Realizado por Nicolas Winding Refn
Com Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Ron Perlman
Quem já viu “Valhalla Rising” sabe que Nicolas Winding Refn não brinca em serviço no que à violência dos seus filmes diz respeito. Catalogado algures entre um épico e um filme experimental, “Valhalla Rising” mostrava-nos um guerreiro mudo que tinha de chacinar tudo e todos para escapar à escravidão e ao autêntico inferno em que se deixara tombar. Era um filme de visionamento bastante difícil, pois além de possuir uma estrutura narrativa pouco vulgar, apresentava um número escasso de diálogos e deixava que as imagens relatassem a história de forma intuitiva. Talvez por isso tenha apenas passado no Fantasporto e em poucas mais salas do país. “Drive” acaba por não se afastar muito desta forma de fazer cinema. É certo que não é tão parado nem tão introspectivo como o filme dinamarquês (nem tal coisa seria de esperar, dado que o cinema norte-americano se rege por leis bem diferentes do cinema europeu). Porém, a alma que está por detrás das imagens é exactamente a mesma. E a forma rude e desencantada com que aborda sequências de extrema violência (violência física e psicológica, entenda-se) não engana ninguém. Nicolas Winding Refn começa a ser um cineasta com uma marca muito própria e este “Drive” é mais um exemplo disso mesmo. Não é uma obra para todos os públicos. Não fará, certamente, o serão ideal de idosos classicistas e adolescentes apressados. Mas é uma obra que nos prende pelas entranhas, levando-nos numa viagem de tensão hipnotizante e absoluto negrume como já não se via há bastante tempo. Senhoras e senhores: sejam bem-vindos ao melhor filme do ano até ao momento.
Com Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Ron Perlman
Quem já viu “Valhalla Rising” sabe que Nicolas Winding Refn não brinca em serviço no que à violência dos seus filmes diz respeito. Catalogado algures entre um épico e um filme experimental, “Valhalla Rising” mostrava-nos um guerreiro mudo que tinha de chacinar tudo e todos para escapar à escravidão e ao autêntico inferno em que se deixara tombar. Era um filme de visionamento bastante difícil, pois além de possuir uma estrutura narrativa pouco vulgar, apresentava um número escasso de diálogos e deixava que as imagens relatassem a história de forma intuitiva. Talvez por isso tenha apenas passado no Fantasporto e em poucas mais salas do país. “Drive” acaba por não se afastar muito desta forma de fazer cinema. É certo que não é tão parado nem tão introspectivo como o filme dinamarquês (nem tal coisa seria de esperar, dado que o cinema norte-americano se rege por leis bem diferentes do cinema europeu). Porém, a alma que está por detrás das imagens é exactamente a mesma. E a forma rude e desencantada com que aborda sequências de extrema violência (violência física e psicológica, entenda-se) não engana ninguém. Nicolas Winding Refn começa a ser um cineasta com uma marca muito própria e este “Drive” é mais um exemplo disso mesmo. Não é uma obra para todos os públicos. Não fará, certamente, o serão ideal de idosos classicistas e adolescentes apressados. Mas é uma obra que nos prende pelas entranhas, levando-nos numa viagem de tensão hipnotizante e absoluto negrume como já não se via há bastante tempo. Senhoras e senhores: sejam bem-vindos ao melhor filme do ano até ao momento.
Ryan Gosling interpreta aqui um condutor de automóveis cheio de talento, que divide o tempo profissional entre a oficina de Shannon (Bryan Cranston), seu sócio e amigo de longa data, e as filmagens de várias produções de Hollywood viradas para a acção, onde trabalha como duplo de algumas das maiores estrelas da indústria. Estes dois empregos bastariam a qualquer cidadão normal. Mas ele não é um cidadão normal. E como tal, decide colocar os seus talentos à disposição de criminosos que necessitem de um condutor experiente para abandonar a cena do crime em tempo recorde e com o máximo de eficácia possível. De certa forma, ele vive uma vida de marginal. Isolado do mundo vulgar e dos cidadãos que o compõem. Sempre contactando com indivíduos de integridade duvidosa, que podem colocar a sua segurança em risco a qualquer momento. Isto até ao dia em que conhece Irene (Carey Mulligan), uma jovem frágil e com um enorme vazio emocional, que vive no apartamento vizinho do prédio para onde acabou de se mudar. A aproximação entre ambos ocorre de forma natural e ele ainda considera a hipótese de dar a volta à sua vida rodeada de negrume. Mas quando Standard Gabriel (Oscar Isaac) – o marido de Irene – regressa a casa após uma pena de prisão, o jovem e enigmático condutor vê-se obrigado a interromper os seus devaneios. E quando decide executar mais uma missão de assalto para ajudar Standard a liquidar as dívidas que tem para com um grupo de rufias, a sua vida entra numa espiral irreversível de sangue e violência. Pois tudo corre mal neste último golpe e ele depressa se vê perseguido por um bando de mafiosos que o obrigarão a entrar pelo mais negro dos caminhos…
Em alguns aspectos faz lembrar “Taxi Driver”, o eterno clássico de Martin Scorsese. A personagem de Gosling pode não ser tão neurótica como a de Robert De Niro, mas a essência é muito similar. Todavia, “Drive” tem qualidade mais do que suficiente para sobreviver por conta própria, sem necessitar deste tipo de comparações. A brutalidade com que encara a realidade obscura de Los Angeles é deveras fascinante. Com a ajuda da extraordinária banda-sonora composta por Cliff Martinez, Refn leva a audiência até ao extremo da violência física e até ao lado mais negro da humanidade. Estamos perante uma película perturbadora, ao bom estilo de obras como o referido “Taxi Driver” e o incontornável “A Clockwork Orange”, de Stanley Kubrick. O Homem é aqui retratado como um ser capaz do melhor e do pior, um ser que tão depressa dá um beijo como esborracha o crânio daquele que está a seu lado, um ser que até na melhor das intenções só consegue atingir os seus fins recorrendo à violência e à chantagem emocional. Assim sendo, conforme se pode facilmente perceber, “Drive” é muito mais que uma história brutal de assaltos e perseguições de carros. “Drive” é um ensaio fabuloso sobre a natureza humana, ensaio que é concretizado da melhor maneira possível. Refn não conta histórias por contar, afirmando-se como um caso muito sério de talento. Para além de introspectivos e enigmáticos, os seus filmes colocam a audiência a pensar no que está a ver. E tudo graças a planos simples mas originais, e a uma desconstrução das personagens que as expõe completamente perante o público. Sob as orientações controladas e inteligentes de Refn, Gosling oferece-nos o melhor desempenho da sua carreira, ao interpretar uma personagem que não precisa de abrir a boca para demonstrar o que lhe vai na alma. Esta personagem faz lembrar a de Heath Ledger em “Brokeback Mountain”. Tímida e reservada, não é de grandes espalhafatos. Mas os seus olhos dizem tudo. De resto, todo o elenco cumpre o seu papel com pompa e circunstância, colando os olhos da audiência à tela de cinema. Tenso e visceral, poder-se-ia resumir “Drive” em onze letras: O-B-R-I-G-A-T-Ó-R-I-O.
Classificação – 5 Estrelas Em 5
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