sábado, 10 de março de 2012

Crítica - The Devil Inside (2012)

Realizado por William Brent Bell
Com Fernanda Andrade, Simon Quarterman, Evan Helmuth, Ionut Grama
Se gostou de “[REC]”, de “Paranormal Activity” ou de “The Exorcist”, à partida “The Devil Inside” seria um filme feito à sua medida. No entanto, graças a uma narrativa muito pouco convincente e a um clímax deveras insatisfatório, esta obra do desconhecido William Brent Bell tem escassas probabilidades de encher as medidas até ao mais acérrimo dos defensores do género fantástico. De facto, “The Devil Inside” pertence a um género cinematográfico que leva sempre muita gente às salas. Há algo neste tema das possessões demoníacas que capta a atenção e a curiosidade dos espectadores em geral. Talvez seja o fascínio pelo desconhecido que nos atrai de forma indelével. Talvez seja a esperança de voltar a sentir os calafrios que sentimos ao ver o formidável “The Exorcist” que nos faz comprar o bilhete para mais um filme deste género. Infelizmente, porém, raras são as vezes em que não saímos da sala a chorar pelo dinheiro mal gasto. Pois o cinema de terror anda já em crise há uma data de tempo. E este “The Devil Inside” vem apenas acrescentar um ponto à lista interminável de películas que dão mau nome a um género cinematográfico com enorme potencial, mas que cada vez mais se vê injustamente associado a fitas de série Z para entreter jovens de susto fácil.



A narrativa algo desenxabida e escrita por cima do joelho leva-nos a conhecer Maria Rossi (Suzan Crowley), uma mulher aparentemente vulgar que começa a apresentar padrões de comportamento desviantes e que mata três membros do clero numa sessão de exorcismo arquitectada para lhe retirar o(s) demónio(s) do corpo. Considerada demente e apontada como um perigo para a sociedade, Maria é enviada para um hospital psiquiátrico em Itália (bem perto do Vaticano), onde passará o resto da vida a ser observada por médicos e padres relutantes. Cerca de duas dezenas de anos mais tarde, a sua filha Isabella (a brasileira Fernanda Andrade) decide fazer uma espécie de reportagem que lhe permita compreender melhor o que se passou com a mãe. Para isso desloca-se até Itália na companhia do realizador de documentários Michael Schaefer (Ionut Grama), e convence dois padres novatos – Ben Rawlings (Simon Quarterman) e David Keane (Evan Helmuth) – a auxiliá-la na investigação do caso. Ben e David depressa demonstram um imenso fascínio pelo caso de Maria Rossi, prontificando-se de imediato a realizar um exorcismo nas barbas do Vaticano. O problema é que depressa compreendem que o caso de Maria é mais problemático do que poderia parecer, o que os leva a enfrentar circunstâncias inesperadas…



Já por várias vezes defendemos aqui a ideia de que o subgénero do found footage se encaixa como uma luva no género cinematográfico do terror, precisamente porque contribui para o aumento do realismo e da veracidade dos eventos retratados, transportando o espectador para o interior da película com assombrosa eficácia. Porém, para este subgénero funcionar por completo, é absolutamente imperativo que a narrativa que nos é apresentada e as personagens que nela entram sejam inteiramente credíveis. Isto porque, mesmo que saibamos que se trata de um logro, se o logro for eficaz e credível sempre nos deixamos levar por ele durante os minutos que a película tiver de duração. Quase como se fôssemos levados a crer que a situação retratada poderia mesmo ter acontecido, embora tenhamos noção de que dificilmente aconteceria de facto. Ora, infelizmente, essa sensação de possibilidade nunca chega a manifestar-se neste “The Devil Inside”. As personagens italianas não nos convencem que são italianas porque falam um americano quase perfeito, nota-se que as paisagens de Roma foram coladas na parte de trás da tela com recurso ao croma key, e o argumento é tão falso e escandalosamente forçado que nunca chega a ter a mínima possibilidade de funcionar verdadeiramente. “The Devil Inside” torna-se então uma espécie de parente pobre de fitas como “Paranormal Activity” ou “[REC]”, e nem o baixo orçamento é desculpa porque muitas destas fitas lutam contra esse mesmo problema e resolvem-no da forma mais adequada. Para piorar ainda mais o panorama, o final do filme é dos mais abruptos e insatisfatórios dos últimos anos, deixando a audiência à beira de um ataque de nervos. No cômputo geral, salvam-se apenas as sequências dos exorcismos e um ou outro momento de maior tensão provocado pelos jogos de luz e de silêncio. Muito, muito pouco, mesmo para uma obra da qual não se esperava grande coisa.

Classificação – 2 Estrelas Em 5

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