segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Crítica - Friends With Benefits (2011)

Realizado por Will Gluck
Com Justin Timberlake, Mila Kunis, Patricia Clarkson, Richard Jenkins

Aproximadamente seis meses após a estreia de “No Strings Attached” (a comédia romântica interpretada por Natalie Portman e Ashton Kutcher), eis que as salas de cinema portuguesas acolhem um filme em tudo semelhante a essa obra do realizador Ivan Reitman. Tal como essa obra, este “Friends With Benefits” explora as peripécias de dois amigos de sexos opostos que decidem ter sexo um com o outro, única e exclusivamente por divertimento e como forma de satisfazer as suas necessidades mais primitivas. Uma relação estritamente sexual entre ambos, portanto, sem tombar no lamaçal de sentimentos que, não raras vezes, arruína uma relação amorosa. Ao encarar o acto sexual como algo perfeitamente natural («é como jogar ténis», fartam-se de dizer os dois protagonistas) e ao desafiar os mitos que compõem as histórias dos príncipes encantados, “Friends With Benefits” consegue despertar alguma curiosidade, quanto mais não seja por a sua premissa prometer algo de diferente para o espectador. Porém, o grande problema é que a fita rapidamente se transforma na mais banalíssima das comédias românticas, seguindo o mesmo trilho desgastado de milhentas outras fitas do género e deitando por terra todo e qualquer tipo de irreverência.


Dylan (Justin Timberlake) é um blogger com um talento enorme e milhares de seguidores informáticos. Jamie (Mila Kunis) é uma caçadora de talentos que não demora muito a reparar nas capacidades de Dylan. Sem perder tempo, Jamie oferece a Dylan a oportunidade de liderar a equipa técnica da famosa revista GQ. Mas este não parece ficar muito convencido com a oferta. Jamie percebe então que, mais do que lhe vender a ideia de que o posto de trabalho é fabuloso, tem de lhe vender a ideia de que um emprego na cidade de Nova Iorque não pode ser desperdiçado. É numa visita frenética por alguns dos pontos-chave da Big Apple que ambos formam uma relação de amizade com pernas para andar. E quando essa relação de amizade atinge o seu cume, ambos chegam à conclusão que poderiam levar as coisas um pouco mais longe… Ambos precisam de sexo. E já que se dão tão bem, porque não apimentar um pouco as coisas e construir uma relação de amizade com alguns benefícios à parte? Como acabaram de sair de relações relativamente dolorosas, tanto um como outro concordam em iniciar uma relação sexual, desde que isso não implique uma cumplicidade de sentimentos que só traria complicações. Mas como todos já sabemos, os sentimentos vão acabar por levar a melhor, pondo à prova a mais resistente das amizades.


Este fio narrativo soa a familiar? Pois é. A verdade é que já assistimos a esta trama um sem número de vezes. E é precisamente isso que acaba por arruinar qualquer hipótese de sucesso de uma obra que, a espaços, mais parece um folhetim promocional da cidade de Nova Iorque. Dá para perceber que Will Gluck adora Nova Iorque (a sua terra natal). Mas não é preciso (aliás, desaconselha-se mesmo) transformar o filme numa enxurrada de publicidade gratuita. Tanta declaração de amor eterno acaba por soar a exagero completo, aborrecendo o espectador a quem a dita cidade pouco ou nada diz. Mas esse nem é o principal problema de “Friends With Benefits”. Em conjunto com uma realização tarefeira, uma montagem demasiado acelerada e uma banda-sonora confusa e desconexa, o fio narrativo acaba por atracar num porto vazio de clichés maiores que o mundo, não entusiasmando nada nem ninguém. De facto, em entrevistas aos meios de comunicação social, o realizador confessou que desejava fazer deste filme um filme irreverente. Uma obra que desafiasse o padrão de storytelling que impera nas comédias românticas de Hollywood (os filmes de Katherine Heigl chegam a ser parodiados logo no início do filme), mostrando-nos algo de diferente e inovador (segundo as palavras de Gluck, «mostrar ao espectador aquilo que acontece entre o casal quando as luzes se apagam, em vez de passar directamente para planos da manhã seguinte com os pombinhos todos satisfeitos e sorridentes»). O problema é que “Friends With Benefits” não faz nada disto. Ou melhor, até nos mostra aquilo que acontece quando as luzes se apagam, mas a “irreverência” desejada fica-se inteiramente por aí. Infelizmente, a narrativa vira rapidamente na mesma direcção de todas as comédias românticas que estreiam em catadupa nas salas de cinema, não havendo um pingo de originalidade ou mera inconformidade.


De positivo só mesmo a dupla de protagonistas, que vai carregando o filme às costas ao longo de todos os seus 109 minutos de duração. “Friends With Benefits” é um daqueles filmes que vive demasiado do carisma dos seus protagonistas. Sem Timberlake e (especialmente) sem Mila Kunis, estaríamos perante uma fita verdadeiramente inconsequente (digna das fitas de Katherine Heigl, das quais, aparentemente, tanto se esforçaram por manter à distância). Mesmo actores como Patricia Clarkson e Woody Harrelson entretêm mas não convencem, devido a papéis demasiado forçados e inverosímeis (papéis que só parecem existir para preencher o espaço do companheiro tresloucado, tão em voga neste género cinematográfico). E Richard Jenkins ainda tenta imprimir alguma dose de classe, mas também não possui o protagonismo necessário para fazer alguma diferença numa obra condenada à mediania. Salvo alguns (poucos) rasgos de inconformismo e cameos interessantes, “Friends With Benefits” afirma-se como uma obra perfeitamente banal, incapaz de manter o espectador interessado até ao fim, a não ser os fãs convictos de um género mais que rebentado. Ainda para mais, quase todas as tiradas cómicas estão presentes no trailer, o que torna tudo ainda menos surpreendente. Não é um desastre, mas deixa mesmo muito a desejar.


Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

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