que se liberta das profundas entranhas trágicas do cinema português. Finalmente alguém teve a coragem de fazer algo diferente (eu diria mesmo algo com cabeça, tronco e membros) na cinematografia portuguesa. Felizmente nasceu Marco Martins para o mundo do cinema.
Realizador ainda bastante jovem (“Alice” foi a sua primeira longa-metragem), Marco Martins escreveu e realizou um filme brilhante, que ficará para sempre na História do cinema português, bem como nas nossas memórias mais agradáveis. Deve ter sido a primeira vez que eu vi um trailer de um filme português que NÃO enviasse a seguinte mensagem implícita ao público: “Por favor não vejam este filme; ele é demasiado mau para ser verdade…”. Pelo contrário, o trailer despertava curiosidade, mostrava alguma qualidade e conseguia chamar público às salas (mas que fenómeno estranho seria este no cinema português? Uma apresentação de um filme em que eu consigo perceber minimamente aquilo de que a história trata? Hmm, deve ser mentira). Mas não! Era verdade! E assim sendo, fui ver o filme ao cinema com verdadeiro entusiasmo e saí da sala completamente pasmado. Estaria a sonhar? Belisquei-me e vi que não estava a sonhar. Tinha mesmo acabado de ver um filme português que era um dos melhores filmes do ano; um dos melhores filmes de sempre! Foi a partir daí que comecei a acreditar que era possível fazer bom cinema em Portugal. O filme aborda o desespero e a angústia de um casal que vive sofregamente com o desaparecimento da sua única filha, e tenta a todo o custo manter viva a esperança de que é possível encontrá-la e tê-la de novo nos seus braços. Se não com a ajuda da polícia, então através de meios pessoais.
Extremamente bem filmado, com uma storyline bem ao estilo americano (em vez da habitual esquizofrenia portuguesa), com uma fotografia escura, fria e pesada mas bela, e uma banda sonora (composta por Bernardo Sassetti) que nos assombra pela sua triste beleza, “Alice” é um grande filme. Uma grande obra cinematográfica. Por vezes o filme pode parecer muito parado e ter um ritmo lento; mas isso é propositado para demonstrar a metáfora da solidão, da melancolia, da rotina e do desespero. As interpretações dos actores são absolutamente fenomenais (sim, existem bons actores em Portugal! Eles têm é que ser bem escolhidos). Nuno Lopes foi a grande revelação da representação a nível dramático (dado que antes só o havíamos visto em alguns sketches cómicos de Herman José) e que grande actuação ele nos oferece! Encarnando na perfeição o papel de um pai desesperado, um pai que está disposto a abdicar de tudo (até da própria vida) para simplesmente encontrar a sua menina perdida, Nuno Lopes afirmou-se como sendo um verdadeiro actor. Quanto a Beatriz Batarda, só se pode dizer uma coisa: ela é muito provavelmente a melhor actriz portuguesa da actualidade e talvez de sempre (conjuntamente com Maria de Medeiros). A sua interpretação mostra-nos a verdadeira face de uma mulher destruída, uma mulher sem esperança e sem vida, Miguel Guilherme cumpre também o seu papel com profissionalismo e competência. Por fim, a história está muito bem contada, os níveis dramáticos estão sempre ao rubro e a sequência final do filme quase nos faz berrar para o ecrã e correr com o protagonista. Um verdadeiro filme dramático, carregado de emoções poderosas.
“Alice” venceu alguns prémios (nacionais e internacionais), dos quais se destaca o prémio Prix Regards Jeune do festival de Cannes para Marco Martins. Sinceramente, cheguei mesmo a esperar (pela primeira vez na minha vida) que o filme fosse nomeado para os Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Infelizmente não foi e acho que bem merecia. Mas enfim, os Oscar envolvem também muitos interesses políticos e Portugal continua a ser um país bem pequenino. Numa era em que cada vez mais surgem casos como este, de crianças desaparecidas e raptadas (como o caso bem mediático e bem recente de Madeleine McCann), o filme é obrigatório e termina com uma mensagem sublime mas bem demarcada: por mais que a esperança seja escassa, nunca devemos desistir e deixar de perseguir os nossos objectivos. Com tudo dito, o meu único lamento é que no mesmo ano de lançamento deste filme, o filme português mais visto no cinema tenho sido “O Crime do Padre Amaro”… Ter a Soraia Chaves nua em quase ¾ da película tem os seus frutos e os produtores portugueses sabem disso. Chamem-lhes burros. Triste, angustiante, belo e brilhante. Assim é “Alice”.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5