domingo, 20 de novembro de 2011

Crítica - The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 (2011)

Realizado por Bill Condon
Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner

Para gáudio dos inúmeros (e acérrimos) fãs da saga vampírica criada por Stephenie Meyer, eis que a primeira parte do último capítulo deste franchise aterra nas salas de cinema portuguesas. Depois de uma transposição para o grande ecrã razoavelmente bem sucedida do primeiro livro (Twilight), os dois tomos que se seguiram (New Moon e Eclipse) sofreram as consequências do mediatismo repentino e da estrondosa avareza de produtores pouco dados a padrões de qualidade, transformando aquilo que chegou a ser catalogado como o próximo Harry Potter numa telenovela imatura e deveras enfadonha. Especialmente o terceiro capítulo da saga denotou uma enorme falta de equilíbrio narrativo e pujança cinematográfica, fazendo com que uma boa parte dos cinéfilos virasse de vez as costas a um franchise que começou a satisfazer somente os seguidores mais pertinazes de Bella Swan, Edward Cullen e Jacob Black. No entanto, Bill Condon (realizador de obras como “Kinsey” e “Gods and Monsters”) trouxe consigo uma réstia de esperança para aqueles que ainda acreditavam ser possível terminar esta saga como ela começou: em sintonia com o público em geral e a crítica especializada. O problema é que, seja por que razão for, este franchise parece ser um autêntico cemitério de realizadores, vulgarizando cineastas de créditos firmados como já havia acontecido com David Slade (realizador do terceiro capítulo e de obras como o soberbo “Hard Candy”). A sensação que dá é que os produtores da Summit Entertainment sufocam os realizadores contratados com as suas ideias de consumismo e venda de produto fácil, não sendo difícil de supor que até um Steven Spielberg ou um Martin Scorsese sairiam enxovalhados deste empreendimento. E graças a isto, esta primeira parte do capítulo decisivo da saga dá continuidade à queda acentuada de qualidade que se tem vindo a verificar, deitando por terra toda e qualquer tentativa desesperada de remediar o mal que estava feito.


Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson) vivem dias de sonho. Por outro lado, Jacob (Taylor Lautner) vive os tempos mais pesarosos da sua existência. A jovem humana e o elegante vampiro estão a poucos dias de se casar, razão pela qual andam nas nuvens apesar de terem consciência dos riscos que a sua relação acarreta. E por ver que não consegue mesmo dar a volta aos sentimentos da rapariga por quem se apaixonou perdidamente, o jovem lobisomem encontra-se num estado cada vez maior de fúria e angústia desesperante. Edward e Jacob bem que se tentam entender para que Bella não saia magoada de um eventual confronto entre ambos. Mas no próprio dia do casamento, ao saber que Bella partiria para a lua-de-mel sem se deixar transformar em vampira, Jacob tem um ataque de nervos e quase arranca a cabeça de Edward à dentada. A segurança de Bella estava em causa. Enquanto humana, Bella era muito mais frágil que Edward, razão pela qual corria sérios riscos de ir parar ao hospital mais próximo na noite de núpcias, ainda que Edward tudo fizesse para não a deixar com um único arranhão. Encolerizado, Jacob desata a correr pela floresta em busca de paz interior e o casal parte para o Rio de Janeiro poucas horas depois. Os primeiros dias da lua-de-mel são encantadores. Mas é então que Bella descobre que pode estar grávida (algo que julgava nem sequer ser possível) e tudo muda de figurino. A partir de então, e tal como Jacob previra, a saúde da rapariga passa a estar em causa e todos entram em alerta máximo, até porque o bando de lobisomens a que Jacob pertence não aceitará o nascimento de uma criatura que possa pôr em causa a segurança da comunidade humana. E vendo-se entre a espada e a parede, Jacob terá de tomar a maior decisão da sua vida: levar a cabo aquilo que sempre lhe esteve no sangue ou proteger Bella a todo o custo, mesmo que isso signifique rebelar-se contra a sua própria família.


Temas como o matrimónio e a maternidade trazem novos campos de abordagem a este “Breaking Dawn – Part 1”, o que constitui uma enorme lufada de ar fresco para uma saga que parecia não sair da cepa torta. “Eclipse” mais parecera uma extensão pouco natural de “New Moon”, pelo que é bom ver as personagens enfrentarem novos desafios e problemáticas. Todavia, o matrimónio e a maternidade não passam de névoas muito superficiais que nos distraem dos tópicos do costume. E isso, como é óbvio, não augura nada de bom para a obra em questão. Se afastarmos a poeira dos olhos, vemos que as problemáticas continuam a ser exactamente as mesmas dos capítulos anteriores, o que constitui um aborrecimento dos diabos para quem já tem pouca paciência para estas andanças. Ora vejamos: Bella parece ter optado de uma vez por se unir a Edward, mas continua a fazer olhinhos doces a Jacob como se pretendesse algo mais do que amizade por parte deste último; Edward continua relutante em transformar Bella num vampiro; e Jacob continua a olhar de lado para Edward enquanto faz festinhas à agora Sra. Cullen. Não há nada pior do que sentir que as personagens se tornaram estáticas. Já vamos no quarto filme e ficamos com a sensação de que os temas e as problemáticas não evoluíram de todo. Se as personagens não evoluem e não superam os desafios, elas tornam-se plásticas, ocas, artificiais. E como consequência disso, assomam aos olhos do espectador como personagens inverosímeis e de relacionamentos forçados. Talvez seja por isto que diversos realizadores não conseguem fazer nada desta saga; porque os temas que lhe são inerentes estão já mais que gastos e explorados, não havendo mais ponta por onde se lhe pegue. Claro que um argumento escrito em cima do joelho para que o filme chegue às salas o mais rapidamente possível também não ajuda nada, mas o problema principal desta saga encontra-se no seu próprio código genético. E assim torna-se difícil atingir algo de extraordinário, seja em termos cinematográficos, seja em que área for.


“Breaking Dawn – Part 1” consegue, apesar de tudo, superar o capítulo anterior (embora não por muito). Durante a maior parte do tempo, a narrativa desenvolve-se de forma académica, previsível e sem grande chama, brindando-nos com personagens que não encontram grande espaço para crescer e acontecimentos que não primam propriamente pela credibilidade. Porém, a espaços curtos, o cunho de Bill Condon lá se vai fazendo sentir de forma leve, através de cenas com algum arrojo visual e momentos cómicos que conseguem pôr o público a sorrir. De resto, a degradação física de Bella será talvez um dos pontos mais bem conseguidos da película, em conjunto com uma banda-sonora ligeiramente diferente daquilo a que a saga nos habituou (ainda que, por vezes, caia nalguma lamechice desnecessária). Mais do que feito a pensar nos seus fãs, “Breaking Dawn – Part 1” foi feito a pensar no público feminino. Os temas aqui abordados farão as delícias de qualquer rapariga (adolescente ou não), reservando escassos minutos de acção sensaborona e mal ensaiada para o público masculino. O final acaba por ser um dos pontos mais altos da película, deixando o espectador minimamente curioso para ver o que vai acontecer a seguir. Mas quem não for fã confesso da saga dificilmente aguentará mais uma sessão com o trio cinematográfico mais obstinado dos últimos anos.

Classificação – 2 Estrelas Em 5

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