Realizado por Roland Emmerich
Com Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Sebastian Armesto, Rafe Spall, David Thewlis
Aqui está a versão cinematográfica da história de vida de William Shakespeare que todos queriam ver. Aquela que mostra o denominado pai da língua inglesa moderna a vestir os trajes de herói da fita, salvando a donzela em apuros de um apocalipse causado por um meteorito gigante que arrasa com toda a Londres Isabelina! Ok, como decerto terão reparado, estou a brincar. Mas quem me diz que uma trama deste género não terá passado pela cabeça de Roland Emmerich, o cineasta mais destrutivo e apocalíptico de Hollywood? Estou a ser propositadamente preconceituoso para tentar demonstrar aquilo por que o realizador alemão tem passado ao longo da sua carreira. É verdade que o seu currículo parece indicar uma certa propensão para o filme-catástrofe de que Hollywood (e o grande público) tanto gosta, concedendo-lhe um estatuto muito próximo de um doutorado em assuntos apocalípticos. Mas em obras como “The Patriot” (onde Mel Gibson liderava as tropas americanas para alcançar a independência dos Estados Unidos da América), Emmerich já demonstrou que sabe trilhar outros caminhos com o mínimo de competência que se exige a este nível. Razão pela qual não devemos desconfiar demasiado desta sua incursão pelo mundo de Shakespeare, um dos autores mais famosos e consagrados do planeta e da História da humanidade. Tudo bem, este não será o filme mais convencional e/ou clássico sobre o genial autor de Romeu e Julieta. “Anonymous” não é nenhum “Shakespeare in Love”, nem pretende sê-lo. Por vezes parece deixar-se contagiar pela moda dos mistérios e segredos ocultos que se iniciou com o muito amado/criticado “The DaVinci Code”. Mas não é por isso que devemos deixar de lhe prestar a devida atenção, até porque se trata de uma obra com valores de produção elevadíssimos e um enredo suficientemente cativante para nos deixar colados ao ecrã do princípio até ao fim.
Com Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Sebastian Armesto, Rafe Spall, David Thewlis
Aqui está a versão cinematográfica da história de vida de William Shakespeare que todos queriam ver. Aquela que mostra o denominado pai da língua inglesa moderna a vestir os trajes de herói da fita, salvando a donzela em apuros de um apocalipse causado por um meteorito gigante que arrasa com toda a Londres Isabelina! Ok, como decerto terão reparado, estou a brincar. Mas quem me diz que uma trama deste género não terá passado pela cabeça de Roland Emmerich, o cineasta mais destrutivo e apocalíptico de Hollywood? Estou a ser propositadamente preconceituoso para tentar demonstrar aquilo por que o realizador alemão tem passado ao longo da sua carreira. É verdade que o seu currículo parece indicar uma certa propensão para o filme-catástrofe de que Hollywood (e o grande público) tanto gosta, concedendo-lhe um estatuto muito próximo de um doutorado em assuntos apocalípticos. Mas em obras como “The Patriot” (onde Mel Gibson liderava as tropas americanas para alcançar a independência dos Estados Unidos da América), Emmerich já demonstrou que sabe trilhar outros caminhos com o mínimo de competência que se exige a este nível. Razão pela qual não devemos desconfiar demasiado desta sua incursão pelo mundo de Shakespeare, um dos autores mais famosos e consagrados do planeta e da História da humanidade. Tudo bem, este não será o filme mais convencional e/ou clássico sobre o genial autor de Romeu e Julieta. “Anonymous” não é nenhum “Shakespeare in Love”, nem pretende sê-lo. Por vezes parece deixar-se contagiar pela moda dos mistérios e segredos ocultos que se iniciou com o muito amado/criticado “The DaVinci Code”. Mas não é por isso que devemos deixar de lhe prestar a devida atenção, até porque se trata de uma obra com valores de produção elevadíssimos e um enredo suficientemente cativante para nos deixar colados ao ecrã do princípio até ao fim.
O Conde de Oxford (Rhys Ifans) sempre quis ser um autor de peças tão apaixonantes quanto provocatórias. Desde criança que começou a escrever e a interpretar as suas próprias peças teatrais, tendo mesmo despertado a atenção da Rainha Elizabeth I (Joely Richardson/Vanessa Redgrave), ela própria uma fã confessa de tais espectáculos considerados devassos. Porém, a vida de nobre troca-lhe as tintas e ele vê-se forçado a desposar a filha de William Cecil (David Thewlis quase irreconhecível), conselheiro mais próximo da Rainha e fervoroso defensor dos códigos de conduta mais severos da religião católica/protestante. Infelizmente para o pobre Conde de Oxford, Cecil proíbe-o de escrever mais peças teatrais, sob pena de lhe provocar a ruína e o destituir de todos os bens que o seu título acarreta. Pois a escrita é para gente rude e pecaminosa; não para os senhores da nobreza, que têm uma imagem e uma reputação a manter perante o povo. Com o passar dos anos, o Conde vê-se obrigado a fazer a vontade ao sogro de convicções firmes, mas não deixa de escrever às escondidas. E quando chega ao ponto de desejar ver uma das suas obras representada num dos teatros londrinos, recorre aos préstimos de um autor chamado Ben Jonson (Sebastian Armesto) para que este assuma a autoria das obras em segredo, mantendo assim o seu anonimato forçado. Algo contrariado, Jonson acaba por aceitar fazer parte do logro. Mas o problema surge quando as obras vão parar às mãos de um actor libertino e quase analfabeto chamado William Shakespeare (Rafe Spall), que rapidamente se aproveita da genialidade da escrita do Conde para atingir patamares de glória que nunca considerou serem exequíveis…
Conforme se pode facilmente imaginar, “Anonymous” tem tudo aquilo que é preciso para deixar os académicos de Shakespeare a espumarem-se da boca. O pai da língua inglesa retratado como um homem de integridade duvidosa (quase um doidivanas) e incapaz de escrever uma única letra? Cruzes, canhoto! Algo me diz que não é esta a melhor maneira de Emmerich fazer amigos entre o grande público. Mas a verdade é que se nota que o cineasta alemão se está pouco a marimbar para o que o público pensa. E ademais, esta teoria de que Shakespeare não passa de uma fraude tem já muitos anos de existência e um número bem considerável de adeptos acérrimos. “Anonymous” é polémico, sem dúvida. Se é credível? Isso ficará ao critério de cada um. No que à análise cinematográfica diz respeito, aquilo que se pode dizer é que é uma obra perfeitamente competente e até deveras interessante. É verdade que faz uma caricatura demasiado exacerbada de algumas personagens-chave (como o próprio Shakespeare saído das tabernas ou até a pobre Rainha Elizabeth I, demasiado frágil e imprudente para aquilo que a História nos conta), o que lhe retira alguns pontos de credibilidade. É verdade que chegamos ao final com a sensação desconfortável de que poderíamos ter assistido a algo muito mais grandioso e até provocatório. Mas também não é mentira que estamos perante uma película de um realismo estonteante, particularmente no que à construção dos cenários e à direcção de fotografia concerne. Quase sentimos o odor fétido da lama no chão da Londres do século XVI. Quase sentimos o calor das velas que alumiavam os cantos mais obscuros da corte Isabelina. E isso é tudo mérito de Roland Emmerich e da equipa técnica que ele soube dirigir. O argumento de John Orloff apresenta-nos também diálogos dignos de William Shakespeare, bem como um enredo em crescendo que apenas acentua o trabalho bem conseguido de um grupo de actores formidável (por vezes até surpreendente, como no caso de Xavier Samuel, bem longe dos tempos fatídicos de “The Twilight Saga: Eclipse”). Em suma, “Anonymous” não é nenhum portento do cinema moderno. Mas é uma obra que prende a atenção por inteiro, merecendo um visionamento livre de preconceitos.
Classificação – 3,5 Estrelas Em 5
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