sábado, 7 de janeiro de 2012

Crítica - My Week With Marilyn (2011)

Realizado por Simon Curtis
Com Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Judi Dench, Emma Watson

Se não foi a maior estrela de cinema do mundo, Marilyn Monroe andou lá bem perto. Em plena era dourada de Hollywood, Marilyn atingiu a grande proeza de ser a primeira actriz super-estrela da indústria cinematográfica. Estrelas havia muitas. Mas super-estrelas que fossem capazes de encabeçar o elenco de uma superprodução e arrastar multidões atrás de si não se encontravam a todo o virar da esquina. E normalmente, as actrizes eram sempre colocadas em segundo plano, o que apenas evidenciava ainda mais os méritos desta mulher reconhecidamente perturbada. Brilhante nos grandes palcos mas periclitante fora deles, Marilyn encantou meio mundo com o seu charme e a sua sensualidade feminina, mas também gerou muita polémica e provocou muitas dores de cabeça a realizadores que passavam as passas do Algarve para despertar o potencial que lhe era inerente. Adoptando um estilo narrativo clássico e ligeiramente académico, “My Week With Marilyn” acaba por apresentar um retrato fiel e despretensioso desta sex-bomb que somente desejava comprovar o seu talento, oferecendo quase duas horas de cinema competente e cheio de bom gosto aos espectadores que ansiavam ver a miss Monroe de regresso ao grande ecrã, ainda que não a verdadeira Marilyn Monroe.


Sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh) e a sua equipa encontram-se a poucos dias do início das filmagens do seu mais recente projecto: a comédia “The Prince and the Showgirl”. Começando a entrar numa fase da vida marcada por algum desânimo e sentimento de desesperança, Olivier contrata Marilyn Monroe (Michelle Williams) – a grande actriz do momento – para o papel de Showgirl, um papel que lhe deveria assentar que nem uma luva. Para além do desejo de trabalhar de bem perto com a loira mais encantadora do planeta, Olivier pretendia rejuvenescer e reacender a sua paixão pelo cinema através da interacção com Marilyn. Todavia, ao longo da tortuosa e infernal produção da película, a deslumbrante e talentosa miss Monroe revela-se uma actriz terrivelmente insegura e inconstante, afirmando-se como um verdadeiro quebra-cabeças para Olivier e o resto da equipa. Emocionalmente devastada e socialmente inadaptada, Marilyn vive constantemente num autêntico jogo de embuste, ocultando a verdadeira personalidade por detrás de uma máscara de sensualidade e alegria contagiantes. Todos querem que ela seja a Marilyn que se habituaram a ver nos filmes e nas televisões. E ela apenas quer que a deixem em paz, enquanto se esforça por vingar nas artes da representação por mérito próprio. Graças a isto, atormentada e emocionalmente desequilibrada, ela acaba por recorrer à simpatia e ingenuidade do terceiro assistente de realização – o jovem Colin Clark (Eddie Redmayne) – para escapar de tudo aquilo que a perturba e simplesmente voltar a ser uma mulher normal. O que, como é óbvio, dá cabo da paciência à equipa de produção, que começa a arrepender-se cada vez mais de ter contratado a famosa e mimada miss Monroe…


Simon Curtis não é dos realizadores mais conhecidos na indústria e o seu escasso currículo comprova isso mesmo. “My Week With Marilyn” é a sua primeira longa-metragem para cinema, o que não significa necessariamente que o homem não tenha talento. A sua câmara é segura quanto baste para dar vida a uma narrativa com todas as características de vencedora, ainda que Curtis retire muito partido da escola britânica de fazer cinema, claramente marcada por interpretações fortes e consistentes, recriações de cenários e guarda-roupa fabulosos, e um guião com quase tudo no sítio. De facto, é uma pena que esse mesmo guião caia demasiado na tentação de endeusar Marilyn Monroe. Os homens da película são quase todos retratados como pobres coitados que caem aos pés da miss Monroe ao mais ínfimo dos assopros, e isso soa a tremendo exagero. Porém, todos conhecemos o poder que Marilyn exercia sobre o sexo masculino, tendo o guião optado por hiperbolizar essa faceta da famosa sex-symbol. Essa será, de resto, a única falha de um argumento que prima pelo realismo e pela eficácia da mensagem que transmite. Com a ajuda de uma Michelle Williams que (quase) nos faz esquecer a verdadeira Marilyn Monroe, “My Week With Marilyn” afirma-se sobretudo como um bom filme de época, uma espécie de drama romântico com pitadas de comédia musical, que fará as delícias dos fãs da actriz falecida nos anos 60. O modo sóbrio e calculista como aborda o lado mais humano (e menos conhecido) de Monroe será um dos pontos fortes da película, que também presenteia os cinéfilos mais acérrimos com dezenas de referências cinematográficas absolutamente inesquecíveis. Em suma, não deverá desiludir a grande maioria dos espectadores, mas não se deve cair no erro de pensar que se está perante um dos filmes mais deslumbrantes do ano. Apenas um filme competente e, a espaços, divertido.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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