A última entrevista que fizemos no âmbito do lançamento nacional de "Florbela" foi ao realizador deste fantástico filme, Vicente Alves do Ó, um talentoso cineasta e uma das maiores promessas do cinema nacional que nos explicou o que o levou a fazer esta cinebiografia e como escolheu o seu elenco. Vicente Alves do Ó também nos falou sobre a mini-série "Perdidamente Florbela" que vai ser exibida em breve na RTP1, e da possibilidade de "Florbela" ser exibido num festival internacional. "Florbela" é claramente um filme a não perder e já se encontra em exibição nas salas de cinema portuguesas.
Pergunta: A primeira pergunta é uma das mais básicas, mas também uma das mais importantes para os nossos leitores. O que o levou a fazer um filme sobre Florbela Espanca?
Resposta: Queria trazer para o grande ecrã uma mulher e poeta esquecida, relegada para segundo plano, engavetada em clichés. E porque adoro poesia, sou alentejano e não vivo bem o preconceito, achei que a Florbela era o assunto ideal para fazer um segundo filme: um desafio e uma justa homenagem a um nome de referência no meu crescimento.
Pergunta: Quais foram as maiores dificuldades que encontrou durante o processo de criação e produção deste filme?
Resposta: Na criação foi não cair em tentação de querer contar tudo. O tempo do cinema é muito diferente do tempo da literatura. Ou seja, ao abarcar a vida toda corria o risco de apenas enumerar acontecimentos, como se olhasse para uma estátua. Era a mulher e a sua complexidade que me interessava filmar. As suas falhas, os seus erros, as suas sensibilidades, a sua força interior, o seu fascínio. Para isso tinha que encontrar o tempo do cinema no tempo da vida e encontrei naqueles 4 dias em Lisboa, o coração do filme. Na produção e tratando-se de um filme de época, o dinheiro é sempre pouco, mas ainda assim, como muita imaginação, conseguimos vencer todos os obstáculos. Acima de tudo, precisava de um hidroavião e quando o encontrei percebi que podia continuar.
Pergunta: Como descreveria Florbela Espanca numa frase?
Resposta: Florbela Espanca personifica toda a fragilidade portuguesa que teimamos em esconder.
Pergunta: Foi difícil de escolher o elenco de “Florbela”? Dalila Carmo foi a sua primeira escolha para dar vida a Florbela Espanca? O que o levou a fazer esta escolha?
Pergunta: A Dalila era uma escolha óbvia na minha cabeça. Pelo talento enorme e pela beleza, pela disponibilidade e generosidade. Isso era ponto assente. Acho que sem Dalila, o projecto teria levado mais tempo no processo de escrita. O resto do elenco construiu-se a pouco e pouco. Mas sabia que o Ivo Canelas, a Rita loureiro, o António Fonseca e a Carmen Santos iriam entrar. Não sabia como ( tirando o António que foi também e logo a escolha inicial para o pai), mas sabia que iriam.
Pergunta: Como acha que “Florbela” se vai sair nas bilheteiras nacionais? Acha que vai conseguir superar os 20.000 espectadores que “Sangue do Meu Sangue” obteve o ano passado?
Resposta: Espero, acima de tudo, que o filme esteja em cartaz tempo suficiente para os portugueses puderem ir vê-lo.
Pergunta: A RTP1 vai exibir uma mini-série que deriva de “Florbela”. O que nos pode dizer sobre este projecto?
Resposta: É um projecto diferente do filme, ainda sem data de estreia, mas muito diferente e com uma abordagem mais linear no que toca à história dela. São dois projectos muito diferentes ou seja, a minisérie não é a versão longa do filme - é outra coisa.
Pergunta: O filme vai ser exibido no estrangeiro? Há alguma hipótese de o vermos na selecção oficial de algum festival internacional?
Resposta: Quem sabe? Neste momento estamos a trabalhar na sua promoção e distribuição em Portugal. A legendagem em inglês está feita e a seguir iremos enviá-lo para os festivais, mas essa decisão cabe aos festivais. O mais importante para mim é que o meu filme seja visto pelos meus compatriotas.
Pergunta: Os Prémios Sophia (Prémios da Academia Portuguesa de Cinema) vão ser entregues pela primeira vez este ano. O que pensa desta iniciativa?
Resposta: Penso que a formação da Academia de Cinema é uma excelente iniciativa e deve ser abrangente, como será. os prémios são apenas uma parte da sua actividade, mas o seu todo é bem mais importante. Há muita coisa a fazer pelo cinema e a Academia pretende fazê-lo.
Pergunta: O que se segue na sua carreira? Tem algum projecto em mente?
Resposta: Ando a escrever um romance - o segundo - e depois filmar outra vez. Vamos a ver como saímos desta crise. Mas filmar sempre, sem dúvida.
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