sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Crítica - Tinker Tailor Soldier Spy (2011)

Realizado por Tomas Alfredson
Com Gary Oldman, Colin Firth, Tom Hardy, John Hurt, Mark Strong

Tomas Alfredson anunciou-se ao mundo do cinema com o magnífico “Let The Right One In”, o filme sueco de 2008 que se revelou ser muito mais do que uma mera história de vampiros à moda de Twilight. Esse filme apenas escancarou-lhe as portas de Hollywood por completo, ou pelo menos permitiu-lhe comprar bilhete para outros voos bem mais elevados, já que este “Tinker Tailor Soldier Spy” não é exactamente um produto da velha Hollywood. Acima de tudo, Alfredson teve aqui a primeira oportunidade de trabalhar com um elenco de actores do mais alto gabarito, a primeira grande oportunidade de fazer cinema da mais elevada qualidade. E os resultados estão à vista de todos. Pois apesar de não ser um filme extremamente entusiasmante e de cortar a respiração, “Tinker Tailor Soldier Spy” é a perfeita encarnação de cinema subtil e cheio de classe, fazendo as delícias daqueles que acham que cinema minimalista é a melhor coisa do mundo. Se estiverem à espera de ver uma trama de espionagem cheia de adrenalina e perseguições entre agentes secretos, decerto sairão tremendamente desiludidos da sala de cinema. Mas se estiverem dispostos a assistir a um enredo soturno e inteligente à boa maneira de Poirot e dos antigos Sherlock Holmes, então esta obra poderá deixar-vos em estado de êxtase.


Quando uma missão secreta em Budapeste deixa o agente Jim Prideaux (Mark Strong) às portas da morte, o MI6 entra em polvorosa. Cabeças têm de rolar para que as relações diplomáticas entre o Reino Unido e a Nação Soviética não sofram um colapso instantâneo. Alguém tem de pagar a factura para amenizar os estragos causados. E quem acaba por pagar são dois dos agentes mais notáveis da instituição: Control (John Hurt) – nada mais nada menos que o cérebro por detrás da operação – e George Smiley (fabuloso Gary Oldman) – um agente experiente e circunspecto que acaba por acarretar a punição sem nada protestar. Forçado a entrar na reforma mais cedo do que esperava, Smiley mergulha num estado de melancolia deveras perturbador, caminhando silenciosamente pelas ruas, nadando rotineiramente na piscina mais próxima e vendo televisão no seu sofá de eterna solidão. Porém, o ministro do tesouro britânico Oliver Lacon (Simon McBurney) chama-o de volta para investigar uma dor de cabeça bem antiga. Control havia deixado essa ideia terrível no ar e Lacon parece concordar com ela: a ideia de que haveria uma toupeira (um bufo ou um agente duplo) no seio do MI6, que há muito enviava informações proibidas a membros do governo e do exército soviéticos. Percy Alleline (Toby Jones), Toby Esterhase (David Dencik), Roy Bland (Ciarán Hinds) e Bill Haydon (Colin Firth) são os principais suspeitos. E Smiley terá de descobrir qual deles é o grande traidor, antes que seja tarde demais para repor a ordem naquela que foi já uma instituição de grande prestígio da coroa britânica.


Baseado na obra de John le Carré, “Tinker Tailor Soldier Spy” foi feito a pensar nos fãs do film noir e do classicismo artístico. Por vezes quase parece que estamos a ver um filme da era dourada de Hollywood, tal é a sua essência clássica e romanesca. Tal como havia feito em “Let The Right One In”, Alfredson volta a filmar com uma tranquilidade quase irritante, não hesitando em brindar o espectador com sequências que levam o seu tempo (talvez um tempo exagerado) a progredir no espaço narrativo, e momentos de extrema soturnidade que por pouco não levam a audiência a puxar pelos cabelos. Uma coisa é certa: este não é o filme ideal para ver na última sessão da noite. Dizer que é um filme pesado acaba por ser escasso, tal é a melancolia que o persegue e a lentidão com que as cenas se sobrepõem. Uns trinta minutos a menos não lhe fariam nada mal. E um recurso menos abusivo aos flashbacks decerto ajudaria a imprimir um outro ritmo a uma obra excessivamente marcada pelo negrume e pelo marasmo. As quebras de ritmo em dois ou três momentos da película fazem-se notar com excessiva clareza, levando o espectador menos tolerante ao desespero. Mas esse modo de contar histórias algo taciturno apenas favorece a personagem principal, chegando mesmo a dar a sensação de estarmos a assistir a tudo como se estivéssemos dentro da cabeça do próprio Smiley. O elenco está todo de parabéns, mas é Gary Oldman que parte a loiça toda com esta encarnação de um agente tão astuto quanto desencantado. Oldman pode assim receber o primeiro Óscar da sua carreira, afirmando-se como um concorrente de peso na cerimónia deste ano dos prémios cinematográficos mais cobiçados do planeta. Outro dos pontos fortes da película encontra-se na brilhante direcção de fotografia de Hoyte Van Hoytema. As sombras que trespassam o mundo de Smiley não passam despercebidas a ninguém, ajudando o espectador a entrar nesse mundo de logros e a compreendê-lo. Em suma, “Tinker Tailor Soldier Spy” não será o grande filme do ano. Mas será, certamente, um dos mais memoráveis, quanto mais não seja pela estilização da sua trama e pela performance de um elenco competentíssimo.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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