domingo, 2 de outubro de 2011

Crítica - Ironclad (2011)

Realizado por Jonathan English
Com James Purefoy, Paul Giamatti, Brian Cox, Kate Mara, Jason Flemyng

Muito criticado, até mesmo espezinhado tem sido este duro e brutal “Ironclad” pela crítica internacional. A verdade é que não estamos na presença de um papa-Óscares, ficando esta obra de Jonathan English muito longe da riqueza narrativa e mestria cinematográfica de obras como “Braveheart” ou “Gladiator”. Isso é mais do que óbvio, até porque nunca terá sido seu propósito alcançar tal glória no seio da Sétima Arte. Todavia, classificar “Ironclad” de lixo cinematográfico ou fracasso colossal parece-me um tremendo exagero. Verdade seja dita, Jonathan English não é nenhum Ridley Scott (a obra anterior de English data de 2006, tem o nome de “Minotaur” e está cotada no IMDB com a brilhante pontuação de 3.5 valores…), mas convém referir que este “Ironclad”, salvo todos os seus defeitos, sempre consegue estar a um nível bem superior do que o miserável “Robin Hood” de Sir Ridley, valendo a fama e o currículo prévio praticamente nada quando se tenta avaliar uma obra com total isenção. Acima de tudo, “Ironclad” vale pela reconstituição histórica soberba e pelo realismo com que as sequências de batalha são filmadas. Penso que já não via um épico tão violento e realista desde o fabuloso “Braveheart” de Mel Gibson. Há quem defenda que tal modo de filmar as batalhas medievais equivale a violência gratuita, sendo totalmente desaconselhável e até mesmo reprovável. Pois eu penso exactamente o contrário. O cinema não é teatro. E como encenação da realidade, o cinema deve ter a coragem de mostrar as coisas como elas são. Quanto mais realista, melhor. Se um machado a cair sobre o ombro do inimigo desfaz o pobre coitado em dois, pois tenha-se a decência de não tentar aldrabar a realidade com embelezamentos tipicamente hollywoodescos. O realismo é o que tanto admiro no cinema de Mel Gibson. E em termos de realismo, este “Ironclad” deixa “Troy”, “King Arthur” e outros épicos relativamente recentes a andar pelas ruas da amargura, afirmando-se como um produto cinematográfico perfeitamente válido.



1215. Em plena era das cruzadas e consequente tumulto religioso, o Rei John de Inglaterra (Paul Giamatti em modo de fúria exacerbada) governa o seu país com punho de ferro e coração de pedra. Os seus passatempos favoritos incluem oprimir a população em geral e dormir com as mulheres dos barões britânicos. Fartos deste reinado de autêntica tirania, os barões e a plebe em geral unem-se aos templários regressados da Terra Santa para fazer frente ao Rei e acautelar os seus direitos enquanto cidadãos livres. Assim nasce a Magna Carta, assinada pelo Rei contra a sua vontade, que limita os poderes do monarca e concede ao povo aquilo que eles tanto exigiam: respeito. A princípio, John ainda se mostra resignado e disposto a cumprir as promessas seladas no papel. Porém, depressa se deixa levar pela raiva, recorrendo aos serviços de um exército de mercenários dinamarqueses para recuperar aquilo que deveria ser seu por direito. Num piscar de olhos, os tempos de opressão voltam a invadir as terras britânicas, à medida que o Rei trata de reconquistar os castelos e o poder perdido, vingando-se dos barões que se atreveram a fazer-lhe frente pelo caminho. É aqui que o barão Albany (Brian Cox) – um dos maiores detractores do monarca – surge em cena, entrando numa corrida contra o tempo para formar um pequeno grupo de guerreiros que o ajudem a defender o castelo de Rochester, local estratégico de todas as movimentações militares e reduto que irá determinar o fado vitorioso ou calamitoso do tenebroso monarca.



A nível narrativo, não se pode dizer que “Ironclad” seja um portento. Para além de previsível, o argumento apresenta todos os defeitos e manias que estão já enraizados na cinematografia de Hollywood, tornando os actos de algumas personagens mais que calculáveis e acabando por não surpreender ninguém. Digamos que é um daqueles filmes em que não precisamos de conhecer a linha narrativa para sabermos como ela se vai desenrolar. Já sabemos que, a certa altura, o monge carrancudo vai para a cama com a donzela esquentada, o aprendiz inexperiente vai sobreviver a tudo e mais alguma coisa, o Rei vai acabar na miséria e o grande herói vai encerrar o filme com um mano-a-mano contra o grande vilão dinamarquês. Nem se pode dizer que isto sejam spoilers, pois quem está habituado a este tipo de cinema já sabe aquilo com que pode contar. Ainda assim, as personagens não são tão falsas e vazias de sentimentos quanto se julgava que poderiam ser. Um bom elenco ajuda a que tal coisa não suceda, destacando-se James Purefoy, Brian Cox e Paul Giamatti. Mas algum do mérito terá também de ir para o realizador, que não só conseguiu transformar uma história mais que vista (lembramo-nos de “King Arthur” mais do que uma vez ao longo do filme) numa aventura que se acompanha com interesse, como também teve o dom de filmar as sequências de acção com arrojo, criatividade e punho de aço. Conjuntamente com uma banda-sonora extremamente gratificante, English consegue fazer com que o espectador se sinta realmente na idade média, afinal de contas aquilo que é mais importante numa obra desta natureza. Não se encontram aqui os artifícios que vimos no “Troy” de Wolfgang Petersen. “Ironclad” é um filme para fãs confessos deste género cinematográfico, compensando eventuais faltas de credibilidade (narrativa e até Histórica) com personagens sérias, batalhas sangrentas, interpretações minimamente seguras e valores de produção que apostam forte no realismo cinzento.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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