domingo, 29 de abril de 2012

Crítica - The Avengers (2012)

 
Realizado por Joss Whedon
Com Robert Downey Jr., Chris Evans, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Mark Ruffalo, Jeremy Renner

Durante muito tempo, o projeto cinematográfico “The Avengers” não passou de uma miragem ao fundo de um longo e árido deserto ardente. E porquê? Porque seria extremamente difícil reunir meia-dúzia de super-heróis mais conhecidos que o tremoço numa só película. Para começar, o orçamento teria de ser estratosférico, pois imagine-se o que é ter de pagar os honorários milionários de um elenco recheado de estrelas (algumas mais que estabelecidas na alta-roda de Hollywood, outras em clara ascensão meteórica). Depois, para que a coisa funcionasse devidamente, seria necessário apostar forte em filmes individuais de cada um dos super-heróis envolvidos no projeto, o que implicaria gastar toneladas de dinheiro em plena era de crise económica à escala mundial. E por fim, seria preciso encontrar um espaço de tempo em que todas as estrelas do elenco estivessem disponíveis para filmar este projeto. Facilmente se consegue imaginar a grande dor de cabeça que advém de cada uma destas contrariedades. Porém, seja pela certeza de que tudo iria correr da melhor maneira, seja pela opulência que lhe permite brincar com muitos milhões de dólares, a Marvel optou por não desistir deste autêntico projeto de sonho, fazendo tudo o que estava ao seu alcance para transformar “The Avengers” num dos maiores sucessos comerciais de todos os tempos. E a verdade é que tudo parece ter resultado da melhor forma, já que a obra de Joss Whedon possui todos os condimentos para agradar a miúdos e graúdos, prometendo dar boa luta a películas como “The Dark Knight Rises” e “The Amazing Spider-Man” na disputa pelo título de maior blockbuster do ano.

   

Partindo do ponto em que “Thor”, “Captain America – The First Avenger”, “Iron-Man 2” e “The Incredible Hulk” haviam terminado, “The Avengers” inicia-se com a chegada à Terra do venenoso e sedento de poder Loki (Tom Hiddleston), o irmão adotado do deus nórdico Thor (Chris Hemsworth). Sentindo-se encorajado pela aliança feita com uma nova e perigosa raça de alienígenas, Loki não hesita em passar por cima de todos os que se atrevem a enfrentá-lo na demanda pelo Tesseract, um cubo de propriedades mágicas que permite ao seu utilizador abrir portais para entrar em contacto com outras galáxias distantes. Sendo incapaz de conquistar a Terra sozinho, Loki procura o Tesseract para despoletar uma invasão alienígena e espalhar o caos e a guerra um pouco por todo o lado. Porém, a sua tarefa não se afigura fácil, já que a S.H.I.E.L.D. e o seu diretor Nick Fury (Samuel L. Jackson) tudo fazem para impedir que o cubo mágico acabe nas mãos do deus maléfico. Mas confrontado com o maior inimigo que alguma vez enfrentou, Fury depressa se apercebe que não terá a mínima hipótese de sucesso se não contar com a ajuda de um grupo de indivíduos muito especiais. Assim entram em cena o Iron-Man de Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Captain America de Steve Rogers (Chris Evans), o Hulk do Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo) e o regressado Thor, deus do trovão. Com a união destes quatro talentosos super-heróis, a Terra parece estar no caminho certo para a salvação. Mas poderá o ego elevado de cada um deles comprometer a missão de salvamento?

 

Curiosamente, o que se afigurava como a maior pedra no sapato deste projeto cinematográfico acaba por ser o seu maior trunfo. A priori, praticamente todos concordavam que o maior desafio de Joss Whedon passava por conferir o mesmo nível de importância a todos os super-heróis, fazendo com que nenhum assumisse um papel de maior relevo sobre os outros e apresentando assim uma narrativa mais natural e menos afetada por exigências contratuais prévias. Com tantas estrelas juntas numa só película, adivinhava-se uma autêntica batalha pelo foco das câmaras nos momentos-chave da narrativa. E como é que Whedon transpôs este problema sério? Agarrando-o pelos cornos em vez de fugir dele, inserindo-o na própria narrativa e tornando-o um dos pontos fundamentais da mesma. De facto, é a dinâmica cheia de atritos entre os quatro super-heróis que torna a narrativa tão divertida e apetecível. Ver Iron-Man, Thor, Captain America e Hulk a batalharem todos juntos no grande ecrã é já de si uma imagem forte e carregada de impacto (físico e emocional). Mas vê-los a trocar provocações e galhardetes repletos de sarcasmo é uma autêntica delícia. Em termos visuais, “The Avengers” é tudo aquilo que se esperava: absolutamente espetacular. A batalha final é tão eletrizante que quase vale pelo filme inteiro, comprovando que os efeitos visuais estão cada vez mais próximos da perfeição e que Whedon não vacilou no momento da verdade. Felizmente, porém, “The Avengers” não vale só pela ação, afirmando-se como uma obra bem divertida e inteligente quanto baste para fazer as delícias dos fãs da Marvel. O humor percorre a película com excelsa naturalidade, e só é pena que muitos dos momentos cómicos se façam à custa de Loki, enfraquecendo a sua imagem enquanto vilão à altura de um acontecimento destes.

   

De facto, muito se tem falado da credibilidade de Loki enquanto vilão máximo desta obra megalómana. Alguns acham-lhe piada. Outros acham que ele não passa de um saco de pancada, deixando algo a desejar. A verdade é que Loki sempre foi um vilão mais psicológico do que físico, primando mais pela sua língua venenosa e pelos seus esquemas maquiavélicos do que pelos músculos enormes ou surpreendentes dotes de batalha. Loki não deixa então de ser um vilão interessante, na medida em que dá a entender que tem sempre um trunfo escondido na manga. Fazendo uma comparação que muitos acharão grosseira, ele acaba por desempenhar um papel muito semelhante ao Joker de “The Dark Knight”, chegando mesmo a causar arrepios nalgumas cenas de maior tensão dramática. Contudo, é verdade que a sua imagem de vilão credível se desgasta com as inúmeras tiradas cómicas de que é alvo ao longo da película. Talvez Whedon tenha abusado um pouco disso, mas também não é por aí que o filme fracassa. Quando muito, o filme perde alguns pontos por se contentar em não ser mais do que um produto de mero entretenimento, demonstrando alguns atalhos narrativos que o fragilizam levemente, assim como algumas infantilidades próprias de uma obra para maiores de doze anos. Não estamos, portanto, a falar do melhor filme de todos os tempos, nem sequer de uma obra que vai revolucionar a indústria. Estamos, sim, a falar de uma obra que cumpre os objetivos a que se propôs, encantando miúdos e entretendo graúdos com as suas duas horas e meia de ação explosiva. Resumindo e concluindo, “The Avengers” é pura diversão, mas pouco mais que isso.

 Classificação -3,5 Estrelas em 5

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